“Como está poético, você!”, me dizem. Na verdade, estive poético - no pretérito. Todos os poemas que andei postando aqui já estavam escritos e publicados. Mas, pra quem não leu, é novidade.
O que escrevemos no calor da hora, geralmente, ficou para trás. É um fotografia antiga.
Quando publicamos o que escrevemos, muitas vezes, não é para celebrar o presente. Muito ao contrário. Reflete o passado. Frequentemente usamos isso para fechar uma porta.
Poesia não é diferente. Como toda literatura, conserva a vida, as ideias, sentimentos. Mas também funciona para tirar algumas coisas de dentro da gente, bota aquilo para fora, que fica separado. Forma de despedida, que enterra ao desenterrar.
Publicar poesia lembra o tempo em que ela existia. Quando essa alegria não existe mais, colocar fora é uma forma de resolver, fazer as pazes com a gente mesmo, esquecer. Se está ali, escrito, não precisamos mais lembrar, nem sentir. Ao entregar a poesia ao mundo, tirando sentimentos de dentro de nós mesmos, fazemos um rito de passagem. Traz alívio.
Fazer poesia é tomar mel. Publicar poesia, como último capítulo de uma história que passou, é óleo de fígado de bacalhau. Tem gosto ruim, mas faz bem pra saúde.
Com sorte, deixa algo também para os outros e mantém os bons sentimentos num bom lugar. Onde talvez, um dia, alguém ainda vá aproveitar, ou, olhando para trás, já anestesiados pela distância, tenhamos saudade.
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