JARDIM JAPONÊS
No castelo de Niho-jo o grande shogun reina:
entre a política e a guerra há um filho que nasce
cuidado a cada dia como o jardim
onde ele respira a beleza pura da vida
entre a política e a guerra
O shogun dorme ao lado da katana luzidia
porque quem repousa não é o homem
é o guerreiro
A lâmina reflete quem é
brilha no escuro
vela seu sono à noite
O alvorecer levanta da sombra dos muros ajardinados
o shogun se veste como um samurai
é um samurai
Somente o semblante altaneiro
diz que é o shogun:
senhor dos campos de arroz
na planície banhada pela água pelos rios
quem vêm das montanhas verdejantes
com suas responsabilidades
e sua coragem
O coração está abrigado
no relicário que é o palácio de madeira encaixilhada
paredes decoradas de pinturas em laca
cercada pelas muralhas de pedra perfeitamente engastada
e o fosso de água limpa e fresca ao redor da murada exterior
Pesa saber que dele tudo depende
mas há também leveza na brisa da manhã:
dá valor a cada dia
às coisas grandes e pequenas
(e então ele ouve as mulheres cantando ao longe
suave recompensa pelo seu trabalho duro)
Todos os entes têm dentro de si o kami:
o espírito divino está com ele quando caminha em silêncio
acompanhado dos kamis do sol, da luz, das árvores
e do lago de pedras pontiagudas e rudes ferindo agrestes
a harmonia do plácido cenário
onde as folhas das árvores sustentam o céu
Para que a guerra senão o inevitável equilíbrio
a harmonia
a paz como deveria ser
Para que o poder
senão para dividir
alimentar
cuidar
apenas viver
Para que a riqueza
senão para a saciedade
e a garantia do dia seguinte
Para que o sonho
senão dar mais valor
ao que de outra forma
se pode perder
desperdiçar
esquecer
Para que querer
o que é possível
se o impossível está diante de nós
e tudo temos em nós
para alcançar o horizonte
Magokoru: coração sincero
para o shogun não há medo
e não existe o amanhã
toda o esforço humano é nada diante da simplicidade
Para o shogun
a morte é continuidade da vida
e a única obra verdadeira
é o eterno
ser
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