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segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Rolim (o livro) está de volta


Há algum tempo, fui ver o Museu Asas de um Sonho, onde estão os aviões antigos colecionados por Rolim e João Amaro, e comprei lá os três últimos exemplares que havia da biografia que escrevi de Rolim, O Sonho Brasileiro. Há muito tempo o livro já se encontrava esgotado e a única versão disponível era uma contrafação pirata da obra, que causava algumas situações bizarras. Recentemente, por exemplo, um piloto do Paraná me enviou um email com um pedido; estava envergonhado de ter baixado o livro pirata e dizia ter gostado tanto dele que fazia questão de me pagar. E queria saber como.

Para todos aqueles que procuram pelo livro e não acham, ou que leram mas gostariam de tê-lo também na sua biblioteca digital, O Sonho Brasileiro está sendo relançado em e-book, disponível em todas as redes importantes, a começar pela Amazon, ao preço de 9,90 reais.

Revendo a obra, mais de dez anos após seu lançamento, e da morte de Rolim, a impressão que tenho é de que sua história já não funciona mais como um case de negócios ou de marketing - a maioria das coisas que Rolim fazia já não cabe na realidade de hoje, mesmo para a TAM, a companhia que fundou. Tudo parece pitoresco, arriscado, ousado demais para os dias de hoje. No entanto, a obra conserva um grande interesse, por dois motivos.

Primeiro, pela história aventuresca de Rolim, um tanto romãntica, ou picaresca, desde os tempos em que se aventurava em voos como piloto privado no desbravamento da Amazônia, um tempo pioneiro como não haverá outro mais.

O segundo motivo pelo qual o livro continua importante é o retrato de uma época em que os empresários ainda lutavam pela liberdade de fazer, de empreender, de buscar o melhor para as empresas, os clientes e a economia. Um tempo fechado pela ditadura militar, que criava reservas de mercado e entraves que faziam a economia brasileira ser comparável em atraso à da soviética. Rolim estava na linha de frente desse combate, e entender sua história é também entender a trajetória recente da economia brasileira.

Pra quem quiser conferir, o link na Amazon:

http://www.amazon.com/Sonho-Brasileiro-Portuguese-Thales-Guaracy-ebook/dp/B00NBXKY36/ref=sr_1_1?ie=UTF8&qid=1410194168&sr=8-1&keywords=thales+guaracy+sonho+brasileiro

sábado, 26 de dezembro de 2009

Obras elevadas


Sempre pensei que as pessoas deviam ser lembradas pelo que elas foram e o que tinham de bom – não pela maneira como morreram. Marcelo Frommer não teve essa sorte. O músico dos Titãs podia ter virado nome de festival, de gravadora, marca de instrumento musical. Não. Virou nome de passarela, na Avenida Juscelino Kubitschek, em São Paulo. Justo para a gente lembrar que morreu atropelado. Que melhor oportunidade para o espírito didático dos administradores públicos?

No aeroporto de Congonhas, uma das passarelas que fazem a ponte aérea sobre a Avenida 23 de Maio ganhou o nome do comandante Rolim Amaro. Não puderam também perder a oportunidade de homenagear com o nome do patrono da TAM esse dispositivo de segurança, talvez para ninguém esquecer que por ali já caíram dois jatos da companhia, com três centenas de mortos, e que o próprio Rolim deixou a vida dentro de um helicóptero.

Passarela não é exatamente um monumento, nem uma grande obra urbana. Não é, por assim dizer, algo que realmente eleva o homenageado. É uma láurea meio pedestre. Não se compara sequer a nome de rua. Quando botam o nome de alguém numa passarela, parece que estão querendo gozar o morto. E ele já não pode fazer nada. Mas o edificador de passarelas tenta engrandecê-las com nomes próprios elevados, para glória deles mesmos e do prefeito.

Na falta de um nome de peso, pode-se recorrer a acontecimentos de impacto. No final da Avenida Sumaré, pouco antes dela se transformar no Viaduto Antártica, ergueu-se a Passarela Arrancada Heróica de 1942, referência a algum feito esquecido pela história do clube ali vizinho, o Palmeiras. Pouco se sabe sobre a tal arrancada heróica, que teria sido bem vinda no campeonato brasileiro. Mas não importa, se o nome impressiona.

Outro dia, tive a oportunidade de utilizar a Passarela Marcelo Frommer. É talvez a mais moderna, cara e completa do Brasil. Coisa de primeiríssimo mundo, um orgulho da engenharia nacional. Leva quinze minutos só para a gente chegar lá em cima, outros tantos para descer do outro lado. Faz das tarefa de atravessar a rua mais que uma atividade prática e objetiva – é um exercício físico e uma experiência filosófica e sensorial. Toda engradada como uma gaiola, para evitar que alguém subverta seus propósitos beneméritos com um salto suicida, simboliza o preço da vida, já que aquelas toneladas de concreto e ferro devem ter custado um bom dinheiro.

Passei ali às 18:30, no horário de pico, em um dia de semana. A noite já tinha caído. Só eu atravessava. Apertei o passo, sobressaltado naquele deserto contrastante com o movimento maciço de veículos lá embaixo. Saí do outro lado exultante. Escapara – não dos veículos, mas de um assalto naquele lugar ermo. E saí com a convicção de que nada substitui a faixa de pedestres como o caminho mais curto, barato, seguro e anônimo entre dois pontos.