“Você é um escritor”, disse Pedro Paulo Sena Madureira, o Oráculo da rua Sergipe, meu primeiro – e sempre – editor, depois de ler Asas sobre nós. “Um escritor no sentido genuíno da palavra, pois uns são romancistas, outros poetas, ou ensaístas, ou prosadores de não ficção. Mas você, como Fernando Pessoa e alguns poucos, trafegam por todos os gêneros, e belamente.”
Conto isto não por imodéstia ou vaidade, e sim, na realidade, para explicar uma dificuldade, que me levou a escrever Asas Sobre Nós da forma como é. E não, como esperariam talvez alguns leitores, um livro de história, ou um romance, ou mesmo de memórias. Ficou sendo um livro de poesia, embora, ou talvez por essa razão, seja tudo isso – história, romance, memórias, reportagem.
É muito pessoal, mas narra a saga de todos nós, ou pelo menos de quem, como eu, viveu desde o fim da ditadura militar, passou pela democratização, por fascinantes e fundamentais mudanças no Brasil e no mundo. Reflete quem chega à maturidade, hoje, talvez um tanto perplexo, colocando na balança nossas realizações. A vida e a contribuição para a história da “geração da liberdade”.
Ah, sim, Asas sobre nós é também uma história de amor, que se confunde com a energia e o sonho da juventude e vai amadurecendo, como nós e o mundo. Vida pessoal e coletiva assim vão se misturando, sem que saibamos ao certo qual influencia mais a outra.
Este livro estava indo para a editora Record, onde publiquei meu último romance, mas aconteceu no meio do caminho a oportunidade de lançar no Brasil a Assírio & Alvim, maior editora de poesia em Portugal, casa dos grandes poetas portugueses, de Camões a Pessoa, vindo aos contemporâneos. Assim, Asas sobre nós acabou virando a primeira obra de um brasileiro na Assírio & Alvim - e no Brasil. E a única da qual não sou o editor, e sim, na prática, o Pedro Paulo.
Hoje posso dizer que de fato eu não saberia escrever este livro de outra forma. Graças às minhas conversas com Pedro Paulo, entendi que agora essa é minha linguagem, e tudo o que passei a fazer dessa maneira, desde então, flui caudalosamente.
A poesia já deixou de ser algo que sempre fiz para mim mesmo, como um exercício, ou uma prece. um momento íntimo, quase que diário. Agora, está indo para a rua. Para julgamento do leitor.
Asas sobre nós é, portanto, o que eu chamo de um poema geracional. É um livro ambicioso, como todos os que faço, e não deixa de ser um livro de história, mas, desta vez, como digo na obra, é uma história não de fatos, mas do “espírito dos tempos” – nossos sonhos, nossos desejos, aspirações, e o que disso fizemos.
A história que, no fim das contas, mais importa a todos nós
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