Uma certeza com muitas dúvidas em O Contador de Histórias
Fui assistir a O Contador de Histórias, de Luiz Villaça, mais um sinal de vida na ressurreição do cinema brasileiro da qual podemos nos orgulhar. É um filme com todos os ingredientes que se pode esperar: instigante, divertido, interessante, bem feito. E é bonito, isto é, emociona.
Fui assistir a O Contador de Histórias, de Luiz Villaça, mais um sinal de vida na ressurreição do cinema brasileiro da qual podemos nos orgulhar. É um filme com todos os ingredientes que se pode esperar: instigante, divertido, interessante, bem feito. E é bonito, isto é, emociona.
Para mim, o mais interessante de O Contador de Histórias são as reflexões que desperta sobre o amor de mãe. Pois esse sentimento, tido para muitos como a coisa mais absoluta da vida, já que segundo o ditado popular “amor de mãe não se discute”, mostra quantas dúvidas podem viver dentro de uma certeza. E quanta certeza por haver dentro de uma dúvida.
O menino deixado pela Febem pela mãe sem condições de criá-lo, na esperança de que na instituição poderá encontrar uma vida melhor - ou a vida que ela não poderia lhe dar – passa por uma experiência que de certa forma entendemos todos nós. Bem que ele teria preferido ficar em casa, próximo do amor da mãe. Mas a confirmação por parte dela de que estava certa – e de que ele se saiu melhor longe do que perto – deixa no ar esse sentimento de que um amor desapegado, ou desesperançado, pode ser tão grande, ou ainda maior, que o amor que costumamos chamar de amor.
A mãe do menino contador de histórias amava menos o seu filho por tê-lo abandonado? O que parecia ser uma resposta óbvia, no final, termina com uma interrogação. O que nos faz pensar também se o amor da mãe que protege é também o melhor amor.
Talvez não exista amor perfeito, nem mesmo o de mãe. O amor assume formas que ao mesmo tempo nos confortam, nos dão esperança, e também ferem. Essa separação sempre acontece, de alguma forma, e jamais a aceitamos completamente. Mesmo quando ela é voluntária. Ou quando é obra do destino.
O sentimento de abandono de qualquer filho quando a mãe o joga para o mundo não tem tempo – pode acontecer quando temos dois, cinco ou vinte anos de idade. Eu, que perdi minha mãe ano passado, descobri que podemos nos sentir abandonados pela mãe várias vezes ao longo da vida e mesmo depois da maturidade. Amor de mãe é uma história de abandonos, até que a partida da vida, seja da mãe, seja do filho, se torna o abandono final e –e sempre uma bonita história, quer dizer, capaz de emocionar.