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quinta-feira, 28 de março de 2019

Escritor não é profissão

Por vezes, me identificam assim, numa entrevista: "o escritor Thales Guaracy..." Ou me perguntam como é "ser um escritor".

Pode parecer estranho, mas isso para mim não tem sentido. Nunca escrevi na ficha de hotel, onde se coloca a profissão: "escritor". Nunca me referi assim a mim mesmo, nunca me apresentei dessa forma, a ninguém.

Escrever não é nada. Pelo menos, em si. Importante, para mim, são as ideias. Escrever é pensar. O resto é datilografia.

Não me defino, portanto, como escritor. Sou jornalista profissional, formado na USP. Sou bacharel em Ciências Sociais - antropologia, sociologia e política - formado também na USP. 

Na ficha, escrevo: "jornalista", para facilitar, já quem não tem muita gente que sabe o que é um cientista social. E só. (Bem, hoje em dia tem muita gente que não sabe o que é jornalista).

Você pode ser um engenheiro e escrever um livro. Isso não é ser escritor, é ser engenheiro. O mesmo se passa com um médico, um advogado. Eu escrevo também romance. Para mim, nem o romancista é escritor. É um romancista.

Como jornalista, cientista social, e também romancista, coisas que parecem tão diferentes, eu na realidade sou uma coisa só: um pensador. E, por saber como os romanos que a palavra voa, a escrita fica, ("verba volant, scripta manent", o ditado em latim), escrevo.

Escrever é a consequência do que somos, do que fazemos, e não um propósito, um fim em si. O que importa é levar adiante as ideias. E melhorar alguma coisa do mundo, quando podemos, um pouquinho.

O que escrevemos hoje estará para a civilização do futuro como estão para nós, hoje, os hieróglifos egípcios. Porém, se não fossem os hieróglifos, talvez nada se saberia do Egito, e não fosse a escrita talvez nunca tivéssemos chegado, no mundo, a alguma sabedoria.