quinta-feira, 8 de abril de 2021

Versos sobre o horizonte


Um banco no jardim mais bonito do mundo, em Ravello, na Itália, há muito me serve de inspiração. 

Lembra que é preciso experimentar a vida para escrever melhor - e que, escrevendo, experimentamos melhor a vida. Aqui está gravado o célebre poema de DH Lawrence, que foi hóspede de Villa Cimbrone, lugar de muitas histórias, entre elas um dos contos do meu A Quinta Estação:

Lost to a world in which I crave no part
I sit alone and commune with my heart:
Pleased with my little corner of the earth
Glad that I came, not sorry to depart.

E aqui escrevi também os versos que aparecem em A Quinta Estação:

Aqui faço meu pouso, pés cansados
A mente de asas pesadas de pensar
Só o coração voa entre penhascos
No descanso que abriga céu e mar.

Esse é o espírito, esse é o lugar.




O peso das próprias palavras


São 11:30 da manhã e entro no apartamento em Higienópolis de Pedro Paulo Sena Madureira, o Oráculo do Engenho Velho, com seus tapetes, obras de arte e castiçais de cristal, para olharmos juntos o meu livro-poema, que ele considera agora seu achado, e de que anda cuidando como se fosse o seu bebê.

Sentados à mesa de vidro da varanda, ele repassa comigo página por página, mostrando todas as suas observações na obra que ele diz já ter lido e relido "vinte vezes".

Fez esse mesmo trabalho com poetas que lançou, como Adélia Prado. Eu não esperava merecer tudo aquilo, mas como se trata de PP, editor dos maiores poetas  e romancistas brasileiros, nem eu posso duvidar dele.

E, estremecendo, fico ouvindo PP ler em voz alta o texto, que ele interpreta e, às vezes, corrige.

Cortou algumas estrofes inteiras, de vez em quando acrescentou palavras, e faz questão de declamar as partes de que gosta mais, que são muitas. De vez em quando, ele interrompe a leitura para falar de algo que o poema lhe evoca, como o suicídio de Pedro Nava, de quem era editor e amigo próximo. 

Ficamos assim três horas e meia, até que chegamos ao verso final.

Silêncio, um instante. Sentimos, eu e ele, o peso do que escrevi, e que PP, com a pontinha da caneta aqui e ali, como o grande editor que é, ajudou a realçar.

- Suas ex-mulheres deveriam ler isto aqui  - ele diz. - Será que lerão?

- Acredito que não - respondo. - É coisa demais para elas.

- Meu bem - diz ele, como costuma fazer com quem lhe é mais caro. - Depois deste livro, você... É. Demais.

A sombra e os raios de luz

Volto à casa de Pedro Paulo Sena Madureira, meu primeiro editor, oráculo do Engenho Velho, que terminou de ler os originais que lhe entreguei.

Está aceso, com aquele olhar que eu conheço, de bandeirante que sacudiu a bateia e achou umas pepitas de ouro.

- Você está craque - diz ele. - Dominando todos os gêneros. 

Adorou o livro de história contemporânea, resultado do trabalho de um ano e meio. Porém, seus olhos brilham muito mais pelo livro em poema que lhe entreguei e devorou de uma sentada, intitulado Além da Memória. 

- Isto é você - ele diz. - Triste, sombrio, com maravilhosos raios de sol.

Quer me mostrar as correções e observações no primeiro livro, que faz à moda antiga, rabiscando de caneta o papel. Mas quer que eu volte outro dia, para fazer o mesmo com o poema. 

- Este é maravilhoso, mas vamos olhar juntos, precisamos tirar alguns excessos, porque pode ficar perfeito. 

É muito bom trabalhar junto com alguém - especialmente se esse alguém é quem considero ainda o melhor editor brasileiro.

E porque é dessa cooperação entusiasmada de alguém que te conhece, dá valor e está genuinamente ao seu lado que precisamos para continuar.

PedroPaulo me ajudou a colocar em pé Além da Memória. Me deu certeza de que valia a pena trabalhar no texto como poema, não prosa.

Agora Além da Memória está pronto. O julgamento do editor está feito. Fica agora 



Um livro e a ressurreição

Páscoa, dia da ressurreição, vou à estante e abro pela primeira vez o exemplar de O homem que falava com Deus, que dei a minha mãe, e acabou voltando para mim com outros de seus livros, quando ela morreu - doze anos atrás.

