As mulheres foram às ruas prostestar contra a mudança na lei que dificulta o aborto legal em casos de estupro. O autor do projeto? Eduardo Cunha. Deputado do PMDB, presidente da Câmara. O mesmo que recebia dinheiro escuso em troca de influência e o mandava para a Suíça. O mesmo que está tão enrolado nas falcatruas do governo federal quanto o próprio governo.
Não é coincidência. Cunha revela o que está por trás de todas as suas ações. Trata-se de uma coisa só, alarmante e disseminada na elite e no Congresso brasileiro. É o desprezo pela moral.
Ele não se importa com os outros. Não sente o peso da responsabilidade pelo que faz. Não se importa com a mulher que entra no hospital e não pode receber assistência depois de ser violentada, porque não cumpriu "exigências legais". Que o hospital possa ser legalmente punido se lhe der assistência e a "pílula do dia seguinte".
Cunha não se importa com os brasileiros que passam fome ou lutam com dificuldade. Nem com o fato de que sua maneira de agir deturpa todo o sentido do sistema representativo e democrático.
Cunha não se importa de usar o cargo que recebeu para trocar favores com o governo, no sistema de proteção mútua, em que usa sua posição no Congresso para proteger Dilma, e recebe apoio em troca para protegê-la. Nem de ser o homem mais odiado do país.
A corrupção é simbiótica. Uns dependem dos outros. Antes dela, porém, vem a falta de moral. É a falta de moral que leva um cidadão num cargo público a trair quem votou nele e defender interesses escusos pensando em si em primeiro lugar. É a falta de moral que leva a acreditar que não há moral e que qualquer ação é justificada. É falta de moral manter o poder apoiado na cumplicidade das negociatas, e não no espírito público, que deveria nortear a nomeação de um representante do povo.
A falta de moral vem antes da falta de ética, antes da desonestidade. A ética é uma forma de conduta balizada pela moral. Assim como a honestidade. Para o indivíduo amoral, não existem barreiras éticas ou legais. Existe apenas o que ele quer.
Na realidade, a falta de moral destrói o indivíduo. Dá a sensação de impunidade, porque o amoral imagina que a moral á sua volta não tem importância. Esse elemento é o que cria um psicopata. Quem despreza a moral, quem despreza o outro, acaba desprezando a lei. Na cabeça dele, Cunha não cometeu nenhum crime, não fez mal a ninguém. A ausência de moral justifica os atos do vigarista, do corrupto, do criminoso, e do louco. Tira-lhe a carga da condenação pública. Assim ele pode dormir tranquilo, fazendo o que faz.
Resta à sociedade mostrar que as coisas não são assim. E colocá-lo no devido lugar.