segunda-feira, 30 de março de 2015

Um história contemporânea do Brasil

O passado já aconteceu, não muda, mas mudamos o sentido do passado, quando encontramos novos elementos que nos ajudam a ter uma nova visão a seu respeito. Quando comecei a escrever A Conquista do Brasil, uma história do país desde os primeiros viajantes, achei que sabia bastante sobre o descobrimento e os primórdios da história brasileira. Mas estava enganado.

Com o material que colhi, especialmente resgatando as fontes de informação original - os relatos dos viajantes, dos jesuítas e documentos oficiais - passei a ver outro passado, outro começo do Brasil, que me parece mais realista do que nos acostumamos a ver desde os livros escolares. A Conquista do Brasil não muda o passado, mas nos faz ver com olhos de hoje, e isso muda nossa compreensão sobre nós mesmos.

Meu desejo de escrever esse livro veio da necessidade de entender o DNA brasileiro, que está em nós, hoje - no manifestante insatisfeito das ruas, no governante e político corrupto, no empresário corruptor e rapinante, na população que alterna momentos de euforia e niilismo, passividade e raiva.

Ali, por exemplo, vemos que muitos problemas brasileiros estão na origem. Mem de Sá, o homem que efetivamente integrou a colônia portuguesa no Brasil, à custa de muito sangue, já escrevia ao rei Dom Sebastião em 1560 que tinha povoado o país "com malfeitores que mais mereciam a pena de morte"; e que, se quisesse fazer algo de bom na colônia, que lhe enviasse "capitães honrados", isto é, homens de bem. Ao que parece, ainda estamos no mesmo compasso de espera, com a diferença de que os homens de bem não virão de outro lugar, precisam sair do meio de nós mesmos.

Creio que entendi melhor como somos. Como diz o título do livro, o Brasil não foi ocupado tranquilamente, e sim tomado por gente feroz, que unificou um imenso território com a fúria sanguinária do imperialismo sob a égide da Inquisição. Graças a esse substrato, diferente do restante da América Latina, o Brasil permaneceu unificado, enquanto a América espanhola se fragmentou.

O livro deve chegar às livrarias na primeira quinzena de abril, pouco antes do "descobrimento", como uma uma espécie de redescobrimento do país. Espero que esse esforço de compreensão possa fazer os leitores também enxergarem melhor o Brasil e a si mesmos, nosso comportamento individual e coletivo.

O Brasil é uma construção recente, e esse passado não está tão longe de nós: em seis séculos, ele está ainda, do ponto de vista histórico, logo abaixo da nossa pele. É preciso entendê-lo como mais um passo para podermos nos analisar e construir o país desejável, rico e ao mesmo tempo socialmente mais justo.


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