Meu filho completou 12 anos. Aos 12, surgem novas dúvidas na vida. Sua maior preocupação, agora, é com a existência de Deus.
Estava interessado em Breves Respostas para Grandes Perguntas, o livro póstumo de Stephen Hawking. Queria saber o que um cientista pensava a respeito dessa questão.
Comprei o livro. Na cama, antes de dormir, ele leu algumas páginas, e fechou-o de repente.
- Deus não existe -, disse.
No dia seguinte, fomos de carro ao Parque Villa Lobos jogar bola. No caminho, perguntei a ele o que Hawking dizia no capítulo sobre Deus.
- Ele diz que a ciência ainda não encontrou respostas para algumas coisas. Mas também não achou provas da existência de Deus [como explicação para essas questões].
Resolvi então aplicar nele o método socrático.
- Você aceita a ideia de que alguém pode acreditar em Deus, simplesmente por acreditar, por ter fé?
- Sim. Mas uma pessoa acreditar não quer dizer que ele exista.
- É verdade. Mas se eu acredito em Deus, por exemplo, e Deus me diz para fazer coisas boas, e isso me faz dar um prato de comida para quem tem fome, essa ação - dar um prato de comida - é algo bem concreto, não?
- Sim.
- Se eu fiz isso por acreditar em Deus, então essa ideia de Deus se tornou um ato real. Podemos dizer então que Deus atuou por nosso intermédio?
-Sim.
- Se fazemos algo que existe por causa de algo que não existe, por nosso intermédio esse algo não passa a existir também?
- Sim. Passa a existir também.
- Então concluímos que Deus existe.
Ele ficou surpreso com a demonstração socrática da existência de Deus. Em batucou. Como pede a filosofia, a dúvida, ao menos, foi instalada.
Às vezes, Sócrates é meu Jesus.