Por que casais não conseguem falar sobre o relacionamento
Entre os muitos e-mails que recebo comentando o que aqui vai publicado chegam, um pouco para meu espanto, muitos agradecimentos de mulheres. Elas dizem que aqui, assim como em meus romances, aprendem mais sobre como os homens pensam e sentem. E que isso as ajuda em sua vida pessoal.
O último desses contatos foi de uma moça que elogiava o texto confessional que escrevi sobre minha visita com o pequeno André a um estádio de futebol e a relação de amor entre os homens tendo o esporte como intermediário. Segundo ela, o que escrevi a teria feito entender afinal a maneira como seu pai procurava relacionar-se com ela. E diz que isso colaborou para entendê-lo melhor – e entender-se com ele.
Não vêm somente daí os sinais de que os homens permanecem um mistério para as mulheres. Outro dia, durante o Autores e Idéias, debate que promovo uma vez por mês no auditório da Livraria de Vila no Shopping Cidade Jardim, a jornalista Marília Gabriela queixou-se perante a platéia lotada de que sempre gostou de conversar sobre o relacionamento – e os homens, não.
“Homens não gostam de falar sobre o que estão sentindo, enquanto eu falo até demais”, disse ela. Com um sorriso, acrescentou que tivera um marido que pelo menos “sabia lidar” com ela. Desviava de suas tentativas de botar a vida em pratos limpos com alguma frase com aquele velho sentido: “...Lá vem você de novo criando caso à toa...”
Marília é uma pensadora, uma mulher inquisitiva e inquieta – o que provavelmente colaborou para que se tornasse a melhor entrevistadora de TV do país. Diante da platéia, ela perguntou o que eu achava. “Não posso achar que os homens não gostam de falar sobre relacionamentos”, respondi. “Como romancista, é só o que eu faço.”
A idéia de que homens não gostam de falar sobre a vida amorosa é equivocada, mas vastamente difundida. Falar de amor não é peculiaridade feminina. É verdade que homens muitas vezes manifestam seu afeto de uma forma não verbal, especialmente com outros homens, como é o caso da camaradagem do futebol. Isso não significa, porém, que evitem o assunto por princípio – principalmente com suas próprias mulheres. E elas também demonstram afeto de maneiras não verbais, à sua maneira: quando preparam uma comida especial, por exemplo.
Dizer que homens não falam sobre questões afetivas é o mesmo que acusá-los de não ter coração – não se preocupar nem se ocupar do amor como deveriam. Homens, porém, amam tanto quanto as mulheres. E podem falar sobre a vida afetiva com a mesma vontade ou desembaraço.
Não há qualquer razão para se acreditar que homens protegem seus sentimentos como algo secreto. Basta dizer que, se fizermos um recenseamento entre os romancistas, verificaremos que não há um número menor de homens que de mulheres a contar histórias cuja base é afetiva e emocional. E o fazem da maneira mais pública e aberta possível – eu diria, até, bastante corajosa.
O diálogo honesto sobre a vida emocional é uma condição essencial para os relacionamentos, sobretudo os de longo prazo. Viver a dois é difícil e exige atenção permanente. E o bloqueio do parceiro em falar sobre problemas afetivos, seja de qual sexo for, é em geral consequência, e não causa das dificuldades de relacionamento.
Na maioria dos relacionamentos duradouros, o grande desafio é fazer com que a rotina e as dificuldades do dia a dia não desgastem o amor. Quando amamos, o outro sempre está em primeiro lugar. Damos o melhor de nós, e isso implica muitas vezes em ceder.
Ao longo do tempo, porém, o cansaço vai trazendo o que há de pior em nós. A antiga flexibilidade vai desaparecendo. As pessoas vão se lembrando mais de suas necessiddes, principalmente as não atendidas. Passamos a querer mais atenção para nós do que estamos dispostos a dar. Isso se confunde com o esvaziamento do amor. Sentimos falta da antiga liberdade.
Quando isso acontece, o indivíduo se fecha para o diálogo. Não aceita fazer mais do que recebe. Quando lhe fazem uma solicitação, pensa no que estão lhe devendo. Deixa de querer escutar. O que frustra os ralacionamentos não é quando deixamos de falar, mas este momento, quando deixamos de ouvir, de levar em consideração as necessidades do outro, colocando as nossas de novo em primeiro lugar.
Nesse cenário, o diálogo perde o sentido: não adianta falar, se sabemos que não seremos ouvidos, que não adianta, que nossos sentimentos não estão sendo considerados ou respeitados, que nada vai mudar.
Aqueles que se queixam de que o parceiro não conversa deveriam, em primeiro lugar, pensar no que estão deixando de escutar. Poderiam primeiro se interessar em ouvir, a melhor forma de se ir ao encontro de alguém que mereceu o nosso amor. Apenas falar não é provocar o diálogo, mas impôr e aumentar a distância. Ouvir é o primeiro caminho para sermos ouvidos – e assegurar uma felicidade mais duradoura.
