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terça-feira, 7 de março de 2017

Fotografias de um mundo sem futuro

“Você é o único aqui que não precisa de máquina para fazer fotografias”, diz a Mulher sem Nome, que, desde que nos separamos e tentou me proibir na Justiça de escrever seu nome, ficou sem nome - e me acostumei.

Estamos sentados no #Harry’s Bar, de Harry #Cipriani, celebrizador do carpaccio e do Bellini, onde já bebeu #Hemingway, em belas eras. É carnaval em Veneza e, desta vez, o bar está lotado de gente que entra da rua para o salão sóbrio e quente, acotovelando-se diante do balcão, entre os garçons de meticuloso paletó branco e gravata borboleta negra.

Entre os recém chegados, que amotinam o bar ao estilo naval, estão dois cavalheiros setecentistas de chapéu tricórnio, meias brancas até o joelho e paletó de asa. No meio deles, um sujeito com vestido balão (“lutador de sumô”, identifica a Mulher sem Nome), que ocupa, sozinho, o espaço de quatro pessoas e se movimenta boiando, enquanto rebate erraticamente entre os circunstantes.

Tomamos dois #Bellinis, acompanhados de azeitonas. É bom estar aqui, respirar novamente o ar de Hemingway, e estar com a mulher que entende exatamente o que estou falando. Viemos do palácio do Doge, decorados com cenas #de guerra e Netuno entregando a #Veneza a sua cornucópia, na representação de #Tiepolo. Andamos pela ponte Dei Sospiri, saindo da pompa dos salões venezianos, até a curta e claustrofóbica passagem sobre o canal que leva às frias e escuras masmorras do velho império.   

“É o que está acontecendo hoje”, diz ​a Mulher sem Nome, quando observa que o túnel entre os salões ricamente decorados e o claustro sombrio são aqueles vinte metros suspensos sobre o rio. 

Sim, no Brasil, hoje, os políticos que expoli​​aram o país, e empresários a eles associados, todos frequentadores dos melhores salões da república, navegantes de iates e passageiros de jatinhos particulares,​ estão indo para as imundas e superlotadas cadeias brasileiras. Entre eles, até mesmo #Eike Batista, que já foi o homem mais rico do Bras​i​l, destituído de sua fortuna, da liberdade – e de sua peruca italiana.

Tempo sem futuro, sem esperança, em que avanços recentes, não só no Brasil, como no mundo, se perderam. Nos Estados Unidos, Obama, com seu programa de saúde, seu olhar de ecumenismo político sobre as nações e o mundo, deu lugar a Trump: a volta à velha truculência do selvagem capitalismo americano.

Tempos do recrudescimento da ira, catapultada pelo poder digital, pela violência religiosa, ambos filhos da intolerância. Este é um mundo em que a tecnologia avança, mas ela apenas serve para melhor armar os homens e seus antigos barbarismos.

“Senhor, fotografar aqui dentro não pode”, adverte o maître do bar, firme e gentilmente.

Tarde demais. O retrato, como diz a Mulher Sem Nome, está feito. Veneza espera lá fora – a noite azul marinho, a cor de que mais gosto, nesta cidade que combina tanto com o caleidoscópio humano dos blocos nas ruas centenárias. O cheiro do mar, o estalo das gôndolas no cais, o trajeto pelas vielas estreitas, até a Chiesa San Vidal, onde, às 20h30, iremos a um concerto de violinos para ouvir As Quatro Estações de Vivaldi.

Talvez os tempos de Hemingway fossem mais sombrios ainda, tempos de guerra, embora mesmo a guerra naquela época fosse mais romântica. Estou aqui no Harry’s Bar, há vida e livros pela frente. Estou usando barba, por causa de Garibaldi, tema do romance que está saindo do forno, e muita gente diz que estou muito Hemingway. Sei apenas que, como eles, procuro viver até o limite, com ajuda do amor – amor que eu carregava pela mão na noite de festa e regozijo.

(Redação revisada para um texto escrito em Veneza, 26 de fevereiro de 2017, sábado de carnaval.)

