Quando eu estava no segundo primário, no extinto Colégio Aclimação, uma agradável casarão na Rua Loureiro da Cruz em cujo vasto terreno há hoje um imenso condomínio vertical, adorava a aula de desenho e especialmente um momento da aula de desenho: explorar o livro Criatividade. Tinha páginas coloridas, cada uma com uma função. Havia as amarelas, laranjas e assim por diante; foi ali que li pela primeira vez os microcontos de Cortázar com seus cronópios, bichinhos imaginários, e outras histórias que povoavam a imaginação. Na página azul, era descansar. As páginas brancas, se não me engano, eram para fazer o que queríamos: um estímulo a correr os lápis livremente sobre o papel.
Ainda hoje gosto desse exercício. Deixar a mente correndo livre sobre o papel. Saem garatujas, desenhos, linhas, palavras: é quase uma necessidade de descarregar o que há dentro da cabeça, e isso me faz um bem enorme. Tenho muitos caderninhos que levo comigo cheio de anotações, ideias para livros, projetos impossíveis, plantas de casas que jamais construirei, frases lembradas ou inventadas, rabiscos sem sentido e muitos desenhos.
Em Nova York, em 2006, ganhei de presente de uma amiga uns pincéis coloridos adoráveis e comecei a fazer cenários da cidade com cor. Ficaram como pequenos retratos daquele período da vida e da família, que reproduzo abaixo.
Espaço livre para criação não é só escrever: assim é que a gente funciona, movidos pela necessidade obsessiva de expressão, sem a qual entupimos ao ponto de explodir, a forma mais certa de loucura.
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