tag:blogger.com,1999:blog-9528154236286366592024-03-16T17:44:37.498-03:00Thales GuaracyThales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.comBlogger391125tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-77028485155668791822024-03-16T13:49:00.006-03:002024-03-16T17:44:06.978-03:00A busca das almas mais sensíveis<div class="separator" style="clear: both;">Ela é casada e mora em outra cidade. Ama o marido, embora diga que ama "também a ele, F". Ele já deixou dois noivados, o último a pretexto da doença - tem tuberculose, algo, naquela época, fatal. <br /><br /></div><div class="separator" style="clear: both;">Tem tudo para dar errado, mas Kafka se apega a essa relação, por um motivo: aquela mulher 13 anos mais nova, que mal viu, uma só vez, está traduzindo um conto seu para o tcheco. Ao fazer dela as palavras dele, se estabelece a ponte.<br /><br />E ela o traduz tão bem. Neste mundo em que ninguém se interessa realmente pelo outro, ou se importa, ela é capaz de entender, olhar por dentro. E essa relação de trabalho de repente se apresenta como uma estreita possibilidade de amor - e isto vale todos os esforços do m<span style="text-align: left;">undo.</span><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfN_NwdPRKpkPOpdKFdAhYs3hexv9EbKVEjgtilWrN4ifZmAH-dInk8-X2b-1HuMdUGN8IpnUq0AerAnBjSAd6OkQs112OD1NRHWQN87-6G4jh8_VhyphenhyphenIKQaWMoXWDMxxfOnrXIEv9hiKZ_rRCzs06RIHmmweLQ2e2w-pFg2mSsjx6YBoocABYCsnjcJTT-/s553/milenakafka.jpeg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="325" data-original-width="553" height="188" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfN_NwdPRKpkPOpdKFdAhYs3hexv9EbKVEjgtilWrN4ifZmAH-dInk8-X2b-1HuMdUGN8IpnUq0AerAnBjSAd6OkQs112OD1NRHWQN87-6G4jh8_VhyphenhyphenIKQaWMoXWDMxxfOnrXIEv9hiKZ_rRCzs06RIHmmweLQ2e2w-pFg2mSsjx6YBoocABYCsnjcJTT-/s320/milenakafka.jpeg" width="320" /></a></div></div><div><br /></div><div>Em cartas a Milena, que reúne as cartas de Kafka a Milena Jesenská, entre 1920 e 1923 - correspondência incompleta, pois não se conhece as respostas dela -, Kafka aparentemente monologa em busca de amor no mundo inóspito.</div><div><br /></div><div>Esse é o sentido não apenas das cartas, como de sua psique, traduzida em sua obra, expressão e busca das almas mais sensíveis, o que lhe custou também, provavelmente, a saúde.</div><div><br /></div><div>Kafka é comumente interpretado como uma espécie de mestre do absurdo - o sujeito que se transforma em barata de A metamorfose, ou perseguido por um sistema tão perversamente sem sentido que ganhou justamente o nome de "kafkiano". </div><div><br /></div><div>Milena de fato o conheceu bem. Escreveu, de Kafka, que "ele via o mundo cheio de demônios invisíveis que aniquilavam e despedaçavam pessoas indefesas". Esse é o verdadeiro sentido de toda a sua obra - e das aflições pessoais que o mantinham solitário.</div><div><br /></div><div>Com certa psicologismo, pode-se entender que a solidão de Kafka vem de certo sentimento de abandono, que manifesta sobretudo em sua Carta ao Pai, outra obra epistolar, em que fala sobre ser constantemente desaprovado desde a infância. O amor então se torna um prenúncio do sofrimento.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwYgm03wpLvoeB32ZKSdv875flhyQI9LQIYA5u4PI-Xsr-6_CY-PqlFpS_MxkM5XFyG0EKOFC5uSo8ZxpsedAGzENgZbu8YV0WIueXXW_ezifT3Z3lMrqu5AQOgq-tL_KQPKVenM0oTxrZiDLhrwRubCJvqtqYbiM4Cjy5PuJ6QeFv3SciDJ0ZUo_9AZtv/s425/cartasamilena.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="425" data-original-width="277" height="200" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjwYgm03wpLvoeB32ZKSdv875flhyQI9LQIYA5u4PI-Xsr-6_CY-PqlFpS_MxkM5XFyG0EKOFC5uSo8ZxpsedAGzENgZbu8YV0WIueXXW_ezifT3Z3lMrqu5AQOgq-tL_KQPKVenM0oTxrZiDLhrwRubCJvqtqYbiM4Cjy5PuJ6QeFv3SciDJ0ZUo_9AZtv/w131-h200/cartasamilena.jpg" width="131" /></a></div><div><br /></div><div>Suas cartas, como seus livros, são um rico manancial para os analistas, extremamente contemporâneo, numa época em que, apesar da extrema facilidade de comunicação, as pessoas se isolam cada vez mais e a solidão se torna uma epidemia social.</div><div><br /></div><div>Kafka é, também, um bom exemplo para quem consegue quebrar esse isolamento por meio de um talento artístico, como uma ponte para superar o medo do outro - isto é, de ver seu amor novamente traído.</div><div><br /></div><div>A arte - no caso dele, a literária - é a grande válvula de escape para as tristezas inconsoláveis e as pessoas que facilmente se magoam, encontrando, como alternativa à solidão, um campo salvador (ou misericordioso) para a solidariedade.</div>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-61681429757082144262024-03-13T23:51:00.004-03:002024-03-14T13:55:09.606-03:00A profissão proibida - 1<div class="separator"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZjdqVaBNNz2pnSDbWwDzasBD03pQ5mpddZkYvpZJP9Seuz5lcrPPeE89NjatKwziMLFOSe5O-42XipGie1CHTDpr4AzmezTCIulsqbbEAQYoz67i6JUwVhy5pCSZ1EymPl1sLCmD6kkJbRANDU6Cc5UIGSVImenQeXG_yRjZJF-POdT3u2Bw2GhViI_Ij/s919/Simbad4.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjZjdqVaBNNz2pnSDbWwDzasBD03pQ5mpddZkYvpZJP9Seuz5lcrPPeE89NjatKwziMLFOSe5O-42XipGie1CHTDpr4AzmezTCIulsqbbEAQYoz67i6JUwVhy5pCSZ1EymPl1sLCmD6kkJbRANDU6Cc5UIGSVImenQeXG_yRjZJF-POdT3u2Bw2GhViI_Ij/s320/Simbad4.jpg" /></a></div> Eu tinha 17 anos e era ainda madrugada, quarta-feira, 27 de janeiro de 1982, quando levantei, desci pé ante pé as escadas do sobrado da casa de meus pais e saí, de mansinho, andando pela rua ainda escura até a Praça Centenário, na Casa Verde, onde havia uma banca de jornal.<br /><br />O Estadão chegava às 5 da manhã e, na praça deserta, havia apenas a luz da banca e o jornaleiro. Tão logo passou o caminhão, comprei um exemplar do Estadão. <div><br /></div><div>Sentado no banco de cimento da praça, abri eletrizado a lista de aprovados no exame da Fuvest, para o curso de Jornalismo na Escola de Comunicação e Artes da USP. Corri os olhos pela lista, nervos à flor da pele e, com alívio, mais que alegria, vi meu nome ali. </div><div><br /></div><div>Voltei para casa; no caminho joguei o jornal no lixo, entrei fechando a porta tão silenciosamente como tinha saído, me enfiei debaixo das cobertas e, sem falar nada a ninguém, quando começava a clarear o dia, voltei a dormir.<br /><br />*</div><div>Não podia comemorar aquele meu grande sucesso, como tantas vezes depois, por uma razão. Minha mãe, Dona Marlene, tinha um amor do qual ninguém duvidava, mas era daqueles amores de mãe autoritários e possessivos - e ela não admitia que eu fosse fazer Jornalismo. </div><div><br /></div><div>"Profissão de pobre", dizia. Meu pai era jornalista. Não éramos pobres, nem de longe. Eu tivera escola o bastante para passar no vestibular em duas faculdades públicas, ambas na melhor universidades - desde o ano anterior, estudava Ciências Sociais na USP. E, muito embora eu não tivesse dinheiro no bolso, nunca tinha me faltado realmente nada importante.<br /><br />Minha mãe não se incomodava com aquela crueldade implícita de desdenhar da profissão do marido, muito embora com a profissão proibia ele pagasse a maior parte das despesas da família. É que dona Marlene tinha grandes aspirações e seus próprios planos para o filho mais velho.</div><div><br /></div><div>Estes variavam, mas o principal deles era me fazer casar com a Maria Pia Matarazzo, muito mais velha que eu, mas herdeira solteira da fortuna dos Matarazzo - o que ela me propôs várias vezes, muito seriamente. Hoje dou risada, e me vejo discutindo esse assunto com ela em outra vida, mas naquele tempo era um inferno.<br /><br />Eu já cursava Ciências Sociais na USP, o que me fazia ler, trazia conhecimento, uma visão mais compreensiva da sociedade - uma forma de desenvolver conhecimento, análise, visão. Porém, essa era apenas a base para o que eu queria fazer de verdade, que era escrever. </div><div><br /></div><div> Além de campo para o exercício das ideias, o Jornalismo dava experiência de vida, por meio da reportagem, e sobretudo a prática diária da escrita, que me permitira, afinal, fazer o que eu queria: viver escrevendo. Não adiantava explicar nada disso a minha mãe. Como em muitos outros momentos da minha vida, ao entrar na Escola de Comunicações e Artes (ECA), da USP, eu estava feliz como nunca - mas guardava essa satisfação comigo. <br /><br />*</div><div>Não me recordo ao certo quando minha mãe soube que, além da faculdade à tarde, eu passaria a ir à USP também pela manhã. Mas eu estava lá, no primeiro dia de aula, depois de tomar muito cedo o Vila Nilo, ônibus que cumpria o trajeto mais longo da cidade, passando pela Casa Verde e atravessando São Paulo até chegar duas horas e meia depois à entrada da Cidade Universitária, no Butantã. </div><div><br /></div><div>A ECA ficava num paralelepípedo de cimento, suspenso próximo da reitoria, com um jardim e um lago na frente e, na entrada, uma grande mesa de aço escovado, dessas de açougue, onde os estudantes sentavam ou deixavam suas mochilas, à espera do sinal.<br /><br />Aquilo estava apinhado de gente e, apesar de já estudar na USP, eu estava maravilhado - aquela gente era a minha gente, afinal. E ali, de fato, fiz muitos amigos e conheci gente com quem passei a conviver a vida inteira e que se tornou importante no mundo das comunicações, numa era de grandes mudanças, não apenas para a comunicação como do Brasil e do mundo.<br /><br />Eu não estava, no fundo, muito interessado em estudar. Fazendo o curso à tarde, em Ciências Sociais, já estudava muito. Para mim, o mais importante era o diploma, que me permitiria mais tarde trabalhar em um jornal ou revista. Logo no primeiro dia, me enturmei com o pessoal do segundo ano. </div><div><br /></div><div>ECA era um mundo à parte. Nos dois primeiros anos, juntavam-se os alunos dos diferentes cursos - Jornalismo, Marketing (onde estava o Billy), Rádio e TV, Teatro. As classes eram maiores e por isso era mais divertido. Nossa primeira aula prática era fazer um cartaz numa velha linotipo que ficava no piso térreo do caixote da Faculdade. Fui eu que escrevi o texto de quatro linhas que mais parecia uma estrofe, montamos as letras de chumbo e rodamos aquela geringonça, na época já uma velharia de museu. Dizia: "Nada a dizer/num mundo onde/ninguém ouve/e ninguém lê"<br /><br />Todos os dias, uma turma se voluntariava para levar até o primeiro andar, por uma longa e penosa escadaria, o Marcelo Rubens Paiva, que ainda não havia publicado Feliz Ano Velho, e, com sua cadeira de rodas, não conseguia chegar lá sozinho, numa época em que ninguém pensava em acessibilidade. </div><div><br /></div><div>Todo dia, três ou quatro de nós o levámos no braço escada acima, junto com o seu acompanhante permanente, cujo nome eu não sabia - só o chamavam pelo apelido de Neguinho. Até que certo dia perderam o pé e todo mundo caiu lá do alto de cambulhada. </div><div><br /></div><div>Marcelo passou uns dias no hospital e, na volta, a direção, por conta dele, mudou provisoriamente o primeiro ano e depois em definitivo o Jornalismo para o edifício ao lado, uma construção térrea, com salas envidraçadas que, por esta razão, chamavam de Aquário.<div><br /></div><div>Não queríamos saber da politica estudantil, viciada nas receitas da esquerda, tão velhas quanto o autoritarismo do regime militar. No primeiro ano, resolvemos organizar uma chapa apolítica, com a finalidade de promover festas, shows, eventos culturais - e desalojar do Centro Acadêmico as chamadas "tendências", correntes partidárias presentes na política estudantil.</div><div><br /></div><div>Havia na escola um único membro do PCB - João Carlos de Oliveira, o Cao, que estava na escola fazia 7 anos e se tornou quase um estudante profissional. Teimava em querer apoiar a nossa chapa, contra a da Libelu, ligada ao PT, embora recusássemos seu apoio, que mais prejudicava que ajudava, uma vez que não queríamos associação com legenda alguma.</div><div><br /></div><div>- Mas eu quero apoiar, não há nada que vocês possam fazer para me impedir - dizia ele. <br /><br />A chapa chamava ACordaEca, com múltiplos sentidos. O presidente do Centro Acadêmico seria Marcelo Durst, meu colega de classe nas Ciências Sociais, um ano à frente na ECA, onde entrara para cursar Cinema. Durst me propôs ser o diretor cultural; Nem sabia o que estava arrumando e não imaginava também que iríamos ganhar.</div><div><br /></div><div>AcorDaEca teve seus momentos. Fiz uma festa para arrecadar fundos num dos prédio do Aquário que foi um sucesso - tão grade que se tornou um problema. Começou a a chegar gente estranha à escola e pressenti que a festa ficaria barra pesada por volta da meia noite, quando fui embora, porque esse era o horário limite que meu pai (por causa de minha mãe) me deixava voltar para casa.</div><div><br /></div><div>Quando voltei, no dia seguinte, limpar a sujeira da festa não foi mole. Ninguém explicava como, um carro que estava no estacionamento da rua amanheceu dentro do lago em frente à escola.</div><div><br /></div><div>Quando entrei na escola, a USP andava pichada com a frase "Almeida vem aí". Ninguém sabia quem era o Almeida. Era propaganda: Almeida tratava-se do jornal do Jornalismo, feito pelo CA. Liquidamos aquilo, que tinha viés político. Porém, tínhamos de mandar representantes para os eventos estudantis, que eram só política. AcorDaEca não era política, mas a escola tinha de ser representada. </div><div><br /></div><div>O primeiro foi o Coneb - Congresso Nacional das Entidades de Base, em Belo Horizonte. Durst me entregou cinco mangos do caixa do CA, o que não dava para fazer uma única refeição no Crusp, e passagem de ônibus para Belo Horizonte, sede do Congresso.</div><div><br /></div><div>- Mas eu diretor cultural - reclamei.</div><div><br /></div><div>- Não tem mais ninguém pra fazer isso.</div><div><br /></div><div>Eu não tinha dinheiro de meu para fazer a viagem. Precisei me virar. Desembarquei do ônibus depois de 20 horas de viagem e passei cinco dias do jeito que podia: sem gastar um tostão furado. Comia de graça no bandejão do congresso. Com não tinha dinheiro para ir dos alojamentos ao ginásio onde se realizavam os debates, passei a circular de carona com os estudantes de Goiânia, que tinham ido num ônibus fretado.</div><div><br /></div><div>Eu mal assistia ao Congresso: estava ali para fazer presença. Pegava o ônibus e dormia com a delegação goiana, no chão, em sacos de dormir, dentro de uma sala de aula do Colégio Renault, cercado por um grande e belo jardim arborizado.</div><div><br /></div><div>Certa noite, saí daquele amontoado de gente, por volta da meia noite, e fui tomar ar no jardim do colégio. O jardim estava silencioso e iluminado pela lua. Súbito, percebi um vulto me seguindo. Uma garota saíra do dormitório improvisado e vinha atrás de mim. Vou chamá-la de G, porque a esta altura deve ser uma senhora bem comportada.</div><div><br /></div><div>Passamos boa parte da madrugada brincando de esconder, olhando a noite enluarada enrolados num cobertor e namorando no gramado à luz do luar. A certa altura, porém, G disse que precisava voltar para o dormitório improvisado na sala de aula. Quando sugeri que ela ficasse comigo ali fora, no cobertor, disse que precisava mesmo voltar.</div><div><br /></div><div>- Meu namorado está lá dentro - explicou.</div><div><br /></div><div>Aquela inesperada e tardia revelação dificultou minha vida com a delegação goiana. Tive que passar a evitar G quando se encontrava perto do namorado. Felizmente, o congresso já se encaminhava para o final. Eu não voltava de Belo Horizonte sem nada: tinha uma história para contar.</div><div><br /></div><div>*</div><div><br /></div><div>Depois do Coneb, foi o congresso dos estudantes de Jornalismo, em Florianópolis. Dessa vez foi mais gente, ou melhor, praticamente todo mundo. Logo percebi que muitas coisas aconteceriam quando, já no ônibus, uma colega loura de olhos azuis abriu a minha braguilha e enfiou a mão dentro da minha calça, no silêncio do trajeto noturno. Quando chegamos a Florianópolis, e pelos dias seguintes, porém, quase não a vi mais. Era uma daquelas coisas que aconteciam, somente, e depois ninguém falava mais.</div><div><br /></div><div>Cada sala de aula da Faculdade de Jornalismo virava dormitório de uma delegação. Na primeira noite, dentro do meu saco de dormir, acordei com uma mão passeando pelo meu baixo ventre. Quando fui olhar, era um sujeito que eu nunca tinha visto e continuou me importunando, mesmo depois que reclamei. Fui dormir em outro lugar. </div><div><br /></div><div>No dia seguinte, em cima do meu saco de dormir, havia uma poça de vinho, que exalava um cheiro nauseante. Andei querendo saber quem era o estranho que dormia com a nossa delegação e ninguém o conhecia. Diziam que podia ser um "rato" - isto é, um policial à paisana, infiltrado entre os estudantes, para nos espionar.</div><div><br /></div><div>Dali em diante, passei a dormir cada noite numa delegação diferente. Na verdade, não dormia quase nada.</div><div><br /></div><div>De dia, eram os debates. Desde o primeiro dia, caí por X, uma estudante que para mim já era uma mulher, e que presidia as mesas mais importantes. Eminência da delegação de Belém, era conhecida por todos do movimento estudantil, de edições anteriores de ventos coo aquele, e presidia as mesas mais importantes, colocando ordem nos debates.</div><div><br /></div><div>A delegação de Belém, à qual ela pertencia, tinha as mulheres mais bonitas do congresso (e possivelmente do mundo). Isso incluía CS, afiada, inteligente e combativa, bela e esguia como uma náiade, e que mais tarde faria muito sucesso como repórter e correspondente da TV Globo, muito amiga de X. Porém, eu era fascinado por X, carismática, com seu imponente cabelão anelado, nome de imperadora, voz meio rouca e possante, autoridade indiscutível por trás dos óculos de fundo de garrafa - conjunto que para mim formava um desafio irresistível.</div><div><br /></div><div>Havia por perto também uma garota da ECA que estava um ano na minha frente, a mais popular da classe, e que parecia ter simpatizado comigo desde o primeiro dia da escola, e no futuro teria também bastante destaque como apresentadora de telejornal numa importante rede de TV. Eu nem imaginava que dava bola para mim, nem quando certa noite me deu seu chapéu de palha, ao estilo dos caçadores africanos, e sua echarpe cor de rosa, para poder ficar livre e ir a uma festa dançar. Levei e usei o chapéu e a echarpe a uma mesa presidida por X e fiz questão de participar da discussão travestido daquele jeito.</div><div><br /></div><div>- Não apenas apare e assim como ainda pede a palavra - disse X - vamos ouvir a Greta Garbo.</div><div><br /></div><div>E passou a me chamar assim.</div><div><br /></div><div>Certa noite, na minha rotina das noites itinerantes, penetrei de mansinho na sala de aula onde dormia o mar de gente que era a delegação de Belém. Achei X no escuro e me aninhei ao lado dela. Aos poucos, fui chegando. Ela me deixou dar alguns beijos por todos os lugares que procurei e se divertiu comigo um pouco, até me mandar embora, desdenhosa:</div><div><br /></div><div>- Agora chega, Greta.</div><div><br /></div><div>Às vezes, eu saia com a turma mais velha, da classe de Durst, que estava lá com o propósito declarado de fazer turismo. Certa noite, fui à cidade com eles, para variar a comida barata e monótona do bandejão do Congresso. Comemos num restaurante macrobiótico com cheiro de sabão e brincamos ao lado, numa cidade miniatura, feita para crianças.</div><div><br /></div><div>Uma tarde, fomos para a praia da Joaquina, com um vento furioso, areia entrando nos ouvidos e um.mar turbulento. Para meu espanto, apareceu o Rato - e sumiu por algum tempo no meio das dunas. Quando olhei, um de nossos colegas tinha sumido junto.</div><div><br /></div><div>Depois de mergulhar e rolar pelo areal como selvagens, nos encolhemos numa bolha humana para esquentar o corpo e nos proteger do vento até chegar o ônibus, já alta noite. Nessa hora, somente, a dupla desaparecida no areal reapareceu.</div><div><br /></div><div>Juntos nos divertimos, nos entusiasmamos e sofremos. No penúltimo dia, a mesa de debates foi ocupada por um televisor daqueles da época, de tubo, e assistimos à anticlimática derrota do Brasil para a Itália na Copa da Espanha, no dia 5 de julho de 1982. A tristeza de perder, quando todos sabiam que tínhamos o melhor time do mundo, se misturou ao clima de Woodstock em que a gente vivia; debatíamos ideias e ações para tirar o Brasil da ditadura e da miséria, e de repente aquela frustração era um duro golpe na esperança.</div><div><br /></div><div>Acabou o jogo e fomos para o gramado da universidade jogar uma pelada. Joguei como nunca na vida, descalço, como se purgasse a tristeza com o suor, e quisesse mostrar a mim mesmo do que um brasileiro era capaz. Quando a noite caiu, já no escuro, e quase sem ver a bola, continuamos jogando, até a exaustão.</div><div><br /></div><div>O congresso em Florianópolis fazia a gente sentir que estava mudando o mundo - e mudou realmente muita coisa, a começar por mim. Na noite anterior à da partida, quando eu vasculhava a mochila, e todos os outros já tinham saído para o jantar, R - a última a sair - virou-se e, de longe, me chamou.</div><div><br /></div><div>Já tinham apagado a luz da sala de aula, de maneira que ela era quase uma silhueta na porta, contra a luz do corredor. </div><div><br /></div><div>- Você volta comigo amanhã no ônibus, não é?</div><div><br /></div><div>Aquela pergunta, que era um convite, ficou rodando na minha cabeça até a noite seguinte. Eu não sabia o que aconteceria, duvidando que aquilo fosse verdade, ou suspeitando que na hora nada iria acontecer. Eu, que nada esperava, e passara o Congresso olhando para todos os lados, sem querer olhar para aquele, me vi em terrível expectativa.</div><div><br /></div><div>Quando entramos no ônibus, R veio e sentou ao meu lado. Foi quase mágica. O ônibus saiu e passamos a noite aos beijos, namorando. R dormiu no meu colo e, 17 horas de viagem depois, quando chegamos, tudo na vida tinha mudado.</div><div><br /></div><div>(SEGUE NA PARTE 2)</div></div>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-8438421614691314752024-03-09T11:33:00.024-03:002024-03-16T09:55:40.873-03:00Ainda estamos mudando o mundo<p>A gente era muito duro, como se supõe que sejam os estudantes de Ciências Sociais da FFLCH, centro de saber da USP, fundado com as bençãos do antropólogo francês Levi-Strauss, onde lecionaram, entre outros, gente tão politicamente diversa como Fernando Henrique Cardoso e Oliveiros Ferreira.