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segunda-feira, 22 de agosto de 2016

O saldo da festa é a saudade do futuro

Como o palhaço de circo, o Brasil lava a cara depois do espetáculo

Medalhista olímpico, Stefan Henze, de 35 anos, técnico de canoagem na delegação alemã, morreu durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro dentro de um táxi que bateu em um poste. O taxista fugiu e, uma semana depois, ainda continua desaparecido. Culpa do Rio de Janeiro? Mero acidente? Destino?

Não importa. A Olimpíada brasileira teve uma porção de notas desagradáveis: o superfaturamento das obras, a não concretização de várias metas olímpicas, em especial o saneamento da água, que breve voltará a ficar como antes, a finalização das obras de infra-estrutura, a mudança no quadro da segurança pública.

Para complicar, o país se encontra na mais grave crise econômica desde os idos da falida dittadura militar, o que transmitiu ao mundo a imagem de um país na miséria, gastando o dinheiro que não tem para receber os ricos na sua casa.

Porém, não importa. O espetáculo foi bonito: nas festas de abertura e encerramento, nos momentos esportivos que passaram para a história. O fulgurante fim de carreira de dois dos maiores, se não os maiores, astros do esporte olímpico, recordistas em desempenho e em premiações: Michael Phelps e Usain Bolt. O brilho de uma estrela da ginástica,com quatro medalhas de ouro: Simone Biles. O primeiro ouro olímpico do futebol brasileiro, levantado do descrédito da própria Nação. E o esforço individual de tanta gente com histórias cativantes e inspiradoras, na maior confraternização entre Nações da Terra.

O saldo da festa não é a saudade destas duas semanas, e sim a saudade do futuro: aquilo que poderíamos ser e realizar, se tivéssemos feito as coisas direito, mas não seremos ou fafemos. Não nas Olimpíadas, e sim neste país. Está provado que o brasileiro é capaz de grandes realizações, mas só apresenta sua melhor face quando exposto aos olhos do mundo, para agradar o estrangeiro, mostrar uma cara que não tem. Com a saída dos visitantes, voltamos a ser apenas nós mesmos, como o palhaço que lava a cara depois do espetáculo.

Dentro de casa, olhando no espelho, o Brasil é aquele outro, o do motorista que foge do acidente de trânsito, do dirigente que superfatura a obra, do torcedor que vaia o adversário na entrega de medalha, como aconteceu com o francês Lavillanie, prata no salto com vara.

Um país que não vai adiante, atolado na corrupção cotidiana, cujos tentáculos formam uma malha paralisante, que perpetua a roubalheira, a inércia e a desesperança, inutilizando o trabalho de todos aqueles que procuram fazer algo construtivo.

Sim, o Brasil é bom  de festa, com o samba, suas mulatas, a simpatia esquizofrênica de seu povo, que é tão fácil com o visitante, tão duro consigo mesmo, e tão leniente com nossos descalabros. O Brasil é bom de festa e ruim de vida, que começa dura novamente, nesta segunda-feira de cinzas.