O ex-pedreiro Adílson "Maguila" Rodrigues lutou a vida inteira. Para chegar ao boxe e ter uma oportunidade melhor. Lutou no boxe. E lutou depois, contra as consequências do boxe.
É triste um homem ter que entrar numa rinha de galo para poder levar comida para casa. Eu já fui fã de boxe, por justamente expor de forma explícita a luta humana, como um esporte. Hoje, só não desprezo mais que o MMA, que está ainda mais perto da selvageria e, creio, a incentiva.
A normalização da violência faz com que seja preciso cada vez mais violência, para chamar a atenção, ganhar audiência. Estamos voltando, em plena era tecnológica, ao Circo Romano.
Numa era em que a luta deve ser contra a luta, isto é, pela paz, qualquer demonstração de incivilidade me parece que vai na direção contrária do que deveria ser a história.
Pobre Maguila, vítima de um tempo em que a brutalidade é normal. Em vez de acabar com a pobreza, matamos. Sobretudo os que mais precisam do apoio da sociedade.
Não haverá civilização digna desse nome enquanto alguém precisar usar os punhos para ganhar a vida. Não haverá nação que mereça este nome enquanto houver guerra. Não importa se os mortos são crianças, mulheres, velhos ou soldados. Soldados foram crianças, e serão velhos, se sobreviverem. Nenhuma morte se justifica.
Só há no mundo uma guerra justa: é pela educação. Maguila dizia, com orgulho, que era pobre e ignorante, como um vencedor que veio de baixo. Sua humildade e seu português claudicante, confundidos com simplicidade, foram sua marca. Porém, essa marca não é a da vitória esportiva ou pessoal. É a do atraso.
Ao morrer, aos 66 anos, depois de sofrer muito tempo com as sequelas dos golpes que levou na cabeça, para mim Maguila infelizmente não é um herói do esporte. Simboliza apenas a estupidez e a desumanidade.
A morte de Maguila é a derrota de uma Nação. Que sirva para cada um refletir sobre o que gosta de ver, o que apoia, o que crê, o que quer de um país, ou para seus filhos. A sociedade é feita de cada um de nós: criança, mulher, velho, soldado.