Claudio nasceu aqui e cuida das vinhas como seu pai. Mora a quilômetros de Soave, num casa de mais de meio século entre vinhedos que vêm passando de geração em geração. Nos três dias que ali passamos, o vimos caminhando nos vinhedos, amarrando galhos e podando as videiras com o cuidado de um japonês e seus bons aí.
Nos seus 55 mil metros quadrados plantados, cultiva valpolicella, pela qual recebe 130 euros por 100 quilos de uva - o dobro do que recebem plantadores de soave, uva autóctone do vilarejo mais próximo, à sombra do castelo dos Scala. Habitado entre os anos 1000 e 1300, conquistado sucessivamente por suevos e italianos de Veneza e Verona, tornou-se propriedade de uma família de mecenas desde o século XIX. Hoje, como uma coroa de pedra, encima galhardamente o pequeno burgo murado.
Claudio entrega as uvas em setembro à cooperativa e recebe o dinheiro dividido em cinco vezes por ano. "Dá para viver, sem luxo", diz ele. Tem um restaurante que funciona em fins de semana, onde deixo um brasileiro cozinhando em seu lugar. "Tenho de cuidar do vinhedo, é muito trabalho", afirma. "E já estou um pouco velho."
"Ma i vecchi cuccinano meglio", eu digo.
Ele ri.
Claudio aluga 5 apartamentos na sua torre de pedra pelo airbnb. Quem cuida disso é o filho mais novo, Matteo, que estuda Direito em Verona. Abana a cabeça. "Para que serve isso?" , lamenta. "Advogados são importantes", digo. "São eles que bebem o vinho!"
Claudio ri de novo. Me leva ao fundo do galpão e me entrega duas garrafas de tinto sem rótulo. Valpolicella da casa, pequena produção que ele mantém para consumo próprio. Pergunto quanto é. "Regalo", diz ele, e sorri.
Na Itália, terra de meus avós, a generosidade inunda o dia.