O exercício de escrever é um processo de reflexão, do qual acabamos dependentes. Escrevemos não por vaidade, ou por exibicionismo, ou para ficar na posteridade, mas para viver. Seja como autor de livros de ficção como de não ficção, eu me obrigo primeiro a quebrar a casca da ostra, a encarar a verdade interior. Sem isso, mergulho na tormenta.
Escrevendo, aceito da forma mais
escancarada o que pessoalmente nunca faço: me expor. Escancarar as portas da
alma, sem segredos, é uma forma de mudar, superar a dificuldade de estabelecer
uma ponte para o mundo.
Ao escrever, ajudamos a nós
mesmos; ao publicar o que escrevemos, a intenção é ajudar também os outros na
mesma situação. O que vemos nos livros pode ser informação, ciência ou arte,
mas em última análise é o aprendizado com a experiência humana, que dividimos
uns com os outros. Ficção é assim também, com a diferença de que tratamos da
matéria humana.
Aquele que abre o coração expia
seu sofrimento em busca de redenção. Dá o primeiro passo para a admissão de que
é um ser humano. Descobri, escrevendo, que, ao abrir os braços, em vez de nos
rejeitar, os outros nos acolhem. Saber que não estamos sozinhos no mundo e
receber esse retorno, tanto quanto dá-lo, traz um grande alívio.
Cedo ou tarde, perdemos a
inocência; descobrimos que o amor pode trazer a dor e naveguei desde muito cedo
em um mundo cheio de ambiguidades,
paradoxos e contradições. Vejo como o bem traz consigo também o mal, assim como
mal pode trazer o bem; a realidade é uma comédia trágica. Escrever reflete tudo
isso, é teatro: como ficção ou não, encenamos a nós mesmos, nossa perdição e
nosso resgate.
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