terça-feira, 14 de julho de 2015

Kindl Direct publishing: vale a pena?

Aproveitei o concurso de contos da Amazon para conhecer melhor o Kindle Direct Publishing, o sistema de autopublicação da Amazon, que permite a qualquer pessoa publicar um texto na maior loja de livros virtuais do mundo, agora em funcionamento no Brasil. Usei para isso um conto de um futuro livro policial que pretendo lançar, com o título de O Profissional. Foi uma experiência muito interessante – especialmente para ajudar a entender como será possível vender livros no futuro próximo.
http://www.amazon.com/O-profissional-Portuguese-Thales-Guaracy-ebook/dp/B010QZISGG/ref=sr_1_fkmr0_1?ie=UTF8&qid=1436895143&sr=8-1-fkmr0&keywords=o+profisisonal+thales+guaracy
O prêmio, em si, não é lá essas coisas: você pode ganhar um Kindle e ver seu texto publicado no Jornal O Globo. O concurso claramente tem o propósito de dar algum estímulo ao maior número possível de pessoas para entrar no sistema. O regulamento favorece os não profissionais. O tamanho do texto é limitado a 6.000 caracteres com espaço – algo muito pequeno, mesmo para um conto. Mas o KDP realiza a mágica da Amazon – permite a qualquer um entrar no terreno antes habitado somente pelos escritores profissionais.
O teste do sistema apresenta algumas verdades e mentiras. A mentira é que autor fica com 70% do dinheiro da venda. Essa margem de direitos autorais vale apenas em vendas em países como a Rússia e o Japão. Onde interessa, especialmente o Brasil e os Estados Unidos, o autor fica com 30% do preço final do livro. Na editora Copacabana, pagamos ao autor 25% do preço de capa. Porém, o livro é publicado em todas as plataformas, e não somente na Amazon.
Essa é a maior limitação do KDP. Embora a Amazon seja a maior plataforma de venda de livros digitais, não é a única. Pela minha experiência como editor digital, o Google hoje vem em segundo lugar, graças aos mecanismos de busca, que jogam leitores também para a compra do livro. Em terceiro, está a Saraiva. A Apple Store, que foi tão bem com a música, se mostra menos eficaz quando se trata de livros. Fica em quarto lugar.
A vantagem do KDP é que é muito simples. Qualquer um pode fazer uma capa, preencher os metadados, subir o texto e ter o livro no ar em até 48 horas. Não há regra para o tamanho da obra: em tese, você pode publicar uma capa para um simples haikai. O cenário que se coloca é que hoje qualquer um pode publicar o “seu livro”. Isso tende a promover uma grande reviravolta do mercado.
A facilidade de autopublicação permite que uma geração de jovens autores, que sabem se mexer melhor no meio virtual que os velhos medalhões do meio impresso, ganhem espaço pelo simples fato de ocupá-lo. O padrão de qualidade se tornará menos exigente. Como o livro digital é produzido mais rápido e consumido também mais rápido, é certo que o mercado do livro digital não apresentará obras da mesma qualidade que o do livro impresso, produto no qual se trabalhava muito mais até estar em condições de publicação.
As editoras se tornarão certamente menos importantes. Hoje acredita-se que a queda na venda de livros impressos não se deve ao livro digital, já que ela acontece sem que as vendas digitais cresçam substancialmente. Porém, é evidente que o mercado do livro impresso tende a encolher ainda mais e cada vez mais rapidamente. A lógica indica que no futuro será muito mais fácil comprar um livro digital a preço baixo que aguardar um livro impresso a preço bem mais alto. E as editoras convencionais têm a mesma dificuldade de se tornarem “virtuais” quanto outras empresas convencionais que hoje sofrem a concorrência da internet.
 As editoras terão dificuldade de sustentar o seu catálogo num mundo em que autores podem ganhar mais se virando sozinhos. E lançando produtos a preços mais competitivos do que os do velho mundo. Por enquanto, elas têm procurado se agrupar, para engrossar seu catálogo e manter a massa de vendas, capaz de compensar a queda geral do mercado. Porém, esse jogo defensivo tende a ser um buraco negro, com uma editora engolindo a outra até que no final pouco restará para a autofagia.
Para os autores, o futuro não promete ser mais risonho. É muito difícil ser notado na Amazon, embora a própria Amazon coloque como atrativo sua capacidade de cruzar autores, títulos e informações como uma ferramenta poderosa de venda. A infinidade de títulos faz com que o livro digital mergulhe numa verdadeira bacia das almas. O leitor pode escolher o que quiser, mas já não será tão fácil saber o que é bom, nem fazer grandes sucessos. Como em tudo, o que determinará a venda é a capacidade do autor de construir uma rede pessoal de alcance global.
Em definitivo, a chave para vender livros, como a maioria dos produtos, já não está mais nos meios convencionais de marketing, como resenhas em revistas e jornais. Nem no espaço real das livrarias, onde se tomava conhecimento dos lançamentos por aquilo que se encontrava nas prateleiras. A disputa pela atenção do leitor e a venda se trava no terreno virtual., E é o que abastece os cofres bilionários de empresas como o Google e o Facebook. Autores contemporâneos tendem a desaparecer se não investirem nesse caminho. E autores clássicos tendem a integrar as prateleiras a custo zero, isto é, sem nenhum ganho para um editor.
Com o selo Copacabana (www.editoracopacabana.com.br), tenho procurado investir numa empresa que está entre a autopublicação e uma editora convencional. Para o autor, o ganho é semelhante ao da autopublicação. Com a vantagem de que o livro pode ser publicado em todas as plataformas, inclusive a própria Amazon. Ainda assim, a venda dependerá cada vez menos da editora e mais do próprio autor. A editora será cada vez mais uma parceira, dando acesso ao mercado, para que o próprio autor possa se vender. Por isso, a editora não atua mais como um filtro para a entrada no mercado, e sim como um facilitador.

