domingo, 24 de março de 2024

A profissão proibida - 2

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Entrei pela primeira vez na sala de aula do curso de Redação na metade do segundo semestre de 1982. O professor era Alberto Manente, um dos poucos que não eram apenas acadêmicos, mas profissionais atuantes - naquela época, repórter do Estadão. Como cheguei atrasado, fui passando discretamente pelo pessoal já sentado nas duas últimas fileiras do fundo. Achava que Manente nem sabia quem era eu, mas, ao me ver, deslizando entre as carteiras, parou a aula.

- Senhor Thales Guaracy - ele disse, perante a turma, em suspenso, galvanizada. - Que milagre a sua presença. O que houve hoje, faltou a namorada?

Desde que tinha voltado do Enecom em Florianópolis, namorando pela primeira vez na vida, aquilo tinha virado minha prioridade. Muitas vezes chegava na escola e, em vez de entrar em aula, deitava em algum pedaço de gramado para namorar. Os amigos assinavam por nós a  lista de presença, e assim eu ia levando.

Poucos na faculdade tinham namorada fixa. Na minha classe, éramos apenas dois: eu, e o William Bonermes, que então ainda não tinha inventado o sobrenome Bonner, e atendia (como até hoje, entre nós) pelo pelo apelido de Billy. Sujeito de relacionamentos longos, namorou uma colega da nossa turma até o último ano da Faculdade.

Eu queria aprender a escrever, claro, mas fazia isso de outras formas. Na hora do almoço, às vezes ia à casa de Marcelo Durst e me tornei amigo do pai dele, que admirava. Walter George Durst era então um dos dramaturgos mais quentes da TV Globo, depois de adaptar Gabriela, Cravo e Canela para a TV. Eu adorava tudo ali. 

Durst, pai, tinha na edícul da sua bela casa um escritório recheado de livros e cartazes de filmes da mulher, atriz de grande beleza, que adorava receber os amigos dosi filhos e nos servia a comida na cozinha. Depois, ia ao escritório de Durst conversar sobre escrever. Sentávamos em poltronas confortáveis e ele falava sobre a técnica da novela - muito do que penso hoje sobre escrever, aprendi ali.

Durst dizia que toda boa história de girava em torno de um conflito, o elemento essencial da novela. Como naquele tempo não havia o meio digital, e mesmo a pesquisa de opinião do Ibope não era algo tão sofisticado, ele fazia sua pesquisa pessoal sobre o que as pessoas estavam achando das novelas, de forma a orientar a direção das histórias. Para isso, ia toda semana à feira.

- Fico lá escutando o que as mulheres, principalmente, estão dizendo - me explicou.

Por alguma razão, provavelmente meu interesse por escrever, enquanto Marcelo preferia se dedicar à imagem, ele gostava de mim. Mais tarde, chegou a me convidar para integrar um núcleo de dramaturgia da TV Globo que estava formando em São Paulo. Cheguei a escrever para ele uma sinopse, que foi aprovada, para um seriado à tarde, com pequenos contos. 

Porém, nesse mesmo momento fui promovido a editor de Assuntos Nacionais em Veja, posição importante na revista, então o veículo nacional mais influente do país, em pleno processo de redemocratização. Tive de escolher entre escrever em Jornalismo e na TV - e não sei até hoje se certo ou errado, escolhi ficar em Veja.

Por conta de Marcelo, que era da mesma turma da minha namorada, andava mais com o pessoal da classe deles que da minha mesmo. Participávamos dos grandes eventos cívicos, em um momento de grande pulsação da história brasileira. Fomos juntos à grande manifestação do dia 16 de abril de 1984 no Vale do Anhangabaú: estávamos na ladeira gramada em frente ao Teatro Municipal, cuja inclinação oferecia uma arquibacada natural, no grande comício das Diretas-Já. 

Na passarela sob o viaduto do Chá, improvisada como palanque sobre a avenida, discursaram inflamadamente, diante da massa tão espremida que parecia um mar humano, políticos de todos os matizes e as celebridades da época. Osmar Santos, popular locutor esportivo, funcionou como mestre de cerimônias. Fafá de Belém, no auge da fama, conhecida pelos seios abundantes e a voz poderosa, cantou o hino nacional.

