quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024
Inteligência artificial, ou morte cerebral
domingo, 18 de fevereiro de 2024
O Canto de Nassau
É uma parte daquilo em que o ChatGpt não conseguiu me ajudar. Então, lá vou eu, fazendo sem pressa, mas sem perder tempo.
Diz assim:
CANTO DE
NASSAU
Quando ao zarpar me perguntaram
porque em vez de mais soldados eu levava
ao Brasil pintores, escritores e cientistas
e em vez de mais armas carregava sábios e artistas
para a guerra inofensivos
eu me perguntava para que servem à maioria
o astrolábio e os livros
e com isto eu me ria
Para o bom governo das empreitadas
de longo alcance em missão tão importante
não se faz bastante a mão
de ferro nem a visão
do mais ousado governante
é preciso saber usar espadas
mas para ficar em algum lugar
é preciso bem administrar
saber mudar com o quadrante
num mundo que se expande
onde só a arte mostra e ensina
está por trás e contamina
faz pensar melhor - e grande
Só a arte mostra o belo
lhe dá valor e dimensão
e a ciência pode fazê-lo
realiza o sonho com a razão
Arte e ciência são a fonte
de toda e qualquer sabedoria
e quando me perguntavam por que ria
ao zarpar olhando o horizonte
é por que sei como serão
grandes os homens que o futuro farão
como o homem do passado já fazia
terça-feira, 30 de janeiro de 2024
A máquina trabalhando por você. Será?
Resolvi empreender uma tarefa hercúlea, ou diria melhor, tarefa camoniana, convertendo meus livros de história num poema épico sobre o Brasil. Comecei, de fato, mas diante da enormidade da tarefa, achei melhor pedir ao ChatGpt escrever para mim, como se fosse eu.
Veio isto abaixo. Que acham???
Pedido: "escreva uma poema baseado no livro A Conquista do Brasil de Thales Guaracy"
Pedi então para fazer uma versão com 360 páginas...
Abre aspas:
"Criar um poema épico de 360 páginas sobre a formação do Brasil no período colonial seria uma tarefa monumental. No entanto, posso oferecer um resumo poético que captura a essência desse período histórico:
Nos mares vastos, além do horizonte, Surge uma terra de riquezas sem fim. O colonialismo tece sua saga, No Brasil, berço de um novo destino.
Portugueses, aventureiros destemidos, Em terras selvagens, vislumbram o ouro. Exploram as florestas, desbravam caminhos, Fundam vilas, erguem o sonho pioneiro.
Com sangue, suor e lágrimas se forja A nação que há de se erguer soberana. Indígenas, africanos, mistura de povos, Culturas se entrelaçam na colônia lusitana.
Entre canaviais e engenhos de açúcar, A mão escrava sustenta a economia. Resistem os nativos, ergue-se a resistência, No seio da terra, pulsando energia.
Sinuosas tramas políticas e sociais, O Brasil colonial é forjado em luta. Da união das diferenças, surge a esperança, Do novo mundo, uma pátria que se enxerga.
Este poema modesto é apenas um vislumbre Da grande história do Brasil colonial. Rica em nuances, em nuances mergulhada, Uma saga épica, de valor sem igual.
Se você deseja explorar mais a fundo este tema, recomendo estudar mais sobre a história do Brasil no período colonial e deixar sua própria criatividade te guiar na escrita de uma obra tão grandiosa."
Fecha aspas.
Bem, acho que não tem jeito. Vamos arregaçar as mangas e tentar a tarefa "grandiosa".
domingo, 7 de janeiro de 2024
Os que foram e os que ficaram
Paolo Paradisi tem 58 anos, é arquiteto de formação, mas diz que não há emprego para arquitetos na Itália, ainda mais para quem passou dos 30 anos. Mora na antiga casa da família, a dez minutos do aeroporto de Bolonha, e vive de hospedar e alimentar pilotos de passagem.
Conto que minha família materna é dali. Meu avô José era chamado de Iusfen eu havia andado no dia anterior nos campos de meus bisavôs, caminhando entre os povoados de Crevalcuore, Ravarino e Santa Ágata Persiceto, e que eles haviam deixado em 1892.
Paradisi me explica que Iusfen é diminutivo de Iussef, que por sua vez é Iussef, Joseph, Giuseppe, ou José, portanto meu avô era "Zezinho". Vai até seus armários atulhados e tira um livro de família e um velho álbum.
Mostra as fotos de sua família, que viveu perto de Ravarino, como a de minha mãe - as planícies úmidas, que já foram pântano antes de recortadas por canais, onde grassava a malária, nos tempos de meu bisavô.
Há dois adolescentes de pernas muito brancas e finas, resultado da poliomielite. Paradisi explica a migração daquelas terras para o Brasil, no final do século XIX, período que narro em meu romance Filhos da Terra.
"O problema não era a malária, era a fome", diz. "Senta, vou fazer um almoço para o neto do Iusfen. Hoje, você não vai passar fome na Itália. E não vai pagar nada. "
Cozinha para mim uma massa com o "verdadeiro ragu bolonhês", regado a vinho tinto romeno (!), seguido por tiramisù gelado molhado com nocino, um licor de nozes, uma delícia do paraíso.
Eu saio deliciado daquele repasto. No final, insisto em pagar pelo almoço, afinal é um hotel. Ele, porém, se recusa a receber. E nos despedimos com um abraço.