terça-feira, 26 de abril de 2016

Pela democracia, pela tolerância

Quando eu era diretor da Playboy, eu costumava deletar do facebook uns caras que apareciam só para me xingar. Achavam que sabiam o que fazer no meu emprego, mais do que eu, e descontavam em mim seu fracasso existencial. Senti compaixão pelo técnico da seleção brasileira. Escreviam baixarias e eu, se fosse tirar satisfação com todo mundo, estaria na cadeia até o Século 23.
Ofensa gratuita é uma coisa, opinião é outra. Nunca deletei ninguém nem jamais censurei comentário de gente que diverge de mim. Como jornalista, ganhei com a equipe da revista onde trabalhava um prêmio Esso pela cobertura da eleição que trouxe de volta a democracia plena ao Brasil. Na imprensa, trabalhei anos a fio, de madrugada, à custa da saúde e da diversão, ao lado de muitos outros brasileiros, para a gente poder ter essa liberdade. Não darei exemplo aos que desejam tirá-la. Não se exclui ninguém por divergência política ou de opinião. Democracia é a convivência dos contrários.
A intolerância cresce, não só neste ambiente aqui, em que muitos se julgam protegidos para julgar e agredir os outros, como nas ruas. O confronto do ator Zé de Abreu num restaurante e o comportamento do deputado Jean Willys, tanto quanto o casal ofensor e o provocador Bolsonaro, revela que todos os envolvidos nesta guerra perderam a razão junto com a compostura. Os defensores de cusparadas e outras impropriedades mostram que a cizânia está saindo do mundo virtual para a microfísica do cotidiano.
Vejo amigos experimentados na vida defendendo boicote a empresas "de oposição" publicamente, o que configura crime, e não deixa de ser crime pela internet. Outros, do lado oposto, generalizam a pecha de "ladrão" aos integrantes do governo e seus apoiadores, tanto quanto estes atribuem a condição de "golpista" a quem apenas deseja o cumprimento da lei e o bom trato do dinheiro público.
Os intolerantes, felizmente minoria, continuam sendo os que mais fazem barulho. No final, como aquele vizinho chato e agressivo, incomodam o cidadão pacífico, democrático, que apenas quer ver o Brasil dentro da lei e desfrutar das possibilidades de progresso que este país oferece quando a gente não estraga tudo.
A aparição da "primeira dama" do turismo deu margem a mais intolerância. De um lado, aqueles moralistas que acham o fim da picada a mulher do ministro aparecer de decote tirando foto deslumbrada no ministério. E os moralistas defensores do governo, que se acham de esquerda, mas são tão patrulheiros da liberdade quanto os extremistas que defendem o velho dístico da tradição, família e propriedade.
O moralismo existe, faz parte da sociedade, e como tudo tem de ser tolerado. O direito à liberdade, de fazer humor com o governo, de publicar o que se quiser, porém, está na essência da prática democrática. Qualquer tipo de censura e patrulhamento é que deve ser combatido. Como dizia o velho lema, é proibido proibir. A não ser, claro, aquilo que está estritamente fora da lei.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Um homem sem medo do seu próprio mito



Em dezembro de 1990, eu dirigia a revista 2000, publicação de domingo do jornal O Estado de S. Paulo, que teria vida breve, mas palpitante. A última edição era uma retrospectiva dos acontecimentos daquele ano, recheado de momentos marcantes: a posse do primeiro presidente eleito do Brasil em 30 anos, Fernando Collor, a queda do Muro de Berlim, o lançamento ao espaço do telescópio Hubble, as mortes de Cazuza e Greta Garbo e o bicampeonato de Ayrton Senna na Fórmula 1. Quando entreguei a revista ao responsável por publicações especiais do Estadão, João Vítor Strauss, no entanto, ele abriu os olhos quando leu o que eu havia escrito sobre outra notícia que a muitos pareceu menos relevante: a libertação do líder sul-africano Nelson Mandela. "Isso é uma das melhores coisas que eu já li na vida", disse ele.

Eram apenas cinco linhas, uma legenda debaixo da foto de Mandela, com uma gravata com as cores da bandeira sul-africana, punho cerrado para o alto e um sorriso no rosto:

"Em 11 de fevereiro, um homem de cabelos brancos saiu da prisão de Victor Verster, na África do Sul. Pela primeira vez em 27 anos, um mitológico líder da luta contra o apartheid, Nelson Mandela, pôde ser visto em público - e ajudar a fazer História em liberdade."

Faço essa referência não apenas pelo prazer de lembrar João Vítor, como pelo que essa recordação explica sobre a extraordinária trajetória de Mandela. Condenado à prisão perpétua por sabotagem e incitamento à greve, Mandela se tornara, na prisão, um símbolo da luta contra o apartheid, a segregação racial dos negros na África do Sul, e mais - um símbolo da luta contra o racismo em todo o planeta. O mito cresceu ao longo dos anos, justamente pelo fato de que, impossibilitado de sair sequer para o funeral da mãe e do filho, e isolado no cárcere, sem que pudesse jamais ser visto, Mandela se tornara um personagem legendário.

Libertado na onda de protestos mundiais que se juntaram à queda do Muro de Berlim, Mandela poderia ter se curvado ao peso da própria lenda. Na cadeia, ele se tornara mais do que pode aspirar um ser humano. Como lenda viva, ele teria de enfrentar, fora da prisão, a realidade de se tornar novamente um homem. Poderia desapontar os milhões de pessoas que olhavam para ele, dentro e fora de seu país. Como pode estar um homem à altura do seu próprio mito?

