segunda-feira, 15 de julho de 2024

A volta aonde nunca fui

Eu nasci no bairro da Liberdade, como bem sabe muita gente, ou quem leu Além da Memória,  meu poema sobre a primeira infância, esse período mágico da vida da gente. Meus primeiros grandes amigos eram descendentes de japoneses. Meu herói de infância foi o Nacional Kid. Sou faixa roxa do judô. Cresci e vivi imerso no imaginário japonês,  com seus desenhos, produtos e, sobretudo, o que me transmitiu a amizade com muitos japoneses e seus descendentes no Brasil.

Por isso, para mim é também um tanto mágico conhecer o Japão. Sempre me aproximei dos japoneses por algo que para mim é uma identidade: a gentileza, a polidez, o recolhimento, a contemplação,  o respeito pelos outros e pela natureza, o perfeccionismo nos mínimos detalhes - da maneira como se corta o peixe a como se faz um carro.

Essa cultura, como conjunto, e cada um de seus elementos, fizeram um país ir muito além do país. Ela é carregada por seus produtos, sua comida, sua literatura, seu cinema e cada um de seus filhos. Como Portugal, o Japão é um exemplo de como a cultura faz uma nação ser muito maior do que aquilo que cabe no seu território. É tão forte, que prova como um povo com um estilo de vida e uma tradição milenares pode ser capaz de se adaptar a tudo - à guerra,  à tecnologia, enfim, ao tempo - e preservar e projetar sua essência, onde está o seu melhor.

É isso o que eu penso, olhando o motorista que conduz o trem em Tóquio. Um desses homens simples, mas que para mim eram heróis, nos meus tempos de menino na Liberdade, quando olhava os lixeiros que passavam na rua, viajando pendurados no caminhão, e sonhava um dia ser como eles.  Sigo no trem, levado por esta felicidade infantil, que divido com minhas eternas companhias, dizendo,  à vida: arigato gozaimasu!

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