Discursaram as diferentes alas da chama Frente Ampla, que deu origem ao que se chamou de Nova República: Lula, Fernando Henrique, Mário Covas, Miguel Arraes, Leonel Brizola, Tancredo Neves, Ulysses Guimarães, Franco Montoro (governador eleito de São Paulo e articulador do evento). Dali saíram os grandes personagens da redemocratização, alguns dos quais seriam os próximos presidentes da República.

Fiz naquela turma um grande amigo, Fábio, aluno de Rádio e TV, que produzia um radionovela satírica  veiculada na Rádio USP de madrugada e por isso chamava Pulga no Lençol. Convidou-me para participar e eu interpretava o papel do rei louco, que andava à noite berrando histericamente pelo palácio. 

Viajámos juntos, vivíamos na casa do H, que morava em uma república na avenida Rebouças, íamos ao cinema, a shows, sempre em bando. Parecia que estávamos vagabundeando, mas ali nos formávamos. Dessa turma sairia, por esses interesses, a mais importante crítica de cinema da imprensa, assim como um dos maiores diretores de fotografia de cinema do país da nossa geração, e assim por diante.

Eu só estava ali por ser o namorado da garota mais popular da turma, meio tímido e esquerdo, mas era bom estar entre eles, e ir à casa de R, minha namorada, porque era bem diferente da minha. Não podia levá-la para minha própria casa, porque minha mãe arranjara um pretexto qualquer para detestá-la, embora nunca a tivesse conhecido pessoalmente. Já eu, na casa dela, era muito bem tratado por seus pais e irmãos e via como era levar uma vida mais normal em família.

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Foto: Teresa Pinheiro

Eu preferia estudar Ciências Sociais, que me davam estofo para escrever, e levava o curso de Jornalismo como podia, ainda mais quando as coisas ficaram mais difíceis de dinheiro.

Meu pai havia comprado um velho Chevette vermelho de minha tia Malfisa, quando completei 18 anos, para que eu pudesse ir à escola, em vez de tomar o interminável Vila Nilo. Porém, logo depois decidiu construir uma casa em Santana de Parnaíba e me tomou o veículo de volta. Vendeu-o e, com o dinheiro, comprou as portas da casa, ainda em obras.

Fiquei sem carro e dinheiro novamente até mesmo para tomar o ônibus. Disse a meu pai que tinha de trabalhar - e ele respondeu que não, que a escola era mais importante. Eu tinha de fazer alguma mágica, então, para me virar. E fiz.

Apelei, na época, para meu único capital: a juventude. Por conta do Marcelo Durst, cuja irmã, Ella, era fotógrafa de moda, R. havia começado a fazer fotos de publicidade para revistas - e começou a ganhar um dinheiro. Levava a sério a profissão, com requintes para mim admiráveis. Depois do banho, não esfregava a toalha no corpo, apenas tocava-o: assim preservava a pele. Eu achava aquilo desnecessário, para quem tinha 18 anos, mas não dizia nada. Por conta das fotos, ela fazia regularmente sessões de beleza num dermatologista para tirar do rosto cravos e espinhas.

Pensei que, se fizesse também fotos para publicidade, podia trabalhar apenas alguns dias por mês e continuar estudando. Só não sabia direito como começar. Havia um sujeito mais velho, que conheci no Palmeiras, onde ia tomar sol e me divertir na piscina. Pai de família, com três filhos, que gostava de se enturmar com garotões. Vivia me incentivando a entrar para a publicidade e se oferecia para me ajudar, provavelmente com segundas intenções. Quando lhe disse que estava pensando no assunto, ofereceu-me um  empréstimo de 200 dinheiros da época e com isso fazer um “book” – fotos para distribuir em agências e produtoras, que poderiam me dar trabalho. 

