Existem as grandes virtudes e as virtudes superiores. Um estágio mais avançado de sabedoria.
As virtudes superiores não combinam com a juventude, demoram a ser alcançadas. Demandam tempo e experiência para se formar, por isso só vicejam na maturidade. E representam um novo tipo de poder.
Depois de descobrir o poder da palavra, aprende-se o poder do silêncio.
Depois de querer ser alguma coisa, queremos ser nós mesmos.
Depois de aprender a lutar, aprendemos a resignação.
Depois da volúpia, vem a moderação.
Depois de desenvolver nossos potenciais ao limite, temos de aprender a parcimônia e a modéstia.
Depois de desafiar, aprendemos a aceitar e conviver.
No lugar da persistência, vem a temperança.
No lugar das paixões e do amor, aprende-se amizade.
Isso não é envelhecer, é aprender. Quando jovens, somos menos humanos. Pensamos menos nos outros e mais em nós mesmos. Somos egoístas e acreditamos poder muita coisa. Descobrimos que antes de nós muitos já tentaram as mesmas coisas e mesmo as coisas mais impossíveis; que o sucesso em algo é apenas um recomeço para uma nova busca; que viver apenas para nós mesmos não faz sentido e todas as conquistas que servem apenas a nós se tornam vazias.
Envelhecer é se conformar, é desistir? Não. Podemos conseguir mais e melhores objetivos de outra maneira. Inclusive o de viver melhor e sermos mais felizes.
Dessa nova forma, podemos também ajudar mais os outros. A idade mostra que tudo o que fazemos não é para nós, ou pelo menos não deveria ser. Porque vamos embora um dia, e os outros ficam. Então, só há sentido real naquilo que fazemos para os outros. Não para sermos lembrados, mas como um benefício, um bem real, que mostra que a nossa presença fez alguma diferença.
Quando o homem se aproxima do limite da existência humana, vai mudando de valores, pois já não faz sentido disputar, guerrear, acumular riqueza; descobre que antes se debatia contra tudo, e agora quer seguir o leito do rio e entrar em harmonia com a existência para melhor aproveitá-la. Busca bens mais efêmeros, tanto quanto os duradouros, no seu dia a dia; como no sorriso, no abraço, na beleza do gesto. Quando já não temos muito tempo, aprendemos a paciência. Quando já não temos tanto vigor, admiramos e buscamos mais a força da vida.
A virtude superior evita que se perca tempo ou nos distraiamos com embates e buscas inúteis. E nos preocupamos menos em educar do que em estar ao lado dos jovens. Dar o exemplo ou pregar é inútil. Os tempos mudam e cada geração tem sua própria sabedoria. Os utopistas do passado, aqueles que tentam algum tipo de conservação de valores, que buscam raízes num mundo existente somente nos livros de história, a pretexto de ensinar, são os verdadeiros velhos.
A sabedoria está em não deixar de ser quem você é e mesmo assim ser alguém capaz de mudar com o tempo, adaptar-se, sem queixas nem melancolia. Continuar como uma força transformadora, porque se os tempos mudam, é por conta daqueles que um dia já foram jovens e vão envelhecendo. Os homens reclamam muito que os tempos mudaram, sem dar-se conta de que foram eles mesmos que os mudaram.
E são os melhores anos, sempre, aqueles que virão.
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