terça-feira, 7 de julho de 2015

O estilo no seu estado mais elementar - e belo

"Privado", de Jairo Goldflus - ou um fotógrafo, o nu e um duplo mortal carpado




Especialista em retratar moda e celebridades usando a moda, Jairo Goldflus sempre disse que tinha dois bloqueios: fazer um livro e registrar mulheres nuas. O receio de fazer um livro ele me revelou quando fez o primeiro, Público, para o qual escrevi uma breve apresentação. O outro receio, de fotografar mulheres nuas, ele confessou no restaurante Maní, em São Paulo, num almoço em que o procurei para colaborar comigo, quando assumi a responsabilidade de editar a revista Playboy no Brasil.

Seu pé atrás se explica. Antes de mais nada, Jairo é um perfeccionista. A possibilidade de fazer algo abaixo de suas próprias expectativas faz um terreno novo, talvez oposto ao que teoricamente seja o seu trabalho da vida inteira, ser um campo minado. Porém, Jairo tem uma qualidade excepcional. Ele assume seu medo. No final, vai atrás do que tem medo. Enfrenta o campo minado. Passa por ele, não sabemos se com uma explosão ou outra. E sai do outro lado impecável, com sua blusa preta e tênis All Star coloridos.

Agora, Jairo pegou o desafio duplo, da mesma forma que um ginasta tenta pela primeira vez o duplo mortal carpado: fazer um livro novo - e de nus. O título: "Privado". Já seria uma boa ideia, em contraste com o "Público", mas Jairo testou o perfeccionismo, e a iniciativa de desafiar territórios antes proibidos, como a alma da  criação. O homem retrata o nu desde os tempos das cavernas e essa história já passou pela escultura grega clássica e o renascentismo, até chegar aos grandes fotógrafos contemporâneos. Como fazer algo novo? Como mostrar algo que ninguém viu?