Aceitei, dizendo que o pagaria de volta em dinheiro, assim que recebesse o primeiro cachê. Ele ainda me deu o telefone de uma fotógrafa, Teresa Pinheiro, e fui bater no seu estúdio, no Jardim Paulistano. Ali, nas ruas arborizadas do bairro, fiz poses que hoje me fazem dar risada, umas vestindo camiseta e outras de terno e gravata. A fotógrafa me deu o contato de uma produtora de comerciais da Rede Globo. Liguei e ela me passou o endereço de um galpão na Barra Funda, com uma data e hora para eu  comparecer.

Era um teste para figurantes de um comercial das Casas Bahia. Quando cheguei, havia uma fila de candidatos  na escadaria que dava para o subsolo do galpão, onde uma banda tocava vezes repetidas o jingle das lojas. 

Ali, sentado na escada, conheci o Gérson Brenner, que esperava como eu, um lugar antes na fila, e mais tarde se tornaria ator da TV Globo. Era um sujeito extrovertido, carismático, cheio de vida, e nos encontramos muitas vezes depois, em situação semelhante, antes do tiro no assalto na rodovia Carvalho Pinto que o deixou com capacidades limitadas.

A produtora dos comerciais da TV Globo apareceu para anunciar ao pessoal da fila que as vagas estavam preenchidas e nos  dispensou, antes mesmo do teste. Quando me apresentei, logo percebeu que eu estava perdido por ali, era ingênuo e tímido, e me indicou uma agência de modelos, chamada Totem, especializada em comerciais de televisão. "Eles vão te ajudar", disse. 

Fui bater na porta da agência, com minhas fotos debaixo do braço. Depois de muito esperar, fui recebido por  H. e L., sócios da agência. Pediram que eu deixasse as fotos com eles.

- Quando aparecer algo, podemos te chamar.

A primeira vez foi desanimadora. Fui a um teste no estúdio do JR Duran, então um estrela da publicidade, no auge da fama, em uma casa na Avenida Pacaembu, perto do estádio de futebol. A fila para o teste dobrava o quarteirão. Depois de algum tempo ali sentado no meio fio, decidi ir embora - nem consegui me aproximar da porta de entrada.

Vejam como é a vida - nunca imaginaria, nessa época, que ainda seria fotografado por Duran, e mais, muitos anos depois, que o contrataria como fotógrafo, como editor de revistas como VIP e Playboy, e sua mulher, Alex, trabalharia comigo como produtora de ensaios de moda masculina. Fiz também um livro de Duran, como editor da Saraiva, e nos tornamos bons amigos.

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Apesar daquela frustração inicial, persisti. Da segunda vez, foi melhor. Fiz figuração num comercial da Caixa Econômica Federal, algo para o qual não havia necessidade de qualquer talento especial, já que tinha apenas de andar na rua, no meio de uma pequena multidão de anônimos. Enquanto isso, um ator com dotes de ginasta olímpico dava saltos mortais múltiplos - o tamanho da alegria que devia ser ganhar na Loteria.

Caco (eu) e Luciana (Sandra), by JR
Foi para mim também como tirar a sorte grande. Com aquele dinheiro, o primeiro que ganhei, paguei o empréstimo que tomei para fazer as fotografias, conforme o prometido. Dispensei, porém, o convite do meu solícito apoiador, que me propôs um "jantar" para celebrar aquele pequeno sucesso.

Depois do filme da Loteria da Caixa, as coisas melhoraram. Para minha surpresa, começaram a aparecer testes, e com eles, trabalho. Alguém me ligava em casa, dava um endereço e horário do teste, eu tinha de estar lá. Quem tinha mais disponibilidade, era preferido. E eu dava um jeito na escola, pedindo aos amigos para assinar as listas de presença, de forma a pegar o maior número de testes possível.

As ligações vinham de repente - "vai em lugar tal". Muitas vezes eu nem sabia o que era - e caía em todo tipo de situação. Uma vez, me disseram já na van da produtora que estávamos indo para o Playcenter. Tenho labirintite com frequência e detesto montanha-russa. Já comecei a desconfiar do que se tratava.