Entre os muitos e-mails que recebo comentando o que aqui vai publicado chegam, um pouco para meu espanto, muitos agradecimentos de mulheres. Elas dizem que aqui, assim como em meus romances, aprendem mais sobre como os homens pensam e sentem. E que isso as ajuda em sua vida pessoal.
O último desses contatos foi de uma moça que elogiava o texto confessional que escrevi sobre minha visita com o pequeno André a um estádio de futebol e a relação de amor entre os homens tendo o esporte como intermediário. Segundo ela, o que escrevi a teria feito entender afinal a maneira como seu pai procurava relacionar-se com ela. E diz que isso colaborou para entendê-lo melhor – e entender-se com ele.
Não vêm somente daí os sinais de que os homens permanecem um mistério para as mulheres. Outro dia, durante o Autores e Idéias, debate que promovo uma vez por mês no auditório da Livraria de Vila no Shopping Cidade Jardim, a jornalista Marília Gabriela queixou-se perante a platéia lotada de que sempre gostou de conversar sobre o relacionamento – e os homens, não.
“Homens não gostam de falar sobre o que estão sentindo, enquanto eu falo até demais”, disse ela. Com um sorriso, acrescentou que tivera um marido que pelo menos “sabia lidar” com ela. Desviava de suas tentativas de botar a vida em pratos limpos com alguma frase com aquele velho sentido: “...Lá vem você de novo criando caso à toa...”
Marília é uma pensadora, uma mulher inquisitiva e inquieta – o que provavelmente colaborou para que se tornasse a melhor entrevistadora de TV do país. Diante da platéia, ela perguntou o que eu achava. “Não posso achar que os homens não gostam de falar sobre relacionamentos”, respondi. “Como romancista, é só o que eu faço.”
A idéia de que homens não gostam de falar sobre a vida amorosa é equivocada, mas vastamente difundida. Falar de amor não é peculiaridade feminina. É verdade que homens muitas vezes manifestam seu afeto de uma forma não verbal, especialmente com outros homens, como é o caso da camaradagem do futebol. Isso não significa, porém, que evitem o assunto por princípio – principalmente com suas próprias mulheres. E elas também demonstram afeto de maneiras não verbais, à sua maneira: quando preparam uma comida especial, por exemplo.
Dizer que homens não falam sobre questões afetivas é o mesmo que acusá-los de não ter coração – não se preocupar nem se ocupar do amor como deveriam. Homens, porém, amam tanto quanto as mulheres. E podem falar sobre a vida afetiva com a mesma vontade ou desembaraço.
Não há qualquer razão para se acreditar que homens protegem seus sentimentos como algo secreto. Basta dizer que, se fizermos um recenseamento entre os romancistas, verificaremos que não há um número menor de homens que de mulheres a contar histórias cuja base é afetiva e emocional. E o fazem da maneira mais pública e aberta possível – eu diria, até, bastante corajosa.
O diálogo honesto sobre a vida emocional é uma condição essencial para os relacionamentos, sobretudo os de longo prazo. Viver a dois é difícil e exige atenção permanente. E o bloqueio do parceiro em falar sobre problemas afetivos, seja de qual sexo for, é em geral consequência, e não causa das dificuldades de relacionamento.
Na maioria dos relacionamentos duradouros, o grande desafio é fazer com que a rotina e as dificuldades do dia a dia não desgastem o amor. Quando amamos, o outro sempre está em primeiro lugar. Damos o melhor de nós, e isso implica muitas vezes em ceder.
Ao longo do tempo, porém, o cansaço vai trazendo o que há de pior em nós. A antiga flexibilidade vai desaparecendo. As pessoas vão se lembrando mais de suas necessiddes, principalmente as não atendidas. Passamos a querer mais atenção para nós do que estamos dispostos a dar. Isso se confunde com o esvaziamento do amor. Sentimos falta da antiga liberdade.
Quando isso acontece, o indivíduo se fecha para o diálogo. Não aceita fazer mais do que recebe. Quando lhe fazem uma solicitação, pensa no que estão lhe devendo. Deixa de querer escutar. O que frustra os ralacionamentos não é quando deixamos de falar, mas este momento, quando deixamos de ouvir, de levar em consideração as necessidades do outro, colocando as nossas de novo em primeiro lugar.
Nesse cenário, o diálogo perde o sentido: não adianta falar, se sabemos que não seremos ouvidos, que não adianta, que nossos sentimentos não estão sendo considerados ou respeitados, que nada vai mudar.
Aqueles que se queixam de que o parceiro não conversa deveriam, em primeiro lugar, pensar no que estão deixando de escutar. Poderiam primeiro se interessar em ouvir, a melhor forma de se ir ao encontro de alguém que mereceu o nosso amor. Apenas falar não é provocar o diálogo, mas impôr e aumentar a distância. Ouvir é o primeiro caminho para sermos ouvidos – e assegurar uma felicidade mais duradoura.
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