Muita gente feneceu por muito menos. Chico Buarque, por exemplo, é um dos que declaradamente receiam ser comparados a uma imagem construída no passado. Preferiu renunciar a fazer música para não ser colocado lado a lado com ele mesmo no seu auge. Chico representa uma fase de belas canções da música popular brasileira, com uma leve passagem pela musica de protesto durante a ditadura militar, e acha melhor ser Francisco Buarque de Hollanda do que tentar repetir o mito. Imagine-se então na pele de Mandela, o homem sob a sombra da própria lenda, e mais - o homem diante das expectativas de um país inteiro, e depois do mundo inteiro, à espera de alguém capaz não apenas de simbolizar uma luta, como ser capaz de encarná-la, torná-la real, lutá-la e vencê-la.

Mandela não teve medo. Saiu da prisão como um gigante, e viveu os 24 anos restantes como um gigante de carne e osso ainda maior. Negociou as condições para uma nova Constituição, elegeu-se o primeiro presidente negro da África do Sul e, mesmo contras as dificuldades econômicas e sociais, sem falar na intolerância, que não desapareceu do dia para a noite, transformou a África do Sul num exemplo de igualdade, liberdade e civilidade. Um país ainda cheio de problemas, mas que plantou a base essencial para o futuro.

Transformado em estadista, Mandela foi também uma espécie de pajé, um velho sábio que fez jus ao mito graças a uma qualidade rara e contraditória em mitos: a humildade. Da mesma forma que arrumava sua cama todos os dias no palácio presidencial, despiu-se de ressentimentos, que poderia ter tido, por força da segregação, dos anos da prisão, da injustiça. Compreendeu que somente lançaria a paz em seu país se fosse o primeiro a baixar as armas. Com humildade, base da sabedoria, Mandela tornou-se superior. Algozes e vítimas de ambos os lados, negros e brancos, o seguiram pela força do exemplo. Uma boa história de Mandela está contada no filme Invictus - um exemplo esportivo de como ele conduzia um país beligerante à pacificação.

A intolerância, seja racial, econômica ou religiosa, é ainda a maior ameaça à civilização no Século XXI. Está por trás das guerras contemporâneas e provavelmente das que ainda virão. Mandela, morto semana passada, aos 95 anos, deixa dois grandes exemplos. O primeiro, que também é o de Gandhi, é o de que a paz prevalece sobre qualquer violência e que a tolerância extingue o rancor. O segundo é de que a igualdade, a democracia e a liberdade são e serão sempre princípios inerentes ao homem, e que líderes servem apenas para lembrar que os valores fundamentais da Humanidade são defendidos não nos grandes momentos da História, ou por mitos sobre-humanos, mas no dia a dia, pelo cidadão comum.

