É meia noite quando desembarco no aeroporto de Beauvois
Tilly, a uma hora de carro de Paris, vindo da cidade do Porto, em Portugal. Fiz
exame de Covid e assinei a “declaração de honra” de não estar doente, exigida
pelas autoridades francesas até a semana passada, e chega a ser desapontador
não ver ninguém nos guichês da fronteira. Não pedem nem documento, quanto mais atestado de vacinação.
Em Paris, onde as lojas continuam de luzes acesas mesmo de
madrugada, quando estão fechadas, todos andam na rua sem máscara. Vou ao Au Petit
Fer à Cheval, birosquinha do Marais que para mim é tradição na cidade, pois
sempre passei ali grande momentos, e o amigo que fez a reserva esqueceu em casa
o celular e com ele seu certificado sanitário. Pergunta se pode entrar o
restaurante sem isso. “Sem problemas, monsieur”, ele ouve.
No Porto, sexta-feira, o espetáculo de música e poesia que
fiz com a pianista Enóe Ferrão e a atriz Mariya Viktorivna na Casa das Artes
foi o primeiro do ano que podia ter lotação completa – desde o ano passado,
havia o limite de 50% das cadeiras.
A Europa, em resumo, vai voltando ao normal. As sequelas da
pandemia, apesar das mortes, não foram assim tão grandes, agora que a pandemia
mostra-se sob controle. Pelo menos na economia e na vida que se retoma.
Passo em frente à Shakespeare & Co, livraria de livros
em língua inglesa, famosa pelos escritores que buscavam nela um pouco da
própria casa em Paris, e que diziam ter sido fechada na pandemia. Está aberta.
Assim como o café que acabou virando seu filhote, na esquina da pequena praça
em frente à catedral de Notre Dame, do outro lado do rio. E há já fila de gente
na entrada da loja.
A vida está voltando ao normal para quem fez as coisas mais
bem feitas, lá atrás, quando isso se mostrou necessário. Para quem virou a cara
para o outro lado, e até hoje não admite a gravidade da pandemia, o problema
continua.
Às vezes, decisões erradas que tomamos parecem não ter
maiores consequências. Mas para as nações, assim como as pessoas, a conta
sempre chega, depois. E quem tomou as piores decisões, paga mais caro.
Enquanto a vida se normaliza, e a economia começa a voar de
novo no mundo mais organizado, estamos nós no Brasil às voltas com os mesmos
problemas.
Seria o caso de aprender com a experiência alheia. Não só na
Covid, como na economia. Na Argentina, depois do socialismo pampeiro dos
Kirchner, e do liberalismo de Macri, voltou-se ao kirchnerismo, com os mesmos
resultados.
Em vez de irmos para a frente, continuamos presos aos nossos
erros e a fórmulas do passado. Não negamos apenas a ciência, negamos a realidade, com medo de enfrentá-la também com realismo. Por que?
Ignoramos o aprendizado dos outros e não existe de fato um plano para o Brasil. Resultado, o país luta ainda
para sair do ciclo pandêmico, enquanto o mundo já olha para a frente. É de se perguntar que futuro nos espera.