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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

A importância de São Paulo na Conquista do Brasil

Agora que O Caminho do Brasil está indo para a terceira tiragem, começa também a chegar às mãos dos professores, que têm nessa obra uma instrumento muito importante para a formação dos estudantes. O livro mostra muito bem o DNA das nossas virtudes e defeitos. E compreendê-los é o melhor caminho para melhorar, numa hora em que o Brasil precisa, e muito, melhorar.

O Caminho do Brasil é recomendado sobretudo aos professores de São Paulo. Mostra a importância dos paulistas na formação do Brasil colônia, subestimada na maioria dos livros de História, como a Biografia do Brasil, que praticamente começa pela indústria do açúcar no Nordeste, e dedica somente 14 páginas ao período do nascimento brasileiro.

Capa da segunda impressão
Ao escrever A Conquista do Brasil, eu mesmo fiquei surpreso sobre quanto não sabia a respeito da nossa gênese - e da participação dos paulistas. Desde João Ramalho, misterioso criminoso que se instalou no planalto e criou uma indústria de escravos índios, São Paulo teve importância fundamental na formação do país.

Foi a guerra criada pelos mamelucos de Ramalho contra os índios que terminou no massacre dos tupinambás na baía da Guanabara, com a participação dos portugueses, sob as bençãos dos padres jesuítas.  Os paulistas não apenas ajudaram a fundar o Rio de Janeiro como repartiram suas terras com a Igreja. Estenderam a colônia ao sul, abaixo de Santa Catarina, e depois pelo sertão. Com isso, se instalaria de fato a colônia portuguesa na costa brasileira, ainda além do que comandava o Tratado de Tordesilhas.

Os paulistas foram os primeiros brasileiros de verdade. João Ramalho foi o Adão do Brasil. A partir dos seus múltiplos casamentos com as índias, criou-se uma raça que reunia a ambição dos portugueses ao conhecimento da mata. Era gente feroz, que recebeu a denominação de "mameluco", empregado originalmente aos guerreiros mouros, por quem os portugueses tinham grande admiração. Horrorizavam os jesuítas, por viverem quase como os índios, razão pela qual São Paulo foi fundada longe da vila da Borda do Campo, onde Ramalho era praticamente um rei - uma distância grande o suficiente para se proteger dele, e perto o bastante para recorrer a ele, quando necessário.

Essa figura lendária, que teria seus dias de glória e morreria no ostracismo, é essencial para compreender a origem dos paulistas e do Brasil. Independente, pouco afeito a obedecer a administração central, numa terra que dependeria de aventureiros para sobreviver, seu espírito permaneceu vivo por gerações. E encontrou seu momento certo no final do Século XIX, quando o declínio da economia rural no Nordeste, baseada no trabalho escravo, deu lugar ao trabalho assalariado na plantação de café e no processo seguinte de industrialização que transformaram São Paulo no carro chefe da economia nacional.
Ramalho na versão edulcorada

A guerra, a mutação dos jesuítas, que de catequizadores se transformaram aos poucos em patrocinadores do esforço de guerra, a posição estratégica de São Paulo na marcha para o interior, tudo está em A Conquista do Brasil com grande riqueza de detalhes. Ali se descortina a história  muito próxima da realidade de seus protagonistas, com uma revisão de documentos originais deixados por administradores, jesuítas e viajantes, como o alemão Ulrich Schmitt, que descreveu a Vila de São Paulo como um lugar de "dar medo", ao ali passar, vindo de Assunção no Paraguai pelo caminho conecido como Peabiru.

A Conquista do Brasil é, de fato, uma história de dar medo, com canibais, guerreiros sanguinários, administradores corruptos e padres implacáveis. É também a origem deste país que está aí, e ao terminar o livro deixamos de nos surpreender com o fato de que em muitos aspectos ainda estamos lutando para ser civilizados.