sábado, 3 de julho de 2010

Campeões no coração


A Copa de 1982 será para sempre a lembrança de como éramos jovens, de como éramos fortes, e de como lutar contra o destino, as impossibilidades, os golpes da vida fazem da era romântica também a mais sublime.
Em 1982 eu estava na faculdade, fazia Ciências Sociais à tarde, Comunicação pela manhã, ambas na USP. Passava meu dia na universidade, com suas alamedas, sua calma de fazenda, apenas aparente; naquele tempo a escola fervilhava, eram assembléias de estudantes mobilizados contra o final da ditadura, ainda havia greves, manifestações, a vida tinha um sentido político de mobilização em nome de algo melhor: a democracia purificadora de 30 anos de ditadura militar, de porões sangrentos, de censura à imprensa, sem voto nem liberdade.
Diferente da geração de nossos pais, que tinham visto o golpe militar nascer e o enfrentaram como podiam, éramos uma geração que não queria as armas, o confronto, mais sofrimento; queríamos apenas a paz e a liberdade com a certeza das coisas irrecorríveis e inevitáveis, a certeza de que nenhum mal, nenhuma arbitrariedade, nenhuma violência faz sentido, por isso não pode triunfar.
Lembro de deixar as aulas convocado de repente para ocupar o restaurante, uma forma de criar caso muito em uso na época; lembro de ocupar a reitoria, centenas de estudantes sentados no amplo salão de entrada; lembro de estar sentado no chão no extremo daquela massa de gente, separado de um batalhão da Polícia Militar, armado como um exército, apenas por uma porta de vidro; podia olhar nos olhos dos policiais a centímetros de distância, quase sentir seu hálito do outro lado daquela tênue separação dos dois lados.
Infernizámos a reitoria e os dirigentes de toda espécie porque suas medidas atrabiliárias se confundiam com o clima de repressão geral; o Brasil começara desde 1974 a era da distensão dita gradual, mas vivia ainda sob um governo militar, eleito fajutamente num Congresso manipulado. Éramos jovens, queríamos a paz em paz, repito, mas queríamos mudar. E não aceitávamos nada imposto, tínhamos de participar, aquela era a verdadeira abertura, não só política, mas abertura de nós mesmos; descobríamos nossas ideias, nossas vontades, nossos desejos, nossas paixões, nossos ideais, descobríamos o sexo, o corpo e as sensações que davam um sentido literal, ao mesmo tempo amplo e profundo, do que se chama de universidade.
Era o começo do movimento que daria nas multidões que correriam as ruas clamando por eleições diretas, o histórico movimento das Diretas-Já, marco da democracia no Brasil e da história futura do país, fincada na liberdade e numa espírito pacífico, porém determinado, que recolocou o Brasil no seu caminho como Nação e lhe deu um lugar de tolerância, respeito à diversidade, defesa da liberdade e exercício pleno da vida perante todo o planeta.
Hoje pode parecer exagerado dizer isso, mas a grandiloquência fazia parte daqueles dias; éramos jovens, repito, e sonhávamos com dias melhores; víamos os nossos pais sofridos, o país massacrado por uma guerra silenciosa e cotidiana, e queríamos mudanças ao lado deles, com eles e por eles; não esperaríamos outra geração para ver realizados nossos projetos de liberdade, progresso e paz; não queríamos um Brasil melhor para nossos filhos, mas para nós.
Tudo isso estava em jogo naquele congresso de estudantes de comunicação em Florianópolis, uma semana de retiro, numa espécie de república estudatil instalada na universidade federal, cujo campus virou uma cidade-Estado, com leis e vida próprias. Dormíamos no chão, amontodos em salas de aula; namorava-se no meio dos outros, livremente, entre os corpos deitados na penumbra, nos corredores, no gramado; nos debates havia os que se empenhavam em parecer sérios e aqueles que, desdenhando da política, não deixavam de fazê-la; era um tempo de rebeldia, não apenas contra as instituições fraudadas, mas contra tudo, rebeldes contra a própria rebelião.
Ali discutíamos como se tivéssemos o poder de mudar tudo (e hoje vemos que mudamos: no Brasil democrático, que desfruta e crescimento continuado, de uma paz duradoura, de constituição sólida. Mesmo que ainda com graves problemas sociais que somente com muitos anos e educação poderemos ir sanando eu vejo que mudamos.)
Não havia ainda em vista a eleição direta para presidente, nem a Constituição-Cidadão de 1988, que restabeleceu a democracia no Brasil; mas a semente estava lá, no clima acalorado dos debates, mas na maneira da juventude mudar as coisas, com sorrisos no rosto, bandeiras de liberdade, abraços inesquecíveis de amizade e amor, momentos que não se perderam no tempo, porque estão hoje em dia em cada brasileiro que pode ser livre e ter uma vida melhor, ainda que não saiba direito a quem deve tudo isso.
Como um símnbolo de tudo isso, havia a seleção; era uma seleção nova, forte, vibrante, jovem. Era uma reunião de talentos, uma expressão de vitalidade e de arte como não se via desde 1970; era uma seleção de craques, que jogavam um futebol vistoso e que, como nós, tinham por dentro a certeza da invencibilidade. Talvez fosse melhor até que a de 1970; não tinha Pelé, porém tinha mais craques; no meio de campo, reunia-se uma constelação de jogadores que parecia uma seleção de todos os tempos, com Toninho Cerezo, Falcão, Sócrates e Zico.
Era um time de sonhos que fazia a bola rolar preciosamente, uma equipe de zéfiros, que não conhecia outro resultado senão a goleada, que fazia a torcida vibrar de orgulho e paixão. Era um Brasil novo que surgia, resgatava o que este país tinha de melhor, devolvia o orgulho de ser brasileiro, depois de anos de derrota, que nos havia mantidos distante do sonho então mnuito possível de sermos campeões, de sermos plenos, da mesma forma que o Brasil demorava a se tornar o gigante que surgiria assim que pudesse ser livre outra vez.
E lá fomos nós, a república da juventude, para o salão da universidade, não lembro em que lugar, só do grande salão com um aparelho de TV improvisado em cima de uma mesa, diante dele a multidão de faces cheias de certeza; gente de pé, sentada, de joelhos, abraçada; começou o jogo como todos os outros, aquele time só dava exibições de gala, aquele time goleava, aquele time jogava bonito, aquele time era vencedor.
E a festa prosseguiu, até que, como um raio que cai num dia de azul esplendoroso, a Itália fez dois gols; o jogo terminou e a platéia, assim como o Brasil inteiro, ficou muda; aquilo não podia estar acontecendo, era mentira; como era ilusão o próprio estádio Sarriá, era ilusão toda a Espanha. O destino não podia ceifar a alegria daquela forma, aquela certeza; éramos os melhores, merecíamos a vitória; jogamos melhor, fomos belos, fomos bravos, fomos fortes, e mesmo assim perdemos, em dois lances casuais, numa prova cabal da arbiotrariedade da vida, uma arbitrariedade cruel e acachapante que nos deixou massacrados, como se repente tivesse caído uma laje de concreto sobre nossas cabeças.
Saímos dali atordoados; centenas de estudantes,subitamente abalados em todas as nossas certezas; se naquele momento o entusiasmo da seleção e de todo um país estavam tão juntos, um baque daqueles punha abaixo nosso amor próprio, nosso futuro, a esperança nacional; era um golpe terrível, e não sei o que me fez caminhar para aquele lugar, como caminhamos; aos poucos foram chegando todos, nos reencontramos no lugar menos provável daquele dia: uma campo de futebol.
O campo da universidade de Florianópolis nunca viu um jogo como o daquele dia: vinte e dois jogadores, que corriam chorando, a descarregar a raiva, a tristeza, a angústia; como se pudessem mostrar como se fazia, tornar certo o que dera errado; repor algo, não no campo da batalha perdida de Sarriá para os algozes italianos, mas na nossa própria alma.
Lembro que atirei longe o tênis, queria sentir a terra, queria os pés feridos de bater na bola de couro com todas as forças, queria correr à exaustão, exorcizar aquela tristeza, desabafo convertido em esforço; gastar-me até não ter forças para nada, nem para sentir; vencer a dor da alma pela exaustão.
E me lembro de nunca jogar futebol tão bem na vida, tão bem que poderia ter estado perfeitamente no Sarriá; pegava a bola na defesa para dar início às jogadas, distribuía o jogo no meio de campo, lançava, surgia na área, fiz vários gols. Corria como um guerreiro etíope, flutuando sobre o chão, sem esforço, sem suor, sem cansaço; com cinco graus de miopia, e sem os óculos, via tudo, mesmo sem enxergar nada; despachava lançamentos de longa distância, fazia passes em profundidade, como se dotado de um radar de morcego; fomos assim sem ver o tempo, até que caiu a noite, até que, extenuados, olhamos uns para os outros, não totalmente vingados, não totalmente satisfeitos, não totalmente consolados, herdeiros daquela fúria que ainda posso sentir hoje, moídos, doídos como se tivéssemos também participado daquela batalha, dividindo aquele momentos irmanados.
Não, o Brasil tinha perdido um jogo, mas não saíra derrotado; a beleza daquele dia seria lembrada para sempre, a derrota só aumentava aquela chama, porque sabíamos que não podíamos jogar fora aquela força plena, ela ainda triunfaria, ainda nos levaria um dia à realização dos grandes sonhos, só não podíamos desistir, sim, só tínhamos de continuar.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

