O curso Escreva Bem, Pense Melhor, que dei em janeiro na Casa do Saber, estará de volta em setembro, agora no auditório da Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis, em São Paulo.
Serão 6 encontros, às terças e quintas-feiras, das 20:00 às 21:30, a partir do dia 17 de setembro. As inscrições podem ser feitas em qualquer Loja da Vila. Ou pelo e-mail inscricoes@livrariadavila.com.br.Custará 480 reais por pessoa.
O curso procura oferecer uma maior capacitação para a confecção de textos gramaticalmente corretos, interessantes e importantes pelo seu conteúdo. Apresenta também mecanismos para a reflexão, o exercício da criatividade e a construção de um estilo pessoal, que podem ser úteis tanto para a redação quanto para a vida pessoal e profissional.
Mais do que treinar a escrita, o curso procura desenvolver o pensamento organizado, que leva a uma capacidade maior de expressão, com clareza, objetividade, persuasão e criatividade.
O programa:
Dia 17: Como escrever bem: clareza, interesse, relevância. Abertura, desenvolvimento e fecho; encadeamento e lógica.
Dia 19: Normas estilísticas: texto e linguagem falada; estilo e individualidade. Regras de estilo.
Dia 24. A escrita, autoanálise e desenvolvimento pessoal: a necessidade de escrever. Escrita, emoção e autoanálise. “Inspiração”: os elementos da criação. O texto como expressão individual: diário, blog, autobiografia, memórias.
Dia 26. Estudo de caso. Identificação da ideia principal, estruturação do texto e resultado final.
Dia 1 de outubro: O texto informativo: conteúdo, informação e notícia. Credibilidade e ética. As formas literárias.
Dia 3: Comunicação corporativa: a necessidade da empresa. O autor no espelho: a relação entre a palavra e seu dono.
O curso na Casa do Saber foi ótimo, com um número bem maior de participantes do que se esperava, e uma excelente participação de todos até o final. Espero repetir!
segunda-feira, 19 de agosto de 2013
quinta-feira, 15 de agosto de 2013
Copacabana na Amazon e um momento vital para o mercado do livro
A partir de hoje, começam a entrar na Amazon os livros com o selo Copacabana, em português e inglês, para venda no Brasil e no mundo inteiro. O primeiro título em inglês é The Man Who Spoke With God, lançado em português no mercado brasileiro em 2003, onde teve duas edições, e também editado por duas vezes em Portugal. A partir de agora, será possível colocar obras de autores brasileiros em português e inglês no mercado mundial, com a produção de livros exclusivamente digitais. Uma iniciativa que chega num momento vital para o mercado do livro.
Utilizei meus próprios livros de backlist para abrir o que acho ser um novo modelo editorial. Ninguém sabe como serão as editoras no futuro, mas os elementos estão todos sobre a mesa para fazermos nossas apostas. A do selo Copacabana vem de uma visão de como o mercado será daqui em diante, com o crescimento do consumo de obras digitais. Ela é resultado da minha experiência nos três anos em que dirigi o selo Benvirá, na Editora Saraiva, que deixei em março para levar isto adiante. A meu ver, em um ou dois anos não fará mais sentido comprar um livro impresso a 35 reais, e que na maior parte das vezes terá de vir pelo correio, por não estar disponível na livraria. Será muito mais lógico clicar no nosso kindle, ipad ou outro dispositivo móvel com um aplicativo e comprar o mesmo livro a 9,90 e começar a ler o texto imediatamente.
A nova lógica do mercado é simples assim. Tão simples, que me parece inescapável. A operação de imprimir livros, administrar estoques e enviar pacotes de obras impressas a praças distantes certamente logo será algo economicamente inviável. Essa é a razão da debacle das livrarias no Estados Unidos, onde o mercado digital foi pioneiro e se torna cada vez mais importante. Livrarias terão de fazer eventos ou vender outros produtos - como o próprio Kindle - para sobreviver. Isto já está acontecendo. Na Saraiva, por exemplo, com exceção dos livros mais vendidos no mês, há pouca variedade do que escolher. Quem quiser um livro diferente do que está nas listas certamente vai ter que esperar por uma encomenda junto à editora, feita pela livraria, ou diretamente de casa, entrando pelo computador na pontocom.
