A homenagem da feira de Frankfurt não significa muito. A esmagadora maioria das pessoas que vão à feira para fazer negócios nem sequer passa pela ala do pavilhão onde está a exposição do país homenageado. A maior parte do público fica sabendo que há um país homenageado somente quando come hotdogs no pátio central entre os oito enormes pavilhões, na hora do almoço. É lá que acontecem os shows, em geral meio naives, dos países convidados.
Recentemente, tivemos a Argentina, que teve como destaque uma enorme foto de Maradona, e a Islândia, um país de cuja existência pouca gente se dá conta. No ano passado, foi a Nova Zelândia. No palco diante da plateia que fazia a digestão ao sol que combatia o ar gelado, havia um grupo de indígenas maoris que, com seus atabaques, ilustravam o slogan do país - o lugar "onde se trabalha enquanto vocês (todos nós do resto do planeta que não vive no meio do Oceano Pacífico) dormem".
Frankfurt é uma feira de vocação comercial, e não uma festa literária como a de Paraty, mas de todo modo poderia ser aproveitada para fazermos algo que seria muito importante para a cultura brasileira: vender mais os nossos autores no exterior. A rigor, existem somente dois autores brasileiros que se tornaram autores internacionais. Um deles é Jorge Amado, publicado em diversos países, graças a uma rede de amigos comunistas, construída por ele quando ainda estava vivo, e que ajudou a difundir sua obra no passado. O outro grande autor brasileiro aos olhos do mundo é Paulo Coelho, um escritor que, mesmo sem prestígio intelectual no Brasil, conseguiu vender sua obra em 156 países, graças à temática espiritualista e ao trabalho de uma agente lutadora e perspicaz: Mônica Antunes.
É muito pouco.
Em Frankfurt, poderíamos tentar fazer mais, mas a participação brasileira mostra o velho Brasil de sempre: voltado para o próprio umbigo e com as mesmas mazelas. No seu discurso inaugural, o escritor Luiz Ruffato falou um monte de verdades, mas que só interessam a nós, brasileiros. Pelo discurso de Ruffato, passou-se a ideia de que o Brasil é um país com uma história cheia de crueldades, como se isso fosse uma boa razão para nos colocar no Primeiro Mundo, onde também se construiu a riqueza à custa de massacres e da exploração aviltante dos mais pobres.
O vice-presidente Michel Temer, que fez seu discurso em seguida, representando a presidente Dilma e o governo brasileiro, aproveitou a ocasião para bajular a si mesmo, lembrando que, além de deputado constituinte, é poeta bissexto.
Frankfurt é uma feira de vocação comercial, e não uma festa literária como a de Paraty, mas de todo modo poderia ser aproveitada para fazermos algo que seria muito importante para a cultura brasileira: vender mais os nossos autores no exterior. A rigor, existem somente dois autores brasileiros que se tornaram autores internacionais. Um deles é Jorge Amado, publicado em diversos países, graças a uma rede de amigos comunistas, construída por ele quando ainda estava vivo, e que ajudou a difundir sua obra no passado. O outro grande autor brasileiro aos olhos do mundo é Paulo Coelho, um escritor que, mesmo sem prestígio intelectual no Brasil, conseguiu vender sua obra em 156 países, graças à temática espiritualista e ao trabalho de uma agente lutadora e perspicaz: Mônica Antunes.
É muito pouco.
Em Frankfurt, poderíamos tentar fazer mais, mas a participação brasileira mostra o velho Brasil de sempre: voltado para o próprio umbigo e com as mesmas mazelas. No seu discurso inaugural, o escritor Luiz Ruffato falou um monte de verdades, mas que só interessam a nós, brasileiros. Pelo discurso de Ruffato, passou-se a ideia de que o Brasil é um país com uma história cheia de crueldades, como se isso fosse uma boa razão para nos colocar no Primeiro Mundo, onde também se construiu a riqueza à custa de massacres e da exploração aviltante dos mais pobres.
O vice-presidente Michel Temer, que fez seu discurso em seguida, representando a presidente Dilma e o governo brasileiro, aproveitou a ocasião para bajular a si mesmo, lembrando que, além de deputado constituinte, é poeta bissexto.
Enquanto isso, como um bando de estudantes, um grupo de escritores tentava angariar assinaturas em favor de um manifesto de apoio à greve dos professores. O Brasil foi a Frankfurt para falar mal de si mesmo e mostrar seu provincianismo terceiromundista, num momento em que deveria estar se colocando como o país emergente que tem mais a oferecer.
O Brasil tem graves problemas, é verdade. Enquanto escritores convidados pelo governo fazem seu circuito auto-referente, o país mergulha no momento pior de sua ciclotimia. Há dois anos, o Brasil era um país genial, que crescia a olhos vistos, sem perceber que as reformas estruturais necessárias para garantir um crescimento sustentado estavam sendo deixadas de lado.