 O Playcenter estava nessa época simplesmemte inaugurando a primeira montanha russa com um looping no Brasil. Me puseram na primeira fila do carrinho, com uma garota apavorada do meu ladoe uma câmera de cinema acomplada bem na frente. Perguntei ao diretor o que tinha de fazer.  “Faz cara de medo alegre”, me disse ele. Dei seis voltas completas naquilo, até ficarem satisfeitos com a nossa reação. Na última, já estava tão acostumado que poderia passar o dia inteiro fazendo aquelas piruetas.

Pouco depois, tive meus momentos de celebridade anônima, por conta de dois segundos em um comercial de pasta de dente, em que eu só falava uma palavra, na frente do espelho: “menta!” - com um sorriso na cara e uma escova de dentes na mão.

Para meu total constrangimento, aquilo pegou. Eu passava na rua, entrava na faculdade, ia a um bar, as pessoas olhavam na minha cara, riam e falavam: “menta”! “Menta” pra cá, pra lá, o dia inteiro.

Uma vez, quando eu estava num estúdio fazendo figuração para um comercial de cera de automóveis, vieram me perguntar se não queria fazer um teste para o comercial da Enciclopédia do Sexo. Fui até o segundo andar. O teste consistia em beijar uma mulher, ambos nus da cintura para a cima. Molecão, topei, é claro.

Naquelas coisas tinha muita mulher bonita, e calhou de fazer o teste da Enciclopédia com CP, então  a grande estrela dos comerciais de TV. Durante meia hora, meu trabalho foi beijar aquela mulher linda, até o diretor estar satisfeito. ("Não deixa aparecer a língua!" - ele dizia).

Anos depois, eu a revi por acaso, numa delegacia. Tinha sido assaltada. Falei com ela, mas acho que não me reconheceu (pudera!). Não passamos no teste, mas eu falava sempre dela, só para provocar LB, um amigo apaixonado por ela, seu admirador da TV, para fazer ele morrer de ciúme e inveja de mim.

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Fiz um monte de comerciais – tirei inclusive a roupa na TV, num filme das cuecas Zorba, que felizmente ninguém sabe onde foi parar. Até que um dia fiz um teste para uma série de comerciais da Brastemp que resolveria minha vida. 

O teste, fiz com a atriz Giulia Gam, então uma adolescente, mas que já agia como uma estrela de cinema, com quem contracenei numa cozinha improvisada dentro de um estúdio. Repetimos a cena duas vezes: o diretor, Clemente, da Denison Propaganda, me pediu para ser um pouco menos histriônico. Nesse momento, entendi que ele já havia percebido que eu era capaz de fazer aquilo e não precisava mais exagerar para chamar sua atenção.

De fato, fiquei sabendo no dia seguinte que havia ganhado o "papel". Um mês depois, no dia da gravação, em vez de Giulia, que tinha desistido, segundo diziam para ir à Itália, encontrei em seu lugar Sandra Annenberg - depois célebre apresentadora de telejornal na TV Globo, minha amiga e, na época, atriz. 

Fizemos uma foto como os namorados para a campanha impressa, veiculada nas revistas. O fotógrafo era o J.R. Duran. Eu, que da primeira vez nem tinha passado pela porta do seu estúdio, me senti triunfante. A mãe de Sandra guardou um recorte do anúncio, com a filha sentada no meu colo, me espremendo em um sofá. Coisas de mãe (dos outros). Sandra me deu uma cópia disso, divertida, muitos anos depois.

No filme para a TV, eu fazia o papel do namorado, Caco. Tomava um balde de água na cabeça, traquinagem do irmãozinho menor da namorada, para na sequência poderem demonstrar mostrar as virtudes da nova secadora Brastemp. Minha roupa molhada rodava na secadora quando naquele justo momento entrava o pai da namorada e me flagrava vestindo apenas o robe de chambre que lhe pertencia. 