Não importa se os objetos da lente de Jairo são celebridades, gente rara da qual ele se aproxima pelo trabalho em revistas de estilo de vida. Quando uma mulher está nua, celebridade ou não, se reduz à natureza elementar. E a resposta para o novo, para a beleza inédita, é o ponto de vista muito pessoal de Jairo: a diferença está no olho, na maneira de ver, na interpretação do nu. Ao lançar o foco sobre a mulher, Jairo eliminou tudo o mais. A roupa. O cenário. Trabalhou apenas com o fundo infinito. Em preto e branco. O que se vê é apenas, e realmente: a mulher. Como ele a vê.

A técnica, a inspiração, aquilo que fez dele uma dos fotógrafos de estilo mais respeitados do país, celebram agora uma beleza anterior, desmascarada de tudo, especialmente daquilo que aparentemente sempre foi o foco de seu trabalho: a roupa. Jairo mostra agora que a moda, na realidade, não é nada senão a extensão de quem a veste. O estilo, ou melhor, a beleza, já estão lá. No seu estado estado mais elementar. E belo. Ao tirar a roupa de suas modelos, Jairo continua fazendo a mesma coisa. Igual. Talvez, melhor.




segunda-feira, 6 de julho de 2015

A Conquista do Brasil, a crise e o caráter do brasileiro



Encontro um amigo meu de longa data num jantar e ele me olha de cara feia. Acaba de ler A Conquista do Brasil. E explica: "Esse livro me fez mal".

Como pode um livro de história causar mal estar a alguém? Ah, porque ele não é exatamente um livro de história. Fala sobre a formação do Brasil e do caráter do brasileiro, do seu povo e de sua elite dominante. Em A Conquista do Brasil, aparece a origem de tudo o que assistimos hoje. Meu amigo desanimou-se porque viu que as nossas dificuldades são congênitas. E isso lhe tirou a esperança, sobretudo neste momento, em que mergulhamos numa crise profunda.

Podemos nos levantar novamente? Podemos construir um grande país? Podemos alcançar o progresso no caminho já trilhado de liberdade e democracia? Sempre acreditei que sim. Mas ler A Conquista do Brasil, ao mesmo tempo em que assistimos o que acontece hoje em nosso país, faz pensar na necessidade de mudanças profundas.

O brasileiro é formado em uma série de vícios. Claro que não se pode generalizar, mas temos de aceitar que somos uma Nação, e caminhamos coletivamente. Essa personalidade geral que nos conduz, cuja rota ainda não conseguimos mudar, porque exige uma mudança profunda de mentalidade, precisa ser reavaliada desde a raiz.

O que está acontecendo hoje é apenas mais um e danoso exemplo. Já sabíamos que havia corrupção no governo do PT desde o final do primeiro mandato de Lula. Na disputa eleitoral, o então candidato do PSDB, Geraldo Alckmin, desancou Lula em um debate na TV, apontando as mazelas morais de sua administração. O brasileiro sabia daquilo tudo. Mas reelegeu Lula, porque para o brasileiro a moral não é o mais importante. O Brasil estava indo bem, iria melhorar. E por isso o brasileiro entendeu que valia a pena fazer vista grossa para o que acontecia. Se o brasileiro estiver ganhando dinheiro, podem roubar. E repetiu o gesto ao eleger Dilma como sucessora de Lula.

Isso faz pensar que o grande problema de Dilma não são as denúncias que revelaram a extensão a que chegou a máquina de corrupção no governo federal e seus estamentos. Se a economia estivesse indo bem, tudo passaria em branco. O que o brasileiro não gosta é que mexam no seu bolso. Os mesmos que hoje levantam a voz, querendo derrubar Dilma, são os que se locupletaram na primeira década de governo do PT. Basta as coisas irem mal, para se usar a corrupção como instrumento para ameaçar o governo e as instituições. Como se vê bem com a seleção brasileira de futebol, uma expressão do caráter nacional, o brasileiro não sabe ganhar. E sabe ainda menos perder. Quanto a seleção ganha, somos o futebol genial. Basta perder uma partida e já querem demitir o técnico. Funcionamos assim.