As grandes editoras internacionais certamente já estão vendo uma mudança enorme na mecânica do mercado. Elas têm procurado adiar esse momento como podem e se preparam com fusões que permitem a redução de custos e a acumulação de conteúdo, mas isso não resolve o essencial, que é a mudança de paradigma que marca a extinção de toda uma indústria, como já aconteceu com a fonográfica. Você pode reduzir os custos, mas não tanto quanto é necessário. E a criação de catálogos enormes com contratos antigos, baseados na era do livro impresso, pode significar apenas que você terá um problema ainda maior para administrar.
Hoje, os editores brasileiros na maioria das vezes pagam um bom dinheiro de adiantamento pelos direitos de obras em inglês e investem na sua tradução para publicar o livro no mercado menor (português), com os custos do livro impresso. Ao criar o Copacabana, minha ideia foi fazer o contrário. Investir na tradução de obras produzidas no mercado menor e vender a obra para o mercado maior, o que é permitido no formato digital, se você abrir mão do desejo de publicar livros impressos (o que no futuro, a meu ver, acontecerá de qualquer maneira). No limite desse cenário, que tem o mesmo sentido de tudo o que acontece no meio digital, não fará mais sentido vender direitos para publicar livros nos territórios. Cada editor publicará seus livros na rede mundial. O mercado de direitos autorais entre países estaria, dessa forma, com os dias contados.
Por que as editoras já não fazem livros exclusivamente digitais? Porque elas possuem custos de operação muito altos desde que publicam livros impressos e têm administrar seu vasto catálogo. Como a receita com livros digitais ainda é pequena, a combinação de custos altos e receita menor com a falência do mercado do livro impresso significa a morte. O desafio de sobrevivência para as editoras convencionais é muito grande. Além do encarecimento do livro impresso, derivado de vendas em menor escala, diante de livros digitais a preços bem menores e facilidades maiores, os editores terão que lidar as questões de direitos autorais. Os contratos com os autores vencem a cada período de quatro a sete anos. Breve haverá um enorme esforço de renegociação para a manutenção do catálogo, já que os autores, com a possibildiade de ir para o mercado digital em novas condições, irão querer uma fatia maior dos ganhos à medida em que os contratos forem vencendo. Sobretudo squando os preços forem abaixo, levados pelo emrcado digital, como já acontece no mercado americano.
Enquanto os editores precisam lidar com a relação de preços entre livro impresso e livro digital, uma editora exclusivamente digital é livre para publicar seus livros a preços baixos. E, na internet, eles precisam ser baixos. Não por conta da concorrência, mas da pirataria, que no meio digital é muito fácil. Ao contrário do que se acredita, os piratas não gostam de entregar nada de graça, porque para piratear, eles também ter de trabalhar. o que eles fazem é vender a mesma coisa que o editor (comoa contecia com filmes, por exemplo) a preços muito mais baixos. A única forma de desestimular esse tipo de pirataria eé vender também o seu produto a um preço muito baixo.
Existem poucos autores com conhecimento e paciência para se autopublicarem, uma das possibilidades apontadas como tendência no mercado digital. Eu mesmo procurei ver como a coisa funcionava no smashwords, utilizando um de meus romances como piloto. Todo o processo de edição do livro, que é automatizado pelo sistema, exige um tipo de paciência que um autor normalmente não tem. o pior, porém, não é isso. No smashwords, assim como em outros serviços do gênero, não há garantia de que seu livro, uma vez finalizado, será publicado na Amazon ou algum outro vendedor importante - há uma seleção interna dos títulos. E, na hora de fazer a transferência bancária do pagamento, há uma incidência de imposto tão alta que equivale ao dinheiro que um autor normalmente deixa com uma editora. Ou seja, é muito trabalho sem o prestígio de uma editora nem um ganho financeiro importante.