A eficácia da democracia

E por que demora tanto a depuração do Congresso

Ninguém duvida que o grande legado de nossa geração para o Brasil foi a democracia. Com o crescimento econômico sustentado e a nova posição do Brasil como uma força emergente no mundo, estamos colhendo os frutos da convicção de que a democracia representativa não é apenas um sistema mais justo, como o que mais funciona.

O voto direto fez com que, a cada nova gestão, o eleitorado pudesse colocar o Brasil um passo adiante. Collor, apesar dos erros que o puseram fora do governo, abriu para o mundo a economia brasileira, antes meio soviética, por conta do nacionalismo obscurantista do regime militar. Seu sucessor, Itamar Franco, assegurou a estabilidade da moeda. Fernando Henrique estendeu essa estabilidade com um melhor controle fiscal e monetário. Lula recolocou o Brasil no caminho do crescimento com a expansão do mercado pela base – a imensa massa da população que vem se tornando consumidora. Certamente caberá ao próximo presidente consolidar mais nosso futuro com mais educação.

O sucesso da democracia vem do fato de que, a cada gestão, podemos impor as metas seguintes e colocar o indivíduo adequado para executá-las. Os últimos presidentes do Brasil têm respondido às exigências da etapa que lhes é confiada, num processo gradual próprio de um país institucionalmente estável e que aos poucos começa a aproveitar as riquezas que lhe dão imenso potencial.

Aí vem tantas perguntas: por que a democracia não depura também o Congresso? Por que deputadores e senadores ganham mais destaque pela contratação de parentes, viagens de turismo e outras atividades que sugerem mau uso do dinheiro e completa ausência de espírito público? Por que ninguém sabem o que eles fazem de bom para o país? Por que fica na conta deles a imagem negativa que hoje fazemos do político?

Parte da responsabilidade é nossa, do eleitorado, o que se explica. Para o eleitor brasileiro, governo é o Executivo. O Brasil não dá, jamais deu, muita atenção ao Legislativo. O brasileiro tem urgência na solução de seus problemas e não vemos capacidade de produzir resultados muito práticos na reunião de um monte de gente onde onde o debate se prolonga e forças opostas tendem a se anular, levando à paralisia.


