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segunda-feira, 6 de julho de 2009

O casamento e a felicidade


Qual é a fonte do bem mais desejado pelo ser humano


Oito entre dez pessoas casadas que usam a internet, segundo recente pesquisa, frequentam sites de relacionamento. Surpresa? Creio que não.


Recentemente, li um artigo na revista da Folha, da psicanalista Luciana Saddi, que respondia a pergunta de uma leitora, alarmada com os milhares de acessos a páginas virtuais de namoro para pessoas casadas. Queria saber se “nunca estamos felizes e sempre vamos procurar diversão fora do casamento”.

Talvez Luciana devesse ter respondido algo um pouco mais confortador. O que ela fez foi devolver a dúvida à leitora.

“O sentimento de satisfação depende de fatores como voracidade, equilíbrio emocional, possibilidade de formar vínculos e capacidade de aguentar dor e perda”, escreveu ela. “Mas quem disse que a realidade não exige renúncia? Ou que o casamento torna as pessoas mais felizes e menos sozinhas?”

A busca pela felicidade parece não ter mais um caminho claro, ainda mais nos dias de hoje, o que produz certa aflição. Mas a vida não tem qualquer obrigação de nos apresentar respostas claras e definitivas para absolutamente nada.

Conforme nos lembra o falecido psicanalista americano Anthony Storr, autor do ensaio Solitute – A Return to The Self, a idéia de que o casamento é a principal fonte da felicidade é relativamente recente na História da Humanidade. O casamento monogâmico não era tão importante para os gregos, os romanos ou em qualquer outra sociedade pré-vitoriana.

Nem mesmo na Bíblia há uma fórmula única. No Gênesis, Adão e Eva são criados uma para o outro, modelo para a união monogâmica. Moisés, que escreveu as tábuas da lei, personagem fundamental não apenas da tradição judaica como católica e também muçulmana, era polígamo. Pelo que dizem as escrituras, Jesus muito provavelmente er aum asceta, muito embora os revisionistas e alguns ficcnionistas contemporâneos hoje tentem relacioná-lo com Maria Madalena.

No passado, ser feliz podia significar realização no trabalho, sucesso com a criação dos filhos, afeição familiar, relações de amizade, expressão em forma de arte. Cita pessoas que nunca se casaram e se consideravam muito felizes, para dizer que um indivíduo pode estar sozinho, sem ser necessariamente solitário ou infeliz.

A idéia de que o casamento monogâmico é essencial para a felicidade vem dos Século XVIII, com forte influência moralista da igreja católica. As mudanças de comportamento dos anos 1960 que levaram à aprovação da lei do divórcio na maioria dos países ocidentais, porém, mudou esse cenário.

Com a lei, a sociedade assume que a liberdade individual e o direito à busca da felicidade são valores superiores ao contrato do casamento. Esse princípio abriu as portas para uma era de maior individualismo, hoje capitalizada pela internet, com a possibilidade tecnológica de acesso a informação e contatos que favorecem também a liberdade.

A felicidade é algo mais amplo e complexo do que ser feliz no casamento. E uma coisa não depende exclusivamente da outra. A felicidade pode advir em grande parte do relacionamento amoroso, se isto for importante para o indivíduo. Ela, porém, não tem necessariamente ligação com o casamento ou qualquer outra maneira do indivíduo adaptar-se à convivência. O importante é conviver sem perder a ligação amorosa, o que para muitos não se dá necessariamente pela coabitação ou os moldes da família convencional.

No passado, o modelo da família católica servia à estabilidade da instituição do casamento, também como pressuposto de que a segurança produzida por esse ambiente favorecia o suporte e o amor necessários à criação dos filhos. É verdade que as crianças precisam de segurança e afeto, mas hoje não se sabe exatamente se o casamento é o modelo exclusivo pelo qual elas se desenvolvem de uma boa forma, nem aquele com o qual se garante a harmonia doméstica.

Há hoje muitos filhos de pais separados que acreditam terem ganho experiência, facilidade de convivência, novas formas de inteligência e até mesmo mais e melhores relações afetivas por compartilharem de mais de uma família. Não existem regras gerais nesse departamento, até porque o que pode ser ruim para um é bom para outro.

O caminho da felicidade é resultado de um conjunto de fatores do qual a vida amorosa é uma parte importante, mas não a única. E depositar todas as esperanças de felicidade em uma coisa só, seja ela qual for, faz com que a vida seja vivida de maneira parcial. O que, no final, resultará sempre em alguma forma de insatisfação.