Acredito que o futuro das editoras exige que elas sejam muito leves (nos custos), ágeis (na capacidade de produzir títulos instantâneos) e capazes de negociar com autores a longo prazo, para eliminar a constante renegociação de contratos. Não é fácil um editor exclusivamente digital entrar nos grandes vendedores, como a Saraiva, a Cultura, o Google e a Amazon, onde a Copacabana está. Nem um autror fazer isso sozinho. A terceira via é o selo Copacabana. Por isso, acredito que essa seja uma boa fórmula para ser tentada. E o tempo mostrará sua validade.
quarta-feira, 7 de agosto de 2013
Por que Bezos comprou o Post?
Jeff Bezos, dono da Amazon, comprou o Washington Post, um dos mais tradicionais jornais americanos. Pagou 250 milhões de dólares - pouco, se pensarmos no que valiam as empresas de mídia até pouco tempo atrás. Muito, talvez, para um modelo que vai tendo cada vez mais dificuldades com o avanço do meio digital sobre o impresso e suas consequências. Porém, não é o valor que chama a atenção nesse negócio. Por que Bezos, o visionário que entendeu antes de todo mundo o negócio de cauda longa na internet, e que demoliu o mercado convencional do livro e das livrarias no mercado americano com seu site de compras pela internet e o Kindle, compraria um velho jornal - e como pessoa física? Eis a questão.
Ao anunciar o negócio, os donos do Post, um jornalão dirigido há 80 anos pela mesma família, e que teve seus dias de glória décadas atrás, quando suas reportagens derrubaram o presidente Nixon, disseram que com a redução de custos sabiam que podiam manter o jornal por longo tempo. Porém, não viam como fazê-lo crescer novamente. E que, com Bezos, um ícone da imprensa americana teria maiores possibilidades. Ou seja, teria futuro. Um extraordinário realismo, ou desapego, demonstração de humildade? Talvez tenha sido, mais que tudo, a sensação de impotência de quem não é capaz de enxergar mais à frente.
Sabemos que a imprensa não pode nem vai desaparecer. A questão é como ela se amoldará a novos tempos e uma nova maneira de pensar. Uma era em que os leitores respondem ao veículo em tempo real, em que se pode saber o que eles querem realmente saber, além do que o editor quer dizer, e onde se pode ter acesso imediato à informação. Uma era em que o alcance de uma publicação não depende de haver uma banca de jornal nas redondezas, ou de um sistema de assinatura em que folhas de papel chegam pelo correio. Tudo isso está virando passado rapidamente.
Bezos deve ver um futuro para a imprensa, algo que não acontece com os editores tradicionais, muito acostumados aos velhos paradigmas. O próprio nome (imprensa) já não faz muito sentido para designar o negócio da informação. Mas ele não mudou muito em sua essência e não deverá mudar.
Se os antigos editores têm algo a aprender com os tycoons da era digital, esses também podem aproveitar o que o velho mundo tem a ensinar. Que a imprensa existe. Que ela depende de credibilidade, algo que o Post tem de sobra. Que a credibilidade depende da separação entre igreja e Estado - conteúdo editorial e publicidade. Que a informação gabaritada é essencial, formadora de opinião pública e um pilar da democracia e da própria sociedade onde vivemos. O que os velhos editores não sabem, apenas, é como financiar o mesmo serviço num ambiente em que a publicidade convencional se encontra em queda, o meio papel vai ficando caro, e as receitas são insuficientes para manter os mesmos custos de produção que davam no veículo impresso.
É muito provável que Bezos tenha uma ideia do que fazer a respeito, caso contrário não compraria o Post - seria como comprar uma fábrica de discos de vinil. Todos os editores buscam as respostas que ele provavelmente acha que tem na cabeça e devem estar ansiosos para ver o que um pioneiro do novo mundo fará com um negócio tido como decadente.
A primeira coisa que Bezos fez foi convidar os donos e principais editores do Post para continuar em suas cadeiras. Ele sabe que a imprensa depende ainda da mesma coisa: editores e repórteres com credibilidade. Foi isso o que ele comprou. E os próprios editores esperam que ele faça o negócio novamente crescer no ambiente onde ele enxerga coisas que eles não estão enxergando.
Ninguém tem a resposta muito certa sobre qual modelo fará a imprensa se reafirmar. Por mais que tenha uma visão a respeito, Bezos deve saber que não é mais do que uma visão. Só temos certeza sobre o que vai acontecer depois que tudo acontece e temos na mão o resultado. O mundo digital é muito mutante. Porém, alguns caminhos estão delineados.