O Brasil tem graves problemas, é verdade. Enquanto escritores convidados pelo governo fazem seu circuito auto-referente, o país mergulha no momento pior de sua ciclotimia. Há dois anos, o Brasil era um país genial, que crescia a olhos vistos, sem perceber que as reformas estruturais necessárias para garantir um crescimento sustentado estavam sendo deixadas de lado.
A crise mundial pouco afetou o Brasil, mas começa a aparecer agora, como um efeito retardado. O país ainda investe muito pouco em educação, que é o fator realmente fundamental para um povo sair da miséria.
O governo federal cria uma série de programas fantasiosos para distribuir dinheiro a ONGs e outra entidades, de modo a alimentar uma enorme caixa preta onde a corrupção pode grassar à vontade. Enquanto isso, a classe média urbana, que paga a conta da bandalheira e vive cada vez mais cercada por impostos e taxas, que só acrescentam à carestia, vai às ruas protestar por melhores salários, acompanhada pelos baderneiros de plantão, que gostam de incendiar ônibus e virar carros de polícia, num acintoso desafio ao poder público.
Mudar para o Primeiro Mundo passa, em primeiro lugar, por uma mudança de mentalidade. O Brasil precisa se desprender de seus antigos comportamentos, que vão do provincianismo de seus políticos ao panfletarismo inócuo da sua intelectualidade. O Brasil tem de deixar de ser o país do futebol e do carnaval e se mostrar como um país sério, com uma cultura mais complexa e rica, onde a literatura ocupa um lugar especial, porque é do mundo das ideias que saem as ações que levam a um país melhor.
O autor brasileiro precisa entrar no mercado internacional, o que não depende de Frankfurt, mas de uma mentalidade globalizada. A importância de Frankfurt tem sido a de mostrar o quanto ainda estamos longe disso, e logo no país onde o livro é ainda uma indústria poderosa e até mesmo invejada pelo seu mercado interno. Temos uma enorme riqueza intelectual e pouca capacidade de vender nossa produção ao mundo inteiro, para ter autores importantes, e não apenas no exterior, como aqui dentro.
Ser vendido no mundo hoje é um passo essencial até mesmo para que o autor brasileiro ser vendido no próprio Brasil, um país que consome o produto globalizado, e por essa razão praticamente eliminou os autores nacionais das listas de obras mais vendidas.
Temos hoje um risco, que é a própria morte da cultura brasileira, diante da avalanche cultural estrangeira à qual se tem tão fácil acesso. Precisamos vender o Brasil para o mundo, para poder vendê-lo para o próprio Brasil, sem o quê deixaremos, perigoso castigo, de existir como Nação.
Os maoris em ação em Frankfurt 2012 e a efígie de Maradona: nada de literatura
O governo federal cria uma série de programas fantasiosos para distribuir dinheiro a ONGs e outra entidades, de modo a alimentar uma enorme caixa preta onde a corrupção pode grassar à vontade. Enquanto isso, a classe média urbana, que paga a conta da bandalheira e vive cada vez mais cercada por impostos e taxas, que só acrescentam à carestia, vai às ruas protestar por melhores salários, acompanhada pelos baderneiros de plantão, que gostam de incendiar ônibus e virar carros de polícia, num acintoso desafio ao poder público.
Mudar para o Primeiro Mundo passa, em primeiro lugar, por uma mudança de mentalidade. O Brasil precisa se desprender de seus antigos comportamentos, que vão do provincianismo de seus políticos ao panfletarismo inócuo da sua intelectualidade. O Brasil tem de deixar de ser o país do futebol e do carnaval e se mostrar como um país sério, com uma cultura mais complexa e rica, onde a literatura ocupa um lugar especial, porque é do mundo das ideias que saem as ações que levam a um país melhor.
O autor brasileiro precisa entrar no mercado internacional, o que não depende de Frankfurt, mas de uma mentalidade globalizada. A importância de Frankfurt tem sido a de mostrar o quanto ainda estamos longe disso, e logo no país onde o livro é ainda uma indústria poderosa e até mesmo invejada pelo seu mercado interno. Temos uma enorme riqueza intelectual e pouca capacidade de vender nossa produção ao mundo inteiro, para ter autores importantes, e não apenas no exterior, como aqui dentro.
Ser vendido no mundo hoje é um passo essencial até mesmo para que o autor brasileiro ser vendido no próprio Brasil, um país que consome o produto globalizado, e por essa razão praticamente eliminou os autores nacionais das listas de obras mais vendidas.
Temos hoje um risco, que é a própria morte da cultura brasileira, diante da avalanche cultural estrangeira à qual se tem tão fácil acesso. Precisamos vender o Brasil para o mundo, para poder vendê-lo para o próprio Brasil, sem o quê deixaremos, perigoso castigo, de existir como Nação.
Os maoris em ação em Frankfurt 2012 e a efígie de Maradona: nada de literatura
(Olá, eu não sabia muito bem como entrar em contato para avisar sobre isso, mas em um post recente do meu blog, eu citei uma postagem sua. Obrigada.)
ResponderExcluir