</p><p>A gente era duro, mas se divertia muito, especialmente eu e Marcos, meu amigo mais próximo da Faculdade, e que seguiu carreira acadêmica, chegando a chefe de departamento de Sociologia na escola onde estudamos.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_VPMCQtHfsgWZDCV-DV3SJK3jvNIk4jPnoM6s_Q3GzKxQyJYEs-XwoKmDLZefmSluNB4xfnXXDw7j_Q9eKV6s2rNnpGzudwudG61ysun0jjGymjspin3Aq2b608wqy6LA6QkA-LuFo4DCyFv_Cu0Hkgpg5tofwdxCfL8N2FQFV5pa5l7_BvS-P2nbgeDf/s740/FB_IMG_1710044728442.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="440" data-original-width="740" height="190" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_VPMCQtHfsgWZDCV-DV3SJK3jvNIk4jPnoM6s_Q3GzKxQyJYEs-XwoKmDLZefmSluNB4xfnXXDw7j_Q9eKV6s2rNnpGzudwudG61ysun0jjGymjspin3Aq2b608wqy6LA6QkA-LuFo4DCyFv_Cu0Hkgpg5tofwdxCfL8N2FQFV5pa5l7_BvS-P2nbgeDf/s320/FB_IMG_1710044728442.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p>Naquele tempo, a gente queria ler Foucalt, ver todos os filmes de arte e encher a cara de caipirinha nas festas, muitas das quais Marcos promovia na casa dele, uma república de estudantes durangos, onde não havia quase móveis, localizada perto da Marginal, do lado oposto ao da Cidade Universitária. Como todo mundo morava ali vindo do interior, era o lugar ideal, porque a gente se divertia sem gastar quase nada, e sem ter que dar satisfação a pais castradores, que já não podiam nos impedir de fazer qualquer coisa.</p><p>Numa dessas festas, por causa do barulho em altas horas, os vizinhos chamaram a polícia. Lembro de duas colegas, Margareth e Monica, me segurando tão discretamente quanto possível contra a geladeira, para me fazer ficar parado em pé, quando os oficiais entraram pela cozinha. Provavelmente graças a elas não acordei no dia seguinte na delegacia.</p><p>Não lembro de mais nada da festa, só de levantar na tarde do dia seguinte dentro de um quarto cheio de gente meio pelada, ainda dormindo. E de sair para a rua, passando pela porta aberta da sala, onde um disco de vinil rodava sozinho na vitrola, com a agulha correndo naquele trecho final onde não tem mais música alguma.</p><p>Quando casou Denise, a amiga rica da turma, arrumei o carro do meu pai emprestado e fui, com Marcos, buscar Flávia, outra colega, num casarão do Morumbi. Ela saiu metida num casaco de pele que deixou o banco do passageiro espetado de pelos como um ouriço. Lembro de descer voando a ladeira que dá na marginal, da porta do Corcel abrindo na curva e de, com uma mão ao volante, cruzando com o corpo o banco do passageiro, recuperar a porta e evitar que Flavia, dentro daquela bola peluda, fosse cuspida para fora do veículo. (A gente andava em velocidade, sim, e cinto de segurança era só um estorvo que a gente empurrava para sentar.)</p><p>Pobres, famintos e sem educação, atacamos o repasto no luxuoso bufê da festa do casamento, tão logo chegamos. Estávamos já empanturrados quando, para nossa surpresa, abriram portas que a gente nem tinha visto, onde ainda estava para ser servido, à francesa, o jantar.</p><p>Eu ia da Casa Verde para a USP no Vila Nilo, a linha mais longa e demorada de ônibus da cidade de São Paulo. Preferia pegar os lotados, pois ia pendurado do lado de fora - assim, descia sem pagar a passagem. Na USP, tomava o Circular, ônibus gratuito que levava da entrada para as faculdades dentro do campus, mas a gente preferia pegar carona, que saía de um ponto informal, na calçada oposta à do Rei das Batidas - bar célebre pela presença dos estudantes que planejavam como mudar o mundo enquanto sorviam sua célebre batida de morango. </p><p>A gente viajava muito - e sem dinheiro, o que era quase um milagre. Eu e Marcos passamos um carnaval em Paraty, onde fui encontrar secretamente uma mulher casada. Como a cidade já estava lotada, e não tínhamos dinheiro, dormimos debaixo da escada de um hotel que estava fechado, em obras, no meio de um monte de entulho.</p><p>Líamos A Regra do Método Sociológico, de Durkhein, no primeiro ano, e íamos ao cinema. Vimos tudo o que dava. Na Mostra Internacional de Cinema, com sessões às vezes no meio da tarde, assistimos todo tipo de filme maluco, como Koyaanisqatsi, em sua estreia - um filme sem diálogos, apenas paisagens grandiloquentes, aceleradas sob música de orquestra, retumbante sucesso de público e crítica, e prenúncio das preocupações sobre a preservação do planeta, então um tema inexistente.</p><p>No Cineclube Bixiga, na rua 13 de Maio, vimos todos os filmes de arte que podíamos, como os de Buñuel - Bela da Tarde, Viridiana, etc. Vimos filmes que ninguém via, na plateia quase vazia - como Limite, do Mário Peixoto, um filme mudo, com horas de duração, um clássico quase desconhecido da cinematografia brasileira. A bilheteira do cinema era a Simone Mateos, filha do Raul, o livreiro comunista que tinha uma banquinha na faculdade, e era minha colega de classe também no curso de Jornalismo, da ECA.</p><p>Primórdios da era digital, o Cineclube, além de passar todos os filmes que não entravam em grande circuito, tinha uma simpática placa de leds na bilheteria. A gente escolhia onde sentar e o led verde ficava vermelho. Algo impensável nos outros cinemas, onde não havia lugar marcado.</p><p>Eu e Marcos lemos O Capital nas aulas da Elisabete Lobo, e nos especializamos em Metateoria, a ciência que estuda a ciência como método de conhecimento, com o professor Jeremias e uns cachorros vadios que andavam pelas salas de aula. Jogávamos pingue-pongue no centro acadêmico e quando sobrava algum dinheiro almoçávamos na Biologia, porque lá estudavam as garotas mais bonitas (e tinha comida macrobiótica).</p><p>Certo dia, no xerox (sim, a gente copiava os capítulos dos livros que tínhamos de ler, mas era em papel), um sujeito de barba, um ou dois anos na nossa frente, disse: "Amanhã nós vamos roubar um banco".</p><p>Todo mundo já deve ter feito essa brincadeira um dia, de maneira que rimos e fomos para a sala de aula. Só que, para nosso espanto, dois dias depois, estava lá o colega estampado na primeira página da Folha de S. Paulo. O título era algo como "aluno de Ciências Sociais preso em tentativa de assalto" - numa agência do Bradesco ao lado da Cidade Universitária. </p><p>Foi um alvoroço - menos pela prisão do estudante da escola, do que por um detalhe. O sujeito tinha ido assaltar o banco com uma camiseta, com a qual saiu na foto da autuação, feita pela polícia, e reproduzida na primeira página dos jornais, estampada com a estrela e a sigla do PT. </p><p>Estávamos sempre em algum tipo de crise. Uma hora, tínhamos de ocupar a reitoria, em protesto contra o autoritarismo. Outra hora, a ocupação era do Crusp, o restaurante onde dava para encher o bandejão pagando uns trocados. Lembro de um dia ficar sentado de cócoras no chão, em uma ocupação da reitoria, ao lado de uma parede de vidro, separado da polícia armada para a guerra do outro lado por aquela fina película transparente. Dava para sentir dali o bafo dos policiais, prontos para a ação.</p><p>Era o fim da ditadura militar e a maioria de nós não queria saber de esquerda ou direita, só de retomar a normalidade democrática, trabalhar pelo desenvolvimento e sermos felizes para sempre. Fomos com a multidão no comício das Diretas-Já e havia um clima de euforia com o futuro que se construía, misturado à energia da juventude. Não apenas queríamos mudar o mundo: o mundo estava mudando, e éramos a história viva e em ação.</p><p>Havia, também, a tragédia. Uma vez, ao chegar à Universidade, vindo pela marginal, avistei um sujeito que se enforcara, pulando da ponte da Rebouças, e cujo corpo balançava sobre o rio Pinheiros. Surpresa ainda maior foi, ao chegar à faculdade, saber que ele estudava lá. Surgiu uma onda de remorso coletiva contra a falta de interesse pelo semelhante, a ponto de ninguém saber que alguém estava a ponto de se suicidar. Como tudo, aquilo virou tema de debate.</p><p>A insensibilidade para com o outro, ou a sensibilidade despertada quando é tarde demais, foi uma lição mais importante para mim que o estudo de Maquiavel e Tocqueville. Entender a sociedade, como objeto científico, pressupõe antes de mais nada o reconhecimento da importância do outro e da força da coletividade, para todos nós.</p><p>É um tema fundamental ainda hoje, em que as pessoas estão cada vez mais solitárias, apesar da exposição a que estão submetidas pelas redes sociais - talvez porque não exista solidão maior do que a de estar no meio de uma multidão.</p><p>Entendi na escola que a insensibilidade pelo drama do indivíduo aumenta quando a sociedade inteira está à deriva. E hoje nós, agora mais velhos, ainda nos penitenciamos: procuramos saber o que fizemos de errado, afinal, para o mundo caminhar de volta ao autoritarismo e ao desentendimento.</p><p>As Ciências Sociais foram muito importantes para mim. Para escrever, é preciso ter o que. O curso me ajudou a pensar, a entender os movimentos históricos e coletivos, a aprender com o diferente. </p><p>Política me deu estofo para cobrir essa área, como repórter e editor de veículos como Veja. Sociologia me ajudou a entender que a sociedade tem um movimento próprio, que pode ser estudado pela observação científica, como elementos químicos ou corpos celestes. </p><p>Antropologia me deu fundamentos para aceitar como válido todo tipo de vida humana e a perspectiva de cada um sobre si mesmo. Enriqueceu minha visita a aldeias indígenas e o meu entendimento dos povos originários - o que me ajudou, por exemplo, a escrever o que talvez seja a parte mais fascinante do meu primeiro livro de história, A Conquista do Brasil, que já teve pelo menos cinco reimpressões.</p><p>Em Jornalismo, essa minha formação sempre orientou o que escrevi sobre a sociedade brasileira, a política e o desenvolvimento do país. Como repórter, embora tenha prazer em conhecer as pessoas, nunca deixei de ser muito tímido. Preferia estar na redação, como nos livros, escrevendo (como se diz no jargão da profissão, sou um "fechador").</p><p>Exercitei-me na tarefa de identificar o importante e fazê-lo se tornar interessante. Para isso, foi fundamental o capital instalado pelo conhecimento das Ciências Sociais, que utilizo para buscar ao mesmo tempo a visão ampla (o contexto) e profunda (o insight).</p><p>Hoje posso dizer que participei ativamente de mudanças importantes no Brasil, especialmente o restabelecimento do estado de direito, a redemocratização e a estabilização econômica. O país melhorou muito, inquestionavelmente, em relação a si mesmo e perante o mundo. Por essa razão, acredito que minha geração produziu para si mesma (e, esperávamos, para nossos filhos e netos) um certo oásis de paz e prosperidade na agitada história brasileira.</p><p>As coisas, porém, estão mudando, dentro de um movimento global de concentração de renda e empobrecimento. Velhos desafios parecem estar de volta, como uma erva daninha.</p><p>Para mim, isso significa que ainda há o que fazer. E ainda saímos, eu e Marcos, para ir ao cinema, discutir essas coisas e planejar outra vez o mundo. O que envelhece é só o corpo. Ainda somos meninos - e andamos pensando em dar uma festa.</p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-44648845503832513552024-03-03T14:07:00.011-03:002024-03-03T15:54:14.225-03:00Tognolli e um certo senso de justiça<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFiVKjspJEa6tJRxt2SFJj_6eUfNRAiAF_SHjQ66ebWpL9uLa3wOa4lCPYNaueTSQCbc-3qE7WQhCX3OSov8AjK85FHVkmCwriwXvAzyYtwcFHXKg9eIjChSkZ2pxL-ikoWd2ejb8-UTJcP_RCC8zAf7Bv0XWMY_W_E_wz0ZjJZUjBzzcHTmWCx1BW9P7f/s251/FB_IMG_1709491897305.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="166" data-original-width="251" height="166" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjFiVKjspJEa6tJRxt2SFJj_6eUfNRAiAF_SHjQ66ebWpL9uLa3wOa4lCPYNaueTSQCbc-3qE7WQhCX3OSov8AjK85FHVkmCwriwXvAzyYtwcFHXKg9eIjChSkZ2pxL-ikoWd2ejb8-UTJcP_RCC8zAf7Bv0XWMY_W_E_wz0ZjJZUjBzzcHTmWCx1BW9P7f/s1600/FB_IMG_1709491897305.jpg" width="251" /></a></div><br />Claudio Julio Tognolli tinha um Chevette meio desconjuntado, e ia me dando uma carona no campus da USP, ao mesmo tempo em que filosofava, porque tinha saído fazia pouco tempo do RPM, onde tocava guitarra - e de repente a banda estava fazendo o maior sucesso, enquanto ele, meu colega de classe, estava ali de meu motorista. Mas não perdia o bom humor.<p></p><p><br /></p><p>- Sabe, a gente tem três chances na vida - ele disse. - A primeira, a gente nem sabe que perdeu. A segunda, a gente perde por incompetência. A terceira, não pode perder. O difícil é saber que oportunidade foi esta que eu perdi: se foi a primeira, a segunda ou a última.</p><p><br /></p><p>Com pouco mais de 18 anos, eu era ainda mais duro do que ele, mas achava que havia toda uma vida de oportunidades pela frente para todos nós, uma geração que saiu daquela escola com as mesmas aspirações (e teve muito sucesso).</p><p><br /></p><p>O Paulo Ricardo, do RPM, que era mais velho, e estava em algum ano mais adiante, eu só conhecia de jogar futebol no gramado em frente à escola - já ia pouco à aula. Mas eu, Tog e muitos outros convivemos, por amizade e também pelos encontros da profissão.</p><p><br /></p><p>Depois dos dois anos básicos, em que todos estudávamos juntos, a turma foi dividida nos cursos específicos - o William Bonner, por exemplo, foi para o marketing (só faria jornalismo muito tempo depois). Mesmo no Jornalismo, a gente se dividia - algumas matérias eram optativas e tinham poucos alunos, como Matemática da Comunicação, onde nos inscrevemos só o Marcelo Rubens Paiva e eu. Mas todo mundo se encontrava na entrada, onde sentávamos num mesa de açougue, de aço inoxidável, antes das aulas, e íamos às festas juntos. A partir de certa altura, passamos também a trabalhar juntos, na Editora Abril e outros veículos que pegavam quase turmas inteiras da ECA para as redações.</p><p><br /></p><p>Tog sempre foi músico, mas em vez do RPM escolheu a imprensa, e não qualquer imprensa. Queria fazer jornalismo investigativo, especialmente na área policial, por causa de um senso de justiça muito grande, que vinha de um coração do mesmo tamanho. </p><p><br /></p><p>Sempre a mil, vivia caçando bandidos, esquemas, traficâncias. Desde logo viu a interseção entre a bandidagem pura e simples e a política, o que o levou a enfrentar gente poderosa. Era corajoso e agia sempre como se nada tivesse a perder. Ironizou os riscos da profissão, usando no lançamento de uma coletânea de histórias em 1978 (Mídia, Máfias e Rock'n'roll) uma fotografia na qual apontava um revólver para a propria cabeça.</p><p><br /></p><p>Arriscava o pescoço sem medo, razão pela qual se manteve íntegro, mesmo num ambiente altamente tóxico e perigoso, onde sempre tem alguém tentando aliciar a imprensa para acobertar a sujeirada, em vez de saneá-la, ou se dispõe a tirar o jornalista do caminho, quando necessário.</p><p><br /></p><p>Arrumou inúmeras polêmicas, pela disposição de expor a verdade, custasse que custasse. Arrumou processos variados, como um movido pela JBS, por uma reportagem na qual denunciava que o juiz Sergio Moro teria sido subcontratado pela empresa, por meio de um escritório de advocacia chamado Warde. Levou também paulada de todo lado quando publicou em 2017 a tomografia da primeira dama Marisa Letícia, quando ela se encontrava hospitalizada por conta do AVC.</p><p><br /></p><p>Era eclético, escrevendo, falando no rádio ou mesmo na TV. Original, inventivo, inquieto, incansável - fez reportagens em mais de 30 países, por vezes infiltrado em torcidas violentas de futebol, organizações criminosas e seitas radicais. Professor de Jornalismo na escola em que nos formamos, procurava passar adiante esse bastão, ou esse espírito, de estar sempre investigando, questionando, e nunca desistir: enfrentar e apresentar a verdade a qualquer custo. </p><p><br /></p><p>Cultivava muitas maluquices, como seu fanatismo pelo professor Timothy Leary, que entrevistou ainda no começo de carreira e de quem se tornou uma espécie de "discípulo". Lembre-se, Leary era um defensor do uso do LSD no tratamento psiquiátrico, e que resolveu fazer de sua morte uma espécie de espetáculo público, depois de publicar um livro em que propunha uma nova visão da morte. </p><p><br /></p><p>Tinha na verdade dificuldade de lidar com a morte e estava sempre querendo ajudar alguém. Quando eu era editor de ficção e não ficção da Saraiva, apareceu com a ideia de lançarmos um livro sobre o Roy Cicala, da Record Plant, que tinha sido a maior gravadora de discos americana, de Jimmi Hendrix a John Lennon.</p><p><br /></p><p>Tog andava com Roy para cima e para baixo. Queria registrar a história dele, não só por ser relevante para a história da música, como para seu levantar seu astral, pois Roy tinha vindo para o Brasil por causa de uma filha brasileira e estava com sérios problemas de saúde. Morreu, de fato, logo depois do livro - que publicamos pelo selo Benvirá, com o título A Porta Mágica, referência ao hábito dos artistas americanos de passarem a mão na porta de entrada da gravadora, depois de Hendrix espalhar a lenda de que aquilo dava sorte.</p><p><br /></p><p>Por trás da obsessão do jornalista, estava aquele coração. Acho que ele o usou tanto que o gastou ao longo da vida. Virou o seu ponto fraco. Acabou internado, esteve às portas da morte e salvou-se por milagre, embora dependesse ainda de um transplante.</p><p><br /></p><p>Fui visitá-lo num hospital, perto da cidade de Embu-Guaçu, na companhia dos jornalistas Hugo Studart e Simone Souto Maior, que levou para ele escondido um sanduíche de mortadela. Acho que gostou mais da mortadela do que da nossa presença, depois de dois meses de comida hospitalar.</p><p><br /></p><p>Recentemente, estava muito feliz por ter ganhado um "coração novinho", como ele mesmo descreveu pelo Instagram. Ter trocado de coração, porém, foi algo que sua mente, mais que seu corpo, provavelmente, acabou não aceitando.</p><p><br /></p><p>Este domingo, perdi um amigo e o jornalismo brasileiro um de seus mais importantes samurais. Não há mais uma vida de oportunidades pela frente - e a última ele acaba de perder. Mas há uma lista de realizações, e um exemplo de vida que eu registro, para que todos possam se lembrar.</p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-29857112326304832952024-02-22T12:07:00.010-03:002024-02-25T13:50:49.246-03:00Inteligência artificial, ou morte cerebral<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxZquiZ9_UqJpkcDdjBVgJmxtn4sUCmtg_uiV1-kiN9viSmAicjkdy-GIdqbDt2ngS2VNVisL7ESPMTnygadDdngUDglnvsbdfOvNGhkKjc7a3byfyHe7tIn_J2fAc_4R5ih91R2K6c2M88_27F6XNi1Nf5W62cr2LgQx6paIOMDPtq6U2dtd9Ksbb71St/s407/autores.png" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="320" data-original-width="407" height="252" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxZquiZ9_UqJpkcDdjBVgJmxtn4sUCmtg_uiV1-kiN9viSmAicjkdy-GIdqbDt2ngS2VNVisL7ESPMTnygadDdngUDglnvsbdfOvNGhkKjc7a3byfyHe7tIn_J2fAc_4R5ih91R2K6c2M88_27F6XNi1Nf5W62cr2LgQx6paIOMDPtq6U2dtd9Ksbb71St/s320/autores.png" width="320" /></a></div><span style="white-space-collapse: preserve;">A inteligência artificial, desenvolvida para substituir capacidades humanas, com mais eficácia, é dessas grandes soluções tecnológicas que se tornam também uma ameaça à vida, lançando a pergunta sobre o que será da humanidade quando mais nada tiver a fazer. Igualmente ameaçadora, porém, a meu ver, é a transformação da inteligência humana numa inteligência artificial, como já ocorre, com um efeito muito danoso para a sociedade e o futuro da espécie à qual pertencemos.
Desculpem a conclusão antes da demonstração, mas quero dar aqui um exemplo para que entendam do que estou falando.
Recentemente, vi no Youtube uma entrevista com um auto-denominado crítico literário, que atende pelo pseudônimo de Décio Machado, fazendo graça com a ideia de menoscabar o trabalho alheio. O link me foi enviado pelo Alessandro Thomé, brilhante autor que, por sinal, escapou das machadadas do suposto crítico, por seu romance Perto dos Olhos de Deus, ao qual "Machado" faz muitos elogios.
Esta ferramenta da inteligência nacional detecta com muita razão que hoje a crítica literária, como de resto a sociedade, avalia não apenas a obra, mas o escritor, como se autor e obra fossem uma coisa só. Por isso, não se poderia mais fazer a avaliação de uma obra, sem fazer também uma checagem da vida pessoal do autor, para saber se ele tem (ou teve) um bom comportamento. Daí tentativas de “cancelamento” de gente como Kafka, por exemplo.
Ora, não faltam autores brilhantes de comportamento discutível, aos olhos de ontem, como de hoje. Bukowski era um bêbado. Zelda Fitzgerald, louca. Jack London, um marginal. Martha Gelhorn, amante de Hemingway, uma vagabunda oportunista. A lista é imensa.
Por uma miríade de razões, escritores que nem vivos mais estão continuam sendo perseguidos. Monteiro Lobato, que foi para a cadeia no Estado Novo, hoje para muitos deve ser execrado porque escreveu num livro para crianças que Tia Nastácia era “beiçuda”, entre outras coisas. Lewis Carroll escreveu Alice no País das Maravilhas porque era pedófilo. Gabriel Garcia Márquez era um assediador de mulheres e um porco chauvinista. E muita gente nem entende qual a relação entre a psiquê de Kafka e Metamorfose, mas já vai cancelando autor junto com a obra porque seria um putanheiro.
Acontece que a própria criação está frequentemente ligada a psiquês turbulentas, comportamentos desviantes e biografias tumultuadas. Essa relação por sinal foi muito bem analisada por um importante psicanalista, o doutor Anthony Storr, num brilhante livro, que aponta a relação entre a criatividade e uma conturbada vida pessoal de gente considerada muito criativa, intitulado "A Dinâmica da Criação".
Chancelar um escritor por "bom comportamento" na vida pessoal, o que elimina do mapa a maior parte da literatura mundial, é inteligência artificial, porque parece inteligente, mas desumaniza o entendimento. Grande parte dos autores, especialmente de ficção, escrevem justamente por causa de sua tumultuada psiquê. E isso não fala mal sobre o autor, ao contrário. Por vezes, escrever um livro é uma forma de auto análise a céu aberto, por parte de um ser humano que assim aprende e dessa forma evita cometer novamente os mesmos erros. Muitas vezes, um autor busca no exercício literário justamente purgar sentimentos, refletir, corrigir, e melhorar a própria vida. Essa experiência é justamente o que bem serve ao futuro leitor.