É preciso manter a separação entre igreja e estado, mesmo num meio em que o dinheiro parece vir da possibilidade de monetizar tudo aquilo que se clica dentro de um computador. A saída certaemnte está na cobrança pelo serviço, um modelo de assinaturas que não é diferente de quando foram criadas as assinaturas para jornais e revistas, o que aconteceu no Barsil cerca de 40 anos atrás.
Nessa época, os editores se deparavam com as mesmas questões de hoje, no mercado impresso. Como ter uma receita maior e estável de publicidade? Garantindo um público permanente, ou seja, a circulação paga. Para isso, era preciso inventar um sistema sólido de assinaturas, o que não era um problema técnico, mas psicossocial: era preciso convencer as pessoas de que elas precisam pagar antes pela assinatura de um serviço que receberiam ao longo do tempo. E isso funcionou para revistas e jornais impressos, que chegavam em casa pelo correio.
Hoje o dilema é o mesmo, só que numa mídia diferente. É preciso convencer as pessoas de que, para ter um serviço de informação confiável, num ambiente cheio de informações inidôneas como a internet, o consumidor terá de pagar. Provavelmente os custos das empresas terão de se adequar a um novo patamar de receitas. E os publishers deverão ter conteúdo exclusivo e importante para que sua carteira de assinantes se mantenha ou venha a crescer num ambiente em que, em compensação, muito mais gente terá acesso à informação.
No Brasil, os jornais - mesmo os ditos ''nacionais'' - sempre foram regionais. Folha de S. Paulo, por exemplo, sempre circulou em grande parte em São Paulo; O Globo e Jornal do Brasil são publicações do Rio de Janeiro. Na internet, a possibilidade de ter um assinante em qualquer lugar do Brasil cresce exponencialmente para os veículos tradicionais. Em tese, isso pode compensar uma perda de receita com o declínio da venda avulsa em bancas e um valor mais baixo para o serviço de assinatura. E a publicidade, ainda que num patamar de valores também mais baixo, pode voltar.
Será certamente uma transição complicada para veículos tradicionais que ainda têm de bancar o papel e uma grande oportunidade para quem está começando do zero. Com certeza, Bezos quer estar lá do outro lado, depois que essa fase de transição acabar.
sexta-feira, 12 de julho de 2013
Uma lição que é um soco na cara
Não é à toa que se diz que determinadas lições são como um soco na cara.
O brasileiro Anderson Silva, nocauteado pelo americano Chris Weidman em sua mais recente luta pelo MMA, deve conhecer agora o valor do ditado. Recebeu literalmente um direto no queixo.
Silva protagonizou um dos maiores papelões da história. Ao lutar com Weidman, e fazer o que fez - baixar a guarda, provocar e fazer pouco do adversário - talvez quisesse imitar Muhammad Ali, um grande lutador, mas que fazia a mesma coisa. Só que Silva, diferente de Ali, tomou um golpe certeiro que o mandou à lona já desacordado.
Muhammad Ali levou tantos golpes na cabeça que ficou precocemente incapaz de falar e se mover direito - logo ele, que dizia, no seu estilo falastrão, picar como uma abelha e se mover como a borboleta. Ao menosprezar o adversário, o falastrão Silva mostrou uma empáfia que é mais comum ver em americanos que em brasileiros. E levou um nocaute exemplar.
Nessa noite, Weidman foi mais brasileiro que o próprio Silva. Enquanto o brasileiro recebeu 1,4 milhão de reais para baixar os braços e dançar, antes de ir à lona, a bolsa do americano para lutar foi de cerca de 54 mil reais. Pelo nocaute, Weidman recebeu um bônus de mais 113 mil reais. Com o dinheiro, disse que pretende comprar uma casa. A sua, em Nova York, virou um esgoto e foi completamente perdida com a passagem do furacão Sandy, em 2012.
