"Desde o seu começo, o Brasil é iludido com o próprio mito do paraíso tropical. A terra farta e benfazeja permitia ao índio e ao português recém-chegado não se preocupar com o amanhã, enquanto em outras terras gente endurecida e trabalhadora lidava com o frio, as intempéries e a escassez em geral. Os primeiros se tornaram os colonizados. Os segundos, os colonizadores.
A epidemia do vírus corona pode trazer algo de bom e novo ao Brasil: a consciência de que estamos sujeitos não apenas à exploração alheia, como a desgraças de verdade, que exigem uma resposta coletiva, em que todos podem e devem empenhar-se na busca pela solução.
É certo que a pandemia deixará sequelas importantes na economia mundial. Países mais desenvolvidos, porém, já passaram por coisa muito pior, incluindo duas guerras mundiais. Aprenderam, no pior, que pode-se sair melhor do outro lado, depois de um esforço de reconstrução.
A falta de familiaridade com a dificuldade ou de consciência da gravidade da crise fez o governo brasileiro pensar que medidas comuns, como um simples ajuste de contas do setor público e medidas liberais da economia, podiam tirar o Brasil da miséria em que se encontra. Pois essa ilusão desapareceu de vez agora que a crise se aprofunda com a paralisação da economia diante de um cataclisma mundial.
O presidente Bolsonaro entrou numa fase de Dilmização. Confuso, anda obcecado por seus fantasmas, especialmente a perseguição da imprensa, e provavelmente abalado com as investigações que rondam sua família. Agarra-se ao poder como sua salvação. Não é a melhor forma de tomar decisões para o país.
Precisamos pensar desde já na reconstrução do Brasil depois dessa crise. Não estamos acostumados, mas temos de elaborar um plano exequível e reto de reconstrução nacional a curto, médio e longo prazos. Isso significa um tempo de economia de guerra, para a retomada da produção.
Esse plano não pode contemplar somente o setor financeiro, como especialmente o produtivo, com emprego de mão de obra maciça, começando pela construção civil. A produção e a renda têm de ser a prioridade. Além da tecnologia, da qual temos pouca, só o trabalho gera riqueza. Temos de ser, nesse aspecto, uma nova China.
O Brasil precisa se colocar em movimento, sem achar que as coisas, como sempre, serão resolvidas sozinhas, ou num passe de mágica. Temos de abolir o DNA indígena que ainda há dentro de nós. Não adianta cair no paternalismo de sempre, esperando do chefe os presentes - e os resultados.
Do operário ao capitão de indústria, teremos de arregaçar as mangas. Todas as grandes potências do mundo saíram ricas depois das mais catastróficas experiências de guerra. A guerra ou as crises profundas são o que nos obriga a melhorar, tirando a sociedade da letargia e da confusão.
Mais do que de um remédio contra o corona, o Brasil precisa, democraticamente, e com a participação de todos, de uma direção.
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