Essa é a grande contribuição da literatura e o que separa o autor de sua obra. O autor pode levar uma vida condenável ou miserável e sofrer o julgamento de seu tempo (e de tempos posteriores), por razões as mais variadas. Sade é um grande exemplo. Euclides da Cunha tentou matar o amante da mulher - e morreu. Alvarenga Peixoto era um sonegador de impostos. Tomás Antonio Gonzaga terminou Marília de Dirceu na cadeia. Dostoiévski também foi preso – e registrou a experiência em Recordações da Casa dos Mortos.
Não adianta estar de um lado ou outro, porque a perseguição varia de lado. Dalton Trumbo foi boicotado no marcartismo pela pecha de ser comunista. Soljenítsin foi para um Gulag por se opor ao comunismo. E por aí vai. Mas não faz sentido jogar fora a obra literária, confundido-a com o autor, que morre, mas ela, com as reflexões que provoca, fica.
Como autor, sei bem o valor da literatura como um exercício de auto conhecimento, reflexão e uma forma de melhorar a vida – a nossa e possivelmente de alguém. É essa experiência humana, ofertada de forma generosa e às vezes arriscada, que tem um valor inestimável e eterno para futuros leitores, que podem assim olhar para si mesmos, descobrir e resolver até mesmo as piores mazelas.
Como diz o Caetano, olhado de perto, ninguém é normal. Por trás de todo cidadão com dedo em riste, ou querendo cancelar alguma coisa, há um hipócrita querendo ocultar o próprio comportamento. Na maior parte dos casos, aqueles que acusam os outros estão apenas acobertando seus próprios erros – ou não os aceitam, porque não sabem lidar com eles. Incomoda tudo aquilo que lhes diz respeito mas é estranho ou mal visto neles mesmos, por eles mesmos. Em geral, olhados de perto, os moralistas são os maiores corruptos, pervertidos e imorais.
Não há maior moralização da sociedade que pela liberdade. Lê um livro quem quer. Até o Mein Kampf. O que não pode haver é a destruição da reputação e dos seres humanos, vivos e mortos, e sobretudo a censura, isto é, impedir que uma obra venha a público, com a intenção de evitar que outras pessoas façam seu próprio juízo. Ter acesso a tudo e formar opinião própria é um direito de todos.
Infelizmente a inteligência artificial, cheia de falsa moral e falsas verdades, está se disseminando - não nos robôs, mas nos seres humanos. A literatura e a liberdade são o único remédio contra a mecanização da inteligência. A disseminação dessa forma de inteligência por lobotomizadores só pode visar o fim da liberdade, controlando a cultura e, por ela, o cidadão.
Não podemos ser robôs. E a literatura é o grande antídoto contra a morte cerebral da sociedade.</span>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-45686344886171478672024-02-18T13:09:00.005-03:002024-02-18T13:18:19.272-03:00O Canto de Nassau<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ0DlzIN4DetbAc30yJ0WkndhBCmAxlC45fdUQRFxmceDiDMt3FoYKL5GiO_q4wbHk0EPBY7GkePW304AZrO2PXWz6AGl8cbgDhKCBGMem4uqgZ72XbMIL0eZohFhS0nELgjdujXeydPVP38YiENuQ25cQws7-A3rdnqkZTRArGShfx3r9W0E05PF31WIM/s230/nassau2.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="229" data-original-width="230" height="229" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiZ0DlzIN4DetbAc30yJ0WkndhBCmAxlC45fdUQRFxmceDiDMt3FoYKL5GiO_q4wbHk0EPBY7GkePW304AZrO2PXWz6AGl8cbgDhKCBGMem4uqgZ72XbMIL0eZohFhS0nELgjdujXeydPVP38YiENuQ25cQws7-A3rdnqkZTRArGShfx3r9W0E05PF31WIM/s1600/nassau2.jpg" width="230" /></a></div>Sempre fui fascinado pela figura de Maurício de Nassau. Agora que escrevo uma versão em poema de meus livros de história, posso expressar algo do que ele representa para mim. Saiu, a ser incluso nesse futuro livro, um trecho que por enquanto chamo de Canto de Nassau. <p></p><p>É uma parte daquilo em que o ChatGpt não conseguiu me ajudar. Então, lá vou eu, fazendo sem pressa, mas sem perder tempo.</p><p>Diz assim:</p><p><br /></p><p></p><p class="MsoNormal" style="margin-left: 117pt;"><span style="color: black; font-family: "Franklin Gothic Book"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri;">CANTO DE
NASSAU<o:p></o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 117pt;"><span style="color: black; font-family: "Franklin Gothic Book"; mso-ansi-language: PT-BR; mso-bidi-font-family: Calibri;"><o:p> </o:p></span></p>
<p class="MsoNormal" style="margin-left: 117pt;"><span style="white-space-collapse: preserve;">Quando ao zarpar me perguntaram</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">porque em vez de mais soldados eu levava</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">ao Brasil pintores, escritores e cientistas</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">e em vez de mais armas carregava sábios e artistas</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">para a guerra inofensivos</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">eu me perguntava para que servem à maioria</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">o astrolábio e os livros</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">e com isto eu me ria</span><br /><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">Para o bom governo das empreitadas</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">de longo alcance em missão tão importante</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">não se faz bastante a mão</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">de ferro nem a visão</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">do mais ousado governante</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">é preciso saber usar espadas</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">mas para ficar em algum lugar</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">é preciso bem administrar</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">saber mudar com o quadrante</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">num mundo que se expande</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">onde só a arte mostra e ensina</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">está por trás e contamina</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">faz pensar melhor - e grande</span><br /><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">Só a arte mostra o belo</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">lhe dá valor e dimensão</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">e a ciência pode fazê-lo</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">realiza o sonho com a razão</span><br /><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">Arte e ciência são a fonte</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">de toda e qualquer sabedoria</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">e quando me perguntavam por que ria</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">ao zarpar olhando o horizonte</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">é por que sei como serão</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">grandes os homens que o futuro farão</span><br /><span style="white-space-collapse: preserve;">como o homem do passado já fazia</span></p><p></p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-58653574433077889812024-01-30T10:53:00.002-03:002024-02-15T15:35:21.319-03:00A máquina trabalhando por você. Será?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioBgkT-e6Fdl2W74rckkX016da4A92xQRGvBrdODcjPAcc28pkEaBjl5UvrRAHomLVJWKwo0WvwQj0Eive8dqrOg3D3Tw-qWrgidSfANdjii8hNQU_CBybtoTHF3EzMDj4iFo4XD6YMSy0L-DeaSazlmPnEeuH8YphhYI_RxDYb7eg8-pprYKp4ObC5qsj/s300/Fig%20(1).png" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="257" data-original-width="300" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEioBgkT-e6Fdl2W74rckkX016da4A92xQRGvBrdODcjPAcc28pkEaBjl5UvrRAHomLVJWKwo0WvwQj0Eive8dqrOg3D3Tw-qWrgidSfANdjii8hNQU_CBybtoTHF3EzMDj4iFo4XD6YMSy0L-DeaSazlmPnEeuH8YphhYI_RxDYb7eg8-pprYKp4ObC5qsj/s1600/Fig%20(1).png" width="300" /></a></div><br />Resolvi empreender uma tarefa hercúlea, ou diria melhor, tarefa camoniana, convertendo meus livros de história num poema épico sobre o Brasil. Comecei, de fato, mas diante da enormidade da tarefa, achei melhor pedir ao ChatGpt escrever para mim, como se fosse eu.<div> <br />Veio isto abaixo. Que acham???<br /><br /><br />Pedido: "escreva uma poema baseado no livro A Conquista do Brasil de Thales Guaracy"<br /><br /><br /><div dir="auto"><div dir="auto"><div dir="auto"><i>A história se desdobra como um rio caudaloso</i></div></div></div><div dir="auto"><div dir="auto"><i>Nas páginas ecoam os feitos admiráveis</i></div><div dir="auto"><i>De um povo e sua terra, um destino grandioso</i></div><div dir="auto"><i><br /></i></div><div dir="auto"><i>Das florestas exuberantes aos mares reluzentes</i></div><div dir="auto"><i>O Brasil se revela em sua plenitude</i></div><div dir="auto"><i>A saga dos bravos desbravadores e pioneiros</i></div><div dir="auto"><i>Celebrada com fervor e magnitude</i></div><div dir="auto"><i><br /></i></div><div dir="auto"><i>Das tribos nativas à chegada dos portugueses</i></div><div dir="auto"><i>Nasce um país de contrastes e diversidades</i></div><div dir="auto"><i>O choque de culturas, o encontro de almas</i></div><div dir="auto"><i>Forjando uma nação de ricas identidades</i></div><div dir="auto"><i><br /></i></div><div dir="auto"><i>Das guerras históricas aos feitos coloniais</i></div><div dir="auto"><i>A bravura e a paixão se entrelaçam</i></div><div dir="auto"><i>Nas terras tropicais, o pulsar de uma história</i></div><div dir="auto"><i>Que se enraíza em cada pedaço que abraçam</i></div><div dir="auto"><i><br /></i></div><div dir="auto"><i>Os heróis que fizeram desta terra sua morada</i></div><div dir="auto"><i>Os feitos grandiosos que ecoaram pelo tempo</i></div><div dir="auto"><i>A visão de Thales Guaracy nos guia</i></div><div dir="auto"><i>Por uma jornada de amor e sentimento</i></div><div dir="auto"><i><br /></i></div><div dir="auto"><i>Em suas páginas, o Brasil se desdobra</i></div><div dir="auto"><i>Como um tapete de memórias e devoção</i></div><div dir="auto"><i>E a poesia se enlaça com a prosa</i></div><div dir="auto"><i>Revelando a grandeza desta nação</i></div><div dir="auto"><i><br /></i></div><div dir="auto"><i>Assim, "A Conquista do Brasil" se torna</i></div><div dir="auto"><i>Uma ode à terra amada, à sua gente</i></div><div dir="auto"><i>Um tributo a todos os que a tornaram forte</i></div><div dir="auto"><i>E uma inspiração para um futuro reluzente</i></div></div><div dir="auto"><br style="color: white; font-family: sans-serif; font-size: large;" /></div><br />Pedi então para fazer uma versão com 360 páginas...<br /></div><div>Deu preguiça na máquina, diante da "tarefa monumental". Saiu um "poema modesto", de seis estrofes, sendo a última delas um pedido de desculpas:</div><div><br /></div><div><br /></div><div><div class="_message-item_tj7m6_1" style="--spacing: var(--size-5); align-items: start; background-color: #fafafa; box-sizing: border-box; display: grid; font-family: "Inter Variable", "Inter Fallback"; gap: var(--size-3); grid-template-columns: auto minmax(0px, 1fr); margin: 0px; padding: var(--spacing) 0;"><div class="_message-item__content_tj7m6_9" style="box-sizing: border-box; margin: 0px; position: relative;"><div class="_message-item__title-container_tj7m6_12" style="align-items: center; box-sizing: border-box; display: flex; font-size: var(--font-size-2); margin-bottom: var(--size-2); margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; word-break: break-word;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px;">Thales Guaracy: <span color="var(--color-distinctive-lack-of-hue)" style="font-size: var(--font-size-2); font-weight: var(--font-weight-4); white-space-collapse: preserve;">Escreva um poema épico de 360 páginas sobre a formação do Brasil no período colonial</span></span></div><div class="_message-content_c60c0_2" style="box-sizing: border-box; color: var(--color-distinctive-lack-of-hue); font-size: var(--font-size-2); font-weight: var(--font-weight-4); line-height: var(--font-line-height-3); margin: 0px; white-space-collapse: preserve; word-break: break-word;"><br /></div></div></div><div class="_message-item_tj7m6_1" style="--spacing: var(--size-5); align-items: start; background-color: #fafafa; box-sizing: border-box; display: grid; font-family: "Inter Variable", "Inter Fallback"; gap: var(--size-3); grid-template-columns: auto minmax(0px, 1fr); margin: 0px; padding: var(--spacing) 0;"><div class="_message-avatar_1h086_1" style="--size: 1.875rem; align-items: center; border-radius: 50%; box-sizing: border-box; display: flex; height: var(--size); justify-content: center; margin: 0px; overflow: hidden; pointer-events: none; position: relative; user-select: none; width: var(--size);"><svg fill="none" viewbox="0 0 30 30" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><rect fill="#19C27D" height="30" rx="15" width="30"></rect><path d="M22.477 13.407a4.372 4.372 0 0 0-.376-3.593 4.424 4.424 0 0 0-4.765-2.123 4.375 4.375 0 0 0-3.3-1.471 4.425 4.425 0 0 0-4.22 3.063 4.376 4.376 0 0 0-2.926 2.122 4.425 4.425 0 0 0 .545 5.188 4.375 4.375 0 0 0 .375 3.594 4.424 4.424 0 0 0 4.766 2.122 4.375 4.375 0 0 0 3.3 1.471 4.425 4.425 0 0 0 4.222-3.065 4.376 4.376 0 0 0 2.925-2.122 4.424 4.424 0 0 0-.546-5.186Zm-6.6 9.226a3.28 3.28 0 0 1-2.107-.762 2.66 2.66 0 0 0 .104-.059l3.497-2.02a.567.567 0 0 0 .287-.497v-4.93l1.478.854a.054.054 0 0 1 .029.04v4.082a3.295 3.295 0 0 1-3.288 3.291Zm-7.07-3.02a3.28 3.28 0 0 1-.393-2.206c.026.016.07.044.103.062l3.497 2.02a.57.57 0 0 0 .574 0l4.27-2.465v1.707a.053.053 0 0 1-.022.045l-3.534 2.041a3.294 3.294 0 0 1-4.496-1.204Zm-.92-7.634a3.279 3.279 0 0 1 1.712-1.443l-.001.12v4.04a.568.568 0 0 0 .287.497l4.268 2.465-1.477.853a.052.052 0 0 1-.05.005L9.09 16.473a3.295 3.295 0 0 1-1.205-4.494Zm12.142 2.826-4.27-2.465 1.479-.853a.053.053 0 0 1 .05-.004l3.535 2.04a3.291 3.291 0 0 1-.509 5.94v-4.161a.567.567 0 0 0-.285-.497Zm1.47-2.214a5.004 5.004 0 0 0-.103-.062l-3.497-2.02a.569.569 0 0 0-.574 0l-4.269 2.465v-1.706a.053.053 0 0 1 .021-.046l3.535-2.039a3.292 3.292 0 0 1 4.888 3.408Zm-9.246 3.042-1.479-.853a.052.052 0 0 1-.028-.04v-4.083a3.291 3.291 0 0 1 5.397-2.527l-.104.058-3.497 2.02a.568.568 0 0 0-.287.497l-.003 4.928Zm.802-1.73 1.902-1.099 1.901 1.097v2.196l-1.901 1.097-1.902-1.097v-2.195Z" fill="#fff"></path><defs><clippath id="a"><path d="M6 6h18v18H6z" fill="#fff"></path></clippath></defs></svg></div><div class="_message-item__content_tj7m6_9" style="box-sizing: border-box; margin: 0px; position: relative;"><div class="_message-item__title-container_tj7m6_12" style="align-items: center; box-sizing: border-box; display: flex; font-size: var(--font-size-2); margin-bottom: var(--size-2); margin-left: 0px; margin-right: 0px; margin-top: 0px; word-break: break-word;"><span style="box-sizing: border-box; margin: 0px;">ChatGPT</span><div class="_message-item__actions_tj7m6_24" style="--offset: calc(var(--size-2) * -1); box-sizing: border-box; flex-shrink: 0; margin: var(--offset) var(--offset) var(--offset) auto;"><button class="_copy-button_1al7n_1" style="--button-size: var(--size-7); align-items: center; border-color: initial; border-radius: var(--radius-round); border-style: none; border-width: initial; cursor: pointer; display: flex; font: inherit; height: var(--button-size); justify-content: center; margin: 0px; padding: var(--size-2); transition: background-color var(--duration-300); width: var(--button-size);"><svg aria-hidden="true" class="svg-inline--fa fa-copy fa-lg" data-icon="copy" data-prefix="far" focusable="false" role="img" viewbox="0 0 448 512" xmlns="http://www.w3.org/2000/svg"><path d="M384 336H192c-8.8 0-16-7.2-16-16V64c0-8.8 7.2-16 16-16l140.1 0L400 115.9V320c0 8.8-7.2 16-16 16zM192 384H384c35.3 0 64-28.7 64-64V115.9c0-12.7-5.1-24.9-14.1-33.9L366.1 14.1c-9-9-21.2-14.1-33.9-14.1H192c-35.3 0-64 28.7-64 64V320c0 35.3 28.7 64 64 64zM64 128c-35.3 0-64 28.7-64 64V448c0 35.3 28.7 64 64 64H256c35.3 0 64-28.7 64-64V416H272v32c0 8.8-7.2 16-16 16H64c-8.8 0-16-7.2-16-16V192c0-8.8 7.2-16 16-16H96V128H64z" fill="currentColor"></path></svg></button></div></div><div class="_message-content_c60c0_2 _message-content--markdown_c60c0_20" style="box-sizing: border-box; color: var(--color-distinctive-lack-of-hue); font-size: var(--font-size-2); font-weight: var(--font-weight-4); line-height: var(--font-line-height-3); margin: 0px; word-break: break-word;"><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.25em; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><br /></p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.25em; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">Abre aspas: </p><p style="box-sizing: border-box; margin: 0px 0px 1.25em; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">"Criar um poema épico de 360 páginas sobre a formação do Brasil no período colonial seria uma tarefa monumental. No entanto, posso oferecer um resumo poético que captura a essência desse período histórico:</p><p style="box-sizing: border-box; margin: 1.25em 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">Nos mares vastos, além do horizonte,
Surge uma terra de riquezas sem fim.
O colonialismo tece sua saga,
No Brasil, berço de um novo destino.</p><p style="box-sizing: border-box; margin: 1.25em 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">Portugueses, aventureiros destemidos,
Em terras selvagens, vislumbram o ouro.
Exploram as florestas, desbravam caminhos,
Fundam vilas, erguem o sonho pioneiro.</p><p style="box-sizing: border-box; margin: 1.25em 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">Com sangue, suor e lágrimas se forja
A nação que há de se erguer soberana.
Indígenas, africanos, mistura de povos,
Culturas se entrelaçam na colônia lusitana.</p><p style="box-sizing: border-box; margin: 1.25em 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">Entre canaviais e engenhos de açúcar,
A mão escrava sustenta a economia.
Resistem os nativos, ergue-se a resistência,
No seio da terra, pulsando energia.</p><p style="box-sizing: border-box; margin: 1.25em 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">Sinuosas tramas políticas e sociais,
O Brasil colonial é forjado em luta.
Da união das diferenças, surge a esperança,
Do novo mundo, uma pátria que se enxerga.</p><p style="box-sizing: border-box; margin: 1.25em 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">Este poema modesto é apenas um vislumbre
Da grande história do Brasil colonial.
