São 11:30 da manhã e entro no apartamento em Higienópolis de Pedro Paulo Sena Madureira, o Oráculo do Engenho Velho, com seus tapetes, obras de arte e castiçais de cristal, para olharmos juntos o meu livro-poema, que ele considera agora seu achado, e de que anda cuidando como se fosse o seu bebê.
Sentados à mesa de vidro da varanda, ele repassa comigo página por página, mostrando todas as suas observações na obra que ele diz já ter lido e relido "vinte vezes".
Fez esse mesmo trabalho com poetas que lançou, como Adélia Prado. Eu não esperava merecer tudo aquilo, mas como se trata de PP, editor dos maiores poetas e romancistas brasileiros, nem eu posso duvidar dele.
E, estremecendo, fico ouvindo PP ler em voz alta o texto, que ele interpreta e, às vezes, corrige.
Cortou algumas estrofes inteiras, de vez em quando acrescentou palavras, e faz questão de declamar as partes de que gosta mais, que são muitas. De vez em quando, ele interrompe a leitura para falar de algo que o poema lhe evoca, como o suicídio de Pedro Nava, de quem era editor e amigo próximo.
Ficamos assim três horas e meia, até que chegamos ao verso final.
Silêncio, um instante. Sentimos, eu e ele, o peso do que escrevi, e que PP, com a pontinha da caneta aqui e ali, como o grande editor que é, ajudou a realçar.
- Suas ex-mulheres deveriam ler isto aqui - ele diz. - Será que lerão?
- Acredito que não - respondo. - É coisa demais para elas.
- Meu bem - diz ele, como costuma fazer com quem lhe é mais caro. - Depois deste livro, você... É. Demais.
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