Eu o conheci em 1993, estranhamente, na África. Ele fotografava como freelancer para a revista Viagem e Turismo, então dirigida por Jorge de Souza, que estava conosco num grupo de jornalistas convidados a conhecer a África do Sul e o Quênia. Lá, entre outras peripécias, empurramos juntos uma van por oito quilômetros na lama, o "black cotton soil" da savana africana, num lugar infestado por hienas e leões.
Acompanhando o jogo por telefone, comemoramos quando o Palmeiras saiu de uma fila de 17 anos sem títulos. Ao final daquela dura viagem, pulávamos, ríamos, rodopiávamos no amplo saguão de um hotel de luxo em Joahnesburgo, em meio às senhoras britânicas, que nos olhavam com uma sobrancelha de espanto, enquanto tomavam o chá das 5.
Combinamos então que em toda decisão importante nós dois deveríamos estar em algum lugar distante do mundo, certos de que era isto o que tinha nos dado sorte. O Palmeiras foi campeão muitas vezes depois disso, mas sempre queríamos saber onde o outro estava nas decisões. E brincávamos com isso.
Quando voltamos ao Brasil, a capa de Viagem e Turismo foi a mais impactante: a foto fechada no rosto de um xamã, emplumado e pintado de múltiplas cores na pele negra e gretada, que dava toda a dimensão misteriosa e selvagem da África. Com ela, a revista ganhou naquele ano o prêmio Abril de "Melhor Capa". Quando saiu o resultado, ri quietinho. E Bari também.
O que a foto não contava era a esperteza de Bari e Jorge. Embora tenhamos entrado numa aldeia masai de verdade e conhecido um rei tribal, o personagem de capa na verdade era um malandro que ficava em um posto de gasolina, na estrada para Nairobi. Pintava-se e emplumava-se para fazer fotos com os turistas. Quando eu o vi, estava sentado numa cadeira, em frente à lanchonete, fumando um Marlboro. Jorge e Bari o levaram a um canto e ali fizeram a sua foto. Que lhes custou, como custaria a qualquer um, algo como cinco dólares.
Seu trabalho o levou a muitos países e Bari não hesitava em se arriscar de verdade para fazer a melhor imagem. Tinha uma visão original de tudo para o que apontava a lente, de um avião a um arranha-céu. Mas não se gabava nem tinha a vaidade de outros fotógrafos. Gostava de ensinar aos mais jovens e trabalhava em função da equipe, o que fazia dele um profissional ainda melhor.
Era um bom parceiro, boa companhia, e tecnicamente impecável. Em Quatro Rodas, firmou-se pelo detalhismo, o apuro técnico, a abordagem do jornalista. Fotografar um carro em jornalismo é muito difícil - e Bari sabia o que fazer. Ele conseguia mostrar o carro, ainda que estivesse em movimento. Você podia ver o cenário, ter a sensação de velocidade, mas podia enxergar a máquina, nas formas e em cada detalhe, como se ela estivesse parada sensualmente numa loja - e iluminada por dezenas de holofotes.
Ele também tinha paciência. Quatro Rodas, por exemplo, desmontava seus carros de teste, peça por peça, para mostrar seu desgaste. Aquilo tudo era perfilado no chão e fotografado, mostrando o carro inteiro desmanchado. Era uma composição: e Bari fazia aquilo como ninguém.
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