quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Copacabana na Amazon e um momento vital para o mercado do livro



A partir de hoje, começam a entrar na Amazon os livros com o selo Copacabana, em português e inglês, para venda no Brasil e no mundo inteiro. O primeiro título em inglês é The Man Who Spoke With God, lançado em português no mercado brasileiro em 2003, onde teve duas edições, e também editado por duas vezes em Portugal. A partir de agora, será possível colocar obras de autores brasileiros em português e inglês no mercado mundial, com a produção de livros exclusivamente digitais. Uma iniciativa que chega num momento vital para o mercado do livro.

Utilizei meus próprios livros de backlist para abrir o que acho ser um novo modelo editorial. Ninguém sabe como serão as editoras no futuro, mas os elementos estão todos sobre a mesa para fazermos nossas apostas. A do selo Copacabana vem de uma visão de como o mercado será daqui em diante, com o crescimento do consumo de obras digitais. Ela é resultado da minha experiência nos três anos em que dirigi o selo Benvirá, na Editora Saraiva, que deixei em março para levar isto adiante. A meu ver, em um ou dois anos não fará mais sentido comprar um livro impresso a 35 reais, e que na maior parte das vezes terá de vir pelo correio, por não estar disponível na livraria. Será muito mais lógico clicar no nosso kindle, ipad ou outro dispositivo móvel com um aplicativo e comprar o mesmo livro a 9,90 e começar a ler o texto imediatamente.

A nova lógica do mercado é simples assim. Tão simples, que me parece inescapável. A operação de imprimir livros, administrar estoques e enviar pacotes de obras impressas a praças distantes certamente logo será algo economicamente inviável. Essa é a razão da debacle das livrarias no Estados Unidos, onde o mercado digital foi pioneiro e se torna cada vez mais importante. Livrarias terão de fazer eventos ou vender outros produtos - como o próprio Kindle - para sobreviver. Isto já está acontecendo. Na Saraiva, por exemplo, com exceção dos livros mais vendidos no mês, há pouca variedade do que escolher. Quem quiser um livro diferente do que está nas listas certamente vai ter que esperar por uma encomenda junto à editora, feita pela livraria, ou diretamente de casa, entrando pelo computador na pontocom.

As grandes editoras internacionais certamente já estão vendo uma mudança enorme na mecânica do mercado. Elas têm procurado adiar esse momento como podem e se preparam com fusões que permitem a redução de custos e a acumulação de conteúdo, mas isso não resolve o essencial, que é a mudança de paradigma que marca a extinção de toda uma indústria, como já aconteceu com a fonográfica. Você pode reduzir os custos, mas não tanto quanto é necessário. E a criação de catálogos enormes com contratos antigos, baseados na era do livro impresso, pode significar apenas que você terá um problema ainda maior para administrar.

Hoje, os editores brasileiros na maioria das vezes pagam um bom dinheiro de adiantamento pelos direitos de obras em inglês e investem na sua tradução para publicar o livro no mercado menor (português), com os custos do livro impresso. Ao criar o Copacabana, minha ideia foi fazer o contrário. Investir na tradução de obras produzidas no mercado menor e vender a obra para o mercado maior, o que é permitido no formato digital, se você abrir mão do desejo de publicar livros impressos (o que no futuro, a meu ver, acontecerá de qualquer maneira). No limite desse cenário, que tem o mesmo sentido de tudo o que acontece no meio digital, não fará mais sentido vender direitos para publicar livros nos territórios. Cada editor publicará seus livros na rede mundial. O mercado de direitos autorais entre países estaria, dessa forma, com os dias contados.

Por que as editoras já não fazem livros exclusivamente digitais? Porque elas possuem custos de operação muito altos desde que publicam livros impressos e têm administrar seu vasto catálogo. Como a receita com livros digitais ainda é pequena, a combinação de custos altos e receita menor com a falência do mercado do livro impresso significa a morte. O desafio de sobrevivência para as editoras convencionais é muito grande. Além do encarecimento do livro impresso, derivado de vendas em menor escala, diante de livros digitais a preços bem menores e facilidades maiores, os editores terão que lidar as questões de direitos autorais. Os contratos com os autores vencem a cada período de quatro a sete anos. Breve haverá um enorme esforço de renegociação para a manutenção do catálogo, já que os autores, com a possibildiade de ir para o mercado digital em novas condições, irão querer uma fatia maior dos ganhos à medida em que os contratos forem vencendo. Sobretudo squando os preços forem abaixo, levados pelo emrcado digital, como já acontece no mercado americano.

Enquanto os editores precisam lidar com a relação de preços entre livro impresso e livro digital, uma editora exclusivamente digital é livre para publicar seus livros a preços baixos. E, na internet, eles precisam ser baixos. Não por conta da concorrência, mas da pirataria, que no meio digital é muito fácil. Ao contrário do que se acredita, os piratas não gostam de entregar nada de graça, porque para piratear, eles também ter de trabalhar. o que eles fazem é vender a mesma coisa que o editor (comoa contecia com filmes, por exemplo) a preços muito mais baixos. A única forma de desestimular esse tipo de pirataria eé vender também o seu produto a um preço muito baixo.

Existem poucos autores com conhecimento e paciência para se autopublicarem, uma das possibilidades apontadas como tendência no mercado digital. Eu mesmo procurei ver como a coisa funcionava no smashwords, utilizando um de meus romances como piloto. Todo o processo de edição do livro, que é automatizado pelo sistema, exige um tipo de paciência que um autor normalmente não tem. o pior, porém, não é isso. No smashwords, assim como em outros serviços do gênero, não há garantia de que seu livro, uma vez finalizado, será publicado na Amazon ou algum outro vendedor importante - há uma seleção interna dos títulos. E, na hora de fazer a transferência bancária do pagamento, há uma incidência de imposto tão alta que equivale ao dinheiro que um autor normalmente deixa com uma editora. Ou seja, é muito trabalho sem o prestígio de uma editora nem um ganho financeiro importante.

Acredito que o futuro das editoras exige que elas sejam muito leves (nos custos), ágeis (na capacidade de produzir títulos instantâneos) e capazes de negociar com autores a longo prazo, para eliminar a constante renegociação de contratos. Não é fácil um editor exclusivamente digital entrar nos grandes vendedores, como a Saraiva, a Cultura, o Google e a Amazon, onde a Copacabana está. Nem um autror fazer isso sozinho. A terceira via é o selo Copacabana. Por isso, acredito que essa seja uma boa fórmula para ser tentada. E o tempo mostrará sua validade.


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