Um Papa vem atrás do outro, a história segue, mas um Papa não é igual ao outro.
Francisco morreu, mas não tem outro igual. Era latino americano, uma outra visão do mundo. Voltada para o lado mais pobre do mundo. Voltada para os erros da Igreja, que ele nunca escondeu. Ao contrário, procurou consertar.
Não fugiu do escândalo dos padres acusados de crimes sexuais. Enfrentou a mazelas da igreja. E as próprias, desde seu tempo de bispo na ditadura militar argentina, brilhantemente retratadas no belo filme de Fernando Meirelles, Dois Papas.
Ele se opôs à guerra e não temia os senhores da guerra, os poderosos armados, que combatia com a autoridade de quem leva o Anel do Pescador, e a postura de amor, serenidade e uma certa leveza. Um pouco de saúde, uma presença curativa, restauradora, num mundo envenenado pelo ódio.
Ele olhava para os mais pobres e queria que a Igreja colaborasse com uma economia transnacional participativa, quase uma guerrilha contra o capitalismo digital, voltada para a simplicidade, a produção e a erradicação da miséria pelo mundo.
Nadava contra a corrente de um capitalismo tecnológico que cada vez mais concentra a riqueza e exclui o ser humano.
Era um papa, sim, humano, que aproximou as pessoas de novo da Igreja, ou a Igreja das pessoas. Falava de futebol, da vida. Era um Papa que sorria. O Papa sabia sorrir.
Essa presença equilibrada, esse bálsamo num mundo belicoso e feroz, onde o estresse vai levando muita gente à loucura, e a violência, a mentira, o absurdo se tornam normais, simplesmente se foi. Como tudo.
Num mundo de retrocessos, a Igreja com Francisco avançou. Por mim, ele podia ficar como Papa eterno, assim como Jesus. Mas até Jesus é usado hoje para defender interesses e promover o ódio. Jesus.
Fique com Deus, meu caro Bergoglio. Você mostrou que é possível seguir o bom caminho. É triste, porém, que bons Papas morram; hoje, quando duvido de tudo, eu penso: e agora, o que será de nós?