quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

A pérola da sabedoria


Existem coisas que podemos até compreender na juventude, mas que só se transformam em conhecimento com a experiência. Não basta saber; é preciso sentir, passar por aquilo, para que o conhecimento se torne profundo e verdadeiro. Por isso, a sabedoria não é apenas informação. É informação curtida pela maturidade.

Quem passa por experiências fortes adquire mais conhecimento do que aquele que assiste as coisas de fora. Essa é a grande ironia de quem morre jovem. A sabedoria não vem do pensamento, e sim do interesse e exercício da vida. E a quem não se dá tempo, a sabedoria é negada.

Não há como ser sábio sem passar pelo caminho pedregoso da experiência. Esses são como diz Salomão no Livro da Sabedoria: fruto da vaidade. Podem enganar a si mesmos, mas não enganam aos outros. Vivem angustiados.

Para quê a sabedoria? Para ter amor, paz e tranquilidade. A sabedoria não consiste num conhecimento superior, mas em dotar o ser humano daquela atitude repleta de dignidade de compreender o incompreensível, aceitar o inaceitável e enfrentar em paz de espírito as grandes dores e tribulações da vida.

Aprendemos com o tempo que há males irremediáveis e a melhor postura contra o irremediável é aceitá-lo com tranquilidade. Quem não aceita a dor, a morte e os fatos inevitavelmente duros que virão, dificilmente dormirá direito.

A sabedoria traz coragem. Aprendemos com ela que coragem é ignorar o medo, não por realmente ignorá-lo, mas por defendermos uma causa maior. Aquele que tem um motivo superior não se deixa barrar por qualquer dificuldade, real ou imaginária. Quando se defende um amor, ou princípios como o da Justiça, ou a Liberdade, não há como ter medo.

Sabedoria traduz coragem. Quando não receamos a morte, ou a aceitamos melhor, deixa de existir a intranquilidade que nos leva a criar a ilusão de movimento, trocar de vida, de casa, de pensamento. Todas essas são formas de alheiamento. A sabedoria nos ajuda a encontrar nosso lugar e ficar nele.

Se a sabedoria vem da experiência, não do pensamento, para alcançá-la é preciso viver aprendendo, não pensando. O homem sábio pensa menos e faz mais. Já o pensador é um ser humano mergulhado num eterno mar de dúvidas. Não se chega à sabedoria, à coragem ou mesmo à inteligência com o pensamento. Ela não depende de inteligência. Pede muito mais equilíbrio emocional e paz no coração.

À primeira vista, o sábio à primeira vista parece um conformado. Já não reage com o impulso, o vigor e a testosterona da juventude. Mas ele não é covarde ou insensível. Ele não protege a paz, a sua e a dos outros, com a indiferença e a omissão. Isso seria a covardia. O sábio protege a paz com a serenidade. Ele age, mas sem alterar-se. Por isso, age sem precipitação.

O caminho da sabedoria é longo e tem várias vias. Gosto muito da sabedoria oriental, especialmente a fundada na cultura chinesa, a mais antiga do mundo a sobreviver na sociedade contemporânea. Dizem que os chineses de hoje não respeitam tanto a sua cultura e sabem pouco sobre suas tradições. A civilização contemporânea, de cujos progressos materiais eles começam a desfrutar em larga escala, corrompe por causa do consumismo, da ganância, da pressa. Ressalta o que o ser humano tem de pior. Até a milenar cultura chinesa vem sucumbindo a isto.

A sabedoria procura trazer o que temos de melhor. Hoje ela pode ser encontrada muito mais no campo, nas montanhas, entre gente simples, porque é onde o ser humano não se deixa envolver por todas as distrações que tiram sua atenção das necessidades básicas da vida, da origem das coisas e de nós mesmos.

A sabedoria tem sempre um sentido de volta à simplicidade, às origens, aos ancestrais. Está fincada no tempo, é construída não pela dedução racional, mas pela experiência humana.

Essa é a diferença entre o homem e o garoto. O garoto pode ter informação sobre tudo, mas o homem já viveu tudo. Por isso é mais firme, mais convicto, mais homem. Aquele que respeita o passado e aprende as lições de seus ancestrais, vivendo pela sabedoria por eles construída, encontra mais cedo seu lugar no mundo e se torna sábio mais rapidamente.

Existe um ditado chinês segundo o qual os filhos nascem para ensinar os pais. Seriam como guias criados por nós mesmos, para nós mesmos. Porém, a verdade é que nós não aprendemos com nossos filhos. Nós os educamos e guiamos. Ocorre que eles são sempre um difícil desafio da vida e para cuidar deles e encaminhá-los temos de nos esforçar para ser melhores.

os filhos também nos lembram das virtudes da pureza e da inocência. Todos têm dentro de si a dua infância. Isso nos devolve humanidade.

Com a sabedoria, o homem rejuvenesce. Não por voltar no tempo, mas por ganhar tempo – quanto mais longe da velhice ficamos, mais jovens nos tornamos. Aquele que sabe do que gosta não desperdiça tempo e energia fazendo outras coisas. Aprecia melhor o que está à sua volta, sobretudo a companhia das outras pessoas. É gentil e entende que a pressa não nos leva mais rápido a lugar algum. Conhece seu próprio valor, mesmo quando colocado em dúvida pelos outros, e não se deixa abalar. Aconselha mais do que é aconselhado.

O homem sábio não se deixa enganar pelas aparências nem pelas diferenças. Agradece ao que passa despercebido diariamente a quem vive perdido em tribulações: o calor do sol, o ar fresco da manhã, as estrelas da noite. Ao agradecer o que lhe dá a vida, dá mais valor à natureza e à própria vida. E a vida o premia com mais vida.