Certa vez, ouvi de um sábio chinês que o sentimento não tem tempo. Você pode sentir a mesma coisa que sentiu na infância, com a mesma intensidade e o realismo de quem está sentindo aquilo pela primeira vez.
Sempre pensei nisso pelo lado negativo da balança. A ideia do sábio chinês é de que você tem de resolver os conflitos do passado. Não perdoar, apenas, pró-forma, como se fosse uma concessão ao perdoado. Ao contrário do que muitos pensam, o perdão não é para quem é perdoado. É sobretudo para quem perdoa.
Ao perdoar, mudamos o significado do sentimento, para que a raiva, a tristeza, o rancor e o ressentimento deixem de nos machucar - o que os psicólogos chamam de "re-significação".
Se você não resolve sentimentos conflituosos do passado, esse passivo de sentimentos venenosos vai se acumulando. A pessoa fica rancorosa, amargurada, e até doente.
Perdoar significa perder essa carga ruim que vamos acumulando quando não resolvemos sentimentos negativos que vão surgindo ao longo da vida. Perdoar deixa quem perdoa mais leve. Você esquece, deixa de sentir. E isso traz saúde.
Há também o outro lado. Se o sentimento não morre, assim também é o amor. Você pode amar uma pessoa com quem viveu há muito tempo atrás. O sentimento vem, volta, parece que renasce. Mas é que ele nunca saiu de lá.
Uma história de amor não vai embora. A menos que você a apague. Mas, nesse caso, talvez fosse melhor não apagar. Todo amor é algo para se lembrar.
O coração é grande. Quem teve mais de um filho sabe como é possível amar muito a mais que uma pessoa e da mesma forma. Cabe muita gente num só coração. Porque com o amor romântico seria diferente?
Não se apaga um antigo amor. Mas podemos lidar com ele também de forma diferente. Para poder seguir adiante. para mudar de vida. Basta re-significá-lo.
Todas as pessoas da sua vida ficam com o seu lugar. Na tapeçaria dos sentimentos, ajudam a formar a trama de quem somos. Há belos tapetes de um só fio. Há tramas com fios e cores diferentes e que rendem desenhos complexos. Todos podem ser belos.
Um homem é quem ele nasce, o que ele aprende, mais a soma de suas experiências. Podemos escolher também o que sentimos. Para nos aproximar dos sábios chineses, de sabedoria tão grande quanto seus bigodes proverbiais.
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