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sexta-feira, 8 de março de 2019
Chegaram!
Que satisfação receber pelo correio meus livros recém lançados em Portugal.
sexta-feira, 17 de agosto de 2018
A nova história do Brasil
Quando comecei a escrever meu primeiro livro de História, A Conquista do Brasil, há quatro anos, não imaginei entrar num território absolutamente novo - uma vez que a história pressupõe ser algo já conhecido.
Porém, verifiquei que a História brasileira estava por ser ainda contada direito, desde o seu princípio. Aquilo que aprendemos nos livros escolares nada tinha a ver com o que eu descortinava na pesquisa de documentos originais e na visita a lugares onde se desenrolou o nosso passado.
Hoje, uma geração de jornalistas e historiadores tem se dedicado, com ajuda da internet, que nos dá acesso mais fácil a documentos no Brasil e no exterior, a reescrever a nossa história . Com um ponto de vista contemporâneo e mais realista. Entre os jornalistas, estão Laurentino Gomes e Jorge Caldeira. Dos historiadores, destaco o excelente Ronaldo Vainfas.
No meu caso, resolvi começar do começo. Com esse espírito de rever e revirar tudo, escrevi primeiro A Conquista do Brasil - 1500-1600: um sucesso imediato.
Primeiro, o surpreendente: entendemos o quão pouco sabíamos da nossa história e, portanto, de nós mesmos. Não admira que tenhamos tão pouco entendimento dos nossos problemas - e tanta dificuldade em resolvê-los.
O ótimo resultado de A Conquista do Brasil fez com que a editora Planeta me pedisse um segundo livro, que contasse o século seguinte. Foram três anos de trabalho para escrever e publicar A Criação do Brasil- 1660-1700, que está chegando às livrarias.
Se o primeiro livro descortina como a costa do Brasil não foi ocupada de forma tranquila pelos portugueses, e sim à custa de uma verdadeira guerra, o segundo livro mostra um período política e religiosamente conturbado. Depois da dominação espanhola e holandesa, os portugueses conseguiram empreender não apenas a consolidação da colônia como estendê-la continente adentro, graças a uma elite emergente enraizada no próprio Brasil.
Embora ao final favorecesse Portugal, gerou-se nesse século uma certa identidade nacional - e uma extraordinária resiliência diante das influências externas e modos de governo ao longo do tempo. Esta é ao mesmo tempo a razão dos nossos atrasos e o lastro da nossa identidade.
O surgimento de uma Nação é algo tão complexo quanto seus personagens. Descobri que heróis nacionais, como Raposo Tavares, eram na verdade bárbaros assassinos. Os bandeirantes não eram nada do que eu pensava. A invasão e depois expulsão dos holandeses, também.
O padre Antonio Vieira, uma mente iluminada para sua época, capaz de derrubar a Inquisição em Portugal, defender os judeus e a liberdade dos escravos, tanto negros quanto indígenas, mesmo contra a própria ordem dos jesuítas, à qual pertencia, foi também autor de obras dignas de um louco e outras tantas iniquidades.
Nada é plano e simples como contam os livros de história. Vi que somos formados não somente da nossa célebre multiplicidade racial, como de uma trajetória também multifacetada, contraditória, conturbada e por vezes brutal.
O Brasil do carnaval, samba e futebol não existe. Hoje olho as pessoas na rua, os políticos, a fila do supermercado e vejo um outro Brasil, não o que se mostra, e sim a matriz daquilo que somos.
E é preciso que mais gente veja, se é que queremos, realmente, mudar.
quinta-feira, 29 de outubro de 2015
As credenciais para escrever um livro de História
Lá no Skoob, onde qualquer um pode deixar sua opinião sobre um livro, demorou mas já apareceu um leitor dizendo que eu, por ser jornalista, não tenho credenciais para escrever um livro de história, como A Conquista do Brasil. Um tipo de perseguição que já tinha sofrido o Laurentino Gomes, o mais bem sucedido jornalista a publicar livros de história. Um caso isolado, entre outros leitores que reconheceram o valor da obra, mas que merece uma resposta.