Transformado em estrela, Silva esqueceu de onde ele vem - negro, brasileiro, e lutador de vale tudo por falta de opção. Weidman é branco, mas lutou como negro, como pobre, como sem-teto. O seu braço tatuado acertou não apenas Silva, mas tudo aquilo que ele passou a representar: o rico, o soberbo, o anti-ídolo de um espetáculo que não tem muito de esporte. É um show sanguinolento que nesse caso, excepcionalmente, deu um exemplo útil.
Um lição, repito, pode ser um soco na cara. E há momentos em que um soco na cara pode ser uma boa lição.
quinta-feira, 11 de julho de 2013
Eu e o Thales de "Amor à Vida"
O dramaturgo Walcyr Carrasco resolveu botar como protagonista da sua novela das nove na TV Globo um certo "Thales", assim, com H mesmo, e "aspirante" a escritor. Na novela, Thales se apaixona por uma moça rica, que está com câncer. E segue o drama. Qualquer semelhança seria mera coincidência?
Walcyr é um amigo de longa data. Trabalhamos juntos, quando eu era editor da VIP, no final dos anos 1990. Foi ele quem assinou a apresentação de meu primeiro romance, Filhos da Terra, em 1998. E me indicou para a Editora Objetiva, onde tenho publicado meu mais recente romance, Amor e Tempestade. Walcyr sabe que eu já tive mulher e namorada ricas. Certa vez, diante de minhas dificuldades de lidar com certos aspectos do relacionamento com os ultra-ricos, me recomendou a leitura de um livro: Suave é a Noite, de Scott Fitzgerald. Que eu recomendo também, como um grande livro, ou para quem quer ter uma pista de onde, pode ser, irá a novela.
Não posso dizer que sou o personagem do Walcyr. Talvez nem ele mesmo possa dizer. É indefinível, muitas vezes, o limite entre a ficção e a realidade na imaginação de um autor. Agradeço no entanto a homenagem do nome e que sua inspiração tenha feito, na cabeça de seu criador, o personagem ser o herói da história, e não um bandido ou um vagabundo qualquer. Quanto à namorada com câncer, me lembra mais a história de outro amigo que eu e Walcyr temos em comum. Este amigo conheceu a mulher dele na mesma noite em que ela descobriu que tinha a doença. Antes um namorador contumaz, ele permaneceu fiel ao relacionamento. Um mês depois de ser considerada curada, sua mulher ficou grávida. O menino hoje tem dois anos, e recentemente eles fizeram sua primeira viagem juntos de férias, depois de quatro anos de relacionamento. Um final extraordinário, melhor do que qualquer ficcionista poderia imaginar. Outra pista aí de onde pode ir o folhetim global.
O escritor dá medo nas pessoas ao seu redor. Medo porque ele processa tudo o que vê e utiliza as pessoas mais próximas, muitas vezes, como material de trabalho. Muitas pessoas receiam o que possa sair de sua cabeça, ou melhor, de seu computador. Uma vez, um ex-cunhado meu, juiz de Direito, me perguntou como as pessoas se defendiam de escritores, depois de observar que eu "acertava muitas contas" naquilo que escrevia. Eu disse, simplesmente: aceitando.
É fácil falar isso, para um autor, mas nem tanto quanto se está do outro lado. O escritor pode também ser "vítima" de um amigo ou colega. Sorte que escritores em geral não se dão muito bem entre si - só se interessam pelo que eles próprios estão escrevendo. Preferem ser personagens de si mesmos.
Walcyr é um amigo de longa data. Trabalhamos juntos, quando eu era editor da VIP, no final dos anos 1990. Foi ele quem assinou a apresentação de meu primeiro romance, Filhos da Terra, em 1998. E me indicou para a Editora Objetiva, onde tenho publicado meu mais recente romance, Amor e Tempestade. Walcyr sabe que eu já tive mulher e namorada ricas. Certa vez, diante de minhas dificuldades de lidar com certos aspectos do relacionamento com os ultra-ricos, me recomendou a leitura de um livro: Suave é a Noite, de Scott Fitzgerald. Que eu recomendo também, como um grande livro, ou para quem quer ter uma pista de onde, pode ser, irá a novela.
