quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Caixa de Amor e a volta da poesia



Não sei quem decretou a morte da poesia, mas essa foi uma lei não escrita que pegou, sem que a gente saiba exatamente a razão. No mercado editorial, repete-se que poesia não vende e por isso poucas editoras passaram a publicá-la. Talvez isso tenha começado como uma simples desculpa de algum editor para se livrar de algum aspirante; depois, como a desculpa se tornou confortável, passou a ser usada tão indiscriminadamente que se consagrou uma dessas verdades não comprovadas que seguem sozinhas como se fossem mesmo verdadeiras.

O resultado disso é que a poesia quase desapareceu das livrarias, mesmo a clássica, aquela que as crianças estudam e leem – ou deveriam ler – na escola. O espaço para a poesia diminuiu, de forma geral, e criou-se essa imagem de que ela é o supérfluo do supérfluo, ou brega, ou uma linguagem arcaica, ultrapassada. Estes tempos, porém, começam a mudar.

Uma das coisas que resolvi, ao começar a Editora Copacabana, é publicar poesia. A internet tem essa vantagem: ela pode se apropriar daqueles nichos abandonados pela indústra do livro de papel, e encontrar os fieis leitores de um gênero carente de seus clássicos e também das novidades. O mito de que não existem mais bons poetas não passa mesmo de mito: eles estão por aí, tão importantes quanto sempre foram.

A poesia é momentânea e tem certo poder catártico; literatura concentrada, vai mais fundo e melhor do que qualquer outra linguagem. É um gênero que eu nunca quis explorar comercialmente, nem tanto por desinteresse dos editores, que nem sabiam que eu escrevia poemas, mas por um certo receio de parecer pretensioso demais e me prejudicar. Entre outros tantos preconceitos, existe o que de um romancista não pode ser um bom poeta. Claro que há muitos exemplos para desmentir essa falácia, como Borges, que não era romancista, mas foi grande contista, além de poeta; e Octavio Paz, que também era ensaísta brilhante. Mas o editor brasileiro é feito dessas verdades; então, para um autor, cuidado.

Escrevo poesia, sempre escrevi, embora sempre como uma atividade espontânea; a poesia surge de repente, é uma expressão mais urgente, como um desabafo. Só mais recentemente tenho me disposto a publicá-la e a pensar nela como um meio de trabalhar melhor a prosa. Sempre fui muito dedicado, no romance, ao desenvolvimento da trama. Dava muito mais atenção ao enredo que à linguagem, com exceção de meu primeiro romance, Filhos da Terra. Ali, o narrador precisava ser caracterizado como um italiano do sertão brasileiro, portanto com uma linguagem própria, e o cuidado com cada palavra fazia sentido.

Hoje penso que posso não apenas fazer poesia, como transferi-la para a prosa, tanto quanto possível. E que existem muitos adeptos que ficaram órfãos do gênero. Por isso, venho recolhendo meus poemas, escritos esparsamente ao longo dos anos em cadernos espanhóis de capa de couro mole, junto com rabiscos, desenhos, cronogramas de trabalho e cálculos de contas a pagar.

O primeiro livro de poemas que vem à luz é Caixa de Amor e de Matar Saudade, que escrevi durante o casamento com Graziela, e narra sem querer a história de um amor. Pedi licença ao objeto dos poemas, mais de um centena deles, escritos ao longo de oito anos maravilhosos, coroados pelo nascimento de um menino que é a luz dos meus dias, e que retrata um tempo que, como todos os tempos, teve começo, meio e fim.

Caixa de Amor e de Matar Saudade, o título, surgiu de uma caixa que Graziela me deixou, quando passou 40 dias trabalhando longe de casa, na cobertura da TV da Olimpíada da Grécia, em 2004. Deixou aos meus cuidados o pequeno João, seu filho, então com oito anos, e com quem eu convivia dentro de casa fazia apenas um mês. Havia na caixa fotos, bilhetes e outras pequenas lembranças. A isto fui juntando poemas que escrevi ao longo do tempo, a maioria deles de amor e de saudade.

Depois, esses poemas foram reunidos num blog fechado, ao qual somente Graziela tinha acesso. Preciso agradecer o desprendimento dela, ao concordar com a publicação dos poemas. E inaugurar esta nova fase de poesia, esperando que ela volte a se espalhar e encha com o significado de um grande amor outros corações, mesmo os desavisados, que poderão ser tocados com a revelação de um material que, mesmo sendo tão íntimo, diz respeito a todos os relacionamentos, por conseguinte a todos nós.

http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/4692695/caixa-de-amor-e-de-matar-saudade/

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