Rica em nuances, em nuances mergulhada,
Uma saga épica, de valor sem igual.</p><p style="box-sizing: border-box; margin: 1.25em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">Se você deseja explorar mais a fundo este tema, recomendo estudar mais sobre a história do Brasil no período colonial e deixar sua própria criatividade te guiar na escrita de uma obra tão grandiosa."</p><p style="box-sizing: border-box; margin: 1.25em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">Fecha aspas.</p><p style="box-sizing: border-box; margin: 1.25em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;">Bem, acho que não tem jeito. Vamos arregaçar as mangas e tentar a tarefa "grandiosa".</p><p style="box-sizing: border-box; margin: 1.25em 0px 0px; overflow-wrap: break-word; white-space-collapse: preserve;"><br /></p></div></div></div></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div><div><br /></div>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-77284923452059952992024-01-07T01:17:00.005-03:002024-01-08T00:00:45.715-03:00Os que foram e os que ficaram<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzmN_XAKQI1Ta4sRTxtSZt2hX-nsbeHHln8VR5Vg9_CdY8EL1SoPaCXF_Auhe9LevvEf0Xi7XoNcLowed8mu-1gcuG789BrBtwrCY4ZWNti66swZF_ue0o8lxF-HxToKZ7_dG_Mn5QuYweT3HKb2Y7WdMC4DYwwWZIm3kkw-T9eEISxcg1O_PJScsaFkDl/s1079/Screenshot_20240107-011158_Instagram.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1072" data-original-width="1079" height="269" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgzmN_XAKQI1Ta4sRTxtSZt2hX-nsbeHHln8VR5Vg9_CdY8EL1SoPaCXF_Auhe9LevvEf0Xi7XoNcLowed8mu-1gcuG789BrBtwrCY4ZWNti66swZF_ue0o8lxF-HxToKZ7_dG_Mn5QuYweT3HKb2Y7WdMC4DYwwWZIm3kkw-T9eEISxcg1O_PJScsaFkDl/w271-h269/Screenshot_20240107-011158_Instagram.jpg" width="271" /></a></div><div><p>Paolo Paradisi tem 58 anos, é arquiteto de formação, mas diz que não há emprego para arquitetos na Itália, ainda mais para quem passou dos 30 anos. Mora na antiga casa da família, a dez minutos do aeroporto de Bolonha, e vive de hospedar e alimentar pilotos de passagem.</p><p>Conto que minha família materna é dali. Meu avô José era chamado de Iusfen eu havia andado no dia anterior nos campos de meus bisavôs, caminhando entre os povoados de Crevalcuore, Ravarino e Santa Ágata Persiceto, e que eles haviam deixado em 1892.</p><p>Paradisi me explica que Iusfen é diminutivo de Iussef, que por sua vez é Iussef, Joseph, Giuseppe, ou José, portanto meu avô era "Zezinho". Vai até seus armários atulhados e tira um livro de família e um velho álbum.</p><p>Mostra as fotos de sua família, que viveu perto de Ravarino, como a de minha mãe - as planícies úmidas, que já foram pântano antes de recortadas por canais, onde grassava a malária, nos tempos de meu bisavô.</p><p>Há dois adolescentes de pernas muito brancas e finas, resultado da poliomielite. Paradisi explica a migração daquelas terras para o Brasil, no final do século XIX, período que narro em meu romance Filhos da Terra.</p><p>"O problema não era a malária, era a fome", diz. "Senta, vou fazer um almoço para o neto do Iusfen. Hoje, você não vai passar fome na Itália. E não vai pagar nada. "</p><p>Cozinha para mim uma massa com o "verdadeiro ragu bolonhês", regado a vinho tinto romeno (!), seguido por tiramisù gelado molhado com nocino, um licor de nozes, uma delícia do paraíso.</p><p>Eu saio deliciado daquele repasto. No final, insisto em pagar pelo almoço, afinal é um hotel. Ele, porém, se recusa a receber. E nos despedimos com um abraço. </p><p>A vida ainda não é tão fácil, mas Bolonha tem essa a alma italiana, deste e outros tempos. Como mostra essa pequena história de seus filhos, ainda unidos pelo amor, tanto dos que foram, como dos que ficaram.</p></div>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-77807147041325524972024-01-06T16:24:00.002-03:002024-01-07T12:47:32.292-03:00Zagallo e o Brasil <p> </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyMJfRbdl9oDUoW6ht3xkeYAQcrLQiLlbXH-ZK0xgVqrCxvGyGDm470hD_qgFQPA2IBrHMCkLdsLQv6-7Xw3mDYLnvLKsFBgNacSn-deC2En9otk0L85xIgM71MtUr1nx_9vYdQTVxrga2Do62Hw6vCM70nHBxxQzWFFl_jWk_i4BfPHQJu6u9KDd2FP5h/s834/Screenshot_20240106-160106_Chrome.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="642" data-original-width="834" height="246" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyMJfRbdl9oDUoW6ht3xkeYAQcrLQiLlbXH-ZK0xgVqrCxvGyGDm470hD_qgFQPA2IBrHMCkLdsLQv6-7Xw3mDYLnvLKsFBgNacSn-deC2En9otk0L85xIgM71MtUr1nx_9vYdQTVxrga2Do62Hw6vCM70nHBxxQzWFFl_jWk_i4BfPHQJu6u9KDd2FP5h/s320/Screenshot_20240106-160106_Chrome.jpg" width="320" /></a></div><p></p><p>Eu não gostava do Zagallo. Achava o homem arrogante e ultrapassado. Na Copa de 1970, eu era muito criança e lembro mais do último jogo, pela grande festa. Naquela Copa, ele parou no tempo. Em 1974, de que me lembro mais, o Brasil tomou um samba da Holanda, que jogava como deveria jogar o Brasil. Parecia um time da rua, jogando pelada. Fizeram uma paródia da música da Copa de 70 para hostilizá-lo. Lembro até hoje: "Todo mundo de porrete na mão/esperando o Zagallo/sair do avião".</p><p><br /></p><p>Como ele mesmo disse, tivemos de engoli-lo por muito tempo. Ele tinha razões para ser arrogante: bi campeão do mundo como jogador, tri como técnico, tetra como coordenador, era o mais vitorioso e quem tinha mais experiência nesse negócio de ganhar um torneio traiçoeiro, em que o melhor geralmente tropeça num time retranqueiro qualquer. Dizia ter sorte, amava o número 13, mas era na verdade um especialista, que conhecia Copas como ninguém.</p><p><br /></p><p>Não obstante, a morte de Zagallo me bateu como uma grande tristeza. Ele tinha algo incomparável: o amor incondicional pelo Brasil, o entusiasmo pela seleção, e certeza da nossa grandeza, em um esporte que passou a ser nosso, e mais, prova de que o Brasil pode tudo, em qualquer coisa.</p><p><br /></p><p>Zagallo era isto: uma injeção de ânimo num país que, como dizia Nelson Rodrigues, passou do viralatismo para provar o gosto da vitória. E quem sabe realizar outros projetos de grandeza, como oferecem nossos imensos recursos humanos e naturais.</p><p><br /></p><p>Simbolizava a emancipação do viralata brasileiro, da qual ele se tornou a instituição encarnada. Receio que sem Zagallo esteja perdido o grande bastião dessa devoção à pátria, esse orgulho que beira a arrogância, essa vontade e certeza de ganhar, e amar incondicionalmente o que é nosso, acima de vitórias e derrotas. Hoje, Zagallo, eu que nunca gostei de você tiro meu chapéu e digo: que falta você nos faz.</p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-58613356230383202152023-12-07T09:42:00.006-03:002023-12-07T20:07:17.111-03:00Um eletrizante voo pela história<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoqih2ynvdPbk2acmOlBabjUKE3v6aMVy2BKh_gwjzpiYgiluRKHOpD8d9SVpA4tQTMCrQsb6vchWA3lXIgF_lkJRsDM2ezJaAnr6qQRD2Pw_wynb4ywGdSeUMP5BeRZ7-nCmGWEfNJdJBc7MzDjqxKwfnzA0p11BFtrnZPoq2PPi76yueUk0gOJjhc2H3/s640/307ad300-5d1b-11ee-93e8-5d16174eb488.png" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="426" data-original-width="640" height="213" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoqih2ynvdPbk2acmOlBabjUKE3v6aMVy2BKh_gwjzpiYgiluRKHOpD8d9SVpA4tQTMCrQsb6vchWA3lXIgF_lkJRsDM2ezJaAnr6qQRD2Pw_wynb4ywGdSeUMP5BeRZ7-nCmGWEfNJdJBc7MzDjqxKwfnzA0p11BFtrnZPoq2PPi76yueUk0gOJjhc2H3/s320/307ad300-5d1b-11ee-93e8-5d16174eb488.png" width="320" /></a></div><br />Wendy Fernandes Evangelista e Fernando Alves de Lima e Silva se aproximam da produtora de cinema Joana Henning, no hall dos cinemas Multiplex, no shopping Eldorado, onde tinham acabado de assistir à pré-estreia do filme O sequestro do voo 375, na noite da terça-feira, dia 5. Conversam com Henning e, chorando, os dois se abraçam.<br /><br />Ambos tiveram suas vidas tragicamente ligadas pela história real narrada no filme. Fernando é filho do piloto Fernando Murilo e Silva, que comandava o voo, falecido em 2020, aos 76 anos de idade. Wendy é filha do copiloto Salvador Evangelista. Tinha oito anos quando seu pai foi morto com um tiro na cabine, quando respondia ao chamado da torre, pelo sequestrador do voo, Raimundo Nonato.<br /><br />- Se ninguém mais visse o filme, teria valido só por isto - digo a Joana.<br /><br />- É o <i>spin off</i> - diz ela, com um sorriso.<br /><br />O sequestro do voo 375 é antes de mais nada uma história humana, a começar pela do piloto Fernando, um herói brasileiro de verdade, desses que são colocados pelas circunstâncias diante de decisões em que a própria vida deixa de ser o mais importante. <br /><br />O filme assume os relatos dos passageiros, expondo também as versões oficiais sobre tudo o que aconteceu - a do governo e da companhia aérea. Lembra a constrangedora tentativa de acobertar a verdade, típica dos governos covardes e atrabiliários, que carregam ainda muito mais os esqueletos do passado que o embrião do futuro.<br /><br />Aponta, mais especialmente, que material de imprensa sobre o sequestro foi encontrado nas cavernas do Afeganistão onde havia se abrigado Osama Bin Laden. Sugere que o líder da Al Qaeda estudou o caso brasileiro, no planejamento do sequestro de voos civis para lançar seu ataque às torres gêmeas, em Nova York, assim como o Capitólio e o Pentágono, em 11 de setembro de 2001.<br /><br />O que Bin Laden aprendeu com o caso brasileiro é que o fator que impediu a execução do plano de sequestro foi justamente o piloto. Como relato em meu livro A Era da Intolerância, o líder da Al Qaeda decidiu treinar os próprios terroristas kamikazes para pilotar os aviões, de modo a assumirem o comando do voo. Não podiam, como Nonato, depender do comandante.<br /><br />Fizeram cursos de pilotagem, com um detalhe, estranhado pelos instrutores. Nenhum deles compareceu às aulas finais, que versavam, justamente, sobre a aterrissagem.<br /><br />A história do sequestro acaba sendo um filme de ação, mas é também um excelente painel de uma época. O sequestrador é algoz, mas também vítima - e quem viveu aquele período do Brasil sabe como foi difícil a saga da redemocratização. Foi também o de reeconstrução de uma nação arrasada pela prepotência política e o dirigismo econômico estatal, com suas consequências na vida de todos.<div><br /></div><div>O desespero é a maior fonte do radicalismo e dos movimentos irracionais, que levam aos grandes desastres, tanto dos indivíduos quanto da coletividade. Nestes tempos em que os radicais novamente se levantam, o filme de Joana é, além de grande entretenimento, bastante oportuno.</div><div><br /></div><div>Mostra que, assim como ocorreu com os instrutores de voo americanos, não podemos ficar indiferentes aos sinais do dia a dia, nem menosprezar aonde as crises podem levar. Um país civilizado e próspero é aquele que não precisa de heróis - embora eles existam e estejam entre nós.<br /><br /></div>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-81913873716756331782023-12-05T15:34:00.006-03:002023-12-07T01:46:01.411-03:00O Brasileirão e o que há de errado com o brasileiro<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF2zAVO6NxDPJSjc36w7uDzJn2J0VkuX7RjQ_0PS_kZ5OOx9q-892q8nSW1guRoLSiONpbDWHByoFWM2vXXe_sVcl6kYbGr2Q4BHKjeRNN2UtazLIh_cjLYe6oO3V8EIgZKGnFGKYiihweNKZIex_dKLG4pvdk0JGEDYRlo3yE1IJGR3wAa2cs3lnDdlfY/s1500/53365723429_c371f25b81_h.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1500" data-original-width="1359" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiF2zAVO6NxDPJSjc36w7uDzJn2J0VkuX7RjQ_0PS_kZ5OOx9q-892q8nSW1guRoLSiONpbDWHByoFWM2vXXe_sVcl6kYbGr2Q4BHKjeRNN2UtazLIh_cjLYe6oO3V8EIgZKGnFGKYiihweNKZIex_dKLG4pvdk0JGEDYRlo3yE1IJGR3wAa2cs3lnDdlfY/s320/53365723429_c371f25b81_h.jpg" width="290" /></a></div><br /><span style="white-space-collapse: preserve;"><br /></span><div><span style="white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div><div><span style="white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div><div><span style="white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div><div><span style="white-space-collapse: preserve;"> </span></div><div><span style="white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div><div><span style="white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div><div><span style="white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div><div><span style="white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div><div><span style="white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div><div><span style="white-space-collapse: preserve;"><br /></span></div><div><span style="white-space-collapse: preserve;">A gente, no Brasil, tem a estranha mania de falar mal da gente mesmo e de achar um lado negativo em tudo o que acontece. Voltamos ao complexo de viralatas, do qual Nelson Rodrigues escrevia, antes de o Brasil ser campeão do mundo pela primeira vez - quando o brasileiro, pelo menos no futebol, deixou essa mentalidade do subdesenvolvimento e passou a ser mais positivo e confiante.
A repercussão do Brasileirão de 2023 mostra essa tendência para o catastrofismo, a inclinação para ver somente a desgraça, em vez do mérito. Circula agora na imprensa, nos bares, nas conversas dos torcedores a história de que foi o Botafogo que perdeu o campeonato, e não o Palmeiras que o ganhou.
Um jornalista, que atende pela sigla de RMP, fez pouco caso do que teria sido a "arrancada" palmeirense. Disse que não foi arrancada, e sim queda do Botafogo, já que todo mundo se aproximou. Repete o que se fala em toda parte.
Sempre é possível ver um copo meio cheio ou meio vazio, mas a inclinação do brasileiro para enxovalhar os derrotados, como um consolo ou conformismo com o derrotismo nacional, assim como desvalorizar os vitoriosos, que são apenas os derrotados de amanhã, é uma característica terrível da nossa personalidade coletiva. E que, diga-se de passagem, passa uma impressão falsa.
O Palmeiras venceu o campeonato, não o Botafogo que o perdeu. Venceu numa arrancada com 8 vitórias em 10 jogos e a partir de um jogo memorável, que decidiu o campeonato, dentro dele mesmo uma arrancada heróica: a vitória no jogo decisivo contra o próprio Botafogo, por 4 a 3, com um gol no último lance, depois de estar perdendo por 3 a 1 e ainda ter um pênalti contra, aos 37 minutos do segundo tempo.
Embora o Botafogo tivesse perdido um jogo para o Flamengo, depois de longa e impecável série de resultados, e de um primeiro tempo brilhante em que aplicou 3 a 0 no mesmo Palmeiras, a virada épica do time de verde não mudou apenas o jogo, como o campeonato. Ao buscar uma vitória que parecia impossível, o Palmeiras não apenas ganhou a partida, como mostrou que ganhar o Brasileiro também era possível.
Nessa partida, o Palmeiras quebrou o espírito do Botafogo. O time que já foi o de Garrincha perdeu a confiança, de tal forma que não mais se levantou. Numa corrida final em que os competidores se aproximaram, faltou justamente o que o Palmeiras já tinha e passou a ter de sobra. Está acostumado a ser campeão, e, como mostrou aquele jogo no qual se impôs contra todas as probabilidades, sempre disposto a tentar o incrível.
Antes colecionando vitórias, o Botafogo passou a esmorecer e ceder o placar no final dos jogos, tomando viradas ou deixando o adversário empatar nos últimos minutos, sem a força mental que compensa o cansaço, para assegurar a posição.
O Palmeiras venceu porque foi melhor que o Botafogo e os outros competidores que tornaram o campeonato emocionante até o final, especialmente o Atlético Mineiro, o Flamengo e, um pouco mais atrás, Grêmio e Bragantino. Foi melhor no mais importante: na força mental, capaz de decidir disputas parelhas, numa competição decidida nos detalhes.
Tecnica e taticamente, todos estavam no mesmo nível. Todos tiveram de alguma forma de se reiventar ao longo do campeonato: uns trocaram de técnico; o Palmeiras, de elementos importantes para a equipe, de forma a suprir a ausência de jogadores alijados da competição por contusões graves: Dudu, Menino, Roni.
O Palmeiras achou forças no momento decisivo. Inclusive mais de um reforço: Endrick, um garoto de 17 anos que comandou um grupo de campeões na partida mais perdida e depois mais ganha da história palmeirense. Endrick deu sangue novo ao ataque, ao próprio time, e impulsionou o Palmeiras, enquanto outros ficavam pelo caminho.
Essa é a maior virtude do carismático técnico Abel Ferreira. O português é um especialista em fortalecer seu time, não apenas tática e tecnicamente, como mentalmente. Trabalha sobretudo a força mental, que conta muito, sobretudo quando todo o resto é tão equilibrado.
A virada sobre o Botafogo mostra a importância de uma mentalidade vencedora, forja de quem não desiste, e quem, mesmo quando perde, sai de cabeça erguida, sabendo que vencer de novo é questão de tempo.
É o contrário do derrotismo brasileiro, que gosta de tripudiar sobre quem perde e desvaloriza não só o derrotado, como o vencedor. É uma autoimagem que não condiz com nosso país e desmerece a nossa gente. Quem leu A Conquista do Brasil, meu primeiro livro de história, sabe que o Brasil é resultado de uma arrancada não menos heróica e improvável. Somos a maior prova do mundo, na verdade, de que é muito possível conseguir qualquer coisa, quando a gente olha para o alto, e não para o chão.</span></div>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-71247288844199837522023-11-09T18:08:00.017-03:002023-11-10T13:05:48.633-03:00Além da Memória, ou: por que escrevemos<p>Está saindo pela Assírio & Alvim Brasil o poema em livro Além da Memória, em que procuro explorar o passado mais remoto do ser humano – ou de mim mesmo. Revisito a primeira infância – o “tempo sem palavras”, quando ainda antes de aprendermos a falar, ou racionalizar, construímos nossa personalidade, com a noção sobre sentimentos, como o amor e o medo. Uma forma de cognição pouco compreendida, mas tão presente e influente no adulto, como digo, "artificialmente construído".</p><div><div>Escrever Além da Memória não foi nada fácil e começou num momento de forte impacto pessoal, quando minha mãe estava já muito doente de câncer, e meu filho era recém-nascido. Para lidar com sentimentos tão conflitantes, passei a rabiscar umas memórias, primeiro em prosa. Mas não estava satisfeito. Daquela forma, não conseguia me exprimir. Reescrevi tudo, então, como o poema, que foi apresentado em parte na Casa das Artes, no Porto, em Portugal, por iniciativa da pianista brasileira Enóe Ferrão, com participação da atriz Mariya Victorivna, e sai agora completo, em livro.</div><div><br /></div><div>Desse tempo em que nascia Além da Memória, ficou esse registro aqui:</div><div><br /></div><div>"23h29 de 3 de novembro de 2016. Faz algum tempo acabei o romance que será publicado ano que vem. Escrevo agora o livro mais difícil da minha vida. Nem sei se terei coragem de apresentá-lo um dia. Acabo esse trecho, abaixo. Não falta tanto para o fim. Escrevo na esperança de que tenha um fim. Mas receio que nunca acabe.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsaUP3J3KQBbe07IAVy8NcoOeT0FJEBGswyE916H3RZUaJdh3sB-XhsVQIBhbe-Dytsmo2LEzLp48qdiLQDIl0ieoe_0mjJrRkDFZcu_BbgEINBe-aiqcPgPOeDjkQv7VXMYb_D1R5IxPmr-zyVA7rMZ_l91zDHgoPF5sAvAKTmsGkWImgbsFtr8IUYRPo/s2992/20231105_151417.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="2992" data-original-width="2992" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgsaUP3J3KQBbe07IAVy8NcoOeT0FJEBGswyE916H3RZUaJdh3sB-XhsVQIBhbe-Dytsmo2LEzLp48qdiLQDIl0ieoe_0mjJrRkDFZcu_BbgEINBe-aiqcPgPOeDjkQv7VXMYb_D1R5IxPmr-zyVA7rMZ_l91zDHgoPF5sAvAKTmsGkWImgbsFtr8IUYRPo/s320/20231105_151417.jpg" width="320" /></a></div><br />'Quando minha mãe morreu, meu filho tinha dois anos de vida. Eu olhava para ele como se olhasse para mim mesmo no começo de tudo. Meu filho estava aprendendo a viver. Andava sem dar a mão, aproximava-se de desconhecidos, avançava curioso sobre tudo. Descobria como o mundo é maravilhoso. Avaliava e tentava se certificar da importância de cada pessoa que conhecia, dentro do seu universo. ('Você é o meu vovô?', perguntava repetidas vezes a meu pai). Via o sol, as estrelas. Experimentava, fantasiava. Certo dia, apanhei-o batendo com um tubo de cola na testa. Explicou que tentava colar nele mesmo a sua sombra.</div></div><br />É ao mesmo tempo belo e duro aprender a viver; mais duro ainda, talvez belo, seja aprender a viver com a morte. Pessoas que perderam cedo os pais ou outros entes queridos têm de fazê-lo também cedo. Não existe uma ordem natural para as coisas; o destino muitas vezes é tomado pelo acaso e só nos resta enfrentá-lo como ele vem.<br /><br />É difícil encarar a morte enquanto estamos cheios de vida; ela não pode se tornar uma sombra, colada na testa, pois aquele que chora ou teme o fim diariamente, morre um pouco também todos os dias. É preciso assimilar as piores tristezas e os fatos mais duros da existência e ainda assim manter a cabeça erguida, a dignidade e a alegria.<br /><br />Eu me encontrava nesse estágio do aprendizado; via a vida florescer, ao mesmo tempo em que tinha de aprender a conviver com a dor da grande perda. Era sorte, ser também pai; isso me ajudava a manter a coragem de seguir em frente, pois exigia uma motivação superior a qualquer tristeza.