Ela nunca me falou sobre o livro, exceto no fim, quando estava no hospital. Vejo agora que o texto está cheio de marcas, onde ela, que era professora e me ensinou a ler e escrever, como sempre, assinalou imperdoavelmente tudo o que não achou bom ou estava errado.

E deixou também marcas em algumas coisas de que gostava. Releio a dedicatória que lhe fiz e este livro, hoje, é meu presente de Páscoa.


Romance histórico ou livro de história?



Para mim,  escrever livros de história e romances históricos são ambos válidos e desempenham função semelhante. Escrevo ambos. A escolha de uma forma ou outra depende de onde está o foco do que quero contar.

No romance, o foco é mais no indívíduo, com suas ideias e paixões - essas coisas que podem mudar o mundo, isto é, que fazem a história. Mas isso requer muitas vezes uma investigação mais subjetiva ou subjacente aos fatos.

Já nos livros de história, os fatos ganham mais relevo e dependem de objetividade. Porém, a informação detalhada e o enredo procuram fazer a época se tornar tridimensional, portanto mais perto da realidade. E um bom enredo pode provocar uma leitura compulsiva como a de um romance.

O romance não prejudica nem exclui o rigor histórico. Em Anita, não há nenhum fato conhecido da história que é distorcido ou contrariado. A ficção entra nos lugares onde não há registro e corrobora a história. Dá nuances que, embora criados pela imaginação, parecem fazer tanto sentido que ao fim o leitor não verá outra história possível de Anita Garibaldi que não seja essa.

Nos meus romances históricos, a história pode ser mais pano de fundo, como em Filhos da Terra, que fala sobre a imigração italiana no Brasil, com personagens reais, embora tenham nomes trocados e ganhem pinceladas da ficção. Podem também tratar de personagens históricos reais, como Anita Garibaldi (Anita), ou Prestes, Lampião, Padre Cícero, Rondon e outros (Amor e Tempestade). Nesse caso, os personagens reais devem parecer reais, mesmo na recriação literária, e nada pode ferir o fato histórico.

Não é um trabalho fácil. Tanto no romance como no livro de história, a missão é mergulhar o leitor naquilo que pode estar mais próximo da verdade, seja ela objetiva, seja a subjetiva. Tentamos dar à história toda a dimensão humana.

A história é feita por pessoas, com motivações que às vezes fogem à nossa compreensão. Desvendar a história que não conhecemos da história é uma grande arte, cuja perfeição sempre está mais ali adiante.

#thalesguaracy
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##anitaoromance
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terça-feira, 6 de abril de 2021

Curare: dos tupinambás para os hospitais no Covid-19


Conta o meu médico, Virgílio Pereira, que no Einstein, hospital onde trabalha, utiliza-se o curare - um paralisante muscular - nos pacientes intubados de Covid-19, para evitar que rejeitem o equipamento, fisicamente intrusivo. Com isso, os pacientes não precisam ser amarrados, solução considerada agressiva ou desumana por muitos, como acontece em hospitais com menos recursos ou recursos esgotados.

Com isso, ganha um uso bem contemporâneo algo que já era conhecido pelos tupinambás quando no Brasil chegaram os europeus, tanto na caça quanto na guerra. Embido em flechas e lanças, o curare paralisava e deixava à mercê a presa e o inimigo, como vai contado em A Conquista do Brasil (1500-1600), hoje em sua quinta edição.

Mais um caso em que o passado se faz presente, parte porém de uma outra guerra, e dessa vez como instrumento da medicina. 

quinta-feira, 1 de abril de 2021

O romance para os 200 anos de Anita Garibaldi

 Este ano, completam-se 200 anos do nascimento de Anita Garibaldi, a grande heroína brasileira, feminista antes do feminismo, mãe, mulher, guerreira e paladina da liberdade. 


Personagem dos mais admiráveis da história, de fazer inveja ao próprio Garibaldi, César ou Napoleão, no Brasil pouca gente a conhece, ou sabe realmente quem foi. 

Essa é uma das razões pelas quais escrevi esta biografia romanceada, publicada pela editora Record. Faltam ainda filmes, séries e documentários sobre ela. Eis a grande oportunidade.

@tguaracy
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