O brasileiro se aproveita do poder, quando o tem, e cobra dele - não o bom comportamento, que ninguém tem, mas o resultado. O brasileiro está nesta terra para se dar bem. O brasileiro, na verdade, não existe.  Pensa no Brasil apenas como um lugar para ganhar dinheiro. E gastá-lo em Miami.

O brasileiro só respeita a lei quando está no exterior. Desvaloriza a lei em seu país, como se aqui não precisasse praticá-la, da mesma forma que os primeiros portugueses que se instalaram na colônia. Muitos deles eram criminosos deserdados que quiseram explorar a imensa riqueza de um território sem controle. Não é apenas o povo indolente e despolitizado que a elite formada a partir dessa gente se acostumou a explorar. É o própria sistema, que muda conforme os interesses.

Hoje o PSDB levanta o discurso do parlamentarismo, a mudança da lei, para tirar poder de Dilma. A oposição também é elite, sofre dos mesmos males de quem está instalado no poder federal. Quando a economia não vai bem, vale tudo, mesmo mudar as regras do jogo. O golpismo no brasileiro é atávico. E não é assim que se constrói uma Nação confiável. Nem um futuro promissor.

O Brasil só vai ter jeito quando deixar de ser essa terra de bandoleiros que só agem pelo interesse próprio. Quando tiver noção de respeito à lei e de coletividade. Quando o governante for controlado e obrigado a se manter trabalhando para o interesse público. Os políticos brasileiros não são ruins como classe. Eles representam o povo brasileiro, são sua expressão. Ou melhor, são expressão dos interesses de quem coloca o dinheiro em seu bolso para representar forças muito particulares.

A  maioria do povo brasileiro não tem representante no Congresso. Está lá a bancada da Bala, dos Evangélicos, dos Ruralistas, e assim por diante. Os partidos pouco significam. Não existem forças políticas em torno de ideias e projetos coletivos para o país. O brasileiro é imediatista e não existe um plano de longo prazo para a economia nem a diminuição da injustiça social.

O Brasil precisa parar de explorar o que acredita ser sua maior riqueza: seu imenso território e seus recursos naturais. A maior riqueza do Brasil é o povo, carente de tudo, que representa hoje um dos maiores mercados de consumo do mundo. Mas o brasileiro precisa ganhar para gastar aqui. Respeitar as leis daqui. Promover o bem daqui. Assim, somente, enfim teremos historicamente a oportunidade de fazer um grande país. E poderemos ler A Conquista do Brasil realmente como um livro de história, e não algo que nos desaponta e faz descrer no futuro.


quinta-feira, 2 de julho de 2015

O retorno dos leitores em A Conquista do Brasil

A melhor crítica sempre é a do leitor. E também a mais importante. Dos leitores é que saem as recomendações que realmente vendem livros. Fico muito satisfeito, agora que os primeiros leitores começam a acabar de ler ‪#‎AConquistadoBrasil‬ com o resultado que colho diariamente. Gente que eu não conheço, gente de longe, que rompe a barreira da distância para mandar mensagens de carinho e de agradecimento. Como a de hoje, da leitora R. M., de São Paulo, que reproduzo aqui, e dizexatamente o que eu desejava ter alcançado com esse trabalho:
"Thales, parabéns por seu livro, por suas pesquisas, por seu texto perfeito, enfim, por tudo que compõe um excelente livro. E pela releitura original que você faz a respeito não apenas sobre o fato histórico, mas, principalmente, a respeito da formação da sociedade brasileira. Obrigada por ter me 'ensinado' tanto a respeito de parte da minha própria origem. Afinal, minha tataravó era, salvo engano, tapuia. Meu orgulho só aumentou pela minha ascendência."
Bacana! Eu que agradeço a gentileza do retorno.

quarta-feira, 17 de junho de 2015

Nem os portugueses sabem


Para minha satisfação, a editora Planeta, que publica A Conquista do Brasil no mercado brasieliro, adquiriu os direitos também para a venda do livro em Portugal, onde deve ser lançado até o final do ano. Uma pesquisa recém divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo mostra o motivo de tanto interesse pelo livro, disputado ferozmente com outra editora de prestígio. Segundo levantamento solicitado pela Folha, a pergunta mais feita pelos portugueses no Google é: "quem descobriu o Brasil?" E a segunda é: "quem colonizou o Brasil?" Isso vem na frente de "como conseguir um emprego no Brasil". Uma pergunta que os portugueses também se fazem há centenas de anos.