Não posso dizer que sou o personagem do Walcyr. Talvez nem ele mesmo possa dizer. É indefinível, muitas vezes, o limite entre a ficção e a realidade na imaginação de um autor. Agradeço no entanto a homenagem do nome e que sua inspiração tenha feito, na cabeça de seu criador, o personagem ser o herói da história, e não um bandido ou um vagabundo qualquer. Quanto à namorada com câncer, me lembra mais a história de outro amigo que eu e Walcyr temos em comum. Este amigo conheceu a mulher dele na mesma noite em que ela descobriu que tinha a doença. Antes um namorador contumaz, ele permaneceu fiel ao relacionamento. Um mês depois de ser considerada curada, sua mulher ficou grávida. O menino hoje tem dois anos, e recentemente eles fizeram sua primeira viagem juntos de férias, depois de quatro anos de relacionamento. Um final extraordinário, melhor do que qualquer ficcionista poderia imaginar. Outra pista aí de onde pode ir o folhetim global.
O escritor dá medo nas pessoas ao seu redor. Medo porque ele processa tudo o que vê e utiliza as pessoas mais próximas, muitas vezes, como material de trabalho. Muitas pessoas receiam o que possa sair de sua cabeça, ou melhor, de seu computador. Uma vez, um ex-cunhado meu, juiz de Direito, me perguntou como as pessoas se defendiam de escritores, depois de observar que eu "acertava muitas contas" naquilo que escrevia. Eu disse, simplesmente: aceitando.
É fácil falar isso, para um autor, mas nem tanto quanto se está do outro lado. O escritor pode também ser "vítima" de um amigo ou colega. Sorte que escritores em geral não se dão muito bem entre si - só se interessam pelo que eles próprios estão escrevendo. Preferem ser personagens de si mesmos.
Não é meu caso. Tenho em Walcyr um grande amigo, não importa o que escreva. Torço para que a novela continue fazendo muito sucesso. E que o Thales de Amor À Vida tenha a sorte, como eu, de um dia ser feliz no amor e, também, na literatura.
segunda-feira, 1 de julho de 2013
Um povo gigante
A festa tinha tudo para dar errado. A seleção brasileira vinha mal, o povo insatisfeito resolveu usar o futebol para manifestar todo seu desagrado, e havia um certo perigo de, ao expôr nossas mazelas, passarmos vergonha diante do público mundial, tanto no plano diplomático quanto esportivo.
E o que aconteceu foi bem o contrário. O Brasil já deu grandes exemplos ao mundo de civilidade. Primeiro, quando refez de forma pacífica sua cidadania e a democracia, com o movimento das Diretas Já. Depois, organizou sua economia, recolocando ordem onde é necessária. Mais recentemente, com o recado das urnas, estimulou a promoção social da massa mais pobre e marginalizada. E agora deu mais uma demonstração ao mundo de que não são os governantes que dirigem o país. Eles são apenas delegados, com mandato definido e contas a prestar. Quem manda no Brasil é o povo brasileiro. E o povo brasileiro sabe o que faz.
A Copa das Confederações acabou sendo uma festa política, de cidadania e foi coroada também por uma grande festa esportiva. Foi especial ver o povo brasileiro defender as causas em que acredita e lembrar seus governantes dos compromissos que ainda falta cumprir - transporte, segurança, saúde, educação, ética na política. Claro, sempre que há manifestações de massa, aparecem os oportunistas. Oportunistas são os baderneiros que aproveitam a multidão para fazer arruaça. São os partidos de direita e esquerda que querem pegar carona no que não têm - a força popular. E os políticos, como a presidente Dilma, que fez de conta que as manifestações eram a favor do governo, e usou o movimento para propor um plebiscito que nunca apareceu nas reivindicações populares, para poder fazer uma pseudo-reforma política que é do interesse apenas de um minoria dentro do seu próprio partido.
O povo brasileiro, porém, não pode ser confundido com essas minorias de oportunistas e vândalos. A voz do povo falou mais alto, com grandes manifestações cívicas. Foram as milhares de pessoas que saíram ordeiramente às ruas e cantaram o hino nacional em cima da laje do Congresso. E, nos estádios, levaram o hino até o fim, fazendo valer a lei brasileira - hino nacional, quando cantado, é até o fim. O povo brasileiro passou por cima da arrogância da Fifa e seu presidente, expoente máximo de uma entidade moralmente questionada por um passado infestado de denúncias de corrupção, mas que acha que pode dar lição de moral a um povo inteiro (e tomou uma vaia exemplar).
