Chute perigoso a gol.
- O time até que está bem!
- Não se iluda - diz com um sorriso, a meu lado, um torcedor mais experiente.
Assistir um jogo do Juventus em seu velho estádio, na Mooca, é bem diferente. Todo mundo respeita o hino nacional. Quando o jogo começa, é um silêncio sepulcral. Um torcedor solitário grita:
- Time vagabundo!
Ninguém sabe a qual deles se dirige.
O jogo transcorre junto com um bom papo. A cada boa jogada do Juventus, a torcida reage com surpresa.
- Óooh - exclamam, impressionados.
O melhor da partida são os comentários.
- Acho que a torcida do adversário não compareceu - diz um torcedor de camisa grená, olhando para o outro lado.
O estádio da rua Javari lembra o futebol dos velhos tempos. Quatro fileiras no segundo andar são a zona nobre e a única de sombra garantida. O resto da torcida escapa do sol das 15h junto ao muro da arquibancada na linha de fundo, atrás do goleiro. O verdadeiro futebol raiz.
O jogo é bom, tem belas jogadas, com um bumbo batendo solitário o tempo todo. Dá pra ouvir tudo o que dizem os jogadores. E eles conhecem muita gente na torcida, formada em boa parte por amigos e familiares.
Tem o pessoal que come o tradicional canoli do estádio: é a maior fila e acaba rápido no intervalo. Na frente da barraca, enquanto esperam o canoli, as crianças se ajoelham, admirando a estátua de Pelé, que aqui certo dia marcou um gol antológico.
Começa o segundo tempo.
- Time vagabundo! - grita o torcedor.
Trinta segundos depois, o Juventus faz 1 a zero. Funcionou.
"Esse moleque travesso...", toca o hino, quando o juiz dá o apito final.
A fila para comprar camisa na lojinha é uma prova de simpatia e boa vontade, já que há mais testemunhas que torcedores de verdade. É uma boa lembrança de um dia de futebol tranquilo, sem a neurastenia coletiva dos grandes estádios.
O resultado é o que menos importa, apesar de o Juventus estar disputando um lugar na Copa do Brasil. Passear no bairro depois é uma delícia. Há bons bares nas proximidades.
Fazia tempo que eu não via um jogo de futebol como antigamente. Aqui a gente se sente criança. Porque o futebol é como antes. E como a gente achava que é o futebol brasileiro.
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