O começo do Brasil é ainda tão pouco conhecido dos brasileiros quanto dos portugueses. Os primórdios do descobrimento foram sempre pouco pesquisados e valorizados como raiz da nossa história. Para se ter uma ideia, o best seller "Brasil: uma biografia", lançado este ano pela Cia das Letras, dedica apenas 14 das suas mais de 500 páginas aos descobridores e primeiros colonizadores do país. Mais centrado em explicações esquemáticas da economia brasileira, o livro destaca em primeiro lugar a criação da indústria açucareira, como se o Brasil tivesse realmente começado ali.

Como se pode ver em A Conquista do Brasil, a ocupação da costa brasileira começou bem antes, foi muito mais aventuresca, sangrenta, rica e complexa. A indústria açucareira é posterior e apenas uma peça da formação do Brasil e da sociedade brasileira. O começo, assim como a primeira infância na formação, temperamento e personalidade de todo indivíduo, é mais importante do que nos acostumamos a pensar. Um conhecimento mais profundo desse período, como revela A Conquista do Brasil, é decisivo para a compreensão do país de hoje e da sociedade brasileira.

O Brasil não foi descoberto pelos portugueses. E a história da colonização envolve guerra e a participação da Inquisição contra os "hereges", assim compreendidos tanto os "hereges canibais" quanto os "hereges protestantes" do Rio de Janeiro. Além da participação de figuras hoje legendárias, que o livro recupera, mostrando como eram verdade, a começar por João Ramalho, Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e líderes indígenas dos quais se sabia pouco até aqui, como Aimberê e Cunhambebe. A indústria açucareira veio depois e por acaso - como mostra o livro, foi iniciada, bizarramente quase sem querer, graças a uma história de amor.

A  história não é feita apenas de movimentos de lógica econômica, e sim da ação de indivíduos movidos por paixão, ambição, ou simples obra do acaso. A história é construída pelo homem, que nem sempre obedece a trilhos da razão. Explicar o Brasil é entender o brasileiro, desde a sua infância, o seu DNA. Por isso acredito que A Conquista do Brasil permanece leitura essencial - para portugueses e brasileiros.


http://www1.folha.uol.com.br/asmais/2015/06/1641394-quem-descobriu-o-brasil-perguntam-portugueses-em-site-de-busca.shtml

quinta-feira, 11 de junho de 2015

O Brasil tem jeito?

Estive no Rio, no último dia 8, promovendo o lançamento de A Conquista do Brasil, na Livraria Cultura do Cine Vitória, na Cinelândia. Dessa vez, participei de uma conversa com uma ativa plateia sobre o livro, as origens do Brasil, da sua política e do comportamento político, com a gentil participação da jornalista Cristina Serra, do Fantástico, da TV Globo.

Eu e Cristina nos conhecemos há muito tempo, desde a faculdade, e nos encontramos esporadicamente ao longo da carreira. Ela acumulou longa experiência na convivência com os políticos e a política, em seus 17 anos cobrindo Brasília pelo Jornal Nacional. Fora da tela, sempre foi uma mulher afiada, de ideias formadas e muito empenhada em contribuir para o progresso do país, especialmente na área social.

No debate, Cristina nos deu seu retrato da política, de quem conviveu e convive com ela de perto. Em Brasília, os políticos tendem a defender os interesses que os elegem, que não são necessariamente do eleitorado, e sim dos apoiadores financeiros que sustentam suas campanhas. Na prática, existem menos os partidos, que têm pouca importância, e mais grupos de interesse - como a bancada ruralista, a bancada evangélica e assim por diante.

