terça-feira, 13 de julho de 2021

Arte para os filhos

 “Uma visita rapidíssima”, diz a senhora, e abre, só para nós, o portão da #grottadeibuontalenti, em #Firenze. 

Vim aqui pela primeira vez quando tinha 21 anos, carregava um caderno de desenho, sonhava em viver escrevendo e tudo aquilo que via era deslumbramento, maravilha, e aprendizado.

Sempre que vou a Firenze, e já é a quarta ou quinta vez, passo aqui, como quem vai a uma igreja da arte, que tem mesmo o tamanho e a forma de uma capela. 

Desta vez trago meu filho, para lhe mostrar esse canto quase escondido no jardim de Boboli, onde Michelângelo criou a natureza com a arte - recria artisticamente uma gruta, em que as formas saem das paredes e o altar é uma Vênus, símbolo da beleza, santa nua pagã da mitologia e da arte grega. 

Aqui Michelângelo deixou o classicismo para fazer a escultura misturar-se à pedra bruta; daqui sua Pietà deixou a beleza descritiva da peça que  está no Vaticano para a forma incompleta que apenas sugere e transpira emoção da Galeria da Academia. 

“A arte é a transformação da natureza em algo belo”, digo ao meu filho, que tem a chance de ver isto bem mais cedo que eu. “Isso é arte, e a civilização, das quais dependemos, porque sem a liberdade, como a liberdade de criação, e valores que são universais, viveríamos na barbárie.” 

Hoje ainda aprendo, mas não há mais alumbramento, não há maravilha: há apenas a paz, paz de algo que passou a fazer parte de mim, e que transfiro a meu filho, que me olha, e ainda não compreende muito bem.

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