O Eduardo Ribeiro, editor do Jornalistas & Cia, me procurou para saber o que eu tenho a dizer sobre minha passagem pela direção da revista Playboy. Segue aqui minha resposta.
Nunca imaginei um dia dirigir a Playboy, mas não fiz pouco caso do cargo que me foi oferecido, por onde passaram grandes jornalistas, que sempre respeitei, como Mario de Andrade, Carlos Maranhão e Ricardo Setti. O mercado mudou muito, as condições eram outras, mas achei que seria um bom desafio tentar recuperá-la nestes tempos complicados para a mídia impressa e especialmente para revistas que, apesar do pé muito firme no jornalismo, devem boa parte de sua venda a um prato principal facilmente copiável pelos piratas.
Fui convidado para dirigir a Playboy em abril passado pelo Roberto Civita, que mandou o Alfredo Ogawa como emissário. Depois de um almoço na Vila Madalena, o Ogawa me disse que o Roberto tinha pedido que eu escrevesse vinte linhas sobre o que eu achava que deveria ser feito com a Playboy. Escrevi e, com base nisso, ele me pediu que dirigisse a revista.
Porém, quando assumi o cargo, ele estava hospitalizado e em seguida veio a falecer, de modo que nunca chegamos a trabalhar juntos no projeto para a Playboy. Roberto era um grande defensor da revista, que para ele era um pilar da editora, assim como Veja e Exame, as três publicações que ele considerava serem sua marca na empresa.
Sem ele, as condições para fazer Playboy mudaram rapidamente e creio que minha saída era uma questão de tempo. Procurei fazer o melhor que pude, pelo prazer do trabalho e um pouco como uma última homenagem ao Roberto. Nesse período, acho que conseguimos coisas boas. Em sete meses, o número de likes da Playboy no Facebook subiu de 250 mil para mais de 1,4 milhão. A edição com Antonia Fontenelle foi a mais vendida em mais de um ano e a edição de Nanda Costa foi a mais vendida desde Adriane Galisteu, em agosto de 2011, um excelente resultado, especialmente num mercado declinante como é o de revistas. O nome de ambas, segundo o Google divulgou esta semana, está entre os termos mais buscados no Brasil em 2013.
Acima de tudo, Playboy voltou a ter repercussão e restabeleceu uma certa qualidade editorial, tanto nos ensaios como no jornalismo. Os pelos pubianos de Nanda Costa foram top trend no twitter seis dias seguidos e o ensaio com a Morena da novela firmou o verdadeiro nome da atriz junto ao público. A coragem de Fontenelle em posar depois da viuvez e contra todas as patrulhas também foi um marco importante na história da revista, assim como a nudez da primeira evangélica na história da publicação: Aline Franzoi. Aline chegou a receber ameaças de morte e enfrentou tudo com sobriedade, firmeza e coragem.
Desnudamos também Meyrielle Abrantes, a ex-mulher do senador Jarbas Vasconcelos, a nossa pequena vingança, porque enfim não é Brasília que escandaliza a gente, e sim nós que escandalizamos Brasília.
Não posso deixar de falar também da Pietra Príncipe, a loirinha abusada do Papo Calcinha, programa do Multishow, que mostrou realmente ser capaz de tudo, incluindo voar do lado de fora de um helicóptero, nua como veio ao mundo. Tive de confrontar a Playboy americana, que reclamou dela aparecer na capa segurando uma arma - em Playboy, são proibidas armas, referências à violência, a religião, sexo explícito e sadomasoquismo. "Tudo o que é divertido", me disse ela, quando lhe contei a história.
Encerrei minha participação com a edição histórica dos 60 anos de criação de Playboy, que juntou a beleza da coelhinha Thaíz Schmitt com a ideia de homenagear as fotos memoráveis da revista.
Saio satisfeito com o que foi feito. Minha última iniciativa foi estimular a criação de uma plataforma nova na internet, na qual Playboy teria parte de seu conteúdo fechado para assinantes, de maneira a poder fazer receita na internet e crescer aonde o mercado está crescendo, além de desestimular a pirataria na rede. É assim que Playboy já funciona há muito tempo no mundo inteiro, menos no Brasil. Um prova de que estamos ainda muito atrasados e equivocados no mundo dos negócios virtuais.
Agora vou voltar a fazer livros. Tenho dois projetos de livros de reportagem sobre o Brasil, para os quais ainda preciso de editor. E criar projetos de comunicação para empresas que envolvam diversas plataformas de midia na minha empresa, a Comunicom. Torço para que a Playboy permaneça como uma revista respeitável, inclusive na sua matéria principal, e que na internet possa recuperar os anos perdidos para a pirataria. É preciso crescer nos mercados que crescem, em lugar de apenas defender os anéis onde eles inexoravelmente vão sendo perdidos.
Link para o texto do Eduardo:
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