sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
Prece da terra
Passageiros do tempo
Sem começo nem fim
Testemunhas transformadas em inextinguível parte
Do rio que corre rumo ao certo desconhecido
Senhores da paisagem
As nuvens benfazejas na primavera da manhã
A resplandecer ao sol esperança e vida
Levantando o vapor na prece matinal da terra
A chuva e o arco iridescente
Porta celestial do agreste
Por onde entram os sonhos
As estrelas que vemos e não vemos
As que brilham além do além
A lua no frescor miraculoso
Beleza estéril no deserto celeste
Que ganha brilho quando aqui estamos
Nós que damos vida e sentido ao infinito nada
Pradarias e ravinas
Todos os verdes que eu já vi
Aves brancas que revoam na tarde finda
Povoando e destruindo o ninho acolhedor
Os sons da mata
Silêncios partidos
O zunido do vento
O rosnar do trovão
A brisa cortante
O bafo quente e pulsante
Das tardes lentas
E surdas do verão
A chuva em torrente
A lavar o presente
Fecundando a paixão
No afã da cozinha
O fogo a bailar
As mãos generosas
O abraço fortuito
Que se põe a dançar
A água mata a sede a morte da gente
E nas noites de calma e vigília
Uma cidade aos pés
Flores e perfumes bailando
Seja festa ou solidão
Suor do rosto ou sangue vertido
Descanso do cavalo a galope
Ou da caminhada sem rumo
Que busca a trilha inesperada
Reencontro da paixão
Viver e dominar o instante
Teimosos como a Terra
Estações e seus destinos
E quando tudo parece acabado perdido
Acho de novo a morada
E voo
Se o tempo permite que ainda se escreva
Ou reescreva o que não foi o mais certo
E ponha o meio ao inteiro
E revele o que não foi descoberto
É certo:
Meu veleiro nas nuvens
Onde quis fundear
Um amor verdadeiro
Bem podia ter sido o primeiro
Todo o tempo esteve por lá
Um dia a barca nas nuvens
Será parte do sempre
Escombro, talvez, entre
Galhos e ervas e traves moídas de podre
O chão rachado de sol e intempérie
A cinza do fogo esquecido da gente
Mas entre as raízes que reclamam espaço
Levantarão não velhos fantasmas
E sim as sementes levadas ao vento
A fecundar outra era e lugares
Fruto do amor que é eterno presente
Bem que nunca se acaba
Para ler mais poemas de Thales Guaracy:
http://www.livrariasaraiva.com.br/produto/4882279/inventario-da-emocao
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