Com A Exploração do Brasil (1700-1800), a narrativa do terceiro século da colonização portuguesa, completo meu mergulho na origem do nosso atraso crônico -- do Brasil e de Portugal também.
Como reportagem histórica, procurei investigar o nosso DNA, onde estão nossos maiores males - e também nossas virtudes. Não foi nada fácil chegar o mais perto possível da realidade da época, nos seus menores detalhes, e ao mesmo tempo o conjunto, a conexão entre os fatos, o movimento da história.
Para escrever A Exploração do Brasil, no início enfrentando todas as dificuldades da pandemia Covid-19, fui a muitos lugares. Andei nas minas subterrâneas de Ouro Preto; fui de Olinda e Recife ao sertão de Pernambuco e Alagoas; aproveitando convite da Livraria da Vila para participar da sua Flip sobre as águas, o Navegar é preciso, subi o Rio Negro a partir de Manaus. Andei na mata amazônica, e nos antigos campos de garimpo no cerrado de Goiás.
Em Lisboa, estive nas ruínas da igreja do Carmo, remanescentes do terremoto que destruiu a cidade no meio do século XVIII, e na Praça do Comércio, marco da reconstrução da Baixa, com dinheiro sobretudo da elite colonial brasileira.
Ao par da reportagem de campo, fiz um extenso trabalho de pesquisa, dada a farta documentação da época. Ainda assim, percebi como, apesar de contados e recontados tantas vezes, episódios como o da Inconfidência Mineira ainda são pouco compreendidos.
A própria natureza de uma conspiração oferece pistas falsas e desentendimentos; isto desenredado, porém, a narrativa envolvendo os "poetas e os endividados", como chamo este capítulo do livro, surge como uma eletrizante novela da história e, ao contrário do que procuram dizer alguns revisionistas, de grande significado.
Como nos livros anteriores, saí dessa experiência fascinado e ao mesmo tempo impressionado sobre o quanto sabemos pouco sobre o passado e nós mesmos. O que não se aprende na escola, sobretudo, é qual a relação desse passado nem tão distante com a realidade de hoje.
O Brasil do século XVIII fecha esta trilogia com a missão cumprida: entender a causa do nosso atraso crônico e ao mesmo tempo oferecer reflexão para o nosso desenvolvimento.
Um presidente americano já disse que os Estados Unidos não têm nenhum defeito que não possa ser resolvido com as suas qualidades. Este também é o nosso caso.