A reserva de mercado intelectual não existe. E o leitor comete um homérico engano, primeiro, porque eu não sou jornalista, ou só jornalista. Ser jornalista e ter trabalhado em veículos da grande imprensa pode até chamar mais a atenção no meu currículo. Porém, minha verdadeira formação é de Ciências Sociais. Sou bacharelado pela USP em Sociologia, Antropologia e Política, que completei antes mesmo de me formar na ECA - Escola de Comunicação e Artes, com especialização em Jornalismo.
Essa é a minha formação essencial. Mais do que apenas dar notícia, eu sempre me interessei pelas ideias, que são o que move o mundo. Minha formação como cientista social sempre foi muito importante para entender o que acontece, ter capacidade de análise, uma visão mais ampla e também mais profunda da sociedade e suas mudanças. Essa base tem sido muito útil ao longo de minha vida, não apenas na carreira jornalística.
Graças a minha formação, creio que pude escrever melhor, incluindo em jornalismo, e no jornalismo que se faz tendo o livro como veículo. Com a antropologia, por exemplo, pude escrever melhor sobre os índios que viviam no Brasil, entender seu relacionamento com os portugueses e muitos aspectos da vida indígena. A leitura de mestres, como os antropólogos franceses Pierre e Helène Clastres, foi essencial para escrever A Conquista do Brasil. Outros intelectuais com quem tomei contato pela primeira vez na faculdade, como Darcy Ribeiro, tiveram igual importância. Minha experiência pessoal entre os Kuikuro, no Xingu, também foi de enorme valor.
Elementos de sociologia e política foram fundamentais para analisar a construção da sociedade pré-colonial do Brasil e do aparelho de Estado. A corrupção, tema dominante no Brasil de hoje, tem suas raízes na própria criação da elite brasileira e sua mentalidade, responsável pela manutenção do Brasil no atraso do qual custamos a nos livrar.
O Jornalismo? A prática de escrever diariamente na imprensa, com a máxima objetividade possível, nos ajuda a redigir com mais clareza, identificar e dar destaque ao que é mais importante. Surpreender o leitor é outra regra de ouro da boa redação. Tenho procurado exercitar tudo isso ao longo de meus trinta anos de carreira como jornalista. Acho que isso não desmerece um autor. Ao contrário, também o credencia.
De certa forma, A Conquista do Brasil é mais uma reportagem com pinceladas de ensaio sociológico do que um livro de História. Ao resgatar os documentos originais de viajantes, jesuítas e mandatários, procurei reaproximar o leitor da realidade daquele tempo. Surgiram novos aspectos da história, esquecidos ou menos lembrados ao longo dos séculos, que ajudam a entender nossas origens e como somos ainda hoje. O livro mostra que o tempo acabou distanciando a história do Brasil de suas fontes originais e criou uma falsa ideia do brasileiro sobre ele mesmo.
Há uma terceira influência no que faço, que é a da literatura. Já faz algum tempo que não publico romances (o último, que saiu pela Objetiva, foi Amor e tempestade, em 2009, e o próximo deve sair no começo do ano que vem). O exercício da ficção também ajuda a escrever melhor: criar o clima, fazer o leitor visualizar a informação, mostrar o contexto de forma rica e envolvente. Tudo isso colabora com a redação de qualquer obra, mesmo a que pretendemos ser objetiva ou científica.
Não sou historiador, nem quero ser. Ninguém tira o valor de quem tem formação acadêmica específica em História. Meu viés realmente é muito mais do cientista social e do jornalista. Creio que são áreas de conhecimento que muitas vezes se sobrepõem, em outras são complementares. Com o meu ponto de vista, procuro dar uma contribuição nova e diferente ao estudo da história do Brasil, que como toda forma de conhecimento acadêmico é construtiva, baseada no conhecimento anterior, como um edifício do saber. E, por isso mesmo, às vezes tem dificuldade de aceitar revisões.
A gente ouve opiniões as mais contrárias, e tem de respeitar mesmo aqueles que parecem se voltar contra você por alguma razão pessoal, que desconhecemos. Além de procurar desqualificar o livro, o leitor do Skoob adota um certo tom raivoso, que aparece frequentemente em gente que escreve na internet. A tolerância é o bem que mais faz falta nesta era em que todo mundo pode expressar livremente sua opinião de múltiplas formas. Porém, quem escreve deve saber que o outro tem o direito à defesa. É necessário ocupar esse espaço, para que não se disseminem o tratamento desrespeitoso, as ideias falsas e seus propósitos obscuros.