<br /><br />Filhos são um bem do céu, não porque nos trazem felicidade, mas porque pedem de nós a felicidade. Não apenas dão alegria, como a exigem de nós. Por eles, todos os dias temos de sorrir, de brincar e esquecer nossos males. Crianças não nos dão tempo para a dor.<br /><br />Ao mesmo tempo em que ensinamos os filhos, aprendemos com eles. Não é apenas pelas crianças que se deve seguir em frente, mas por nós mesmos, e pela criança que há dentro de nós. É na infância, a nossa e dos nossos filhos, ou dos que vêm depois, que está uma fonte permanente de felicidade. Por isso, aquele que não ri nem se alegra com as crianças está morrendo sem saber.<br /><br />Aquele que aprendeu a viver com a morte talvez esteja mais preparado para aprender a morrer; cada etapa parece servir de antesala da próxima, cada degrau da sabedoria leva a outro. Provavelmente, quando não achamos um degrau, ou perdemos o pé, é porque não subimos direito o anterior."<div><br /></div><div><div>Esse era o livro em prosa. Quando levei os dois, poema e prosa, a meu antigo editor, Pedro Paulo Senna Madureira, para me ajudar a decidir o que fazer, ele me disse para guardar a prosa. Gostou, mas achou melhor o poema, mais livre, profundo e afetivo. "Este livro é você" - ele me disse. "Triste, sombrio, com esplêndidos raios de sol."</div><div><br /></div><div>Fez profecias, como o de que eu não me casaria novamente. Como editor e amigo de grandes escritores confessionais, como Clarice Lispector e Pedro Nava, sabia por experiência. "Nenhuma pessoa vai dar o que você precisa" - ele me disse. Essa, creio, para alguns, é a função da arte.</div><div><br /></div><div>Escrever Além da memória me deu paz - a paz possível. Enquanto escrevia, voltei às lembranças mais remotas, de meus tempos de criança – um menino que não podia andar, com a difusa lembrança de crianças brincando ao longe, atrás do vidro; meus pais, às voltas com aquele “filho torto”; o mundo circunscrito a um tapete; e, por fim, a imaginação como liberdade.</div><div><br /></div><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCdYgMTE0tCwUS0BoGj44ZqHZn7WE8CKO3-x8tQhfnNGt5nxWLj6vq4SYhh-1ZiQznHp552RFf74V5Qvjl1L8bl6HrOqHk4sIVRzHme3Fl6IZxj5rZZQ6vBboWTXA2xIiuq8neaXEinOHjf9UyvCHEFdQLVPIE0aGoVJbGDBTAgEpNliTe17JFewY3t9C8/s2992/20231105_151404.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="2992" data-original-width="2992" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjCdYgMTE0tCwUS0BoGj44ZqHZn7WE8CKO3-x8tQhfnNGt5nxWLj6vq4SYhh-1ZiQznHp552RFf74V5Qvjl1L8bl6HrOqHk4sIVRzHme3Fl6IZxj5rZZQ6vBboWTXA2xIiuq8neaXEinOHjf9UyvCHEFdQLVPIE0aGoVJbGDBTAgEpNliTe17JFewY3t9C8/s320/20231105_151404.jpg" width="320" /></a></div>Em Além da Memória, eu sou filho, mas também pai; sou adulto, e sou menino; evoco ali minha diretriz primordial, essencialmente afetiva. A poesia como linguagem agora para mim se explica, como relato do quase indizível, a começar pelas invisíveis teias da relação entre mãe e filho, nossa ligação mais essencial.</div><div><br /></div><div>Dividido em duas partes – “Sombra e Luz” e “Menino de apartamento”, Além da Memória é um suave documentário de momentos profundamente íntimos, ou um ensaio sobre o ser humano, no que tem de mais essencial. Traz a criança que frequentemente toma as rédeas da vida, surpreendendo o adulto, às vezes contra ou apesar da razão.</div><br /><div>Como diz meu próprio pai, os filhos nascem para ensinar os pais. Foi isso que vivi quando meu filho começou a crescer, uma espécie de espelho do tempo, quando eu me despedia de minha mãe, mas queria não perder o menino que há em mim.</div><div><br /></div><div>Por muito tempo hesitei em trazer à luz o poema, porque não sabia qual a razão de expor algo tão pessoal. Hoje, eu sei. A única coisa que explica essa necessidade, e razão pela qual escrevo, e todos escrevemos, creio, é acreditar que esse sacrifício da intimidade pode de alguma forma fazer as pessoas que amamos viverem para sempre.</div><div><br /></div></div><div><br /></div>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-56625702216615409442023-11-07T16:31:00.001-03:002023-11-07T16:57:28.183-03:00Duas mães. E o Brasil<p style="text-align: left;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVR4LKXRsbBJXLVchKQMMwVkCUq_JOkIeyZWtcIRGp8Wp0kYlvuGAH4igmmyxDZuhOxme8GHGSesAzWd7808EBM5wc9kJHJinlI9CEEuZNFLvZng6CZZG5k2kMJZln33tW1cmabhCzUiDYN83McAfNAdSbcoyqEGLB5L44ZpF2OWrLxt9ZIwq5PifNnGvV/s511/mae.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; display: inline !important; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="413" data-original-width="511" height="259" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhVR4LKXRsbBJXLVchKQMMwVkCUq_JOkIeyZWtcIRGp8Wp0kYlvuGAH4igmmyxDZuhOxme8GHGSesAzWd7808EBM5wc9kJHJinlI9CEEuZNFLvZng6CZZG5k2kMJZln33tW1cmabhCzUiDYN83McAfNAdSbcoyqEGLB5L44ZpF2OWrLxt9ZIwq5PifNnGvV/s320/mae.jpg" width="320" /></a>O mais comovente da convocação pela seleção brasileira do Endrick, atacante de 17 anos do Palmeiras, depois do mágico jogo contra o Botafogo, foi ver a dona Cíntia, mãe dele, feliz com a felicidade do marido, o seu Douglas, que trabalhou de pedreiro e pediu um emprego de servente no clube quando o filho foi jogar lá.<br /><br />Endrick ser convocado para a seleção, porém, não foi o momento mais emocionante da vida da dona Cíntia. E ela disse qual foi. E por que.</p><p style="text-align: left;">"Quando ele pisou no gramado do Alianz Park pela primeira vez, foi como se tivesse pegado um diploma na mão", disse a dona Cíntia.<br /><br />O Brasil inteiro cabe nessa declaração de mãe. </p><p style="text-align: left;">Dona Cíntia lembrou minha mãe, dona Marlene, professora da rede de ensino público, quando viu o primeiro boletim do neto, André, que tinha então só dois aninhos, mas recebeu na escola, no fim do ano, uma avaliação.</p><p style="text-align: left;">Ao pegar aquele papel, minha mãe, que ensinava até a adultos as primeiras letras, quando achava algum analfabeto, e me ensinou a ler e escrever, olhou e... As lágrimas saltavam dos seus olhos.<br /><br /><br />Se tem uma coisa que mexe comigo, e o amor da mãe. E o Brasil. Quando as duas coisas se juntam, então... <br /><br />Seja feliz, dona Cíntia. Seu diploma está no coração.</p><p style="text-align: left;"><br /></p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-76664710967290033412023-10-31T02:50:00.004-03:002023-10-31T09:23:27.075-03:00O homem mais importante que o presidente<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6Hej9-rsks9bOdDlK0TKiXr-gB6tm803XW1rOqI9JHk_-TM0If0JabRuu-FaKe3q9t5MZXhhbDqnqvs-U4bP6wThJc4Ee8WDvU0AonBhBnRPzz43T7R-jH1AL3EfME2oH9uAMef3GvUSUcAPpznTNr6SdebnjTuEVOfRXvIwesq6HKVgu3pizif2fmEER/s180/Danilo-Santos-de-Miranda-perfil.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="180" data-original-width="180" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh6Hej9-rsks9bOdDlK0TKiXr-gB6tm803XW1rOqI9JHk_-TM0If0JabRuu-FaKe3q9t5MZXhhbDqnqvs-U4bP6wThJc4Ee8WDvU0AonBhBnRPzz43T7R-jH1AL3EfME2oH9uAMef3GvUSUcAPpznTNr6SdebnjTuEVOfRXvIwesq6HKVgu3pizif2fmEER/s1600/Danilo-Santos-de-Miranda-perfil.jpg" width="180" /></a></div>Jeyne, atriz 24 horas por dia, certa vez encontrou Aécio Neves, na casa de um cineasta, quando ele era candidato à presidência da República.<p></p>- Você conhece o Danilo Miranda?<div><br />- Não.<br /><br /></div><div>- Então você nunca vai ser o presidente da República.<br /><br /></div><div>Por aí, dá para se ter uma ideia do que Danilo Miranda representava para os artistas. Para ela, se havia alguém que um presidente devia conhecer, ou era mais importante que o próprio presidente, era o Danilo.<br /><br />Como se sabe, Aécio profeticamente perdeu a eleição - não foi presidente. Mas até ele passou a saber quem era Danilo Miranda.<div><br /></div><div><span class="sewdpdgnttz80y5"></span><span class="sewdpdgnttz80y5"></span>O grande diretor do Sesc, falecido ontem, não apenas tinha uma verba maior que a dos poderes públicos para abrigar, promover e fazer prosperar a arte. Era um gestor exemplar, que, além de tudo, tratava a todos os artistas com respeito e, até mesmo, admiração. Não importava quem.<br /><br />Danilo foi maior que o poder público não apenas na verba, como na conscientização. Abriu o Sesc, uma entidade de lazer para comerciários, ao público em geral, usando a verba de que dispunha para ampliar seu alcance - e seu benefício. Foi mais do que precisava ser, não só porque podia, mas porque queria e porque sabia.<br /><br />Foi do erudito à arte popular. Criou centros culturais, promoveu o teatro, as artes plásticas, a música, o cinema, a literatura. De forma geral, fez mais pelas artes, pelo entretenimento e pela cultura que a maioria dos ministros e secretários que passaram pela área ao longo das décadas de seu trabalho.<br /><br />A despedida meio tribal de Danilo, no Sesc Pompeia, com gente cantando e dançando ao redor de um caixão, serviu para mostrar que o trabalho com inteligência e amor à arte não morre, é festejado. Não devia sê-lo apenas pela tribo artística, mas por todos os brasileiros para quem não é preciso ser político, na pior acepção da palavra, para dirigir alguma coisa no Brasil. Ao menos da maneira como se deve, no esforço que parece às vezes inglório, de levar este país a um outro patamar.</div></div><div><br /></div><div><br /></div>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-84901681818652305592023-10-24T23:15:00.010-03:002023-10-25T12:10:51.015-03:00O que há no fundo de nós<p>Lanço agora em novembro, pela Assírio & Alvim, Além da Memória - talvez o livro mais difícil que já escrevi, por diversas razões. Primeiro, é extremamente íntimo, o que me fez retardar por muito tempo a sua publicação. Segundo, por ter sido parte de um esforço profundo de auto conhecimento - e de entendimento do ser humano, creio - literalmente desde o berço.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidXrOeYmoJbI4YpaIXHoxbZpAfhoR2BCjKBRM_Nas2zqG8pXl7h9EPZtO9Yx9MKtaeWU9aamIml-j3pveiVQ1_BSDT6WjpTj20rWlSGS3fD8UbA8DSlKrHbUSJMWHYEbq8DVee9VxbiqpcruLxyvNSyGbSVYihy-7HhdIYEfq5yTnFV5-vN6PodeBSnQI/s1080/WhatsApp%20Image%202023-10-24%20at%2012.43.21.jpeg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidXrOeYmoJbI4YpaIXHoxbZpAfhoR2BCjKBRM_Nas2zqG8pXl7h9EPZtO9Yx9MKtaeWU9aamIml-j3pveiVQ1_BSDT6WjpTj20rWlSGS3fD8UbA8DSlKrHbUSJMWHYEbq8DVee9VxbiqpcruLxyvNSyGbSVYihy-7HhdIYEfq5yTnFV5-vN6PodeBSnQI/s320/WhatsApp%20Image%202023-10-24%20at%2012.43.21.jpeg" width="320" /></a></div><p></p><p>Comecei a escrevê-lo, de certa forma, quando meu filho nasceu, 17 anos atrás. Ao observá-lo, pude acompanhar de perto o desenvolvimento da vida em todas as suas fases - e isso trazia lembranças, evocações, da minha própria infância, além do que eu achava que era capaz de lembrar. </p><p>Comecei a investigar obscuras memórias, o "tempo sem palavras", em que ainda nem aprendemos a falar - e, portanto, a racionalizar. É o período mais marcante da vida, e do qual menos lembramos ou conhecemos. Ainda mais no meu caso, porque, devido a um diagnóstico médico, o prognóstico era de que eu jamais poderia andar - um drama que afetou a vida da família e a minha mesmo, de um jeito que só hoje eu sei o quanto.</p><p>Com o nascimento do meu filho, descobri muitas coisas, sobre ele, as crianças e sobre mim. Algumas delas, por conta do nascimento de seu primeiro neto, minha própria mãe me contou.</p><p>Uma dessas descobertas foi que ela jamais me amamentou. Quando me disse isso, pensava não em mim, mas na diferença entre as gerações, com certa pena dela mesma. Convalesceu um mês no hospital, depois da cesariana, uma cirurgia que naquela época deixava um corte vertical na mulher e era bem mais tosca que hoje em dia. </p><p>No primeiro dia em que se levantou, teve ir para o trabalho. Professora primária, foi cuidar de outras crianças, para ganhar dinheiro e enfrentar o imprevisível sustento de um filho que saíra torto.</p><p>Naquele tempo, e eu falo de 1964, não havia licença-maternidade nas empresas. A indústria fazia muita propaganda do leite em pó, especialmente o Ninho, que diziam ser muito melhor – além de mais prático – do que o leite materno. Bobagem, como se sabe hoje, mas é o que se acreditava naquela época.</p><p>Fazia-se muitas outras coisas estúpidas com as crianças, então muito normais, como embrulhá-las em cueiros. Naquele tempo não havia ainda a fralda descartável. Os nenês usavam a fralda de pano e depois eram enrolados naquele algodão mais grosso, até virar um charuto. </p><p>A função do cueiro era tolher os movimentos, conforme a antiga crença de que isso ajudava a conformar as pernas. Só pude andar depois dos dois anos de idade.</p><p>Quando meu próprio filho saiu andando, da mesinha de centro até o sofá, uma distância de meio metro metro, aos oitos meses de idade, chorei - e ninguém entendeu. Nem eu.</p><p>Quarenta e quatro anos depois do meu nascimento, quando minha mãe morreu e revirei sua caixa de fotografias, vi que ela me tomava no colo com aqueles olhos de amor da mãe. Lamentei não lembrar daquilo.<br /></p><p>Somente quando meu filho nasceu, pude saber melhor como é esse amor, por vê-lo nos olhos da mãe dele. Pensei em quantas coisas não me lembrava a respeito de mim mesmo, porque pertencem ao tempo do qual realmente não nos lembramos. Ou melhor, não sabemos como lembrar.<br /></p><p>Com um mês de vida, estou certo de que meu filho já me reconhecia, bem como à mãe, e sabia quem dele cuidava. É a fase humana do maior aprendizado, porque saímos do zero para um mundo imenso e ainda essencialmente emocional, não verbal, como forma de cognição.</p><p>Eu me perguntava onde paravam as lembranças desse primeiro contato com o mundo, a memória dessa fase que, mesmo sem ser traduzida em palavras, não deixa de ser a base da nossa personalidade, e da inteligência, eminentemente intuitiva.</p><p>O que chamamos de memória é a memória racional, construída com imagens e palavras. Os psicanalistas que consultei consideram que a memória, entendida como tal, começa a partir das primeiras palavras. Estou certo, porém, de que existe uma memória anterior, do tempo em que não falávamos, mas sentíamos e tomávamos contato com o mundo desta maneira sensorial.<br /></p><p>Para descrever isto, primeiro tentei a prosa, mas não estava satisfeito. Compreendi que a única linguagem que mais se aproxima desse mundo sensorial da criança é a do poema. A poesia, que fala mais pelo que deixa entre as palavras, mais sugere do que descreve, flertando com o sentimento mais puro, ou a "não-palavra", é o que achei para usar.</p><p>Essa memória feita de luz e de sombra, de toque, de cheiros e estímulos como dor, incômodo, carinho e tudo o que podemos reconhecer sensorialmente, incluindo o amor, é ainda mais importante porque não a compreendemos direito. Nos acostumamos a usar para isto o instrumento de reconhecimento errado, que é o verbal e racional. Porém, essa inteligência sensorial e indefinível só porque ser compreendida no seu próprio campo, e vive por trás do que somos, não apenas na infância, como no resto da vida - ou, como digo no poema, no adulto "artificialmente construído". </p><p>Não compreendemos as mensagens desse aprendizado primordial porque elas estão no campo do sentimento puro, do aprendizado não verbal, intuitivo, quase instintivo. Às vezes, agimos sem saber por quê, ou reagimos a algo, sem saber a razão, ou até mesmo contra ela, por algum impulso aparentemente inexplicável. Acredito hoje que se trata da manifestação dessa memória afetiva, que nos faz reagir segundo um aprendizado anterior à memória racional.</p><p>Algo mais antigo ou profundo e que não somos capazes de compreender e resolver bem porque nos acostumamos a traduzir nossos sentimentos em palavras.</p><p>Ao ver meu filho, tão pequeno e já com personalidade tão definida, capaz de reagir a estímulos como um beijo e um carinho, um barulho, um grito ou a música clássica, entendi que essa memória sensorial e afetiva só pode ser compreendida e manifestada também sensorial e emocionalmente. Colocada em segundo plano quando se usa apenas a razão, está por trás de muito do nosso comportamento e muitas vezes aflora e tomas as rédeas da vida, sem sabermos por que.</p><p>A maior influência na vida do ser humano não é percebida, pois é em grande parte inata. Na maternidade, a enfermeira que trouxe meu filho de madrugada, para mamar pela primeira vez, disse: “Ele é muito calmo, mas quando fica bravo, fica muito bravo”. </p><p>Em uma frase, com poucas horas de observação, acabou de defini-lo como ele é hoje, dezesseis anos depois, e provavelmente como será a vida inteira.<br /></p><p>A personalidade inata de cada criança faz com que ela reaja de maneira própria aos primeiros estímulos externos. Uma criança pode receber uma reprimenda com indiferença ou compreensão, enquanto outra, diante da mesma severidade, pode ficar magoada ou abalada pela vida inteira. Cada indivíduo se molda de forma diferente a como o mundo nos trata, quando caímos dentro dele.</p><p>Por meu filho, observando como ele tomava conhecimento da vida, e criando com ele nosso relacionamento mudo, mas cheio de afeto e significado, imaginei que eu poderia penetrar nessa caixa preta emocional, entender muito do que sou, fazer uma investigação da memória afetiva até encontrar não apenas essa conexão com ele, como a minha própria personalidade essencial.</p><p>Poderia entender a raiz do meu comportamento e também de alguns dos meus problemas - enfim, daquilo que me levou a ser o que eu sou, para o bem e para o mal.<br /></p><p>Uma investigação ao começo, ou ao fundo de mim mesmo, algo em que penso cada vez mais, estranhamente na medida em que vou ficando mais velho, como se o tempo nos levasse de volta a nós mesmos - nós que estamos lá, ainda, naquela criança.</p><p>Isto é, acredite, Além da Memória - um onírico mergulho no universo interior e, talvez, de umas vidas passadas.</p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-53933167787808014262023-10-06T01:46:00.004-03:002023-10-06T01:46:29.880-03:00A mais VIP das revistas<p> <span style="text-align: justify;">Na década de 1990, dirigi durante seis anos a revista VIP, então chamada de VIP Exame, quando era ainda um suplemento de EXAME, publicado mensalmente - EXAME era quinzenal, e VIP alternava as quinzenas com Informática EXAMe, que também mais tarde se tornaria independente, com o nome de Info. Primeiro, sob a supervisão do jornalista Antonio Machado, então diretor de EXAME, e depois de José Roberto Guzzo, que me dava completa liberdade para trabalhar (conversávamos apenas sobre as capas, a única coisa que ele queria ver quando eu fechava).</span></p><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Foi uma experiência rica para mim e significativa para um mercado então emergente, que seguia na esteira da abertura das importações promovida por Fernando Collor. Depois de três décadas de ditadura e xenofobia econômica, num país onde antes somente se saía com um punhado de dólares enfiados no bolso porque nem havia cartão de crédito internacional, o Brasil começava a se integrar ao resto do mundo - e a elite estava na ponta desse processo.<br /><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhicp6rhynGY-B1Dm_fX-GjW57aoBF3M5-UyN6IWl0_i7UPFTmhmumrwLWjX17eVrLQTVpBtX9zohHUFADJJkMOdVPQ9Z0txSzwkOca21nJyuPALz-utpfButn3B-IYkWGj722MDA-CbdW/s1600/20150606_134613.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhhicp6rhynGY-B1Dm_fX-GjW57aoBF3M5-UyN6IWl0_i7UPFTmhmumrwLWjX17eVrLQTVpBtX9zohHUFADJJkMOdVPQ9Z0txSzwkOca21nJyuPALz-utpfButn3B-IYkWGj722MDA-CbdW/s320/20150606_134613.jpg" width="242" /></a></div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">VIP era um suplemento, mas fazia um grande esforço de jornalismo. Algumas de suas capas se tornaram célebres. Foi VIP quem primeiro fez um perfil de Paulo Coelho, quando ele apenas começava a se tornar o "mago" (ainda antes da minha gestão, quando a revista era dirgida pelo jornalista José Ruy Gandra). Ali Coelho firmou seu marketing, dizendo que podia voar e fazia chover, entre outras mágicas literárias.<br /><br />Foi também a primeira a entrevistar e perfilar um então jovem empresário chamado Eike Batista. Pela primeira vez, uma publicação contava a história de como Eike fizera fortuna nos garimpos da Amazônia, abria empresas a passos rápidos e causava furor ao se casar com a bomshell do momento, Luma de Oliveira, num rumoroso caso de abandono duplo dos ex-noivos de ambos, que fervia nas colunas sociais.<br /><br />Eike, que me recebeu da primeira vez com uma pistola sobre a mesa num escritório no Flamengo, queria mostrar como havia se tornado campeão em competições de superlanchas nos Estados Unidos, com um barco na época invencível - o "Espírito do Amazonas". Mais tarde, me receberia com Luma no iate clube e passou uma tarde fotografando para a capa da revista em um de seus barcos de corrida. E desapareceria da mídia por mais de uma década.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Em VIP, mostramos quem eram os novos donos do dinheiro - não mais os antigos pioneiros, e sim jovens empresários advindos da classe média, que tinham curso superior, e criavam novas fortunas rapidamente. E que davam valor não apenas ao trabalho suado, código dos velhos pioneiros do empreendedorismo, como a um outro tipo de bem que dava mais status do que a simples demonstração de riqueza: a educação e o refinamento.