Quando nos sentimos incompletos, a tendência do ser humano será sempre olhar para o lado – ou, como acontece na internet, para a porta da esperança virtual onde se imagina que poderá sempre surgir algo capaz de preeencher o vazio.

quinta-feira, 28 de maio de 2009

As palavras e o amor


Por que casais não conseguem falar sobre o relacionamento

Entre os muitos e-mails que recebo comentando o que aqui vai publicado chegam, um pouco para meu espanto, muitos agradecimentos de mulheres. Elas dizem que aqui, assim como em meus romances, aprendem mais sobre como os homens pensam e sentem. E que isso as ajuda em sua vida pessoal.Itálico

O último desses contatos foi de uma moça que elogiava o texto confessional que escrevi sobre minha visita com o pequeno André a um estádio de futebol e a relação de amor entre os homens tendo o esporte como intermediário. Segundo ela, o que escrevi a teria feito entender afinal a maneira como seu pai procurava relacionar-se com ela. E diz que isso colaborou para entendê-lo melhor – e entender-se com ele.

Não vêm somente daí os sinais de que os homens permanecem um mistério para as mulheres. Outro dia, durante o Autores e Idéias, debate que promovo uma vez por mês no auditório da Livraria de Vila no Shopping Cidade Jardim, a jornalista Marília Gabriela queixou-se perante a platéia lotada de que sempre gostou de conversar sobre o relacionamento – e os homens, não.

“Homens não gostam de falar sobre o que estão sentindo, enquanto eu falo até demais”, disse ela. Com um sorriso, acrescentou que tivera um marido que pelo menos “sabia lidar” com ela. Desviava de suas tentativas de botar a vida em pratos limpos com alguma frase com aquele velho sentido: “...Lá vem você de novo criando caso à toa...”

Marília é uma pensadora, uma mulher inquisitiva e inquieta – o que provavelmente colaborou para que se tornasse a melhor entrevistadora de TV do país. Diante da platéia, ela perguntou o que eu achava. “Não posso achar que os homens não gostam de falar sobre relacionamentos”, respondi. “Como romancista, é só o que eu faço.”

A idéia de que homens não gostam de falar sobre a vida amorosa é equivocada, mas vastamente difundida. Falar de amor não é peculiaridade feminina. É verdade que homens muitas vezes manifestam seu afeto de uma forma não verbal, especialmente com outros homens, como é o caso da camaradagem do futebol. Isso não significa, porém, que evitem o assunto por princípio – principalmente com suas próprias mulheres. E elas também demonstram afeto de maneiras não verbais, à sua maneira: quando preparam uma comida especial, por exemplo.

Dizer que homens não falam sobre questões afetivas é o mesmo que acusá-los de não ter coração – não se preocupar nem se ocupar do amor como deveriam. Homens, porém, amam tanto quanto as mulheres. E podem falar sobre a vida afetiva com a mesma vontade ou desembaraço.

Não há qualquer razão para se acreditar que homens protegem seus sentimentos como algo secreto. Basta dizer que, se fizermos um recenseamento entre os romancistas, verificaremos que não há um número menor de homens que de mulheres a contar histórias cuja base é afetiva e emocional. E o fazem da maneira mais pública e aberta possível – eu diria, até, bastante corajosa.

O diálogo honesto sobre a vida emocional é uma condição essencial para os relacionamentos, sobretudo os de longo prazo. Viver a dois é difícil e exige atenção permanente. E o bloqueio do parceiro em falar sobre problemas afetivos, seja de qual sexo for, é em geral consequência, e não causa das dificuldades de relacionamento.

Na maioria dos relacionamentos duradouros, o grande desafio é fazer com que a rotina e as dificuldades do dia a dia não desgastem o amor. Quando amamos, o outro sempre está em primeiro lugar. Damos o melhor de nós, e isso implica muitas vezes em ceder.

Ao longo do tempo, porém, o cansaço vai trazendo o que há de pior em nós. A antiga flexibilidade vai desaparecendo. As pessoas vão se lembrando mais de suas necessiddes, principalmente as não atendidas. Passamos a querer mais atenção para nós do que estamos dispostos a dar. Isso se confunde com o esvaziamento do amor. Sentimos falta da antiga liberdade.

Quando isso acontece, o indivíduo se fecha para o diálogo. Não aceita fazer mais do que recebe. Quando lhe fazem uma solicitação, pensa no que estão lhe devendo. Deixa de querer escutar. O que frustra os ralacionamentos não é quando deixamos de falar, mas este momento, quando deixamos de ouvir, de levar em consideração as necessidades do outro, colocando as nossas de novo em primeiro lugar.

Nesse cenário, o diálogo perde o sentido: não adianta falar, se sabemos que não seremos ouvidos, que não adianta, que nossos sentimentos não estão sendo considerados ou respeitados, que nada vai mudar.

Aqueles que se queixam de que o parceiro não conversa deveriam, em primeiro lugar, pensar no que estão deixando de escutar. Poderiam primeiro se interessar em ouvir, a melhor forma de se ir ao encontro de alguém que mereceu o nosso amor. Apenas falar não é provocar o diálogo, mas impôr e aumentar a distância. Ouvir é o primeiro caminho para sermos ouvidos – e assegurar uma felicidade mais duradoura.