A reserva de mercado intelectual não existe. E o leitor comete um homérico engano, primeiro, porque eu não sou jornalista, ou só jornalista. Ser jornalista e ter trabalhado em veículos da grande imprensa pode até chamar mais a atenção no meu currículo. Porém, minha verdadeira formação é de Ciências Sociais. Sou bacharelado pela USP em Sociologia, Antropologia e Política, que completei antes mesmo de me formar na ECA - Escola de Comunicação e Artes, com especialização em Jornalismo.
Graças a minha formação, creio que pude escrever melhor, incluindo em jornalismo, e no jornalismo que se faz tendo o livro como veículo. Com a antropologia, por exemplo, pude escrever melhor sobre os índios que viviam no Brasil, entender seu relacionamento com os portugueses e muitos aspectos da vida indígena. A leitura de mestres, como os antropólogos franceses Pierre e Helène Clastres, foi essencial para escrever A Conquista do Brasil. Outros intelectuais com quem tomei contato pela primeira vez na faculdade, como Darcy Ribeiro, tiveram igual importância. Minha experiência pessoal entre os Kuikuro, no Xingu, também foi de enorme valor.
Elementos de sociologia e política foram fundamentais para analisar a construção da sociedade pré-colonial do Brasil e do aparelho de Estado. A corrupção, tema dominante no Brasil de hoje, tem suas raízes na própria criação da elite brasileira e sua mentalidade, responsável pela manutenção do Brasil no atraso do qual custamos a nos livrar.
O Jornalismo? A prática de escrever diariamente na imprensa, com a máxima objetividade possível, nos ajuda a redigir com mais clareza, identificar e dar destaque ao que é mais importante. Surpreender o leitor é outra regra de ouro da boa redação. Tenho procurado exercitar tudo isso ao longo de meus trinta anos de carreira como jornalista. Acho que isso não desmerece um autor. Ao contrário, também o credencia.
De certa forma, A Conquista do Brasil é mais uma reportagem com pinceladas de ensaio sociológico do que um livro de História. Ao resgatar os documentos originais de viajantes, jesuítas e mandatários, procurei reaproximar o leitor da realidade daquele tempo. Surgiram novos aspectos da história, esquecidos ou menos lembrados ao longo dos séculos, que ajudam a entender nossas origens e como somos ainda hoje. O livro mostra que o tempo acabou distanciando a história do Brasil de suas fontes originais e criou uma falsa ideia do brasileiro sobre ele mesmo.
Há uma terceira influência no que faço, que é a da literatura. Já faz algum tempo que não publico romances (o último, que saiu pela Objetiva, foi Amor e tempestade, em 2009, e o próximo deve sair no começo do ano que vem). O exercício da ficção também ajuda a escrever melhor: criar o clima, fazer o leitor visualizar a informação, mostrar o contexto de forma rica e envolvente. Tudo isso colabora com a redação de qualquer obra, mesmo a que pretendemos ser objetiva ou científica.
Não sou historiador, nem quero ser. Ninguém tira o valor de quem tem formação acadêmica específica em História. Meu viés realmente é muito mais do cientista social e do jornalista. Creio que são áreas de conhecimento que muitas vezes se sobrepõem, em outras são complementares. Com o meu ponto de vista, procuro dar uma contribuição nova e diferente ao estudo da história do Brasil, que como toda forma de conhecimento acadêmico é construtiva, baseada no conhecimento anterior, como um edifício do saber. E, por isso mesmo, às vezes tem dificuldade de aceitar revisões.
A gente ouve opiniões as mais contrárias, e tem de respeitar mesmo aqueles que parecem se voltar contra você por alguma razão pessoal, que desconhecemos. Além de procurar desqualificar o livro, o leitor do Skoob adota um certo tom raivoso, que aparece frequentemente em gente que escreve na internet. A tolerância é o bem que mais faz falta nesta era em que todo mundo pode expressar livremente sua opinião de múltiplas formas. Porém, quem escreve deve saber que o outro tem o direito à defesa. É necessário ocupar esse espaço, para que não se disseminem o tratamento desrespeitoso, as ideias falsas e seus propósitos obscuros.
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