quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

No ponto em que Dilma está, Collor renunciou

Para quem é mais jovem e não viu, o ponto em que Dilma está agora é o mesmo em que Fernando Collor renunciou. Primeiro presidente eleito em 30 anos, símbolo do último passo da redemocratização após o regime militar, Collor se perdeu em denúncias de corrupção contra seu governo. Seu braço direito, PC Farias, foi pescado em uma série de cobranças de propina a empresários e a crise política fez com que o presidente perdesse rapidamente todo e qualquer apoio político.

Collor decidiu renunciar, porque quando o processo de impeachment é aberto, ele é muito rápido. E ser impedido significava ficar mais tempo com os poderes políticos cassados. Por ter renunciado é que Collor está de volta à política, agora como senador. (Por sinal, não conseguiu ficar longe de mais esta onda de denúncias de corrupção. Parece que não aprendeu nada).

Dilma: o processo não resgata a honra

Assim como Collor, Dilma não aparece recebendo dinheiro de ninguém, nem tem conta na Suíça. O presidente é preservado das negociatas justamente para não deixar suas digitais. Com tanta corrupção à sua volta, porém, Dilma não pode se fazer de inocente. Deixou grassar a corrupção no governo, sem sequer demitir ninguém antes da ação da polícia. Todo o seu governo é pecaminoso.

Ela disse que não vai renunciar. Ao contrário de Collor, talvez não tenha mais pretensões políticas. Ser presidente era o mais que podia aspirar. Não há como o PT salvar sua honra, e a da presidente, nesse tipo de processo. As provas contra os acusados são mais do que cabais.

O único lenimento para Dilma é que os parlamentares que instauram o processo têm suas digitais também por toda parte. O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, é o mais notório e enroscado deles. O PMDB, que ficaria com o governo no caso do afastamento da presidente, é também um pau de galinheiro.

Cunha: não vai melhorar
A decisão está em grande parte na mão do PMDB. Ao resolver tentar ficar com o governo de Dilma, o partido se arrisca a virar uma vidraça ainda maior. Poderia ter protelado as coisas e se ocultado atrás da presidente. Porém, o que se pode imaginar que tenha acontecido entre os caciques do partido é que eles sabem que perdido é perdido e meio. Se for para afundar na sequência de Dilma, que pelo menos estejam com o governo nas mãos.

O Brasil está num quadrante miserável. Pior que a crise é a falta de ideias e de gente com moral para a reconstrução. É preciso recuperar a credibilidade do poder público, e para isso precisamos de um estadista cuja cara ainda não surgiu por aí.

Procura-se.

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