A vida ainda não é tão fácil, mas Bolonha tem essa a alma italiana, deste e outros tempos. Como mostra essa pequena história de seus filhos, ainda unidos pelo amor, tanto dos que foram, como dos que ficaram.
sábado, 6 de janeiro de 2024
Zagallo e o Brasil
Eu não gostava do Zagallo. Achava o homem arrogante e ultrapassado. Na Copa de 1970, eu era muito criança e lembro mais do último jogo, pela grande festa. Naquela Copa, ele parou no tempo. Em 1974, de que me lembro mais, o Brasil tomou um samba da Holanda, que jogava como deveria jogar o Brasil. Parecia um time da rua, jogando pelada. Fizeram uma paródia da música da Copa de 70 para hostilizá-lo. Lembro até hoje: "Todo mundo de porrete na mão/esperando o Zagallo/sair do avião".
Como ele mesmo disse, tivemos de engoli-lo por muito tempo. Ele tinha razões para ser arrogante: bi campeão do mundo como jogador, tri como técnico, tetra como coordenador, era o mais vitorioso e quem tinha mais experiência nesse negócio de ganhar um torneio traiçoeiro, em que o melhor geralmente tropeça num time retranqueiro qualquer. Dizia ter sorte, amava o número 13, mas era na verdade um especialista, que conhecia Copas como ninguém.
Não obstante, a morte de Zagallo me bateu como uma grande tristeza. Ele tinha algo incomparável: o amor incondicional pelo Brasil, o entusiasmo pela seleção, e certeza da nossa grandeza, em um esporte que passou a ser nosso, e mais, prova de que o Brasil pode tudo, em qualquer coisa.
Zagallo era isto: uma injeção de ânimo num país que, como dizia Nelson Rodrigues, passou do viralatismo para provar o gosto da vitória. E quem sabe realizar outros projetos de grandeza, como oferecem nossos imensos recursos humanos e naturais.
Simbolizava a emancipação do viralata brasileiro, da qual ele se tornou a instituição encarnada. Receio que sem Zagallo esteja perdido o grande bastião dessa devoção à pátria, esse orgulho que beira a arrogância, essa vontade e certeza de ganhar, e amar incondicionalmente o que é nosso, acima de vitórias e derrotas. Hoje, Zagallo, eu que nunca gostei de você tiro meu chapéu e digo: que falta você nos faz.
quinta-feira, 7 de dezembro de 2023
Um eletrizante voo pela história
Wendy Fernandes Evangelista e Fernando Alves de Lima e Silva se aproximam da produtora de cinema Joana Henning, no hall dos cinemas Multiplex, no shopping Eldorado, onde tinham acabado de assistir à pré-estreia do filme O sequestro do voo 375, na noite da terça-feira, dia 5. Conversam com Henning e, chorando, os dois se abraçam.
Ambos tiveram suas vidas tragicamente ligadas pela história real narrada no filme. Fernando é filho do piloto Fernando Murilo e Silva, que comandava o voo, falecido em 2020, aos 76 anos de idade. Wendy é filha do copiloto Salvador Evangelista. Tinha oito anos quando seu pai foi morto com um tiro na cabine, quando respondia ao chamado da torre, pelo sequestrador do voo, Raimundo Nonato.
- Se ninguém mais visse o filme, teria valido só por isto - digo a Joana.
- É o spin off - diz ela, com um sorriso.
O sequestro do voo 375 é antes de mais nada uma história humana, a começar pela do piloto Fernando, um herói brasileiro de verdade, desses que são colocados pelas circunstâncias diante de decisões em que a própria vida deixa de ser o mais importante.
O filme assume os relatos dos passageiros, expondo também as versões oficiais sobre tudo o que aconteceu - a do governo e da companhia aérea. Lembra a constrangedora tentativa de acobertar a verdade, típica dos governos covardes e atrabiliários, que carregam ainda muito mais os esqueletos do passado que o embrião do futuro.
Aponta, mais especialmente, que material de imprensa sobre o sequestro foi encontrado nas cavernas do Afeganistão onde havia se abrigado Osama Bin Laden. Sugere que o líder da Al Qaeda estudou o caso brasileiro, no planejamento do sequestro de voos civis para lançar seu ataque às torres gêmeas, em Nova York, assim como o Capitólio e o Pentágono, em 11 de setembro de 2001.
O que Bin Laden aprendeu com o caso brasileiro é que o fator que impediu a execução do plano de sequestro foi justamente o piloto. Como relato em meu livro A Era da Intolerância, o líder da Al Qaeda decidiu treinar os próprios terroristas kamikazes para pilotar os aviões, de modo a assumirem o comando do voo. Não podiam, como Nonato, depender do comandante.
Fizeram cursos de pilotagem, com um detalhe, estranhado pelos instrutores. Nenhum deles compareceu às aulas finais, que versavam, justamente, sobre a aterrissagem.
A história do sequestro acaba sendo um filme de ação, mas é também um excelente painel de uma época. O sequestrador é algoz, mas também vítima - e quem viveu aquele período do Brasil sabe como foi difícil a saga da redemocratização. Foi também o de reeconstrução de uma nação arrasada pela prepotência política e o dirigismo econômico estatal, com suas consequências na vida de todos.