quarta-feira, 1 de maio de 2024

Senna e um aperto de mão


 Eu não estava esperando, e talvez por isso me lembre ainda mais, como se fosse ontem - ou melhor, hoje, agora. Eu trabalhava numa revista de estilo de vida, eles estavam trazendo para o Brasil a marca Audi. Na sala de Leonardo Senna, irmão do Ayrton, em seu escritório no bairro de Santana, de repente, sem bater na porta, ele entrou. Levantei, Ayrton veio, me deu um sorriso, e apertou minha mão.

Um simples momento, do qual eu lembro até hoje, uma sensação difícil de descrever. Como é difícil de descrever a importância que Ayrton tinha naquele tempo, em que o Brasil lutava para sair de uma crise penosa, desacreditado de si mesmo, e ele levantava os brasileiros, carregando a bandeira do país, a cada vitória. Mostrava que o Brasil ainda podia ser o melhor, e que podíamos fazer coisas fantásticas, podíamos acreditar em nós mesmos, acreditar na vitória, acreditar no impossível.

Acreditar era fundamental, e ele, além do talento natural, tinha aquela obstinação pela vitória: não desistia, lutava contra o sistema, contra as adversidades, as circunstâncias que o jogavam para trás. No dia em que morreu, exatos 30 anos atrás, o impacto foi ainda mais terrível, porque não morria só Senna, o ídolo do esporte. Era uma ducha de água fria em todos os que começavam a acreditar, que viviam aquele tempo intensamente, absorviam seu espírito. Ele era humano, afinal,  e o Brasil por um instante pareceu amaldiçoado pelo azar, pelo destino, em choque como o cavaleiro de metal, imóvel dentro daquele carro batido contra o muro do destino.

Não houve choro comovido, não houve multidão na rua acompanhando o féretro, não houve palavra amiga que consolasse aquilo. E eu sinto essa perda até hoje.

Então eu penso naquele aperto de mão. Um aperto de solidariedade, de positividade, de confiança. De gente que se conhece, não por se conhecer, mas porque no Brasil todos se conhecem, sabem como são. Estamos entre irmãos, dizia aquela mão que guiava o carro que levava um país e segurava a minha.

Obrigado, irmão, 30 anos depois, eu e muita gente ainda te amamos.


@institutoayrtonsenna

@leonardosennasilva 

#ayrtonsenna

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