domingo, 15 de junho de 2014
Messi, a promessa dele mesmo
Lionel Messi, o grande astro argentino, tido por muita gente como o melhor jogador do futebol contemporâneo, me lembra muito Zico, craque do Flamengo e da seleção brasileira, que teve seu auge nos anos 1.980.
Como Zico, que precisou de muita injeção para crescer, Messi é baixinho. Também como Zico em seu início de carreira, no Flamengo, o jogo de Messi é feito de descidas vertiginosas para o ataque, em profundidade ou na diagonal, graças ao drible em velocidade, finalizado pelo disparo mortal.
Nos clubes, ambos tiveram a sorte de jogar em grandes times, o que só faz o craque brilhar mais. No Flamengo, Zico tinha por companheiros jogadores como Andrade, Júnior e Adílio, que com ele levantaram um título mundial. Eram todos jogadores hábeis, que gostavam da troca de bola, da tabela, do futebol envolvente. O Flamengo de Zico era sempre o dono do jogo. Messi joga no superestrelado Barcelona, ao lado de outros craques com o mais fino trato da bola, como o campeão mundial Iniesta.
No começo da carreira, embora fosse já um craque no Flamengo, Zico era bastante criticado na seleção. Por muito tempo, dizia-se que desaparecia com a camisa amarela, por não repetir no Brasil o seu desempenho no clube. Com duas copas na bagagem, sem ganhar nenhuma, com atuações apagadas, embora seja o segundo maior artilheiro da história da sua seleção, Messi hoje recebe a mesma crítica na Argentina. É considerado mais um jogador de clube que de seleção.
Com o tempo, Zico mudou. Do jovem jogador que partia com tudo para o ataque na base do drible e da habilidade, tornou-se também um grande armador, ao mesmo tempo em que a experiência ia substituindo a juventude. Tornou-se um jogador praticamente completo, e, mais experiente, foi também um grande destaque na seleção. Teve a sorte de disputar duas copas ao lado de grandes jogadores, como Sócrates, com quem fez uma bela dupla. Não ganhou nenhuma, mas o time de 1.982, dirigido por Telê Santana, até hoje é uma referência do futebol brasileiro, bonito, bem jogado, que se não ganhou, por mera fatalidade, mereceu a taça mais que qualquer outro.
Messi também não ganhou Copa, ainda. E terá muito trabalho, porque não tem na seleção, ao seu lado, craques como os que tinha Zico. O time da Argentina, que hoje bateu por 2 a 1 a Bósnia, que mais parece um time de universitários, não foi muito convincente. Beneficiada por um gol contra bósnio, a Argentina teve um primeiro tempo apático e, se dominou o segundo tempo, não chegou a ter cara de time campeão, titubeando no final.
Ele fez um gol, a seu modo: carregando a bola, tirando os zagueiros da frente, até achar a brecha para o chute. Porém, na maior parte do jogo limitou-se a devolver para trás as bolas que vinham em sua direção. Pouco jogou para o time.
A Copa de 2.014 vai ser decisiva para a história de Messi. Se ganhá-la, pode equiparar-se a um Maradona, que conquistou uma Copa do Mundo pela Argentina num time guerreiro, mas tecnicamente mediano, o que lançou ainda mais sobre ele a fama de milagreiro, simbolizada pelo gol de mão feito diante da Inglaterra.
Messi pode, também, chegar perto de um Zico, se for mais solidário, contar com a ajuda dos companheiros, e fizer de suas partidas aquele espetáculo que deixa saudade nos apaixonados pelo futebol, mesmo se não ganhar nada.
Ou pode ser apenas apenas o que foi hoje, na sua partida de estreia na Copa de 2.014: uma eterna promessa dele mesmo.
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