Uma historinha picaresca, cuja encenação, para ficar do jeito pretendido por Clemente, tive que repetir muitas vezes. O balde caía de cima de uma porta quando eu entrava, eu tomava aquele banho e, num outro recinto da casa de mentira dentro do estúdio, uma passadeira esquentava a ferro as mudas de roupa para eu poder tomar outro banho. Lembro, no intervalo dos muitos banhos de água fria que tive de levar, do diretor olhando as muitas plantas do cenário e dizendo: "minha homenagem ao Walter Hugo Khouri", que abusava dos efeitos florais na sua filmografia.

O contrato com a Brastemp foi uma beleza. Pediam exclusividade, então eu fiquei um ano inteiro ganhando um salário mensal, durante a vigência da campanha, para não trabalhar em outro comercial.  Com o dinheiro, pude comprar meu primeiro carro - um Fiat 147 branco -e, com as parcelas mensais da exclusividade, podia completar o curso sem precisar mais trabalhar.

A Brastemp ainda ofereceu aos atores um presente, que podiam escolher, entres os produtos que fabricava. Perguntei a minha mãe se ela queria uma geladeira, uma máquina de lavar roupa ou uma lava-louça. Ela escolheu a lava-louça, que não tinha, até porque era novidade, na época. Não acreditou muito que aquilo era verdade, até ver aquela caixa enorme entrando dentro de casa.

Ao final daquele ano, quando eu estava para me formar, e o contrato de exclusividade por terminar, H., que eu não via há mais de um ano, me chamou na agência Totem. Disse que L., seu sócio, tinha dado um calote na praça e desaparecido com o dinheiro de todo mundo.

Sabia que eu estava me formando em jornalismo e precisava de um favor. Queria que eu escrevesse por ele uma carta ao mercado, dizendo que nada tinha com aquele calote, continuava e precisava trabalhar.

Escrevi a carta. Ele me agradeceu e perguntou, uma vez que o contrato da Brastemp estava terminando, se eu queria voltar à agência. Eu lhe disse então exatamente as seguintes palavras:

- Obrigado, mas essa carta foi a primeira coisa que eu escrevi profissionalmente. É o que vou fazer. Agora, sou jornalista.

Agora sou jornalista. É a frase que, desde então, eu repito com orgulho.

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No final da faculdade, um dia, R me ligou em casa, chorando. Fabio, em Ilhabela, tinha bebido muito, entrara na água e morrera afogado.

Foi a primeira vez que vi uma pessoa morta. Lembro de meu amigo inexplicavelmente imóvel, com as narinas tampadas com algodão, no velório. Era difícil imaginar Fábio sem vida. Ele, que se vestia de Indiana Jones para um filme da faculdade (e parecia mesmo o Harrison Ford). Ele, o otimista incorrigível. (Uma vez, rodando para a casa de uma amiga no interior em um velho Landau emprestado de um tio, na hora do abastecimento observei que só a tinta da pintura estava segurando a lataria sobre a roda, carcomida pela ferrugem. "Boa essa tinta, não?" - ele respondeu). 

Fábio, para mim, era o melhor de nós. A constatação da fragilidade da vida caiu em mim como um raio. Todo o bando estava também morrendo de tristeza. R me chamou para ir a um lugar, casa de alguém, para falar de Fábio, lembrar de Fábio, consolar-se uns aos outros. Eu disse que não ia. E não fui.

Podem ter pensado que eu não era amigo, deles ou de Fábio, mas o fato é que eu simplesmente não conseguia lidar com aquilo - ou só podia lidar sozinho. Afastei-me de R, afastei-me da turma, caí numa espécie de limbo.

A morte de Fábio fechou trágica e simbolicamente um ciclo: o fim da faculdade e talvez da melhor fase de todas, em que tudo é aventura. Nela, descobri o que queria fazer, o amor, o sexo, enfim, a vida. E descobri também a morte.

Depois disso, nunca mais fui aquele inocente cabeludo que foi se dissolvendo pelo resto da minha vida. Mas, de certa forma, ele ainda está em mim, assim como a lembrança do Fábio e de todos aqueles momentos que, de certa forma, moldaram aquilo que eu fui depois - e ainda sou.

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