Como autor de um livro que mostra desde o início da construção deste país como são feitas suas práticas, eu permaneço na pergunta que me levou a escrevê-lo: será que não conseguimos nos livrar da má política, especialmente da corrupção, por questões congênitas? Será possível mudar um país campeão de corrupção sem muitos anos de educação e depuração de uma sociedade que se acostumou a ver seu país como um rico território aberto para o saque, e que só respeita a lei quando está em Miami ou Paris, para onde leva o dinheiro do butim?

Cristina acredita firmemente que a questão pode ser resolvida com um melhor controle dos financiamentos de campanha, que estão na baila na atual reforma política. É preciso que os partidos tenham meios de se sustentar com seus filiados, e não com umas poucas empresas contribuintes, que assim compram seu lobby em Brasília.

Concordamos em muitas coisas. Uma delas é que o Brasil ainda está no começo e nossa geração, em tempos dos quais ambos participamos ativamente como profissionais de imprensa, fez o país avançar muito - da velha e emperrada ditadura militar a um país mais jovem, onde prevalece o Estado de  Direito, num regime democrático, com uma economia muito mais estável e que empreende um esforço considerável no sentido de diminuir as diferenças sociais.

É verdade que recentemente paramos nesse caminho - e a onda de corrupção faz parecer que tivemos um terrível retrocesso. Porém, gente como Cristina, com seu sorriso sempre confiante e sua certeza patriótica, me fazem manter as esperanças. O Brasil ainda não será um país de estrangeiros que nasceram aqui, e sim de gente que pensa não apenas no próprio bolso, como também no bem coletivo, no progresso deste lugar do qual dependemos, todos. É preciso coragem. E não desanimar.


terça-feira, 2 de junho de 2015

A importância do Rio de Janeiro em A Conquista do Brasil


No próximo dia 8 de junho, segunda-feira, faremos o lançamento de A Conquista do Brasil na Livraria Cultura do Cine Vitória, no Centro do Rio. Uma data especial, não só pela presença da jornalista da TV Globo Cristina Serra, com quem vou promover um bate papo sobre a política e os políticos de hoje e suas raízes na origem do país, como pela importância do Rio de Janeiro no livro - e na história do país.

Pouca gente sabe por que o Rio foi capital brasileira e é uma cidade tão importante na nossa cultura e história. O Rio virou capital por obra do Marquês de Pombal, que considerava sua fundação o verdadeiro marco da colonização do país. Em A Conquista do Brasil, se entende a razão. Até a fundação do forte no morro Cara de Cão por Estácio de Sá, a costa brasileira ainda tinha zonas onde os portugueses não entravam - especialmente o entorno da baía da Guanabara, onde a resistência à colonização se concentrava.

A fundação do forte de São Sebastião foi o princípio do extermínio dos índios tupinambás, que se entrincheiravam em grandes aldeias, transformadas em verdadeiras fortalezas, como aprenderam a fazer com os franceses protestantes. O combate aos índios, que uniu três forças - galeões de guerra vindos de Portugal, a armada do governador Mem de Sá e os mercenários paulistas - foi engendrado e promovido pelos jesuítas, que desejavam erradicar de uma vez os "hereges" do Brasil - tanto os índios, "selvagens canibais", quanto os franceses protestantes.

O resultado disso foi um massacre que não poupou mulheres, velhos e crianças. Estácio de Sá morreu após agonizar por um mês, consequência de uma flechada no olho. Tinha 22 anos. A costa brasileira foi finalmente integrada sob o domínio português. As terras da Guanabara foram distribuídas entre portugueses, paulistas e os próprios jesuítas, que se transformaram nos maiores latifundiários do Novo Mundo.   O Rio de Janeiro foi trasladado do forte, que  mais servia a propósitos militares, para o mais aprazível Catete.

 A conquista do Rio é um dos episódios mais importantes da história brasileira e enriquece nosso entendimento do que é o Brasil. O célebre historiador e brasilianista Kenneth Maxwell escreveu na revista Época que essa é uma passagem "absolutamente fascinante" de A Conquista do Brasil. Tenho que concordar com ele.