Diante disso, especialmente na Câmara, para o Congresso em geral o eleitor elege qualquer um. Tende a marcar o nome do menos pior, ou vagamente conhecido, apenas como quem se livra de uma obrigação. E depois nem confere o que está fazendo a pessoa que ajudou a eleger.
O brasileiro acredita mais no executivo por uma razão muito simples. Funciona muito mais em termos práticas uma única cabeça que pensa e age sem deblaterar. E o brasileiro gosta de ação, porque este paí, com tantas carências, de fato, precisa de ação. Daí nosso histórico flerte com os demagogos, que constroem sua carreira em cima de muitas promessas. E daí a recente ojeriza à demogagia, porque o brasileiro se cansou de falsas promessas, ou de promessas sem resultados reais.


Nossa Constituição estabelece claramente a preferência do brasileiro pelo presidencialismo. O sistema presidencialista, com quatro anos de mandato para o presidente, é simples. O presidente é o chefe de Estado e tem quatro anos para resolver o que lhe foi mandado resolver; no final desse período, se fizer seu trabalho, ele fica, abençoado por nova votação; se não fez, vai embora.
O sistema parlamentarista, que tem o Congresso seu principal pilar, funciona melhor nos países com tradição de debate e um sistema partidário mais eficaz e representativo dos interesses sociais. Nele, o primeiro-ministro, que é o chefe do executivo, sai do próprio parlamento. O fato de poder ser trocado antes de quatro anos se o Congresso assim desejar, supostamente garante ao sistema mais agilidade. O brasileiro, porém, desconfia da agilidade de uma assembléia, assim como de seus meios e propósitos.


Na cabeça dos brasileiros, questionar a autoridade a todo momento, sujeita às forças sempre mutantes do Congresso, pode levar a muitas confusões e questionamentos da ação durante o mandato. Para a maioria, é melhor alguém que possa ser menos questionado durante o trabalho com o qual se comprometeu em campanha, aprovado pelo eleitor em votação direta. Ao mesmo tempo, lhe damos um mandato mais curto; seu trabalho pode ser verificado em quatro anos; caso não esteja satisfeito, o eleitor mesmo o manda para casa; não dá a nenhum deputado o senador o direito de fazê-lo em seu lugar, exceto em situações excepcionais, como a de corrupção.


O Brasil acredita mais no voto direto que na representatividade dos políticos do Congresso. Tem suas razões, pois o Congresso está muito sujeito ao lobismo e à má qualidade dos políticos. Diferente do executivo, de onde Collor já foi defenestrado por mau comportamento, graças à ação do próprio Congresso, tem mais dificuldade de punir seus próprios pecados. Tanto que o presidente do Senado, José sarney, continua lá, apesar de tudo o que se sabe dele. Tanto que até Collor está lá.


O brasileiro gosta de estar no governo. Eleger o presidente é uma forma mais direta de ver o poder que conferiu sendo exercido. Essa mentalidade é resultante de um povo que por muitos anos ficou sem o direito de escolher o seu chefe de Estado pelo voto direto. A principal demanda do país ao final dos 30 anos longe da democracia era a eleição direta para presidente, assim como os outros postos executivos na esfera municipal e estadual. É aí que o brasileiro centrou esforços de depuração política, porque aí residiam nossas esperanças de recuperar anos de atraso e diminuir o nosso enorme fosso social.


Outro efeito da ditadura militar, porém, foi dar um espaço maior ao parlamento. Ao elaborar a chamada Constituição Cidadã, a Assembléia Constituinte tinha ainda muito presente os anos de chumbo, em que o Executivo, apoiado nos seus batalhões, impunha sua vontade sem controle algum e vivia mais atento à lógica interna do golpe de 1964 e ao tecnicismo dos seus burocratas que à vontade e às necessidades da população.


Os constituintes, então, trabalharam por fazer uma Carta onde o Congresso, que chegou a ser fechado durante os anos de exceção, tivesse mais poder, incluindo o de obstruir a maioria das ações do executivo. Mas fez isso de um jeito tortuoso e atrapalhado. Por um lado, a maior parte das decisões passou a depender do Congresso. Por outro, para evitar a paralisia, a Constituição deu ao Executivo o instrumento da Medida Provisória, que permite colocar decisões em prática antes de serem ratificadas pelo Legislativo.


É óbvio que isso iria dar problema. Há uma quantidade enorme de medidas provisõrias que não são votadas pelo Congresso, muito embora o complexo parlamentar de Brasília abrigue 8.000 pessoas para fazer funcionar as duas casas, a Câmara e o Senado. Algum dia ainda será preciso reconhecer que a maioria das medidas provisórias são decisões que cabem ao Executivo e que os constituintes exageraram em uma porção de atribuições da própria Carta e do Congresso Nacional.


Desses exageros, apenas alguns foram cortados na nascente, como a lei que estabelecia um limite máximo de 12% para os juros reais. Assim como os juros dependem do mercado, e não da lei, só faltou à nossa Constituição dizer que o Brasil deve crescer 12% ao ano e é proibida a recessão. A Constituição americana é mais genérica, uma carta de princípios que não entra em detalhes de administração pública e que necessitam de mais liberdade e agilidade nas decisões.


