Amis quando era um jovem autor desconhecido |
É uma boa história, embora eu não goste muito de Amis como autor. Ele agora disse em entrevista ao El País que não vale a pena ler autores jovens. Que os clássicos sobreviveram à prova do tempo e sua leitura seria, portanto, mais garantida. Claro, se ninguém lesse autores jovens, Amis um dia nunca teria sido lido. Não estaríamos também lendo essa sua entrevista. E não teriam surgido os clássicos. Sua declaração só pode ser entendida como uma provocação. Esse é e continuará sendo o grande desafio de qualquer autor: ser lido pela primeira vez. Ainda mais nos dias de hoje, em que qualquer um pode publicar qualquer coisa na internet. Ser lido, porém, é diferente.
Durante meus três anos como diretor editorial da Saraiva, tive oportunidade de lançar alguns autores inéditos no grande mercado. Certamente esse garimpo deu muito trabalho, excluiu gente que talvez merecesse, mas o resultado para mim deu ainda mais prazer que publicar William Faulkner e outros clássicos. A criação do Prêmio Benvirá de Literatura rendeu bons frutos para a Saraiva e, creio, para o mundo editorial no Brasil. A literatura contemporânea é um retrato dos dias de hoje, do pensamento, do comportamento, e é o que deixará a marca deste tempo. Hoje de novo como autor, eu me sinto mais vivo por fazer parte disso. E por estar também dividindo este tempo com grandes talentos.
Acho que divulgar novos autores é importante para todos, incluindo os autores consagrados. Na cultura, apesar da má vontade de boa parte da crítica brasileira, não há lugar para a mesquinharia. O estímulo ao hábito da leitura é essencial para o mercado editorial, para a educação e a cultura de um país. Autores jovens ajudam a falar com a juventude, que precisa ser trazida para a leitura, essencial para o progresso da educação. Ainda mais em um país tão carente de homens e livros, as duas coisas essenciais para uma nação, como dizia o velho Monteiro Lobato.
Alguns dos jovens autores brasileiros de que mais gosto, lancei pela Saraiva. Outros, li somente por prazer. A rigor, jovens autores para mim são todos aqueles que estão vivos. Porém, há os valores que despontam agora e começam a construir sua carreira, e para os quais vale a pena chamar a atenção. Aqui, ordenados aleatoriamente, seguem meus favoritos. E a razão.
Daniel Galera: todos os grandes autores são fruto de uma obsessão. A de Galera é o sangue. Ele escreve muito bem. E, dado o seu tema favorito, tem impacto.
Paula Parisot: Gonzos e Parafusos, seu romance de estreia, é primoroso. Trata de um tema forte, a mulher seviciada na infância, com a leveza de um Machado de Assis. Nem por isso deixa de ter um impacto desconcertante, como sugere o título.
Alessandro Thomé: este ainda pouco conhecido romancista, hoje baseado em Poços de Caldas, é um dos mais brilhantes escritores contemporâneos do Brasil. Lancei seu segundo romance, A casa Iluminada, um daqueles livros que você fecha ao final como se tivesse caído de um trem. Para mim, é o autor que melhor representa os dias de hoje e um tipo de violência muito contemporânea, que parece tão mais banal quanto mais exponencial. Seus livros são tão fortes que nenhum editor ainda aceitou pegar o terceiro, Cão Maior, por receio da reação que ele pode produzir. Thomé assusta, mexe, incomoda, perturba, às vezes enoja, tira certezas, bagunça o coreto. Sem ter sido publicado, o livro já vai virando cult, como a biografia proibida de Roberto Carlos. Realmente, publicar Thomé requer coragem. Mas é a mesma coragem que se pede para enfrentar o mundo como ele é.
Livia Brazil: divertida e ao mesmo tempo comovente, Lívia se destaca entre todos os chick lits que aparecem por aí. Em Queria Tanto, livro que fizemos na Saraiva com o selo Benvirá (e cujo título me orgulho de ter feito), ela já traz sua visão reveladora sobre as mulheres e suas dificuldades de relacionamento. Perfeita para meninas, adolescentes, mulheres eternamente à beira de um ataque de nervos e todo mundo que deseja entender um pouco mais o feminino e suas sutilezas.
Oscar Nakasato: quando liguei para Oscar, e disse que tinha ganho o prêmio Benvirá, ele ficou sem chão. "Mas eu estou no supermercado", balbuciou incrédulo o professor de português da cidade de Apucarana, no Paraná. Quando lhe pedi uma foto de divulgação, mandou-me um registro em que se encontrava sem camisa, num churrasco com amigos. "Era a foto que tinha", explicou. Seu romance, Nihonjin, trabalhado com a delicadeza de um bonsai, e forte como um código samurai, revela a vida interior dos imigrantes japoneses no Brasil. E acabou levando também o prêmio Jabuti de 2012, o que causou revolta na comunidade literária, principalmente entre os medalhões ultrapassados por aquele estreante desajeitado, que tentaram desmerecer o resultado, questionando os jurados e o regulamento. Isso já bastaria para fazer de Oscar um caso único na literatura brasileira. Aguardamos agora seu segundo romance, que, segundo ele, está saindo agora no segundo semestre.
Benedito Costa Neto: melhor contista contemporâneo brasileiro, de quem lancei na Saraiva um pequeno mas brilhante livro: "Diante do Abismo." Contos são difíceis de escrever. Os dele são pérolas. Meu preferido é "Réquiem para um Vitrúvio Negro", desafiador tanto pelo conteúdo quanto pela forma.
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