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quarta-feira, 17 de junho de 2015

Nem os portugueses sabem


Para minha satisfação, a editora Planeta, que publica A Conquista do Brasil no mercado brasieliro, adquiriu os direitos também para a venda do livro em Portugal, onde deve ser lançado até o final do ano. Uma pesquisa recém divulgada pelo jornal Folha de S. Paulo mostra o motivo de tanto interesse pelo livro, disputado ferozmente com outra editora de prestígio. Segundo levantamento solicitado pela Folha, a pergunta mais feita pelos portugueses no Google é: "quem descobriu o Brasil?" E a segunda é: "quem colonizou o Brasil?" Isso vem na frente de "como conseguir um emprego no Brasil". Uma pergunta que os portugueses também se fazem há centenas de anos.

O começo do Brasil é ainda tão pouco conhecido dos brasileiros quanto dos portugueses. Os primórdios do descobrimento foram sempre pouco pesquisados e valorizados como raiz da nossa história. Para se ter uma ideia, o best seller "Brasil: uma biografia", lançado este ano pela Cia das Letras, dedica apenas 14 das suas mais de 500 páginas aos descobridores e primeiros colonizadores do país. Mais centrado em explicações esquemáticas da economia brasileira, o livro destaca em primeiro lugar a criação da indústria açucareira, como se o Brasil tivesse realmente começado ali.

Como se pode ver em A Conquista do Brasil, a ocupação da costa brasileira começou bem antes, foi muito mais aventuresca, sangrenta, rica e complexa. A indústria açucareira é posterior e apenas uma peça da formação do Brasil e da sociedade brasileira. O começo, assim como a primeira infância na formação, temperamento e personalidade de todo indivíduo, é mais importante do que nos acostumamos a pensar. Um conhecimento mais profundo desse período, como revela A Conquista do Brasil, é decisivo para a compreensão do país de hoje e da sociedade brasileira.

O Brasil não foi descoberto pelos portugueses. E a história da colonização envolve guerra e a participação da Inquisição contra os "hereges", assim compreendidos tanto os "hereges canibais" quanto os "hereges protestantes" do Rio de Janeiro. Além da participação de figuras hoje legendárias, que o livro recupera, mostrando como eram verdade, a começar por João Ramalho, Manoel da Nóbrega, José de Anchieta e líderes indígenas dos quais se sabia pouco até aqui, como Aimberê e Cunhambebe. A indústria açucareira veio depois e por acaso - como mostra o livro, foi iniciada, bizarramente quase sem querer, graças a uma história de amor.

A  história não é feita apenas de movimentos de lógica econômica, e sim da ação de indivíduos movidos por paixão, ambição, ou simples obra do acaso. A história é construída pelo homem, que nem sempre obedece a trilhos da razão. Explicar o Brasil é entender o brasileiro, desde a sua infância, o seu DNA. Por isso acredito que A Conquista do Brasil permanece leitura essencial - para portugueses e brasileiros.


http://www1.folha.uol.com.br/asmais/2015/06/1641394-quem-descobriu-o-brasil-perguntam-portugueses-em-site-de-busca.shtml

terça-feira, 10 de março de 2015

Stanford e a receita para mudar o mundo

Em janeiro, visitei a Universidade de Stanford para escrever uma reportagem de encomenda da TAM nas Nuvens, revista de bordo da TAM, com a missão de entender porque saem de lá os jovens que fundam companhias como o Google e, dessa forma, têm mudado o planeta. E encontrei lá não apenas muitas boas ideias sobre educação como uma visão muito interessante sobre o processo de desenvolvimento do mundo atual.

Stanford não se resume à Business School, seu pedaço que chama mais atenção, por razões simples. Dali, saíram nos últimos anos empreendedores que fundaram companhias com um faturamento somado de mais de 300 bilhões de dólares, criadores de marcas como Cisco, Gap, Dolby, eBay, Linkedin, Netflix, Nvidia e Silicon Graphics. Phil Knight, fundador da Nike, em 2006 deixou diante da Business School a pegada de seus tênis numa placa de concreto, depois de doar 105 milhões de dólares à Universidade, misto de incentivo e agradecimento à escola que lhe deu instrumentos para fazer fortuna.

Apesar dessa vitrine, a escola de negócios apenas reproduz a mentalidade de Stanford em todas as áreas, da medicina à engenharia. Sua filosofia encaixou-se com perfeição no mundo moderno, porque na realidade é uma escola onde o ensino é justamente convencional e focado na liberdade de criação. O aluno não vai lá para receber informação, que adquire pela internet, nos livros ou outras fontes de consulta. vai discutir e debater ideias com colegas e professores e criar alguma coisa nova a partir disso.

Na Business School, há liberdade para se criar e testar projetos. A primeira pergunta que se faz ali a todos os alunos é: "como você acha que pode mudar o mundo?" Refletir e reunir forças sistematicamente com esse propósito é o que faz os alunos de Stanford literalmente recriarem o mundo. Os resultados dos egressos da universidade mostram que isso é bastante possível, ainda mais numa era em que a inteligência e o espírito criativo permitem a qualquer um construir uma fortuna a partir, literalmente, do mais puro pensamento.

Stanford tem uma mentalidade global, e eu diria mais, holística. Incentiva projetos interdisciplinares, alguns deles fomentados por gordas bolsas do governo americano, em áreas como cibernética e nanotecnologia, com alunos das mais diferentes áreas, da biologia ao Direito. Isso não tem apenas relação com a visão globalizada da tecnologia e dos mercados, e sim com o conceito amplo do conhecimento, que envolve todas as ciências, artes, países e épocas.

As obras de arte compradas a peso de ouro que decoram o campus, o museu rico em peças que fazem viajar por diversos países e toda a história da Humanidade, a própria arquitetura de Stanford representam essa construção histórica do conhecimento da qual ela se apropria para depois recriar tudo. Para completar, Stanford sedimenta o ideário de seu fundador, Leland Stanford, que enriqueceu com as ferrovias no tempo da expansão americana para o interior, e dava a força de fé cristã ao seu gosto pela riqueza. Como na passagem bíblica, que ele fez transcrever na parede da Memorial Church, marco zero do campus: “Uma nobre ambição está entre as mais úteis influências da vida estudantil, e quanto maior for a ambição, melhor. Nenhum homem trabalha bem a menos que possa falar de seu trabalho como o Grande Mestre falou do prazer colocado à sua frente.”

Stanford me lembrou uma frase de Bill Gates, entrevistado nas páginas amarelas de Veja. Quando o repórter lhe perguntou que conselho ele daria para que o Brasil pudesse produzir tecnologia de ponta, Gates respondeu, simplesmente: "Construam bibliotecas". O segredo do futuro está nas velhas verdades do passado, sobretudo a de que são as ideias que movem o mundo. Stanford, como instituição, as mantém e sabe praticá-las.

Para quem quiser ler a matéria completa, não precisa pegar o avião. Há uma versão online da revista (a matéria se encontra na pág. 122). Link:

http://www.tamnasnuvens.com.br/revista/site/