O brasileiro não se preocupa muito com o Congresso, é verdade, e só se lembra dele quando aparecem falcatruas. O Congresso é importante no seu papel Constitucional de criar leis e fiscalizar os outros dois poderes, bem como os outros dois poderes devem fiscalizá-lo: o equilíbrio clássico no sistema de três poderes com um Congresso bicameral. Ajuda no sentido de proteger algumas minorias e defender de maneira proporcional os interesses de cada Estado na Federação.

Cabe aos próprios congressistas mostrar o seu valor, dedicando-se às tarefas essencias do parlamento com mais eficiência e fiscalizando com medidas eficazes que mostrem sua seriedade. Com isso, pode-se chamar novamente atenção para bons serviços que o Congresso pode prestar. E inverter o círculo vicioso que leva eleitores e os próprios representantes a acreditarem que aquilo tudo aquilo não passa de uma farsa que temos de aturar e só leva a mais desprezo.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A saída para a política


Os ideais são tão mais importantes quanto menos são praticados

É um lamentável espetáculo o noticiário que dá conta da falta de vergonha e espírito público dos políticos brasileiros, mas a grande pergunta não é o que fazer com o passado, e sim com o futuro. Como o país poderá progredir com lideranças da pior qualidade e um sistema democrático que parece demorar tanto para policiar essa gente e despoluir os Três Poderes?


O presidente Lula melhorou a renda da população mais pobre, conseguiu sustentar a inflação em um nível baixo com crescimento econômico e manteve o país com credibilidade no sistema financeiro. Com isso, o Brasil ficou até mais protegido que a maioria dos outros países diante da crise internacional. Lula fez um governo aclamado na economia, mas vai deixar uma mancha muito feia para a história. Mesmo em nome de uma certa estabilidade, não se pode apoiar tudo o que há de errado na política brasileira.

Nessa área, Lula mostrou não ser muito diferente de todo o resto. Defendeu os deputados mensaleiros. Defendeu o corruptores dos mensaleiros dentro de seu governo. Defendeu o ministro da Fazenda Antonio Palocci, capitão da República de Ribeirão Preto, bando que distribuía dinheiro de origem escusa em malas de dinheiro vivo num lupanar de Brasília. Apoiou Evo Morales, mesmo quando este mandou sequestrar uma refinaria da Petrobras na Bolivia, num ato de banditismo promovido pelo Estado. Apoiou Hugo Chaves, mais um ditador de opereta ao estilo latinoamericano.

Para completar, Lula apoia agora José Sarney, o presidente do Senado e ex-presidente da República que ainda se agarra ao poder justamente para, com sua influência, deter investigações sobre a origem de seu dinheiro, suas relações com o banqueiro Edemar Cid Ferreira e a maneira sanguessuga como faz política desde antes da ditadura militar. A Lula, só falta apoiar o Lobo Mau.

Bastaria dizer que o político atuante em nome do interesse coletivo ganha mais que agindo apenas em interesse próprio, mas é muita ingenuidade acreditar que aqueles no exercício do poder hoje em dia colocarão em prática esse princípio tão elementar. A tentação de botar a mão no dinheiro em troca de algum favor fácil sempre fala mais alto que agir conforme o mandato que é conferido ao representante público. E é sempre mais fácil contemporizar que enfrentar problemas e resolvê-los.


Dessa forma, todos acabam virando farinha do mesmo saco. Mesmo políticos de melhor qualidade, como Fernando Gabeira e o senador Eduardo Suplicy, já foram apanhados distribuindo passagens aéreas e outras regalias a parentes, numa demonstração de descaso com a ética e o espírito público. Ficamos sabendo que o Congresso tem 8.000 funcionários contratados por essa gente. Há milhares de municípios no Brasil com uma população menor que a do nosso parlamento.


Como salvar um país de um sistema que parece podre, ou que apodrece as pessoas? A resposta, creio, é só uma: não desistir. Os ideais são tão mais importantes quanto menos vão sendo praticados. Valores que elevam alguns seres humanos acima dos outros que não os praticam: honestidade, trabalho, fidelidade, honra, coragem.


O exemplo não começa pelos políticos que tanto criticamos, mas de cada um de nós, fora do Congresso, longe de Brasília. Porque os políticos não são uma casta de privilegiados abençoados por Deus, mas cidadãos comuns que vêm da sociedade. E, para que eles melhorem, a sociedade é que tem de melhorar, a partir do comportamento individual. Como um pingo de lama na neve. somente quando os bandalhos se tornarem efetivamente uma minoria é que se envergonharão de si mesmos.

domingo, 21 de junho de 2009

A democracia ameaçada


Não é apenas a profissão do jornalista que está em risco

Em seu arrazoado em defesa da extinção do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes, fez uma bela comparação. Disse que qualquer um pode trabalhar na cozinha de um restaurante sem diploma. E que no jornalismo seria da mesma forma: como se jornalismo fosse como fazer um coq au vin ou um virado de feijão.


