Está saindo do forno um livrinho tão delicioso de ler quanto importante e expressivo do jornalismo brasileiro. "Histórias secretas: os bastidores dos 40 anos de Playboy no Brasil" é uma coletânea de textos de alguns dos principais colaboradores de Playboy, no longo período em que foi publicada pela Editora Abril. Entre eles, eu, integrante da ilustre e seleta galeria dos jornalistas que tiveram pela frente o desafio de dirigir a revista.
Pela primeira vez, se pode ter uma boa ideia de como era feita a "revista mais gostosa do Brasil".
Vista pelo lado de dentro, (ou tirando a sua roupa), ao contrário da imagem corrente de "o melhor emprego do mundo", Playboy na verdade era trabalho muito árduo. Somente graças a um imenso esforço coletivo, em redações sucessivas de gente muito competente, se estabeleceu na publicação brasileira um padrão de excelência ímpar, assim reconhecido pela matriz americana.
As "Histórias Secretas" são crônicas instigantes e elucidativas sobre como Playboy funcionava. O relato daquilo que não deu certo é tão ou mais interessantes do que o daquilo que deu certo. Nesse mosaico, esboça-se o quadro de uma era destinada a nunca mais se repetir, tempos que hoje podemos chamar de pioneiros do papel impresso. Por isso, o livro ganha contornos de documento histórico.
Uma das virtudes da obra, ao mostrar quem fazia a revista, é justamente jogar luz sobre o outro lado: aqueles que trabalhavam para jogar luz sobre os outros, tanto as estrelas que ilustravam os ensaios sensuais como as celebridades que povoavam suas páginas em entrevistas e reportagens. Pode-se assim ter uma boa ideia de como Playboy decolou, firmou seu padrão de qualidade, inclusive em jornalismo, e das condições de seu declínio, até ser encerrada na Editora Abril.
Esse é o capítulo que faltou ao livro: falar um pouco mais sobre o grande defensor de Playboy na Abril, que foi seu editor, Roberto Civita. Com sua morte, a empresa perdeu não somente o homem que trouxe Playboy ao Brasil como foi seu sustentáculo, até o dia de sua morte.
O caso de Playboy é significativo de uma era de ouro da imprensa brasileira. E revela que a morte das publicações não ocorre apenas em função da mutação das mídias, como à perda de seus líderes e à incapacidade de adaptação às transformações sociais e de mercado. Uma das funções do jornalismo é refletir e comprender os tempos e o público leitor. Por isso, Playboy é um interessante estudo de caso para a imprensa refletir sobre si mesma. Se quiser mesmo subsistir.
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