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domingo, 3 de janeiro de 2010

Infeliz ano novo


Razões para comemorar no meio das tragédias

Feliz ano novo, dizem todos nesta época do ano. E no noticiário vemos somente a tragédia: a chuva que faz descer os morros que levam as casas que soterram as pessoas. Fim de ano, revisão de vida: agradecemos os que estamos vivos, pensamos nas perdas, tentamos olhar adiante. Acima de tudo, procuramos não perder a alegria.

Vejo as fotos das pessoas que tentam ajudar em meio ao caos: os bombeiros, os vizinhos, os anônimos e desconhecidos que surgem de toda parte, solidários na tragédia, irmanados no desastre. Um homem que leva o corpo de uma menina morta na enchente. A pousada no paraíso que virou inferno. As chuvas mataram mais que o acidente célebre com o Bateau Mouche no Rio de Janeiro, outro acidente que fez um reveillon se tornar inesquecível, é o que dizem as estatísticas.

Por quê o período de festas parece ser cada vez mais trágico? O mundo contemporâneo é superlativo em tudo. Milhões de pessoas se deslocam para se divertir. Quando milhões se deslocam, as estatísticas crescem em grande proporção para todos os lados – acidentes de todo tipo, congestionamentos, confusão.

O crescimento das cidades e o consumo dos recursos naturais também vem provocando as forças fenomenais da natureza. A civilização ocidental vem roubando o equilíbrio da Terra, que devolve (ou se vinga) na mesma medida. O planeta aquecido pela ação predatória do ser humano é um planeta de chuva: o sol tórrido logo é encoberto pelas nuvens que procuram repôr a vida com a água. O homem mata a natureza e a natureza em contragolpe mata o homem com violência descomunal.

Quando eu era criança, chegar em 2000 – Século XXI – era coisa de ficção científica. Encerramos a primeira década deste século cabalístico para ver que o mundo não mudou tanto assim, embora tudo seja em maior escala. O homem continua tentando dominar a natureza, inutilmente. A intolerância e a selvageria sem limites ainda desafiam os iluministas que procuram trazer a harmonia à sociedade. Por isso, o tema mais importante deste século não é a tecnologia, mas o equilíbrio ecológico e o desenvolvimento sustentável.


Ainda tentamos nos alegrar com nossas pequenas vitórias e o fato de ainda estarmos vivos, enquanto a tragédia, a pobreza e a inconsequência coletiva ainda ameaçam a paz. Comemoramos porque no mundo imperfeito ainda podemos nos agarrar à esperança trazida por qualquer amor – e qualquer flor, qualquer saúde, qualquer felicidade ganham importância como nunca.