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Provocadora, a revista promovia encontros impossíveis. Alguns eram divertidos, como o bate papo transcrito do encontro entre o maestro Eleazar de Carvalho e o roqueiro Supla. Alguns desses encontros, no entanto, chegaram a ser realmente importantes, como o que promovemos entre o então presidente da Fiesp, Mario Amato, e o líder sindical Vicentinho, que recebeu uma menção honrosa dos jurados do prêmio Abril daquele ano.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">O mais importante é que VIP foi uma revista antenada com seu tempo. Ao promover um concurso de receitas, com o patrocínio do empresário Otávio Piva, importador de vinhos e da marca italiana Barilla, VIP descortinou uma novidade comportamental da época. Ao descobrir que os homens cozinhavam, e as pessoas de forma geral procuravam se sofisticar, alinhou-se com o crescimento do mercado do luxo no Brasil. O concurso, que teve como vencedor Fernando Altério, então dono do Palace, a maior casa de espetáculos de São Paulo, com o prato "farfalle impazzite", foi o início de uma nova era.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">VIP mostrou que os homens, em especial os qualificados leitores de EXAME, se organizavam em confrarias gastronômicas e enológicas. A chamada "Confraria de Babette", homenagem ao filme que celebrava os prazeres da mesa, tornou-se então famosa.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Graças aos concurso, Piva firmou Barilla, um macarrão popular na Itália, como um produto de primeira classe no Brasil. E não apenas catapultou suas vendas de vinhos importados como abriu o Emporio Santa Maria, um supermercado onde o destaque eram os produtos importados, e mostrou o caminho a sua irmã, Eliana Tranchesi, fundadora da Daslu, outro ícone do luxo nessa fase.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Não se falava em VIP apenas de comida e viagens. Havia cinema, arte, litratura. Como um guia de São Paulo, falávamos de artes plásticas. Tínhamos grandes colaboradores, em especial jornalistas consagrados, como Ruy Castro, que entre outras coisas escreveu sobre a história da caneta Parker, e nomes como Casimiro Xavier de Mendonça e João Candido Galvão (artes plásgticas) e Leo Gilson Ribeiro (literatura), que tiveram colunas em VIP até o final da vida.<br /><br />Havia, também, escritores consagrados. Lembro com carinho de uma série especial da seção "Viagem Inteligente", com o relato de escritores sobre seus lugares favoritos no mundo. Lygia Fagundes Telles escreveu sobre Gotemburgo; Antonio Callado, sobre Roma; Nélida Piñon, sobre Barcelona; Luís Fernando Veríssimo, sobre Paris.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Os empresários do setor de luxo tornaram-se ao mesmo tempo personagens e parceiros: despontou toda uma nova geraão para o mundo dos negócios que tinha na revista seu espelho, como André Brett, na moda, e Rogério Fasano (restaurantes e hotelaria). E passaram pela capa de VIP gete tão diferente quanto a então bela hstess do Plaza em Nova York, a brasileira Celita Jackson, quanto os entãos reis da festa Rcardo Amaral e José Victor Oliva, o cardiologista Adib Jatene, o escritor José Saramago e Tom Jobim.</div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div style="text-align: justify;">Alguns personagens em VIP foram furos de reportagem, como a capa sobre Chico Buarque, explicando por que ele passara a escrever romances - uma entrevista inédita na Editora Abril, com quem Chico tinha uma velha rixa, por suas aversão à principal publicação da casa, a revista Veja. E o perfil com entrevista então inéditos de um magnata da fé, o então ascendente bispo da Universal Edir Macedo, que jamais tinha recebido antes alguém da imprensa - tive a oportunidade de entrevistá-lo pessoalmente. </div><div style="text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;">Com o crescimento da revista, VIP se tornou uma publicação independente de EXAME, em 1997. Reestilizou o seu antigo logo, esguio e sofisticado: ficou um logo mais pesado, destinado a causar impacto, criado pelo então diretor de arte de EXAME, Píndaro Camarinha. E passou a colocar mulheres na capa, de modo a aumentar sua venda em bancas, da qual passou a depender com a saída da nave-mãe. Porém, mantém desde então seu espírito de servir ao bem estar masculino e ser um guia de sofisticação e bem viver.</div><div class="separator" style="clear: both; text-align: justify;"><br /></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4N1Ml1sam_JI7vh-_p-gQwr-Bg8wsTLhHvc0L1GTUUjJIYvq2bVmAl7gBg2tqFdDBUHyVr9i4S3rRraW_lU4XIw7EKtp5_AE4abrQl3F82T8ChfpbN8fnEL-rQQHDKpBVyYDuG8NrfDZw/s1600/20150402_161813.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj4N1Ml1sam_JI7vh-_p-gQwr-Bg8wsTLhHvc0L1GTUUjJIYvq2bVmAl7gBg2tqFdDBUHyVr9i4S3rRraW_lU4XIw7EKtp5_AE4abrQl3F82T8ChfpbN8fnEL-rQQHDKpBVyYDuG8NrfDZw/s320/20150402_161813.jpg" width="244" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRz4WSgM9u5UCV6tClMmU78vRq5qSP3cBWP-G_rbrD3TA3bF2Bomwdf-WOqI-zm42BAwiWW8VZxcH2FMSzJ6HCLnoKrEAd4AZ18fkGr5BGehwAIU7-GeK-cNcD44RL1ibuB-eEfWBcYF-4/s1600/20150402_162100.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="214" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRz4WSgM9u5UCV6tClMmU78vRq5qSP3cBWP-G_rbrD3TA3bF2Bomwdf-WOqI-zm42BAwiWW8VZxcH2FMSzJ6HCLnoKrEAd4AZ18fkGr5BGehwAIU7-GeK-cNcD44RL1ibuB-eEfWBcYF-4/s320/20150402_162100.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhChL_274AhV4fgrUM6TA8Rtb1J567JlqFBwjy5dyDfadYxGcZXktXnur0YzkvnIBqSJL2yRCHNcwNl69DChOxCNiVcxTc6ZjWf54K-B9NtwCPWmvQIz8Fye7_Q7onSIevtbp_j7us8ddTY/s1600/20150402_162348%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhChL_274AhV4fgrUM6TA8Rtb1J567JlqFBwjy5dyDfadYxGcZXktXnur0YzkvnIBqSJL2yRCHNcwNl69DChOxCNiVcxTc6ZjWf54K-B9NtwCPWmvQIz8Fye7_Q7onSIevtbp_j7us8ddTY/s320/20150402_162348%257E2.jpg" width="248" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivWlnKVtRYsnbN4b8pRYngzED4BwpOUZa2cqruYjybcrtSkWr3x-z3TTnPSZsJlfSE4fYTW2skz0oP4G6bc_djOKHj14bGZ2BJaWlFuggsgg96la3Hspxm8THy0I5pjYglSHl17NyZhPIv/s1600/20150402_162912%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEivWlnKVtRYsnbN4b8pRYngzED4BwpOUZa2cqruYjybcrtSkWr3x-z3TTnPSZsJlfSE4fYTW2skz0oP4G6bc_djOKHj14bGZ2BJaWlFuggsgg96la3Hspxm8THy0I5pjYglSHl17NyZhPIv/s320/20150402_162912%257E2.jpg" width="242" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg51QPAmncY3mbJTNE_x3tXTuh4it8hQ5_tU-4dhrfj5R8ybYOC3_7BSdvtyqB_J9cXJ5dw_DKSUZrtJ01xR4GlAv9ATSywbtQ4rLobZMPS7tOFE4CfXb5an9DXeU5K_2dNp_4KqKlQR-hB/s1600/20150402_163057%257E2%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg51QPAmncY3mbJTNE_x3tXTuh4it8hQ5_tU-4dhrfj5R8ybYOC3_7BSdvtyqB_J9cXJ5dw_DKSUZrtJ01xR4GlAv9ATSywbtQ4rLobZMPS7tOFE4CfXb5an9DXeU5K_2dNp_4KqKlQR-hB/s320/20150402_163057%257E2%257E2.jpg" width="244" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLAtzwbbzcqhGH4VdR3Zsh4X6mTV9WXzXjEx5UGBJo7fdrgkRD46VYRyYVBTy4dB1GyVU7BPPNhSaAkJftZfQRks4EBhJvluPRipU0BCzJnD23tumL_TVr68XsCNA0H80wLX65LluClSqE/s1600/20150402_163108%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhLAtzwbbzcqhGH4VdR3Zsh4X6mTV9WXzXjEx5UGBJo7fdrgkRD46VYRyYVBTy4dB1GyVU7BPPNhSaAkJftZfQRks4EBhJvluPRipU0BCzJnD23tumL_TVr68XsCNA0H80wLX65LluClSqE/s320/20150402_163108%257E2.jpg" width="247" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiloR7zG9TflnBXnvhdxS7qmaPyCmNkrqPOPuaxxNXWUrcQ2qOvbcQ86ge8-ZOODbFoRvSfyYOF41t3ytIsimZ8tF4NZiHr1uDMPDXOCFUEcE67z1apQ8oeXHES2F7uq4d0FWcG-RSRDNkA/s1600/20150402_163145%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiloR7zG9TflnBXnvhdxS7qmaPyCmNkrqPOPuaxxNXWUrcQ2qOvbcQ86ge8-ZOODbFoRvSfyYOF41t3ytIsimZ8tF4NZiHr1uDMPDXOCFUEcE67z1apQ8oeXHES2F7uq4d0FWcG-RSRDNkA/s320/20150402_163145%257E2.jpg" width="244" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy_I5TFQMTdZjwQe4D6ojAzf3QAM9SLcioJU9zKnekfw9ADF8sTQyGvzIYTMEQNlYyXI40zXH2pjzXiCcVka3qG7_m8hzntoKQsSKvKd-Qlkd4nEAlKqnLsykW5CCrd3wFf26MLbAdLtp_/s1600/20150402_163247%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjy_I5TFQMTdZjwQe4D6ojAzf3QAM9SLcioJU9zKnekfw9ADF8sTQyGvzIYTMEQNlYyXI40zXH2pjzXiCcVka3qG7_m8hzntoKQsSKvKd-Qlkd4nEAlKqnLsykW5CCrd3wFf26MLbAdLtp_/s320/20150402_163247%257E2.jpg" width="239" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjXMZ2eqG3u9ipZBFxUw49cxDq2mYqvJ5JLtCC2GcezVzQGtecwN2tGwDedLEsjtY73J-x4GXTA-U7yt3HCrXQTjJaHJk9-4M2uDl5Qjg9QwbesmnFeFVD4wDbAKqnApJy0zNyS_bJKWzn/s1600/20150402_163503%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjjXMZ2eqG3u9ipZBFxUw49cxDq2mYqvJ5JLtCC2GcezVzQGtecwN2tGwDedLEsjtY73J-x4GXTA-U7yt3HCrXQTjJaHJk9-4M2uDl5Qjg9QwbesmnFeFVD4wDbAKqnApJy0zNyS_bJKWzn/s320/20150402_163503%257E2.jpg" width="241" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNcb_SvcDXzwQWK6sxWAf0aNQ1OuAF9nfhcemX9tkQhDEKrqgLVY3e5MXREtMI24d42AxfSCAsOki5m4Wy256N2b_nGmo8lxGBIGMNbMfjdugeWCLGm2MxJRcpsL5QWdwttxmkSTqFBdlx/s1600/20150402_163644%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiNcb_SvcDXzwQWK6sxWAf0aNQ1OuAF9nfhcemX9tkQhDEKrqgLVY3e5MXREtMI24d42AxfSCAsOki5m4Wy256N2b_nGmo8lxGBIGMNbMfjdugeWCLGm2MxJRcpsL5QWdwttxmkSTqFBdlx/s320/20150402_163644%257E2.jpg" width="245" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeSHx5urlyy5QEQ29WUtlAkAHfMw7lcQh7cSGsZQhxpUeNnR9EqYLX2li73acYwMjQgbWyEOFTyiOnGiUvR54BXFjN-2UZ4GKMg5RIhvttBudQfMHhWGm_nknB6ozsw42XdyNYv59BbQ2a/s1600/20150402_163705%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgeSHx5urlyy5QEQ29WUtlAkAHfMw7lcQh7cSGsZQhxpUeNnR9EqYLX2li73acYwMjQgbWyEOFTyiOnGiUvR54BXFjN-2UZ4GKMg5RIhvttBudQfMHhWGm_nknB6ozsw42XdyNYv59BbQ2a/s320/20150402_163705%257E2.jpg" width="244" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl7cH4rLd2_SvnRK19lh9PSsnIbTv3ISzvuDcn1GfVSuJ2k2msmalJp6GVsYVEMFEqYbnKXOflZ7i72YVe7Bg3rsP9WY-DfC2gYjTejLCngUWJGrRyRVxfuxsJLWZ8OTMq1aPxbY9kw2-G/s1600/20150402_163731%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl7cH4rLd2_SvnRK19lh9PSsnIbTv3ISzvuDcn1GfVSuJ2k2msmalJp6GVsYVEMFEqYbnKXOflZ7i72YVe7Bg3rsP9WY-DfC2gYjTejLCngUWJGrRyRVxfuxsJLWZ8OTMq1aPxbY9kw2-G/s320/20150402_163731%257E2.jpg" width="244" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6WSD3vnTqgsh3_HedMechxW4J-5IFK_cZ81e3kSDABDeQ6v-b-WVIMA1Ve1YCu5P470uQm46Yujrep6tNxg2XVAbQD9pIEcUZP0DT7avS92NBN9teJHQtu3riVhecGw6XH-e5pUPoaZbt/s1600/20150402_164546%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi6WSD3vnTqgsh3_HedMechxW4J-5IFK_cZ81e3kSDABDeQ6v-b-WVIMA1Ve1YCu5P470uQm46Yujrep6tNxg2XVAbQD9pIEcUZP0DT7avS92NBN9teJHQtu3riVhecGw6XH-e5pUPoaZbt/s320/20150402_164546%257E2.jpg" width="248" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNjIKB_zMirRB3Qinum-cTtGZ-8safqG3qivj4c-BDl9wHLCd8BIIchz8hDhheTmsef388ZHQc9soQth3eGQoifcz6Z9AyacAEFapH0lnsKODLW11D2v0GtVJK8IvmH5WLUD9hvaO3JkKI/s1600/20150402_164642%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhNjIKB_zMirRB3Qinum-cTtGZ-8safqG3qivj4c-BDl9wHLCd8BIIchz8hDhheTmsef388ZHQc9soQth3eGQoifcz6Z9AyacAEFapH0lnsKODLW11D2v0GtVJK8IvmH5WLUD9hvaO3JkKI/s320/20150402_164642%257E2.jpg" width="244" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_FhOFOm7yKZ9lLKZHxQlmDdyiSxrfWFrGOFTHKiMbV8mr9jDze9PkpR3G4pJ0qbBwL-PD25ZhM2qPW029n7WLX5lhiVRjtTaWAO5wlUAokNtSRIVZ427LUCkqS_JGnYgR4Vxgef7uMbVA/s1600/20150402_165506%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh_FhOFOm7yKZ9lLKZHxQlmDdyiSxrfWFrGOFTHKiMbV8mr9jDze9PkpR3G4pJ0qbBwL-PD25ZhM2qPW029n7WLX5lhiVRjtTaWAO5wlUAokNtSRIVZ427LUCkqS_JGnYgR4Vxgef7uMbVA/s320/20150402_165506%257E2.jpg" width="244" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxQQMO5YkmrFK9E5fY19hlAfShQWJtWloH5FWw2QBM1v_OIgVniuGqfnR-_m4TGLqBjwXzexQ1MAdW5JdX2Zq6Z8IYKfGQxcXF4gR5bZQ4ATbxeLMvdQGxAmKRGgdPE0DRbAkWlAfyMG2k/s1600/20150402_165520%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhxQQMO5YkmrFK9E5fY19hlAfShQWJtWloH5FWw2QBM1v_OIgVniuGqfnR-_m4TGLqBjwXzexQ1MAdW5JdX2Zq6Z8IYKfGQxcXF4gR5bZQ4ATbxeLMvdQGxAmKRGgdPE0DRbAkWlAfyMG2k/s320/20150402_165520%257E2.jpg" width="242" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBfivPhyZ7MspQoKw8MArQYmplW0XUYNjb1lUR0y67hCX5kcy5thCEI72SlCjsX3XXhVhyphenhyphenqul58D0VGCBRqQ9tT02xZpmRtSRrY5ic3yoSPl3do2SqVHsJMUzA8rKHSM1-zhjZkARDS0B0/s1600/20150402_165532%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjBfivPhyZ7MspQoKw8MArQYmplW0XUYNjb1lUR0y67hCX5kcy5thCEI72SlCjsX3XXhVhyphenhyphenqul58D0VGCBRqQ9tT02xZpmRtSRrY5ic3yoSPl3do2SqVHsJMUzA8rKHSM1-zhjZkARDS0B0/s320/20150402_165532%257E2.jpg" width="239" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWy_ZppZZLayp-EZXChPXJsfKKXUMawThlm3iGsX5tbd854ad9KxBessiHzc1ivMFUUWizRpeVdOWr90YN6SntYgFpQ6buTOmlb455xywt6YvOaE5eqzpFg5hqWU-OGA6EgjjDasacH2gd/s1600/20150402_165548%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgWy_ZppZZLayp-EZXChPXJsfKKXUMawThlm3iGsX5tbd854ad9KxBessiHzc1ivMFUUWizRpeVdOWr90YN6SntYgFpQ6buTOmlb455xywt6YvOaE5eqzpFg5hqWU-OGA6EgjjDasacH2gd/s320/20150402_165548%257E2.jpg" width="244" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrFyBo0eG7UJx9nA4WJMOobDZbg2ZYTzWuc3CMqno5kG5uMpNFe0cvx-y51AYxt7Ma_NeTykvINYHqJmDZBqGmDbIEGeQRO5wB7dJGWuOyTbvpzHMtjSQRxfFn-lrEoyrjpbIZITUknn36/s1600/20150402_165602%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgrFyBo0eG7UJx9nA4WJMOobDZbg2ZYTzWuc3CMqno5kG5uMpNFe0cvx-y51AYxt7Ma_NeTykvINYHqJmDZBqGmDbIEGeQRO5wB7dJGWuOyTbvpzHMtjSQRxfFn-lrEoyrjpbIZITUknn36/s320/20150402_165602%257E2.jpg" width="226" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqU4H9o9nbCZsrG2Ca1dFiOxf7p9X5fbzJ8Af-IuYiarnkFMAyiJ-ixsl4r56-Y_QNb-_m71_A4EoKXtnXJubiY_Q_Tlv2YbBISGO-c8iEdJZrhzB16bg9r9-4vqftjBuNkay4oZGEJACD/s1600/20150402_165835%257E2.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhqU4H9o9nbCZsrG2Ca1dFiOxf7p9X5fbzJ8Af-IuYiarnkFMAyiJ-ixsl4r56-Y_QNb-_m71_A4EoKXtnXJubiY_Q_Tlv2YbBISGO-c8iEdJZrhzB16bg9r9-4vqftjBuNkay4oZGEJACD/s320/20150402_165835%257E2.jpg" width="252" /></a></div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"></div><br /><br /><br /><br /><br /><table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody><tr><td><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-JpQtjWSNwhX0CmdWnBxCG6RtBgrglD-kOd7Q3voXydlH5xUan94mQQ2XgUF4nkchtPhyphenhyphenLUYZ6RMcu5NT1nPUJwfaSaVrftDrth6IaL22L68qby0kJZZvAPXFCXKbuL1PcLsQ668fCz2t/s1600/20150606_134807.jpg" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj-JpQtjWSNwhX0CmdWnBxCG6RtBgrglD-kOd7Q3voXydlH5xUan94mQQ2XgUF4nkchtPhyphenhyphenLUYZ6RMcu5NT1nPUJwfaSaVrftDrth6IaL22L68qby0kJZZvAPXFCXKbuL1PcLsQ668fCz2t/s320/20150606_134807.jpg" width="320" /></a></td></tr><tr><td class="tr-caption">O concurso Barilla: marco no comportamento masculino<br /><br /></td></tr></tbody></table>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-80780872718709217862023-08-08T11:16:00.003-03:002023-08-08T11:16:39.330-03:00Amor e Tempestade e a picardia<p class="MsoNormal"></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB8ZehsDgixU0Z8lbDl92nPFefcCA7Pva0-FtQzegV-dTfdiIeDPl97nGQzsFmleED0G3kXuVjw5Q66VPEUMiYg1hSL2ZQ64m2AW6IxO0Od_sM-3Nv1Pd5G9xUSVovS7L00G7ZmkpWU4W40s_A6wYkYAKkD4wZrVZDwtHqkc2u8Ve3es1hgNOtNlfYtwZf/s1241/9788565397674.jpg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1241" data-original-width="827" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiB8ZehsDgixU0Z8lbDl92nPFefcCA7Pva0-FtQzegV-dTfdiIeDPl97nGQzsFmleED0G3kXuVjw5Q66VPEUMiYg1hSL2ZQ64m2AW6IxO0Od_sM-3Nv1Pd5G9xUSVovS7L00G7ZmkpWU4W40s_A6wYkYAKkD4wZrVZDwtHqkc2u8Ve3es1hgNOtNlfYtwZf/s320/9788565397674.jpg" width="213" /></a></div>Em Amor e Tempestade, escrevi sobre um soldado que persegue a Coluna Prestes pelo Brasil, encontra personagens célebres país afora, numa guerra que nunca tem sequer uma batalha. Como na tradição clássica do romance picaresco brasileiro, meu personagem nasce e sai de Minas Gerais, o que talvez tenha a ver com o jeito mineiro de ser.<p></p><p class="MsoNormal">No cinema, o herói picaresco mais conhecido é Forrest Gump, um sujeito meio imbecilizado que corre o mundo, participa involuntariamente de grandes episódios históricos, dos quais acaba fazendo parte decisiva, embora sem querer. É a natureza do herói pícaro.</p><p class="MsoNormal">Em Amor e Tempestade, o meu Coracy - qualquer semelhança no nome deve ser coincidência - entra involuntariamente entre os 18 de Forte de Copacabana (que eram 19...), conhece o padre Cícero, Lampião, Rondon, Oswald de Andrade, e e por aí vai. Acaba sendo o personagem central da história brasileira. Infelizmente, ninguém o reconhece!</p><p class="MsoNormal"> A literatura pícara sempre teve poucos autores no Brasil, embora se apreste com perfeição ao nosso tropicalismo cultural. Para quem não conhece bem o gênero, recomendo algumas leituras.</p><p class="MsoNormal">O maior clássico da literatura picaresca brasileira é Manoel Antônio de Almeida, com seu Memórias de Um Sargento de Milícias. Temos também o Fernado Sabino de O Grande Mentecapto; Chico Buarque, cujos romances navegam todos nesse gênero, especialmente Estorvo; e José Roberto Torero, brilhante romancista histórico-picaresco, de quem recomendo o sardônico O Chalaça, o obscuro ajudante de D. Pedro I, de quem Torero faz o verdadeiro e insuspeitado patrono da independência brasileira.</p><p class="MsoNormal">O romance picaresco nasceu como o antípoda dos grandes heróis românticos dos folhetins medievais, ironizando-os. A grande obra que elevou o gênero aos maiores clássicos foi Dom Quixote. Na minha opinião, é a maior obra literária de todos os tempos, justamente por mostrar como vivemos sonhos de grandeza, na pequeneza do que somos: a grande contradição do ser humano.</p><p class="MsoNormal">Por muito tempo considerado literatura menor, o gênero picaresco, na tradição do Dom Quixote, talvez seja o maior, assim como seu personagem, porque o contrário também é verdadeiro: na nossa pequeneza, lutando contra a miséria humana, no fim, nós somos grandes.</p><p class="MsoNormal">Melhor ainda, trata disso com certa leveza, uma auto ironia, que não por acaso gerou esta palavra para mim tão cara: a picardia. Designa uma forma de enfrentar as dificuldades da vida, aceitar com naturalidade o erro, a derrota, o azar. Sobretudo, é uma forma de lidar com as pequenas e grandes traições da vida, como a indiferença, a ingratidão e o desamor, que não merecem de nós mais que a ironia.</p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-22973525484030714042023-08-07T15:31:00.015-03:002023-10-06T01:43:17.592-03:00A heroína sem direção<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEdCToCnWNli4NoDZFd07ztuDufSqx2rLKOv-4SV48UmdjsqHF_DwnJJpkLSmBzQse4bDKJSf5uPR-Eqs9re8E_r3NV5j8Q0zPZH9SCZfHisXwWhqBL4TKE4KjShqBQKP2rCVPnR91q1SlxG65ZTG30k6WQx07XOyPPSaaRIL0Hou5FWq7lat0cISg_dpj/s2992/20230807_092300.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="2992" data-original-width="2992" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgEdCToCnWNli4NoDZFd07ztuDufSqx2rLKOv-4SV48UmdjsqHF_DwnJJpkLSmBzQse4bDKJSf5uPR-Eqs9re8E_r3NV5j8Q0zPZH9SCZfHisXwWhqBL4TKE4KjShqBQKP2rCVPnR91q1SlxG65ZTG30k6WQx07XOyPPSaaRIL0Hou5FWq7lat0cISg_dpj/s320/20230807_092300.jpg" width="320" /></a></div>“Perla Stuart, a ex-mulher”, do autor, ator e produtor
teatral Dionisio Neto, é um <i>roman à clef</i>,
ou “romance à chave”, expressão francesa para obras que tratam de pessoas de
verdade, apenas com nomes inventados. Explica-se a discrição com as
identidades, pois assim Dionisio aproveita a possibilidade de escrever mais
livremente. É a função da literatura. Como
ficção, nos permitimos falar com franqueza da realidade. Na mentira, estão as
maiores verdades.<p></p>
<p class="MsoNormal">A forma também se adequa às pessoas que Dionisio procura
descrever. Deliberadamente, ele segue uma tradição literária, cujo vértice é o Dom Quixote, de Cervantes. "Perla Stuart" é um romance picaresco, isto é, que
mostra a vida de gente com grandes propósitos, ou em busca de feitos heroicos, porém
sempre de forma meio desastrada.</p>
<p class="MsoNormal">O herói pícaro, um espertalhão sempre metido em enrascadas, é a síntese e o centro desse gênero. Como um Dom Quixote
moderno, e cheia de desejos femininos, Perla é uma anti-heroína, assim como seu
amigo Adônis – nome fictício, referência ao efebo que era o modelo de beleza masculina
na mitologia grega, e que só suporia vaidade maior se fosse Narciso.</p>
<p class="MsoNormal">Fiel ao romance picaresco na sua concepção e na forma, com
títulos de capítulos que lembram os do antigo folhetim, Dionisio apenas quebra um pouco a tradição
por transportar a história para São Paulo, nos dias que chegam até hoje, e não Minas Gerais, como na vertente clássica da literatura picaresca brasileira.</p>
<p class="MsoNormal">Em "Perla Stuart", desfia as aventuras de sua personagem
principal, recheadas de sexo e filosofia barata. A Perla de Dionísio conhece e
frequenta a cama e a conta bancária de gente rica e famosa, mas ela mesma não
tem nada.</p><p class="MsoNormal">Circula por todos os lugares, apanha, rala o joelho, transa com
mendigos, toma drogas, experimenta da vida tudo o que ela oferece, sem pensar
duas vezes, e de imediato. Mesmo com toda essa intensidade desesperada, não deixa de viver no mais profundo vazio. Ele se resume na constatação da personagem de que viver é “acordar, comer e dormir” até um dia
parar “no caixão”.</p>
<p class="MsoNormal">"Perla" anda por todos os lugares, com todo tipo de gente, mas
parece não ter, ela mesma, direção. É promíscua, leviana e inconsequente, no