Talvez o ministro Gilmar Mendes tenha uma certa razão. Se não é preciso qualificação para ser presidente do Supremo Tribunal Federal, porque ela seria necessária no caso de um simples jornalista?

Ao determinar o fim do diploma, num retrocesso de décadas, o STF consagra a tese dos donos de jornais e revistas no Brasil. Os patrões da imprensa encontram sempre um motivo nobre para ocultar seus interesses comerciais – o chamado vil metal. Alegam que a necessidade de diploma para o exercício do jornalismo cerceia a liberdade de expressão. Uma coisa, porém, não tem qualquer relação com a outra.


Liberdade de expressão é o direito de cada um dizer o que pensa. Ninguém pode ser preso ou discriminado por suas idéias – nem mesmo um nazifascista. A liberdade de expressão é uma conquista da civilização moderna, da qual a imprensa é apenas uma parte. A imprensa livre e profisisonalizada deve-se abrir a opiniões e pontos de vista contrários, à palavra do cidadão, do cronista, do comentarista. Mas não pode abrir mão da profissionalização.


A liberdade de expressão foi alcançada também muito com a ajuda da imprensa profissionalizada, que abre espaço para opiniões diferentes e respeita princípios éticos, pilares da imprensa livre e da própria democracia.


As faculdades de jornalismo foram criadas para fazer com que o futuro profissional do jornalismo passe necessariamente pelo aprendizado desses princípios, além da técnica. A necessidade do diploma específico reafirma a responsabilidade do jornalista, assim como o diploma de engenheiro é pré-condição para alguém fazer ou executar o projeto de uma ponte.


O problema é que quando uma ponte cai, a responsabilidade do profissional que causou o desastre fica evidente, assim como suas consequências. O dano causado por maus jornalistas não é tão evidente. Porém, não pode ser considerado menor. Um mau jornalista pode, inclusive, causar mortes. Fazer caírem pontes. E causar confusões ainda piores.


Num momento de transição da mídia em papel para o meio eletrônico, o que os veículos querem é apenas abrir as portas do mercado para rebaixar salários. Esquecem que assim rebaixam também a qualidade dos profissionais, justo num momento em que mais se pede a disseminação do bom jornalismo, agora que a informação vem se expandido na forma de blogs e outros veículos de informação pela internet. Assim, enquanto miram numa vantagem financeira imediatista, os editores cavam sua própria sepultura nesse tipo de negócio.


O fim do diploma do jornalista coincide, também pelas mãos do STF, com o fim da lei de imprensa. É certo que ela foi redigida no tempo da ditadura militar, mas o fato é que a imprensa se torna no Brasil cada vez mais uma terra sem lei. O STF argumenta que a imprensa deve criar um sistema auto-regulatório, como ocorre com a propaganda, que coibe abusos por meio de um conselho, o Conar. Esse caso, porém, não é assim tão simples.


Nenhuma regulamentação de qualquer atividade profissional suprime o que está na Constituição – é apenas a regulamentação de uma atividade profissional. Não se pode misturar as duas coisas. O diploma do jornalista nunca foi impedimento para a liberdade de expressão, muito pelo contrário.


Da mesma forma, não se pode ficar sem uma lei de imprensa, alegando que se trata de um “resíduo ditatorial”. Não se pode imaginar um mundo perfeito em que a liberdade plena jamais causará danos a terceiros de maneira eventualmente injusta. É preciso preservar a liberdade de imprensa, mas não se pode permitir que ela seja uma plataforma de defesa para a prática do achaque, da calúnia, ou da interpretação de fatos em benefício de interesses privados.


Por outro lado, não se pode prmitir tambem que a imprensa livre seja coibida por uma onda de processos sem cabimento. A ausência da lei específica deixa margem ao seu cerceamento por via judicial, com aliás já vem ocorrendo.



Desse jeito, aquilo que se apresenta como o regime de liberdade total vira terra de ninguém, zona de bandoleiros, em que o cidadão está à mercê de quem detém o poder dos meios de comunicação – contra os quais nada se pode fazer. E, agora, também de jornalistas de qualidade indistinta que não passaram necessariamente pelo crivo elementar da educação.


Assim como a liberdade de expressão, é parte da democracia também o direito de defesa, de proteção da privacidade e da honra. Democracia não quer dizer liberdade total, mas um sistema de direitos e deveres no qual a liberdade de um é limitada, sim, pelos direitos do outro.


Liberdade total é a anarquia. Se não podemos recorrer ao STF para evitá-la, porque o ministro Mendes não se importa com quem está cozinhando as notícias, a quem apelar?


Bem vindos, amigos, aos tempos do faroeste nos meios de comunicação, com imprevisíveis consequências.