Escrever não é saber pontuação, nem mesmo saber português. Escrever é pensar no teclado, imprimir as ideias. O trabalho é ter a informação e as ideias e desenvolvê-las. As ideias se propagam de muitas maneiras, mas a mais elegante, eficaz, perene e influente é escrevendo.
Eu uso isso, verdade, como desculpa para todos os erros que cometo, num atentado não deliberado, mas não muito arrependido, ao bom português. Troco onde por aonde e vice-versa. Esqueço o "em" antes do "que". E por aí vai.
Conheço as regras, mas no fluxo acelerado do pensamento muitas vezes elas vão ficando para trás. E como sempre vem ideia atrás de ideia, o tempo para a revisão vai ficando para trás.
Talvez alguns estranhem a comparação, ou a achem de mau gosto, mas escrever é
como fazer amor. Se você ficar pensando na parte mecânica do ato, como um
engenheiro, e não um amante, a coisa não sai.
Escrever, fazer amor e dançar têm isso em comum. Fred Astaire certamente nunca
pronunciou as palavras "dois pra cá, dois pra lá".
Se a ortografia não é minha arte, prezo ainda menos pela datilografia. Escrever
não é datilografar. Cato milho com dois dedos de cada mão há mais de trinta
anos trabalhando em jornalismo e escrevendo romances de 500 páginas. A invenção do corretor ortográfico é uma benção mas não resolve tudo.
Sei que minha estenografia digital é irritante, talvez deselegante para com a língua pátria, e uma complicação. O ideal é entregar o serviço perfeito, limpo, profissional. Porém, o cuidado com a língua é mais próprio do revisor, do professor ou do acadêmico.
E uma coisa é certa: quando o dançarino é talentoso, trabalhador, ou ambas as coisas, e as ideias fazem efeito, como o amor do bom amante, sempre aparece alguém disposto a ajudar.
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