sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Jardim japonês

JARDIM JAPONÊS

 

 No castelo de Niho-jo o grande shogun reina:

entre a política e a guerra há um filho que nasce

cuidado a cada dia como o jardim

onde ele respira a beleza pura da vida

entre a política e a guerra


O shogun dorme ao lado da katana luzidia

porque quem repousa não é o homem

é o guerreiro


A lâmina reflete quem é

brilha no escuro

vela seu sono à noite


O alvorecer levanta da sombra dos muros ajardinados

o shogun se veste como um samurai

é um samurai


Somente o semblante altaneiro

diz que é o shogun:

senhor dos campos de arroz

na planície banhada pela água pelos rios

quem vêm das montanhas verdejantes

com suas responsabilidades

e sua coragem


O coração está abrigado

no relicário que é o palácio de madeira encaixilhada

paredes decoradas de pinturas em laca

cercada pelas muralhas de pedra perfeitamente engastada

e o fosso de água limpa e fresca ao redor da murada exterior


Pesa saber que dele tudo depende

mas há também leveza na brisa da manhã:

dá valor a cada dia

às coisas grandes e pequenas

(e então ele ouve as mulheres cantando ao longe

suave recompensa pelo seu trabalho duro)


Todos os entes têm dentro de si o kami:

o espírito divino está com ele quando caminha em silêncio

acompanhado dos kamis do sol, da luz, das árvores

e do lago de pedras pontiagudas e rudes ferindo agrestes

a harmonia do plácido cenário

onde as folhas  das árvores sustentam o céu


Para que a guerra senão o inevitável equilíbrio

a harmonia

a paz como deveria ser


Para que o poder

senão para dividir

alimentar

cuidar

apenas viver


Para que a riqueza

senão para a saciedade

e a garantia do dia seguinte


Para que o sonho

senão dar mais valor

ao que de outra forma

se pode perder

desperdiçar

esquecer


Para que querer

o que é possível

se o impossível está diante de nós

e tudo temos em nós

para alcançar o horizonte


Magokoru: coração sincero

para o shogun não há medo

e não existe o amanhã

toda o esforço humano é nada diante da simplicidade


Para o shogun

a morte é continuidade da vida

e a única obra verdadeira

é o eterno 

ser




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