quinta-feira, 20 de março de 2025

O Brasil passado a limpo

Com A Exploração do Brasil (1700-1800), a narrativa do terceiro século da colonização portuguesa, completo meu mergulho na origem do nosso atraso crônico -- do Brasil e de Portugal também.

Como reportagem histórica, procurei investigar o nosso DNA, onde estão nossos maiores males - e também nossas virtudes. Não foi nada fácil chegar o mais perto possível da realidade da época, nos seus menores detalhes, e ao mesmo tempo o conjunto, a conexão entre os fatos, o movimento da história.

Para escrever A Exploração do Brasil, no início enfrentando todas as dificuldades da pandemia Covid-19, fui a muitos lugares. Andei nas minas subterrâneas de Ouro Preto; fui de Olinda e Recife ao sertão de Pernambuco e Alagoas; aproveitando convite da Livraria da Vila para participar da sua Flip sobre as águas, o Navegar é preciso, subi o Rio Negro a partir de Manaus. Andei na mata amazônica, e nos antigos campos de garimpo no cerrado de Goiás.

Em Lisboa, estive nas ruínas da igreja do Carmo, remanescentes do terremoto que destruiu a cidade no meio do século XVIII, e na Praça do Comércio, marco da reconstrução da Baixa, com dinheiro sobretudo da elite colonial brasileira.

Ao par da reportagem de campo, fiz um extenso trabalho de pesquisa, dada a farta documentação da época. Ainda assim, percebi como, apesar de contados e recontados tantas vezes, episódios como o da Inconfidência Mineira ainda são pouco compreendidos.

A própria natureza de uma conspiração oferece pistas falsas e desentendimentos; isto desenredado, porém, a narrativa envolvendo os "poetas e os endividados", como chamo este capítulo do livro, surge como uma eletrizante novela da história e, ao contrário do que procuram dizer alguns revisionistas, de grande significado.

Como nos livros anteriores, saí dessa experiência fascinado e ao mesmo tempo impressionado sobre o quanto sabemos pouco sobre o passado e nós mesmos. O que não se aprende na escola, sobretudo, é qual a relação desse passado nem tão distante com a realidade de hoje.

O Brasil do século XVIII fecha esta trilogia com a missão cumprida: entender a causa do nosso atraso crônico e ao mesmo tempo oferecer reflexão para o nosso desenvolvimento.

Um presidente americano já disse que os Estados Unidos não têm nenhum defeito que não possa ser resolvido com as suas qualidades. Este também é o nosso caso.

terça-feira, 18 de março de 2025

O livro proibido, em A exploração do Brasil (1700-1800)

"Pode vir", disse a bibliotecária do Museu da Inconfidência, pelo WhatsApp, e eu rodei 700 km de São Paulo a Ouro Preto, e outros 700 km de volta, apenas para ver um livro - isto mesmo, um livro.

Mas que livro! Sua história valeria por si outro livro. O Recueil des Loix des Etats-Unis, compilação das leis dos estados confederados americanos, era proibido na França absolutista, onde foi impresso numa editora clandestina.

​O Livro Proibido, cuja simples posse era crime de traição à Coroa, punível com a morte, veio para o Brasil no bolso de um futuro inconfidente, que conheceu o novo governador Barbacena na viagem de navio e tornou-se preceptor de seu filho. Passava o dia no palácio, onde morava. De noite, conspirava.

O Recueil passou pelas mãos de Tomás Antonio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa - poetas, conspiradores e bacharéis, encarregados de usá-lo como base para escrever uma constituição da República das Minas Gerais e Rio de Janeiro. 

O livro esteve no bolso também de Tiradentes, que o repassava a outros conspiradores. Quando todos foram presos, estava com Amaral Gurgel. Foi juntado ao inquérito, como prova material.

E eu o segurava ali, agora, com luvas de borracha. Queria saber o que estava rabiscado nele à mão, vê-lo, senti-lo: o livro que podia ter mudado por completo a história do Brasil.

Mais uma vez, tudo o que eu achava que sabia sobre a história mudou por completo. Toda a trama da Inconfidência, o contexto e seus detalhes estão em A Exploração do Brasil (1700-1800). Para mim, uma descoberta de quão pouco eu sabia da realidade desse século e sua influência para o Brasil até hoje, simbolizada para mim neste livro que cabe na palma da mão.

Suspeito que os leitores e A Exploração do Brasil, passando pela experiência de estar diante da realidade que se materializa como o livrinho que eu tive o privilégio de ter nas mãos, levarão o mesmo choque eu levei.


O século que definiu o futuro: A Exploração do Brasil (1700-1800)

A Exploração do Brasil (1700-1800), foi muito esperado por leitores dos dois livros anteriores e, creiam, mais do que ninguém, por mim mesmo.

Demorou, porque teve a pandemia, logo quando eu começava a pesquisa de campo. Mas isso foi só o começo. Foi um trabalho complexo, por tratar-se de um século muito documentado. A devassa da Inconfidência, por exemplo, é um inquérito judicial com milhares de páginas.

Tive que fazer duas coisas: selecionar o que interessava de relevante e interessante, no meio de um vasto mar de documentos originais e obras já publicadas, assim como descobrir o que nunca foi publicado.

Para poder escrever o livro, preciso eu mesmo entender o que aconteceu - e, na pesquisa, a gente passa por esse processo de aprendizado. Se eu mesmo não chegar a uma conclusão, nem me surpreender com o que encontro, não vou elucidar nem tirar o leitor de onde ele já está.

Nesse aspecto, para mim, o terceiro volume da minha trilogia colonial saiu ainda melhor do que eu podia imaginar. Havia episódios da história sobre os quais eu nada sabia, como a Guerra dos Emboabas, ou sabia mas não entendia, como a Guerra dos Mascates. E havia o que eu sabia e na realidade era completamente diferente, como a Inconfidência Mineira.

Mais que tudo, a narrativa do século revela que tudo foi parte de um mesmo movimento. Foi um século determinante, não apenas para a nossa formação, como para a definição das causas do nosso atraso crônico: econômico, político e social.

Com isso, está completa a minha trilogia colonial, projeto que tomou dez anos da minha vida. Nesse tempo, meu filho cresceu, a vida mudou, e mudou também meu entendimento da vida e do Brasil.

Uma jornada para a qual estão todos convidados - os que já estão nela, com a leitura dos dois primeiros livros, e os que ainda podem embarcar de primeira viagem.

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