que diz respeito à sua vida e dos outros também. Passa como um terremoto pela vida alheia,
incluindo a de um marido, que a certa altura, com um filho, faz com que passe a sustentá-la depois da separação.</p>
<p class="MsoNormal">Assim, todas as aventuras de Perla para ser alguém
extraordinário no final se resumem a isso: uma mulher vivendo da pensão do
ex-marido, como muitas outras. Ela, enfim, encontra-se como atriz de uma única
personagem: a da ex-mulher. E, como o romance sardonicamente expressa, “ex é
para sempre”. É Dom Quixote, fora do seu delírio.</p><p class="MsoNormal">Pode-se pensar que o livro, como seu personagem, não tem
também um caminho, um ensinamento, uma solução. Porém, é também de se pensar se
a vida não é mesmo isto, um passeio preferível com festas, drogas, bebedeiras e esquecimento. Aqueles que acham estar fazendo alguma coisa construtiva, nesse caso, apenas estariam perdendo seu tempo, ou uma certa diversão.</p>
<p class="MsoNormal">Gostoso de ler, “Perla Stuart – a ex mulher”, no final, dá um certo medo. Para quem entra no seu mundo, como quem lê o Livro da Sabedoria - a história
de Salomão, na Bíblia -, fica a sensação de começar a acreditar, com “Perla”,
que tudo é apenas vaidade.</p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-14983799989957885032023-08-03T18:38:00.002-03:002023-08-04T15:20:19.501-03:00Poetas em flagrante delitroNos últimos tempos, tenho me dedicado a reunir poemas e construir toda uma nova obra para mim, o que consome boa parte do meu tempo. Não fossem as exigências práticas, possivelmente eu não faria outra coisa. Isso me faz entender perfeitamente a obsessão que tomou conta de Fernando Pessoa, contribuindo, creio eu, para lhe apressar o fim da vida. Ou foi o fim da vida que apressou a obsessão pela poesia.<div><br />A história é boa. Um dia, Carlos Queirós mostrou a sua tia, Ofélia, uma fotografia enviada a ele por Fernando. Estava tomando uma taça de vinho no bar de Abel Pereira da Fonseca, em Lisboa. Ofélia era o único amor conhecido de Fernando, mas estavam afastados já algum tempo. Aquela fotografia, contudo, os reaproximou.<br /><br />Ela pediu uma cópia da imagem, que Fernando lhe mandou, com uma espirituosa dedicatória: "Fernando Pessoa, em flagrante delitro". Era 1929. Eles voltaram a se relacionar, mas ele a advertiu que já não era "o mesmo". Estava tão concentrado no trabalho, que receava agora ter pouco tempo para dedicar a uma mulher.<br /><br />"Recomeçamos então o namoro", lembrou Ofélia. "O Fernando estava diferente. Não só fisicamente, pois tinha engordado bastante, mas, e principalmente, na sua maneira de ser. Sempre nervoso, vivia obcecado com a sua obra. Muitas vezes dizia que tinha medo de não me fazer feliz, devido ao tempo que tinha de dedicar a essa obra."<br /><br />Disse a Ofélia, certo dia: "Durmo pouco e com um papel e uma caneta à cabeceira. Acordo durante a noite e escrevo, tenho que escrever, e é uma maçada porque depois o Bebé não pode dormir descansado."<br /><br />Bebé era ela, Ofélia, para quem ele receava não poder dar o nível de vida ao qual ela estava habituada. <br /><br />"Ele não queria ir trabalhar todos os dias, porque queria dias só para si, para a sua vida, que era a sua obra", escreveu Ofélia. "Vivia com o essencial. Todo o resto lhe era indiferente. Não era um ambicioso nem vaidoso. Era simples e leal. Dizia-me: 'Nunca digas a ninguém que sou poeta. Quanto muito, faço versos.' "<br /><br />A certa altura, de fato, sobretudo quando sabemos o que importa para nós, todo o resto parece tomar um precioso tempo. Ficamos somente no que interessa. É a obsessão poética, que Fernando conheceu e aproveitou o quanto pôde.<br /><br /><br /><br /><br /><a href="https://omeupessoa.files.wordpress.com/2013/10/1185851_10100972238807431_889951831_n.jpg"><img src="https://omeupessoa.files.wordpress.com/2013/10/1185851_10100972238807431_889951831_n.jpg?w=650" /></a><br /><br /><br /><a href="https://www.outbrain.com/what-is/default/pt"></a><br /><br /></div>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-50458621873268090852023-07-16T16:15:00.004-03:002023-07-17T15:21:09.965-03:00A imprensa que todo mundo conhece<p>Era novembro de 1996 e eu trabalhava como editor da revista VIP, então ainda um suplemento de Exame, onde tinha uma coluna de assuntos "masculinos" - assim, me interessei pela capa da revista Esquire daquele mês, que falava sobre uma jovem, bela e fulgurante estrela em ascensão em Hollywood, chamada Allegra Coleman - "Dream girl", era a chamada de capa.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgVJKP0DAGK6d9Yx3YCwIUCqN-9DjjCAQ7ucK5Np_nwNgUT2SBZ-zWBMDaVnNUI16U4JqjbJPJ-qq_AcUtr67gAQLvcw3PDc5Ug2qzFrmGsYGcHQJznKy41iMpXpGvQ59DffpWZYFCw_7fJ5zvjsHC7xdq6ecC4n0HRWjzn2AFPIGzVa__QB1lBMFX_6iS/s2806/20230716_160325.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="2806" data-original-width="2155" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhgVJKP0DAGK6d9Yx3YCwIUCqN-9DjjCAQ7ucK5Np_nwNgUT2SBZ-zWBMDaVnNUI16U4JqjbJPJ-qq_AcUtr67gAQLvcw3PDc5Ug2qzFrmGsYGcHQJznKy41iMpXpGvQ59DffpWZYFCw_7fJ5zvjsHC7xdq6ecC4n0HRWjzn2AFPIGzVa__QB1lBMFX_6iS/s320/20230716_160325.jpg" width="246" /></a></div><p></p><p>O exemplar que me chegou às mãos foi enviado numa assinatura em nome de Thomaz Souto Correa, vice-presidente da Abril (no selinho da remessa, está TS Correa), e encaminhado a mim pelo escritório da Abril em Nova York. Seria fácil apenas dar uma nota, reproduzindo a revista, mas, como eu sou jornalista da gema, mesmo num tempo em que chamada internacional era cara e difícil, liguei para o editor da revista, Edward Kosner, para checar informações e saber algo mais sobre a tal estrela.<br /><br />Ele a princípio não me atendeu, mas, diante de uma certa insistência, na terceira ou quarta tentativa a secretária passou a ligação. Kosner então me explicou que Allegra simplesmente não existia: era uma invenção da revista, usando uma modelo, apenas para mostrar que Esquire era capaz de criar uma estrela, do nada, que todo mundo acreditaria. E realmente não dava para saber que aquilo era invenção, apesar do subtítulo malicioso da capa: "A Allegra Coleman que ninguém conhece".<br /><br />Claro, a minha nota não foi sobre Allegra, mas sobre a história da capa inventada de Esquire. De fato, a suposta "brincadeira" acabou chamando a atenção. A modelo, Ali Larter, então com vinte anos, conheceu aí seu agente e fez alguns filmes de sucesso, começando por hits de terror até Legalmente Loira.<br /><br />Ficou para mim, no entanto, a questão ética: até que ponto um órgão de imprensa mentir propositadamente tinha sido uma boa ideia? Em uma entrevista posterior, Larter disse que era muito jovem para avaliar essa questão na época e Kosner divertira-se com a "pegadinha". (Ver "Ali Larter on Her Secret Identity: Hollywood Starlet Allegra Coleman", Julia Black, Esquire, 11 de outubro de 2015)<br /><br />Da nossa conversa ao telefone, porém, lembro que Kosner se mostrava um pouco constrangido em ter que esclarecer a situação a um outro jornalista. E dava sinais de que preferia encerrar aquele assunto e, com sorte, deixá-lo no passado.<br /><br />A autora, Martha Sherrill, talvez para sustentar que não havia com que se embaraçar, ainda fez dois livros sobre "Allegra Coleman". Ainda tentou ganhar algum dinheiro extra sobre uma mentira.<br /><br />Para mim, nestes tempos de fake news, essa historinha serve para lembrar que não são de hoje as invencionices de veiculos de imprensa, com prejuízo para sua credibilidade. Os factóides não se resumem à política, aventurando-se em atingir outras finalidades que, a meu ver, ferem a ética do jornalismo e são mau uso do "quarto poder", além de, no final, se tornarem contraproducentes.<br /></p><p><br /></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9K9FYneateOnaQFm0il70oW1nEuecj86TdwHRBq_YbNKCtsI-nT1GpjMGWpLg4NC1VvZRUNlKlCjENC8h9RLm797AqqN_55AlY-Z8wyo_VRp4upEbd1NnREX28JxIiuw8-_uXK38npulTcMjBH7Fj9cS5nQsPIrPwkJ9dUWbn6z8NWLdYadMqAOgSCcSO/s3535/20230716_155851.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2250" data-original-width="3535" height="204" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9K9FYneateOnaQFm0il70oW1nEuecj86TdwHRBq_YbNKCtsI-nT1GpjMGWpLg4NC1VvZRUNlKlCjENC8h9RLm797AqqN_55AlY-Z8wyo_VRp4upEbd1NnREX28JxIiuw8-_uXK38npulTcMjBH7Fj9cS5nQsPIrPwkJ9dUWbn6z8NWLdYadMqAOgSCcSO/s320/20230716_155851.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjX2BWsS7h4GuP82rLP5izRv8Xfi7aAxUTgbFGxlwJJgxjgDIpPrvbKOp6xBqr-m6iGiE0m-8PnjKR3jLE8Or0h-yZUQmWtITFMbwe3xfZxOdZgZ8ceUaVBu4m-qv4EsgKq2TOWX5f_udyGk0_Fvm48BjlZscywYqRDzkGane_osNCQxIty-vBy9J21ainx/s3195/20230716_155911.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2195" data-original-width="3195" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjX2BWsS7h4GuP82rLP5izRv8Xfi7aAxUTgbFGxlwJJgxjgDIpPrvbKOp6xBqr-m6iGiE0m-8PnjKR3jLE8Or0h-yZUQmWtITFMbwe3xfZxOdZgZ8ceUaVBu4m-qv4EsgKq2TOWX5f_udyGk0_Fvm48BjlZscywYqRDzkGane_osNCQxIty-vBy9J21ainx/s320/20230716_155911.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaolNF_cyEXv3YGIoBBJLQExG0LVZLyOs4q9Z7CLaWtZniaI2sncEhDdWE0YINEnk08fO3U1mDKq-zYj4D7XNbfrO3xamCB6fdUWGlPmElPwfGqITsvGraRDywo2jT2cXNW4dEQDQNZpw--jL1JJ2EgMKhMjnUJLFwws8gw-G9CWX43JH4gpjSiw0bOM6Q/s3197/20230716_155919.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2212" data-original-width="3197" height="221" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiaolNF_cyEXv3YGIoBBJLQExG0LVZLyOs4q9Z7CLaWtZniaI2sncEhDdWE0YINEnk08fO3U1mDKq-zYj4D7XNbfrO3xamCB6fdUWGlPmElPwfGqITsvGraRDywo2jT2cXNW4dEQDQNZpw--jL1JJ2EgMKhMjnUJLFwws8gw-G9CWX43JH4gpjSiw0bOM6Q/s320/20230716_155919.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEXSxHbnPv3tCExgm2d1ZXf7QB2tPnNUQSZdPU45EINi-dQlYrzCFORWwv2HTYxiqEbDXaOI08Qmi1LGBzZKfpXTlpB1cC5QC8y0-2kowHPDuKHol_1Fx-Se4i7FOkLR8hlTfxm-wJ6gMDorV3RKgH7ox9WgVS3cXtB7dI0agOuNqZ_QkqM51s-PzSEMDQ/s3144/20230716_155926.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="2144" data-original-width="3144" height="218" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjEXSxHbnPv3tCExgm2d1ZXf7QB2tPnNUQSZdPU45EINi-dQlYrzCFORWwv2HTYxiqEbDXaOI08Qmi1LGBzZKfpXTlpB1cC5QC8y0-2kowHPDuKHol_1Fx-Se4i7FOkLR8hlTfxm-wJ6gMDorV3RKgH7ox9WgVS3cXtB7dI0agOuNqZ_QkqM51s-PzSEMDQ/s320/20230716_155926.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbLOY7w2is8H3KAQiSMtAf8r_aGlfETJ35VBpwsXkXwm0VAN_rK6tzkcsCiwi_bYpupDyHp-xT4RAuURM5AEeKbB1G6KiS_Cqpi9i5fDP7oXUprlx0usu8nIvo-LO0kre9x6LlRd_p7gNRHmnacrCCXtZHOZAecpexQ7UW4DaX4un6qpX2EGifFo55GLd6/s3091/20230716_160335.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3091" data-original-width="2250" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhbLOY7w2is8H3KAQiSMtAf8r_aGlfETJ35VBpwsXkXwm0VAN_rK6tzkcsCiwi_bYpupDyHp-xT4RAuURM5AEeKbB1G6KiS_Cqpi9i5fDP7oXUprlx0usu8nIvo-LO0kre9x6LlRd_p7gNRHmnacrCCXtZHOZAecpexQ7UW4DaX4un6qpX2EGifFo55GLd6/s320/20230716_160335.jpg" width="233" /></a></div><br /><p><br /></p><p><br /></p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-22322733875435814522023-07-13T11:33:00.001-03:002023-07-13T11:33:20.531-03:00O Céu de Kundera<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRarsiX8icsY09mB1IUq03elcQ4IQRJY7Jdx0N_zNn2117vG4jxjc8ZHI2IMLgUMS1ZnchMHabR7ZdRBXiA8EcHQvvpR-EKOhYeRxNm_BYVldhdGroJHzRvYHHyNgpP-X_GW0gaueuyyzlRLXwk5HoNzwxYljTlu_ammyz4cwkfh4V6MoRB_f1nYY5ONsj/s1080/Screenshot_20230713-084115_Instagram.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRarsiX8icsY09mB1IUq03elcQ4IQRJY7Jdx0N_zNn2117vG4jxjc8ZHI2IMLgUMS1ZnchMHabR7ZdRBXiA8EcHQvvpR-EKOhYeRxNm_BYVldhdGroJHzRvYHHyNgpP-X_GW0gaueuyyzlRLXwk5HoNzwxYljTlu_ammyz4cwkfh4V6MoRB_f1nYY5ONsj/s320/Screenshot_20230713-084115_Instagram.jpg" width="320" /></a></div><br />Meu primeiro editor, Pedro Paulo Sena Madureira, fez também os primeiros livros no Brasil de Milan Kundera e tornou-se seu amigo. Contava de uma visita que lhe fizera, em sua casa, na França, quando ele já sofria de depressão aguda. Sentado na cozinha, Kundera apontava os móveis, que ele mesmo tinha feito, usando a marcenaria como terapia ocupacional.<p></p><p> - Já não me interessa a literatura - ironizava. - Meu negócio agora é o "bricolage".</p><p>Eu gostei muito de A Insustentável Leveza do Ser, quando li o romance pela primeira vez. A história do homem que levava a vida com leveza e da mulher que arrastava raízes pelo chão, ou de como o amor pode juntar gente tão diferente, me pareceu uma espécie de romance filosófico, que trazia o melhor de uma literatura existencialista do passado, mas sem a amargura de Camus, Sartre e Beauvoir.</p><p>O tempo passou, gostei menos do livro, cansativo na segunda vez em que o li, e achei o filme melhor que a obra literária, algo raro. Concluí que ela não era tão boa como eu acreditava, ficou datada - ou eu simplesmente fiquei mais velho.</p><p>A história de Kundera na cozinha reforçou minha impressão de que sonhamos e queremos muito escrever livros e, quando o fazemos, isso deixa de ter a antiga importância. Nesse momento, há algo na vida que desaba sobre nós, como um pesado céu.</p><p>Chamo a este efeito de "Céu de Kundera", e penso nele toda vez que me dá vontade de fazer outra coisa, qualquer coisa, como virar pescador, plantador de cebolas, estivador, ou quem sabe guia do deserto.</p><p>Mas um dia chega o descanso, e o Céu de Kundera agora é de paz.</p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-26017997663469491982023-07-01T18:13:00.001-03:002023-07-01T18:52:15.634-03:00A morte de um livro<p>Como pessoas, os livros nascem - e também morrem, cumprido seu tempo e papel. É o caso de meu primeiro livro, Liberdade para Todos, publicado pela primeira vez pela Moderna em 1996, cuja vida chega ao fim, 27 anos depois, com mais de 200 mil exemplares vendidos ao longo do tempo.</p><p>Vai aqui seu breve obituário, cheio de alegrias. Quando escrevi essa história, como sempre, tentava ajeitar sentimentos que eram meus. Com o livro - sobre um pai, um filho e um passarinho -, não imaginei fazer tantos leitores, tocando em assuntos delicados com crianças: responsabilidade, liberdade e, sobretudo, como lidar com a morte.</p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiobYG4lf2haG3GZlb5tvHKDu99OKkmLrTwF9hlcXDaGtPXGOLsNXhuyEGO3HuVGGWGWN_My7OUepgPbVEJ0QXWB5nBHg2ReJTKSTUeWfQekl7QIQppyNuZioDL_Am7mH-vVfZPYyaXzD8Pral5ikBwZjUWbnAOOlcE-QKxh1MRgKOubkT49pAKCVEQJOjE/s1080/IMG_20230701_180016_907.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiobYG4lf2haG3GZlb5tvHKDu99OKkmLrTwF9hlcXDaGtPXGOLsNXhuyEGO3HuVGGWGWN_My7OUepgPbVEJ0QXWB5nBHg2ReJTKSTUeWfQekl7QIQppyNuZioDL_Am7mH-vVfZPYyaXzD8Pral5ikBwZjUWbnAOOlcE-QKxh1MRgKOubkT49pAKCVEQJOjE/s320/IMG_20230701_180016_907.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCsFMC612NgMDppk3FljM30ae_L-QJAzewuj-NRc4yWpM1wlxYpwpOtWxXKyuumw9IIeY9tMZnBWj8UvQ3jYzHJvrQBD5fNh7ROqy356Gixq8Uee0G7u1_xamQkAi4Zp7tszoDIpnYGbd-QyPqBtrJEoYNsyyb3HMRRXnX6C6prjxxU6XUn4baGoajxHKH/s1080/IMG_20230701_180017_096.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiCsFMC612NgMDppk3FljM30ae_L-QJAzewuj-NRc4yWpM1wlxYpwpOtWxXKyuumw9IIeY9tMZnBWj8UvQ3jYzHJvrQBD5fNh7ROqy356Gixq8Uee0G7u1_xamQkAi4Zp7tszoDIpnYGbd-QyPqBtrJEoYNsyyb3HMRRXnX6C6prjxxU6XUn4baGoajxHKH/s320/IMG_20230701_180017_096.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeIDis9IhEswvfGGJnzMatFmsflGRJXNxXEZaiC5TjBQB9YaaIjOZv5jg6LxAqsX4jzgrAQAKpwQKdOGR8FylNPaqbICj5jEWZUmuiBBFxAzG3JlE--cq6LZmA_Tf0U7dfip8EEEosB_aCdUebQ09Vjox3eiv1-qOm2PqbfqUiKL0khZ4PbyI4cTMoBaQ0/s1080/IMG_20230701_180017_216.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeIDis9IhEswvfGGJnzMatFmsflGRJXNxXEZaiC5TjBQB9YaaIjOZv5jg6LxAqsX4jzgrAQAKpwQKdOGR8FylNPaqbICj5jEWZUmuiBBFxAzG3JlE--cq6LZmA_Tf0U7dfip8EEEosB_aCdUebQ09Vjox3eiv1-qOm2PqbfqUiKL0khZ4PbyI4cTMoBaQ0/s320/IMG_20230701_180017_216.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUqUqlKkXNi-rpCvJMRbnqOYpuPYjkJb2_YTaXEWKvPqfLIH-UM_lzrLb7CN0-rlNc3IUVnr6SyL3MHlf8T1raXCppGoZeDIEPnZFPMHzOBEuQ3l5yo4mWOwEU6fTYgGrNCzpuJa016JMHE5EwMcrWq8d6whZY2KZwCRFFgly6AvNlk4iIrRiBLnn7tFAq/s1080/IMG_20230701_180017_315.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjUqUqlKkXNi-rpCvJMRbnqOYpuPYjkJb2_YTaXEWKvPqfLIH-UM_lzrLb7CN0-rlNc3IUVnr6SyL3MHlf8T1raXCppGoZeDIEPnZFPMHzOBEuQ3l5yo4mWOwEU6fTYgGrNCzpuJa016JMHE5EwMcrWq8d6whZY2KZwCRFFgly6AvNlk4iIrRiBLnn7tFAq/s320/IMG_20230701_180017_315.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdGBLqJWErWkuQGHMhOb31EOKEH4P4UD6WbdIEd_3UP7wKdmz6V1NlZv2tQKvwdHueggS8DUkf1A9ZV97e41F5dT8c8dCxvbYc18ju1mIP1Y8onay5xm65VwJ_IEgbGRyI7sey8nT6FZyuAVta0grJMnXS1SkHupJLtJPv8hPwolbSgWRZu4v9YPz_eqMk/s1080/IMG_20230701_180017_410.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdGBLqJWErWkuQGHMhOb31EOKEH4P4UD6WbdIEd_3UP7wKdmz6V1NlZv2tQKvwdHueggS8DUkf1A9ZV97e41F5dT8c8dCxvbYc18ju1mIP1Y8onay5xm65VwJ_IEgbGRyI7sey8nT6FZyuAVta0grJMnXS1SkHupJLtJPv8hPwolbSgWRZu4v9YPz_eqMk/s320/IMG_20230701_180017_410.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI9PPj3gT5vFKoAPmiLbiDYhZ3T_wBbYDFvfcMxs5twiZYAC6d35TmsME6mja67uK8EzsssZ5p7ufwBRDeBf3YlDr9BaQlgXKdNpbVQxz5VmEoDQmM1q3Tr94eNCFCuwSYccfbdpx9mzf5-eeIbnJUjMn75M_7_tU1IhXdGW_sZ7swZ88H6bkZAksCH1jw/s1080/IMG_20230701_180017_586.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiI9PPj3gT5vFKoAPmiLbiDYhZ3T_wBbYDFvfcMxs5twiZYAC6d35TmsME6mja67uK8EzsssZ5p7ufwBRDeBf3YlDr9BaQlgXKdNpbVQxz5VmEoDQmM1q3Tr94eNCFCuwSYccfbdpx9mzf5-eeIbnJUjMn75M_7_tU1IhXdGW_sZ7swZ88H6bkZAksCH1jw/s320/IMG_20230701_180017_586.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxQRjhFh75QU95Dny15NOhUQjNMwvmzrHenAB2ngOPh-mXWzRvENyhGmtDf7dDps_OctAicrP3LZNpzaCAeNLsEBaA3WwUibfIB8sBflJ_VRvhrDqhFOHTgXETCQdYGNUbwb0p3jlrZ2P0p43At8tP2z9eGw8XOrPz1fSPaVMg3mMyivNFl8rUQXP4Orrj/s1080/IMG_20230701_180017_801.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjxQRjhFh75QU95Dny15NOhUQjNMwvmzrHenAB2ngOPh-mXWzRvENyhGmtDf7dDps_OctAicrP3LZNpzaCAeNLsEBaA3WwUibfIB8sBflJ_VRvhrDqhFOHTgXETCQdYGNUbwb0p3jlrZ2P0p43At8tP2z9eGw8XOrPz1fSPaVMg3mMyivNFl8rUQXP4Orrj/s320/IMG_20230701_180017_801.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl_4gj-TrChr60Zuch1WU-amPfT3hg8yAKrTNRlLzeg4B3ihN996Z3AJNX4gxH7J79mTu5p8HN_KXz_2NSSoNhI33IpgT6ReKgvnkdzpnRuFwjR-bykn2A49e4R3BwTYnEgJP55nsjFlMja4v7h6f4VfdGZyR7j9C-IkjEiTwr7DuJAKcP8vyoTTMgzoIr/s1080/IMG_20230701_180624_104.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjl_4gj-TrChr60Zuch1WU-amPfT3hg8yAKrTNRlLzeg4B3ihN996Z3AJNX4gxH7J79mTu5p8HN_KXz_2NSSoNhI33IpgT6ReKgvnkdzpnRuFwjR-bykn2A49e4R3BwTYnEgJP55nsjFlMja4v7h6f4VfdGZyR7j9C-IkjEiTwr7DuJAKcP8vyoTTMgzoIr/s320/IMG_20230701_180624_104.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglZpVYk4yPs3sUAieJmgBlcLfhypJqIqjqLoRq_V6773WgsJY6JS_2Awjq1-6CWZXL8pFYTUWi7nXj5TFVxPkl9CNxty8pL4Gk2HRXnovX1J71VSdrxIWjfuG5EyZPml0FEKe-ojtXqYkQgXSISz5S3OztSY7Bu6B8HZsHeEnATpI-0QbHBa0sXmQBWiQv/s1080/IMG_20230701_180624_237.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEglZpVYk4yPs3sUAieJmgBlcLfhypJqIqjqLoRq_V6773WgsJY6JS_2Awjq1-6CWZXL8pFYTUWi7nXj5TFVxPkl9CNxty8pL4Gk2HRXnovX1J71VSdrxIWjfuG5EyZPml0FEKe-ojtXqYkQgXSISz5S3OztSY7Bu6B8HZsHeEnATpI-0QbHBa0sXmQBWiQv/s320/IMG_20230701_180624_237.jpg" width="320" /></a></div><br /><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTN0XS3PpKyxWSIRRy5zdfWu_nM0D3dajeCSKdS-7GPE1UkdBo-kJqX-Lm6_6M7eSsPwIXwZjKPIG7JKZqfKoL4K-JaNgmpvmpKdUPXgAopvZEPwF03esGb_zD-LtpzKTy72pSz6P8DG9jiUhw3oWOAoW9FewGRB0YOtkumAnHyDlO_l8WlHU5WjaC-y3w/s1080/IMG_20230701_180624_310.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiTN0XS3PpKyxWSIRRy5zdfWu_nM0D3dajeCSKdS-7GPE1UkdBo-kJqX-Lm6_6M7eSsPwIXwZjKPIG7JKZqfKoL4K-JaNgmpvmpKdUPXgAopvZEPwF03esGb_zD-LtpzKTy72pSz6P8DG9jiUhw3oWOAoW9FewGRB0YOtkumAnHyDlO_l8WlHU5WjaC-y3w/s320/IMG_20230701_180624_310.jpg" width="320" /></a></div><p>O melhor foi na época em que ainda se enviavam cartas. Vinham quilos, de lugares tão diversos como Canoas, no Rio Grande do Sul, e Parintins, no Amazonas. Eram de professores, mães e crianças, entre 8 a 9 anos. Vinham fotos, desenhos, convites, beijos impressos, poemas, histórias, palavras carinhosas, de agradecimento, de incentivo - um adorável turbilhão de amor.</p><p>Houve também incidentes. Certa vez, o pai de um aluno do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, tentou proibir a adoção do livro pelos professores. Alegou que trabalhava no IBAMA e achava inapropriada uma obra que falava de um passarinho preso na gaiola. A editora me ligou, perguntando que justificativa eu teria a dar a esse pai. Respondi que ele lesse do livro pelo menos o título, que já indicava do que a obra era a favor.</p><p>Esse foi, no entanto, um prenúncio do fim. Já não há passarinhos em gaiolas, ou pelo menos não é algo próximo da realidade da maioria das crianças hoje. O livro envelheceu. E agora, depois dessa longa vida, concluímos, eu e a Editora, que seu ciclo está terminando e a atual será sua última reimpressão.</p><p>Aqui fica meu obrigado a Walcyr Carrasco, que me indicou a Maristela Petrili, e a Maristela, editora que acreditou na obra e sempre me tratou com a correção, a gentileza e a elegância que me fizeram seu admirador.</p><p>Agradeço também a todos meus milhares de pequenos leitores, hoje a maioria já adultos, que me deram a maior recompensa destinada a um autor: um lugar, por algum tempo, na sua vida.