Por fim, o Brasil mostrou grandeza também em campo. Seu futebol renasceu das cinzas, vencendo de forma categórica a seleção cujos jogadores disseram que eram "o Brasil do presente". O Brasil, em campo, mostrou aos estrelados campeões espanhóis a cor da camisa do Brasil de verdade. Venceu com sobras uma Espanha que, melhor que tudo, não foi mal - ao contrário, mostrou seu futebol de sempre, vencedor e tão decantado pela imprensa esportiva. O Brasil não venceu bem porque a Espanha jogou mal. Venceu mostrando que há um padrão superior. Um futebol ao mesmo tempo competitivo e bonito e que, acima de tudo, não dá muitas chances ao melhor adversário.
O Brasil sofrerá derrotas e terá dias ruins. Porém, a força coletiva mostra que este é um país capaz de sempre se levantar. E que caminha rumo a um sonho de milhões de pessoas, desejosas de fazê-lo cada vez mais real. Quando acredita em si mesmo, e levanta suas bandeiras, dentro e fora de campo, o povo brasileiro é gigante.
E o que aconteceu foi bem o contrário. O Brasil já deu grandes exemplos ao mundo de civilidade. Primeiro, quando refez de forma pacífica sua cidadania e a democracia, com o movimento das Diretas Já. Depois, organizou sua economia, recolocando ordem onde é necessária. Mais recentemente, com o recado das urnas, estimulou a promoção social da massa mais pobre e marginalizada. E agora deu mais uma demonstração ao mundo de que não são os governantes que dirigem o país. Eles são apenas delegados, com mandato definido e contas a prestar. Quem manda no Brasil é o povo brasileiro. E o povo brasileiro sabe o que faz.
A Copa das Confederações acabou sendo uma festa política, de cidadania e foi coroada também por uma grande festa esportiva. Foi especial ver o povo brasileiro defender as causas em que acredita e lembrar seus governantes dos compromissos que ainda falta cumprir - transporte, segurança, saúde, educação, ética na política. Claro, sempre que há manifestações de massa, aparecem os oportunistas. Oportunistas são os baderneiros que aproveitam a multidão para fazer arruaça. São os partidos de direita e esquerda que querem pegar carona no que não têm - a força popular. E os políticos, como a presidente Dilma, que fez de conta que as manifestações eram a favor do governo, e usou o movimento para propor um plebiscito que nunca apareceu nas reivindicações populares, para poder fazer uma pseudo-reforma política que é do interesse apenas de um minoria dentro do seu próprio partido.
O povo brasileiro, porém, não pode ser confundido com essas minorias de oportunistas e vândalos. A voz do povo falou mais alto, com grandes manifestações cívicas. Foram as milhares de pessoas que saíram ordeiramente às ruas e cantaram o hino nacional em cima da laje do Congresso. E, nos estádios, levaram o hino até o fim, fazendo valer a lei brasileira - hino nacional, quando cantado, é até o fim. O povo brasileiro passou por cima da arrogância da Fifa e seu presidente, expoente máximo de uma entidade moralmente questionada por um passado infestado de denúncias de corrupção, mas que acha que pode dar lição de moral a um povo inteiro (e tomou uma vaia exemplar).
Por fim, o Brasil mostrou grandeza também em campo. Seu futebol renasceu das cinzas, vencendo de forma categórica a seleção cujos jogadores disseram que eram "o Brasil do presente". O Brasil, em campo, mostrou aos estrelados campeões espanhóis a cor da camisa do Brasil de verdade. Venceu com sobras uma Espanha que, melhor que tudo, não foi mal - ao contrário, mostrou seu futebol de sempre, vencedor e tão decantado pela imprensa esportiva. O Brasil não venceu bem porque a Espanha jogou mal. Venceu mostrando que há um padrão superior. Um futebol ao mesmo tempo competitivo e bonito e que, acima de tudo, não dá muitas chances ao melhor adversário.