</p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-23691078953682697692023-05-24T18:18:00.009-03:002024-01-08T13:25:35.795-03:00Desencontos -2: um quarto de hotel em Paris<p><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpiC3STwPjI1yqB8ciKwkI0Tlh-GTdlt57UdpPHLP6U3kP_zu3HVSC0ZfcBYdCiiI5IcKvV081vp1Dd2fODZv7y8DlCT49HJFvIdj0gmMHItIoxHdGJeM2dwuYUpdJ0XtbagdXZhoTTD22/s1315/IMG_0406.JPG" style="clear: right; display: inline; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="1118" data-original-width="1315" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjpiC3STwPjI1yqB8ciKwkI0Tlh-GTdlt57UdpPHLP6U3kP_zu3HVSC0ZfcBYdCiiI5IcKvV081vp1Dd2fODZv7y8DlCT49HJFvIdj0gmMHItIoxHdGJeM2dwuYUpdJ0XtbagdXZhoTTD22/s320/IMG_0406.JPG" width="320" /></a> A longa escadaria em espiral, até o último andar, uma só porta e o quarto. Ocupava, inteiro, um grande sótão: a cama de casal num mezanino baixo, uma cozinha com um balcão, uma sala de estar com uma escrivaninha de trabalho; à esquerda, a passagem para o segundo quarto, amplo, com uma banheira ao centro; a cama de madeira escura, diante da grande lareira de granito branco.</p><p></p><p>Teresa achou graça na porta de masmorra, baixa e pesada, que dava acesso ao banheiro, de teto inclinado pela meia água. Passeou os olhos pelos móveis antigos: o baú do tempo das diligências, o mobiliário Luis XV, a cama pesada de cabeceira alta, cenário de vidas e horas inconfessáveis.</p><p>As malas nem foram desfeitas: Teresa e Marcel mergulharam nos lençóis flutuantes, entre os travesseiros de penas, a pele morena dela na tela de branco alvíssimo, os cabelos de graúna espalhados, ondulando sobre as dobras do algodão indiano.</p><p>O cheiro dos corpos misturados, a vontade primitiva, a matrioska dos desejos, desvelados um atrás do outro. Mesmo cansado de viagem, Marcel não dormiu: preferiu ver Teresa na penumbra, adormecida ao seu lado, enfim serena e apaziguada, joia viva sobre o colchão.</p><p>Pela janela medieval se avistava os telhados do casario, mas para eles Paris estava ali dentro, à luz de do abajur art déco: languidez e lassidão. Dormiam e acordavam enlaçados, amantes num refúgio, esconderijo de tudo: da vida lá fora, do passado, deles mesmos, da luz e da escuridão.</p><p>Tinham saído do Rio de Janeiro, sem dizer a ninguém onde iam, com quem iam, nem a razão. Eles mesmos não sabiam ao certo o que os movia, exceto que, fosse como fosse, a vida levava um para o outro. E só.</p><p>Teresa embarcou no aeroporto sem malas, livre de tudo, o avião apenas como ponte para ele, que já a esperava. O momento de um para o outro, única coisa de que precisavam, única destinação.</p><p>Deixaram para trás a vida anterior, os filhos, o medo. Não, o medo, não. Pairava a sombra do exame de Teresa, um indicador que não podia dar mais que 20, e dava 1000. Eles não sabiam o quão grave podia ser, qual era o tumor, nada, só aquele número: na volta, com mais exames, saberiam melhor. </p><p>A dúvida pode ser o inferno da alma e eles sabiam que o passado pesava: a vida anterior os minara. A tristeza é somática, domina o ânimo, depois penetra nas células, corrói os tecidos. Contra ela o corpo sofrido se rebela, avisa, ordena a revolta.</p><p>O futuro ninguém sabia, mas eles se refugiavam na certeza dos braços um do outro, sem outros pensamentos, sem outro sentido, sem outra razão. Passavam o dia enlaçados, imersos em sussurros e planos, as coisas em comum: o amor à palavra, a necessidade de leitura, não dos livros, mas dos sentimentos, penúria de que tinha vivido no deserto dos outros, o mundo onde você sempre serve à vaidade de alguém e sempre acaba sozinho.</p><p>As conversas sussurradas traziam o amor de volta, brigado, mordido, suado, até que tinham de trocar de cama, tão molhados ficavam os lençóis. Depois ele lavava os cabelos dela, um ritual lento, longo e solene, teatro de amor, na banheira feita de palco.</p><p>Ela secava as melenas no espelho antigo, usando ao mesmo tempo dois secadores, uma dança mágica de cabelos ao vento; ele ria e admirava a destreza, cada movimento de Teresa era graça, beleza e arte.</p><p>Saíram do quarto pela primeira vez no dia seguinte, depois das quatro da tarde, e só porque precisavam comer.</p><p>Paris no Natal estava frio, Paris chovia, e a melhor hora era voltar, subir aquela escadaria, esconder-se no sótão, sua nova casa. Moravam agora dentro de um quarto e, naquele quarto, um dentro do outro.</p><p>No dia seguinte, fim de tarde, breve interlúdio: atravessaram a ponte Solferino, dos cadeados, onde tanta gente deixava sua promessa de amor, e seguiram pela <i>quai</i> da Rive Droite. Ele a fotografava, usando a boina dele e calça xadrez - musa de uma belle époque que ele mesmo inventou. </p><p>Passaram pelo mendigo adormecido sob a Pont du Carrousel; saíram da margem e entraram nas Tulherias, pisando o cascalho entre os esqueletos das árvores invernais. </p><p>O sol súbito caiu sobre a água da Grand Bassin Ronde, a piscina que separa o palácio do Louvre de seu imenso jardim. Momento iluminado, ou mensagem divina, Teresa despertou de repente - que bonito, onde estamos, perguntou.</p><p>As luzes da Saint Chapelle, pausa para uma oração. A noite para sair: o restaurante japonês, invenções sobre um prato; cruzaram o canal sobre o Sena e centenas de pessoas foram se juntando a eles pelo caminho, passos ressoando na calçada, em meio ao frio da noite.</p><p>Da passarela em arco, avistavam ao longe a tenda iluminada do Cirque du Soleil, nave esplendorosa brilhando branca na noite, ao lado do rio.</p><p>Corteo: espetáculo da vida assistindo a morte, ou da morte assistindo a vida. Algo tão igual ao momento deles, tristeza e alegria, esperança e medo, misturados em turbilhão. Era isto, a vida: uma bicicleta sobre a corda, rumando ao céu; a beleza de viver até o fim, seja quando e onde for, arriscando tudo. </p><p>Por fim chegou a véspera do Natal, o dia receado, que ambos passariam longe das famílias: receio da opressão da saudade, de ter estragado tudo; a carga do sofrimento próprio e dos outros; o abismo entre onde estavam e o que ficou para trás. Porém, o futuro eles iam construir juntos, para viver não como outros queriam, mas como eles mesmos, do jeito que eram, em estado verdadeiro e puro e claro.</p><p>Enquanto pelo mundo crianças recebiam os presentes de Natal, famílias estalavam copos e talheres em festa, eles anestesiavam a alma na plateia da Opera de Paris. O balé Onéguine: uma tragédia de amor. </p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXHrUEqfFmZCz7OdE7Ff52fRCiKreb9r6_wRVoMiVBFx4skwS0BFoYGDE-2slcxMND-JA2mf1i0hhR1HrRzUkhGnZQp6haW_oIBuJUn6APyy-UN9ndV7KdBDM1jG5bvx3jM23sC_3d9TtIQkkU2IMjkjWPDjZhYSVjNu0cPbGY6Kp4SpmECvwHb6RTZA/s2329/20230526_134707.jpg" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="2250" data-original-width="2329" height="309" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgXHrUEqfFmZCz7OdE7Ff52fRCiKreb9r6_wRVoMiVBFx4skwS0BFoYGDE-2slcxMND-JA2mf1i0hhR1HrRzUkhGnZQp6haW_oIBuJUn6APyy-UN9ndV7KdBDM1jG5bvx3jM23sC_3d9TtIQkkU2IMjkjWPDjZhYSVjNu0cPbGY6Kp4SpmECvwHb6RTZA/s320/20230526_134707.jpg" width="320" /></a></div><p>Todo grande amor tem algo de trágico: assim era também o amor deles, grande, feito de dor por muitos lados, mas era também o que os unia. Transmutariam a tristeza em felicidade, contagiaram a todos com aquele amor, que transbordava para ser dividido, dando a todos esperança, sonho de final feliz.</p><p>No intervalo do espetáculo, uma taça de champanhe na sacada, o brinde de Natal, feito como juramento: nós dois consertaremos tudo; mesmo contra tudo, tudo podemos juntos, esta é a força maior.</p><p>Saíram caminhando abraçados pela ruas enfeitadas de luzes vermelhas; entraram no Café del' Opera, para uma taça de vinho, entre as mesas vazias da meia noite natalina. A cidade estava suspensa, mas eles sorriam, mais leves. Passara o mais difícil e eles se deixavam embalar pelo mel de um dia inteiro de cumplicidades.</p><p>Breves impressões da vida lá fora: O Pensador, no Museu Rodin ("já vi isto aqui", disse Teresa); madeleines num café acolhedor; o silêncio sagrado do velho templo de Saint-Germain-des-Prés. Por fim subir de novo a escada, a sensação de voltar ao abrigo do quarto, a eles mesmos, sua primeira casa, das muitas que teriam depois. </p><p>O frio ficava do lado de fora, de fora ficava até mesmo o medo, com o passado de desilusão. Eles não precisavam de mais nada, Paris era ali, mas seria em qualquer lugar: viveriam, sobreviveriam, Marcel salvaria Teresa do câncer, da tristeza, do abandono, que também era seu. </p><p>Teriam a felicidade mais pura, reunindo novamente a todos, para outros natais, contagiados por aquela Paris que eles levariam para sempre, onde fossem, transbordantes de amor.</p><p>*</p><p>Marcel olha as fotos antigas, abre o navegador e pesquisa: Hotel del' Université. </p><p>Há um passeio virtual; ele sobe a escadaria, usando o dedo indicador sobre o laptop, e chega ao último andar.</p><p>O antigo sótão, onde ficava o quarto Saint Germain, foi dividido em quartos diferentes, com paredes brancas e mobiliário contemporâneo. Ainda há janelas para o casario de Paris, mas a grande lareira de mármore, a banheira, a história, tudo desapareceu.</p><p>O texto informa que o hotel passou por uma renovação. Remexendo lembranças, ele se dá conta de ter estado ali uma vez anterior, muito tempo antes daquela semana de Natal em Paris.</p><p>Tinha pouco mais de vinte anos quando, passando ao acaso na rua, entrou no hotel, para conhecer. Queria ser escritor e soube que Hemingway, quando estava na cidade, se hospedava ali. Subiu ao quarto do último andar, levado por um camareiro, com a chave na mão, para ver onde ele se hospedara. </p><p>Olhou o grande sótão, com jeito de casa no céu; parou diante da janela, e pensou: um dia vou publicar livros, terei dinheiro e trarei para cá alguém especial, para a minha melhor história de amor.</p><p>Depois, esqueceu tudo, ou quase: escolheu aquele hotel por lembrar vagamente que um dia quisera hospedar-se ali. Uma mensagem no tempo, para o dia em que, amadurecido, cumprisse a antiga promessa, sem saber.</p><p>Marcel faz uma busca pelo site. Não há mais qualquer referência a Hemingway. Teresa vive, mas não está com ele. Depois de tantas casas, nas buscas de quem nunca achou algo o bastante, nunca parou: espelho na impermanência, na inquietação. Os carentes de um amor que não existe, ou sempre muda de lugar: destruidores de corações.</p><p>Nao a reconheceria se a visse na rua: aprendera que se pode sentir luto por alguem ainda vivo, mas que nao erea quem se pensava, como se tivesse morrido, ou ainda pior, nunca existido. Já não existe o quarto, não mais existe Teresa de Marcel, mas ele é o mesmo. Não só o homem daquele Natal em Paris. É o rapaz magro e imberbe que andava no inverno parisiense de capa de chuva, sem dinheiro para comprar um casaco de verdade, passando fome e frio, sonhando com a vida de Hemingway. </p><p>Sim, isso ficou: sonho. A entrega sem receio, a vontade de amar, de sempre experimentar a vida intensamente, e escrever. </p><p>Ainda.</p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-62238937415856395072023-05-23T23:54:00.008-03:002023-05-24T17:53:37.744-03:00Desencontos - 1: "Radiografia de um instante"<div class="separator"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiP6BPl5PD8XzhqY25DKI65RAtMWrSvQLJ3NkgrdKXSFAnmkODYJpB4uOlhwj7cZM9P_hxfWYwzeuMomW_9_IuIlabHsHm52GmG7Z3CQoAoFNfxuk090xbjsVsEuu5gnnHT4TrEloXgIe-dFK5BICUunQkmVtYMmLLfMeHAjMIbAVQmer5_jzl3_ARqAw/s289/Sem%20t%C3%ADtulo.tif" style="clear: right; display: inline; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em; text-align: center;"><img border="0" data-original-height="257" data-original-width="289" height="257" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiP6BPl5PD8XzhqY25DKI65RAtMWrSvQLJ3NkgrdKXSFAnmkODYJpB4uOlhwj7cZM9P_hxfWYwzeuMomW_9_IuIlabHsHm52GmG7Z3CQoAoFNfxuk090xbjsVsEuu5gnnHT4TrEloXgIe-dFK5BICUunQkmVtYMmLLfMeHAjMIbAVQmer5_jzl3_ARqAw/s1600/Sem%20t%C3%ADtulo.tif" width="289" /></a></div><p></p>Eram três horas da tarde e Tirso estranhava o silêncio, parecia que ninguém pegava o metrô em Washington, a plataforma estava deserta, tão deserta que ao caminhar seus passos ecoavam pela estação.<br /><br />Encostou-se na parede, à espera do trem. Gostava, queria, precisava daquela solidão. Meia hora antes, estava com a mulher, Silvia, em um apartamento de classe média na capital americana, aquilo que ela achava perfeito. Sandra, melhor amiga de sua mulher, casada com George, militar americano, os recebera e fizera um belo almoço; os dois maridos, que se viam pela primeira vez, esforçavam-se para ser simpáticos um com o outro.<br /><br />Elas se conheciam desde a adolescência, eles há pouco minutos; Sandra se esmerou na comida, Mark em abrir uma garrafa de vinho premiada; contou-lhes do barco que tinha ancorado no Potomac, na primavera ele o tirava para passear, gostavam de velejar no rio, especialmente aos domingos. <br /><br />Esforçava-se em querer mostrar que os americanos não eram tão aborrecidos para brasileiros como se pensava: a vida ali era boa, eles eram felizes, a melhor amiga de Silvia estava feliz e satisfeita, mesmo longe da família, do país, do feijão com arroz.<br /><br />As duas mulheres tagarelavam, tirando o atraso da conversa naquele reencontro, proporcionado por uma esticada de Nova York a Washington que Tirso concordara em fazer só para aquilo.<div><br /></div><div>Faziam planos para mais tarde. Tirso e Silvia estavam hospedados em um hotel em Cristal City, com seus prédios envidraçados e aquelas galerias internas que permitiam caminhar longas distâncias fugindo do frio congelante do inverno na rua. George e Sandra poderiam mais tarde buscá-los de carro. Iriam a um lugar para dançar, havia um que ficava no edifício de um antigo banco, a pista era dentro de um cofre, com aquelas portas de chumbo, uma grande roda girando sobre pesados gonzos.<br /><br />Estava tudo perfeito, a comida, o vinho, as promessas de diversão, mas Tirso olhava para George já sem escutar, distante e imerso, peixe num aquário. Disse que achava melhor deixarem as mulheres conversar, matar a saudade, colocar a conversa em dia; não queria atrapalhar, poderia aproveitar a hora. Tinha curiosidade de visitar a biblioteca do Congresso, algo que Silvia não gostaria de fazer; aproveitaria que ela estava em boa companhia para dar uma volta e conhecer o Capitólio.<br /><br />George também achou boa ideia; sugeriu que visitassem outro dia, com as mulheres, o Smithsonian Museum, o Lincoln Memorial e o que mais quisessem.</div><div><br /></div><div>Silvia adorou tudo, na verdade não se importava, queria apenas estar com a amiga, acenou com a cabeça e assim ele saiu, com breves despedidas. George disse que na esquina havia uma estação do metrô, por ele chegaria ao Capitólio, era simples e rápido.<br /><br />Quando a porta do lar americano bateu às suas costas, Tirso sentiu-se repentinamente livre, ou aliviado: ao descer o elevador, passar o hall de entrada e ver-se na calçada ensolarada, era como se tomasse sol pela primeira vez na vida.</div><div><br /></div><div>Não foi difícil achar a estação, comprou o bilhete, desceu a escadaria até a plataforma: vazia, aquele silêncio, tudo confortador, como se tivesse escapado de uma guerra para um esconderijo seguro.<br /><br />Não sabia direito o que havia de errado com o que deixara para trás. Talvez a resposta estivesse à frente: a biblioteca, os livros, o mundo interior onde ele navegava, e que Sílvia via com certo desdém. "Você pensa demais", ela dizia.</div><div><br /></div><div>Agora ela ficava para trás e ele ia em direção a uma biblioteca, uma das maiores bibliotecas do mundo, no Congresso americano, sede do Iluminismo ocidental, onde a república tinha sido proclamada antes mesmo da revolução francesa, berço das ideias e dos ideais contemporâneos de liberdade, igualdade e tolerância.<br /><br />Havia um certo efeito analgésico naquele túnel deserto, uma estação em silêncio, toda para ele; nesse instante, ouviu o barulho do trem chegando, a luz se insinuando na penumbra, até que ele passou, aquele borrão horizontal, na plataforma contrária ao sentido em que ele ia; viu a composição brecar aos poucos, com um guincho estertorante, até a imobilidade total.<br /><br />Assim como a plataforma, o trem estava vazio: era tarde, ou era um momento mágico, Tirso não sabia, mas olhava os vagões desertos como num sonho. Foi então que viu a mulher, sentada à janela, sozinha no vagão inteiro, no trem inteiro. Olhava para baixo, debruçada sobre um livro. Um livro.</div><div><br /></div><div>Por um instante ele pensou que poderia estar ali a mulher da sua vida, e o que aconteceria se ela olhasse para ele, os dois sozinhos naquela estação. Olhava para a mulher distraída, com o livro na mão, só os dois naquela estação, e não precisava saber mais nada sobre ela.<br /><br />Lembrou-se de Silvia; pedira para a mulher ler o livro que tentava escrever, mas ela, cansada, deixara o calhamaço torturado de folhas na cabeceira, dia após dia; qualquer hora veria aquilo, daria opinião. Tirso passou a ter aquela vontade, então, de ir a algum lugar. Não era Washington, não era Nova York, era um lugar de encontro com ele mesmo, onde havia estantes, livros, e uma mulher, com um livro na mão.<br /><br />Na plataforma oposta, as portas da composição se abriram, para ninguém; houve um instante de expectativa, Tirso não sabia por que, já que ninguém ia entrar. A mulher com o livro continuava a leitura, imóvel; pensou se ela sabia que ele estava ali, pressentia que ele olhava para ela. Imaginava agora outra vida, que não era a dele, ou melhor, era a dele, mas uma vida que não tinha com ninguém. As portas do trem se fecharam; o cheiro de metal queimado passou pelas narinas de Tirso, quando a máquina acordou, as engrenagens lentamente se moveram, e a composição começou a andar.<br /><br />Nesse momento, a mulher do livro levantou a cabeça. Era uma bela mulher. Viu Tirso encostado na parede, olhando o trem ir embora, distanciando-se em velocidade cada vez maior. Apenas um momento, e, enquanto se afastava, com o livro aberto nas mãos, enquanto o trem a levava para nunca mais, pela janela ela sorriu.<br /><div><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><span></span></div></div></div>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-952815423628636659.post-1411549584165227722023-05-23T23:06:00.003-03:002023-05-23T23:07:16.147-03:00"Menino": um trecho de A Quinta Estação<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoTm3gEAjGBQXDvLmC16nXwNHv9P3Nh_XLwdPakjknXEIdYleJaPWM_H-hmIPiWOV9zPN_XwjU9njCibifYbJop-5rrvw6h5MmBoR8P2nA5jFGTnVOqjebMoQbFcRn3RNI5LOfkQjfS5IUpI-aMRIQUYPqqilvcF3AKLviHp3_Zmdl1Xojq1F9PrWq4Q/s4032/IMG_2945.JPG" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="3024" data-original-width="4032" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjoTm3gEAjGBQXDvLmC16nXwNHv9P3Nh_XLwdPakjknXEIdYleJaPWM_H-hmIPiWOV9zPN_XwjU9njCibifYbJop-5rrvw6h5MmBoR8P2nA5jFGTnVOqjebMoQbFcRn3RNI5LOfkQjfS5IUpI-aMRIQUYPqqilvcF3AKLviHp3_Zmdl1Xojq1F9PrWq4Q/s320/IMG_2945.JPG" width="320" /></a></div>"Desceram em Klosters; ali esquiava a família real da Inglaterra, as ruas estavam brancas como num filme de Natal. Uma súbita nevasca escureceu o tempo; Vitor sentiu o frio cortante secar-lhe a boca, escorreu o nariz. Andaram abraçados pela rua; Vitor tirou as luvas para pôr as mãos na neve pela primeira vez na vida. Andaram até que o frio os congelou, suas roupas não eram suficientes, no Brasil tinham comprado aquelas capas impermeáveis para chuva, ali não serviam sequer para os mendigos, correram de volta para a estação, chegaram ofegantes, esfregando as mãos, o rosto, como se estivessem fugindo de uma avalanche, mas felizes como crianças que fazem seu primeiro boneco de neve. <br /><br />Tomaram o trem seguinte; passaram por Saint Moritz, contornaram o imponente Pitz Bernina, com sua ponta escarpada que feria o céu. Adriana passava os dedos pelos cabelos de Vitor, sob o boné em cujo forro escrevera “Juízo!!!”, assim, com uma tríplice exclamação. Tinha algo de maternal, ele se acostumara a ouvir Adriana chamá-lo de “menino” quando estavam na cama, depois de fazer amor, ele fazia uma segunda universidade, ela lhe ensinava coisas da vida, mostrava como lidar com os outros, em especial nos meandros do mundo do trabalho, tirava Vitor do mundo da inocência do qual viera, um pouco para abreviar-lhe dissabores do aprendizado por conta própria, muito para diminuir a distância que havia entre os dois. Tinha prazer em lhe passar sua experiência, como numa transfusão de sangue, queria fazê-lo mais velho rapidamente, afinal ele compreendeu a razão para Adriana querer vê-lo com rugas, nesse tempo eles seriam menos desiguais, ficariam mais próximos, seria mais possível aquele amor quando a realidade sobreviesse à paixão que os levava pelos desfiladeiros alpinos."<p></p><p>Na Amazon: <a href="https://www.amazon.com.br/Quinta-Esta%C3%A7%C3%A3o-Thales-Guaracy-ebook/dp/B085P1SFQ1/ref=sr_1_2?__mk_pt_BR=%C3%85M%C3%85%C5%BD%C3%95%C3%91&crid=16Z9OIXZI1NO7&keywords=a+quinta+esta%C3%A7%C3%A3o&qid=1684893200&sprefix=a+quinta+esta%C3%A7%C3%A3o%2Caps%2C209&sr=8-2">A Quinta Estação</a></p>Thales Guaracyhttp://www.blogger.com/profile/12502425684150323220noreply@blogger.com0