O Brasil sofrerá derrotas e terá dias ruins. Porém, a força coletiva mostra que este é um país capaz de sempre se levantar. E que caminha rumo a um sonho de milhões de pessoas, desejosas de fazê-lo cada vez mais real. Quando acredita em si mesmo, e levanta suas bandeiras, dentro e fora de campo, o povo brasileiro é gigante.
quinta-feira, 27 de junho de 2013
Escreva Bem volta como curso regular
A partir do segundo semestre, quero dar de forma regular o curso Escreva Bem, Pense Melhor, depois da boa experiência que tive ao inaugurá-lo em janeiro, na Casa do Saber.
Primeiro, pelo interesse: num mês de férias, e meio desacreditado a princípio, o curso acabou tendo mais procura do que se esperava. Tanto que, da sala normal da Casa do Saber, que superlotou no primeiro dia de curso, com um grande número de inscrições adicionais na última hora, tivemos de ser transferidos para o auditório a partir do segundo dia.
Constato que hoje as pessoas têm uma necessidade muito grande de escrever, por conta da internet. Tanto no âmbito privado quanto profissional. A educação no Brasil é muito falha no que diz respeito à redação, e o processo de escrever tem suas dificuldades naturais, que envolvem a capacidade de organização mental e expressão do indivíduo.
Um das coisas estranhas que aconteceram na Casa do Saber foi me chamarem de "professor". Sou de uma família cheia de professores, uma dúzia deles, entre tios e primos. Minha mãe era professora. Mas eu não sou professor, algo que para mim tem algo de acadêmico. Acho que essa é justamente a diferença do Escreva Bem, Pense Melhor, para outros cursos de redação. Como autor de livros de reportagem e de ficção, além do meu trabalho como jornalista e editor, sempre tive de atrair o leitor - disputamos seu tempo e atenção com outras coisas que podem ser do seu interesse. É algo muito diferente de escrever um texto, por exemplo, que será lido obrigatoriamente por um examinador, embora esse texto também tenha seus desafios.
Saber que o leitor não tem a obrigação de ler o que a gente escreve nos força a sermos bons, realmente bons. Para sermos lidos, precisamos fazer algo sempre importante, interessante, divertido - ou as três coisas ao mesmo tempo. É isso o que transforma alguém que escreve realmente num profissional de mercado, ou em alguém que, mesmo sem objetivos profissionais, deseja ter leitores espontâneos.
Além dos meus próprios livros, ao longo de minha carreira como editor de jornal, revistas e livros, tive o desafio de formar ou orientar centenas de profissionais que necessitavam escrever. Daí surgiu minha experiência nisso. Nunca fiz curso de pedagogia. Minha prática na orientação de escrever vem do dia a dia das redações e no trato direto com autores e jornalistas.
Estou dividindo o curso em dois módulos. O primeiro é o básico, no qual apresento as questões elementares da redação, que envolve muito mais do que simplesmente escrever. Pelo curso, entramos no processo mental de escrever, o que acaba se tornando útil para a vida de uma forma mais ampla: como definir o que é mais importante; o encadeamento das ideias, para uma apresentação clara; como concluir de uma forma interessante ou de impacto.
Pelo curso, procuro mostrar que a clareza mental é algo treinado: aprendemos a definir o mais importante e apresentar as ideias de uma forma organizada. Com isso, podemos nos expressar melhor. E isso é cada vez mais importante tanto na vida pessoal como no meio corporativo.
Como para escrever é preciso utilizar nossa motivação e a bagagem pessoal, que é tanto de informação quanto cultural e afetiva, o exercício de escrever é também um processo de autoconhecimento, aspecto também discutido ao longo das aulas, asim como de onde vem a inspiração e a criatividade.
O segundo módulo do Escreva Bem, Pense Melhor será mais dedicado às formas literárias de escrever e a workshops. Os elementos do módulo anterior são reutilizados de forma a que se possa colocar os conceitos em prática e trabalhar em textos com cunho mais pessoal ou criativo.
Cada curso é um pouco diferente do outro. Escrever é um processo artesanal, que depende completamente do indivíduo; cada curso segue conforme seus participantes e procuro atender ao máximo as dúvidas e problemas individuais. Essa é a parte mais interessante e que torna cada curso um rico aprendizado também para mim.
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